Edição N. 12 - 03/10/2021
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

 
ALVORADA

UMA JANELA BASCA MOLDURA DO CERRADO

As alvoradas são esperança orvalhada pela noite que trabalhou renovar. Os pássaros em gritinhos lembram que ainda estão por aí, no meio da cidade que quase sempre se esquece que é deles a primazia do dia. A casa de madeira, pedra e plantas foi erguida por sonhos, labutas e muita vontade. Abriga corações valentes, cabeças criativas, artes das tintas e do pensamento. É lar de gente que lutou e conseguiu, de um jeito ou de outro, oferecer para nós um mundo melhor.  

Gratidão é mais que palavra no Domingo à NOITE em 2021

ACQ

Greta Thunberg, Nobel da Paz!

foto: Arquivo

Serão anunciados esta semana os ganhadores do Prêmio Nobel. Se o comitê do Nobel da Paz tiver um pingo de juízo, a ganhadora da próxima sexta, 8,  será a ativista ambiental sueca Greta Thunberg.

A eleição da “pirralha” (no dizer do Bozo), líder do movimento Sextas para o Futuro, seria um forte recado e um grande estímulo para a tomada de decisões contra o aquecimento global pelos participantes da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP26), que se reunirá entre 31 de outubro e 12 de novembro em Glasgow, na Escócia.


Ou os líderes mundiais deixam de blablablá, como diz a Greta, ou o planeta tal como o conhecemos acabará soterrado pelas cinzas do Pantanal do Mato Grosso e da Amazônia e afogado pela alta do nível dos oceanos.

Medicina – O primeiro Prêmio Nobel, outorgado a profissionais da área de fisiologia ou medicina, será anunciado nesta segunda, 4. Despontam como principais candidatos, segundo a revista Inside Science do Instituto Americano de Física:


1) A pesquisadora Katalin Karikó, da BioNTech e da Universidade da Pensilvânia, e o pesquisador Drew Weissman, da Universidade da Pensilvânia, pioneiros nas pesquisas que levaram ao desenvolvimento das vacinas de RNA mensageiro contra a Covid-19 pelos laboratórios da BioNTech e da Moderna. Este ano Karikó e Weissman já ganharam o prêmio Lasker-DeBakey Clinical Medical Research, o chamado “Nobel americano”;


2) A cientista Mary-Clarie King, da Universidade de Washington, que estudou a hereditariedade do câncer de mama;


3) Os cientistas Max D. Cooper, da Escola de Medicina da Universidade Emory, e Jacques Miller, do Instituto Walter e Eliza Hall, por seus estudos sobre a dupla organização do sistema imunológico, composto por dois tipos de linfócitos, as células B produtoras de anticorpos, e as células T, mediadoras das respostas imunes, descoberta que abriu caminho para quase todos os tratamentos de câncer das últimas décadas;

 

4) O doutor Anthony Fauci, dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, por sua liderança no combate à Covid-19 no país e por seu combate ao negacionismo do presidente Donald Trump.


Física – Na terça, 5, é a vez do prêmio Nobel de Física. Os principais candidatos, segundo a Inside Science:

1) O trio de pesquisadores europeus Alain Aspect (Institut d’Optique), John Clauser (J. F. Clauser and Associates) e Anton Zeilinger (Universidade de Viena), que trabalham com informação quântica com base no emaranhamento das partículas. Também concorrem nessa área o matemático Peter Shor, com a demonstração de como um computador quântico pode quebrar um sistema de criptografia padrão, e Gilles Brassard e Charles Bennett, especialistas em criptografia quântica.


2) John Pendry, do Imperial College de Londres, e David Smith, da Universidade de Duke, por seus trabalhos com metamateriais, isto é, materiais cujos átomos são rearranjados para adquirir novas propriedades, como a invisibilidade, a miniaturização e a captação mais eficiente de energia solar etc.

 

3) A cientista Lene Hau, da Universidade de Harvard, cuja equipe conseguiu desacelerar a velocidade da luz para cerca de 64 quilômetros até paralisá-la. O processo, envolvendo gases de sódio superfrios e um par de lasers, com capacidade para transferir informações da luz para a matéria e vice-versa, também pode ser útil em tecnologias de informação quântica.

 

Química – Os ganhadores do prêmio Nobel de Química serão anunciados na quarta, 6. Eis os principais candidatos apontados pela Inside Science:

 

1) A dupla Shankar Balasubramanian e David Klenerman, da Universidade de Cambridge, por desenvolver o sequenciamento ultrarrápido do DNA.

 

2) A cientista Carolyn Bertozzi, da Universidade de Stanford, pela pesquisa com reações da química bioortogonal, através das quais são detectadas células cancerosas e tumores que se camuflam contra o sistema imunológico sob camadas de moléculas de um tipo de açúcar, o ácido siálico.

 

3) O cientista Barry Halliwell, da Universidade Nacional de Cingapura, que estuda os danos provocados por radicais livres (moléculas cuja última camada contém um número ímpar de elétrons, muito instáveis e reativas) e as ligações dos radicais livres e antioxidantes com doenças cerebrais, incluindo o Alzheimer e a demência.

Literatura – Na quinta-feira, 7 de outubro, saberemos o ganhador ou ganhadora  do Prêmio Nobel de Literatura. Continuam nas listas das bolsas de apostas figurinhas carimbadas como o albanês Ismaël Kadaré, o japonês Haruki Murakami, o queniano Ngugi wa Thiong’o, a chinesa Can Xue, a russa Ludmila Ulitskaya, o húngaro Peter Nadas, o francês Michel Houellebecq e o sul-coreano Ko Un. Há, porém, novos candidatos, como o indiano Vikram Seth e o moçambicano Mia Couto.

 

A grande expectativa é que dessa vez a Academia Sueca escolha alguém de fora do eixo Europa-América do Norte, provavelmente uma escritora de pegada anticolonial. Daí surgem as estrelas de Jamaica Kincaid, de Antigua e Barbuda; Maryse Condé, de Guadalupe; e Chimamanda Ngozi Adichie, da Nigéria.

REPORTAGEM ENSAIO

O LANGOR DAS GUITARRAS

por Miguel Boaventura

foto: Celso Oliveira

Cidadãos do mundo parecem estar bem em qualquer lugar. Nem desconfiam os pacatos que os invejam, que chegaram eles a tal condição por só estarem bem onde não estão.

 

 Muito se fala em partir no Brasil. Em especial, em partir para Portugal. Mal sabem os brasileiros que assim o desejam, quantas lágrimas portuguesas recebeu o nosso mar. Ser errante, enfim, sina que espalhou lusos pelos infinitos pontos da esfera, partiu corações e exilou mentes, por gerações.

 

Não sou contra partir, nem a favor de ficar. Quero apenas lembrar aos cultuadores da diáspora brasileira, chateados e tristes, com carradas de razão, que imigrar é duro e pode ser definitivo para a prole que muitas vezes vai, sem ser consultada, até pela pouca idade.

 

É divino e maravilhoso ter opção. Escolha. Imigrar de verdade nem sempre foi uma livre ação. A maioria das vezes foi uma imposição do destino, a única condição de sobreviver.

 

Também não cobro aos que estão felizes em outras paragens, e compreendo o regozijo com as acolhedoras cores e sombras do charme trigueiro de além-mar.

Só advirto que não se inventa uma identidade em terra que não é a nossa. Podemos amar, sorrir, cantar. Todavia, é esfacelado o pertencimento de quem imigra. Será sempre dali e de lá, sem ser de chão nenhum.

 

Indo ou ficando, é essencial sabermos que nós nunca nos deixamos. Vamos junto conosco. E do mesmo modo, nunca nos levamos completamente, falecendo um pedaço cada vez que partimos.  

POESIAS

O PRIMEIRO SONETO DO PORTUGUÊS ERRANTE

 Por Manuel Alegre

 

Eu sou o solitário o estrangeirado
o que tem uma pátria que já foi
e a que não é.

Eu sou o exilado
de um país que não há e que me dói.

 

Sou o ausente mesmo se presente
o sedentário que partiu em viagem
eu sou o inconformado o renitente
o que ficando fica de passagem.

 

Eu sou o que pertence a um só lugar
perdido como o grego em outra ilíada.

Eu sou este partir este ficar.

 

E a nau que me levou não voltará.

Eu sou talvez o último lusíada
em demanda do porto que não há.

 

PARTIR É MORRER UM POUCO

Por Mascarenhas Barreto, Antônio dos Santos e Carlos do Carmo

 

Adeus, parceiros das farras
Dos copos e das noitadas
Adeus sombras da cidade.

Adeus langor das guitarras
Canto de esperanças frustradas
Alvorada de saudade.

Meu coração como louco
Quer desgarrar-me do peito
Transforma em soluço a voz.

Partir é morrer um pouco
A alma de certo jeito
A expirar dentro de nós.

Voam mágoas em pedaços
Como aves que se não cansam
Ilusões, esparsas no ar.

Partir é estender os braços
Aos sonhos que não se alcançam
Cujo destino é ficar.

Deixo a minh’alma no cais
De longe, canso sinais
Feitos de pranto a correr.

Quem morre, não sofre mais
Mas quem parte é dor demais
É bem pior que morrer.

 

TRILHAS

 

Sonetos do Obscuro Quê (livro), por Manuel Alegre, Publicações Dom Quixote, Lisboa.

 

Antônio dos Santos e Carlos do Carmo, (vídeos e músicas) no Youtube Music.

CONTO

CALÇA RASGADA, AZUL E DESBOTADA

por Tuty Osório

foto: Fernando "Azul" Carvalho

– Filha está pronta?

– Não vou não, mãe.

-Mas por quê? Mar faz tão bem, sol, ar livre…

-Pois é mãe, mas não tô afim…

– Filha, que bad essa de vocês de viverem empacotados num clima desses e enfiados dendicasa num sol desses…

-Pois é mãe…Mas não tô com vontade…

-É um privilégio sabia? Um sol desses, um céu azul que dói, poder sair de biquini…Já pensou nas meninas do Afeganistão? São proibidas até de estudar…E você desperdiça liberdade….

-Lá vem você com a as meninas do Afeganistão. Tem nada a ver uma coisa com a outra…

-Pois é claro que tem! São oprimidas, reprimidas, obrigadas a…

-Justamente mãe. Obrigadas a um monte de coisa. E você aí defendendo a liberdade que eu não aproveito, querendo me obrigar a ir para a praia com você.

-Obrigar?

-É mãe. Você quer me obrigar a aproveitar a liberdade de ir à praia. Se é liberdade eu posso ir, ou não ir. Né não?

– Menina, deixe de ser inteligente!!!!!

CRÔNICA

TERNURAS E TRAVESSURAS

Por Tuty Osório

foto: Fernando "Azul" Carvalho

Tenho uma mania, que é mais um gosto, um prazer, uma honra, até. Presentear livros inusitados. Muitas vezes compro, não raras vezes lanço mão dos meus e os passo adiante, pra habitar a mesinha e as viagens mentais dos meus afetos.

 

Uma presença marcante nessa brincadeira de bom gosto foi a saudosa editora Cosac Naif e seus projetos gráficos extravagantes. Tantas vezes me apaixonei pela forma e voltei pra casa carregada. No dia seguinte era a romaria de distribuição aos contemplados.

 

Certa feita presentei um Gogól embrulhado num fac-símile de jornal, impresso em rotativa, quase despachado para a lixeira pelo meu distraído amigo, confuso com a filigrana inesperada. Suspirei histericamente e ele corrigiu, recolhendo rapidamente a desprezada preciosidade. Outro amigo, sem tempo para ler, foi hipnotizado por uma obra desconhecida, que versava sobre imigrantes húngaros em Santa Catarina, de linda capa azul e título intrigante – O Vale do Fim do Mundo.

 

Como uma fadinha presepeira ou uma bruxinha boa, divirto-me sobremaneira nesses repetidos natais fora de época.

 

Livros, como dizia o avô de JK, um par de asas para voar. Lenda, ou não, é uma frase linda. Perco a verdade mas não me disperso da beleza.   

O BEM VIVER

O DIREITO À CIDADE

por Camilla Osório de Castro

ilustração: Adobe Stock

Proposto por Henri Lefebvre em obra homônima de 1968,- ano em que as ruas de Paris foram tomadas por protestos -,o conceito de Direito à Cidade está ligado aos questionamentos acerca da ocupação do espaço público, iniciados mais de  um século antes, a partir das grandes obras de modernização do urbanista  Haussmann.

 

A partir de 1852, tornaram a capital Francesa a “Cidade Luz” e serviram de modelo para modernizações em grandes capitais ao redor do  mundo, como Nova Iorque e Fortaleza.

 

As reformas urbanas em Paris tinham como principal objetivo facilitar ações militares, removendo vias estreitas e cortiços, expulsando a população pobre do centro e construindo vias largas, onde há uma melhor visualização do espaço para a manutenção da ordem e do controle social.

 

Melhorias na limpeza da cidade também foram realizadas, assim como construção de jardins e praças, espaços de lazer, além de otimização do transporte público. 

 

Em Fortaleza, as obras chegaram alguns anos depois, a partir de 1880, e geraram transformações que marcaram o período como o  da Fortaleza Belle Époque.  Datam desse momento a criação do Passeio Público, a chegada dos bondes e dos cafés afrancesados e também a construção de asilos para idosos pobres e pessoas consideradas loucas.

 

O que Lefebvre identificou nos anos 1960 foi que a cidade moderna é um espaço que exclui, remove os despossuídos e os descarta quando é necessário deixar o progresso passar.

 

Foi assim na gestão Haussmann em Paris, na Fortaleza Belle Époque e também na modernização de Nova Iorque. E segue sendo assim a cada vez que se faz uma nova obra.

 

Tomemos como exemplo o que aconteceu no Brasil nos anos que antecederam a copa do mundo de 2014. Comunidades inteiras foram removidas para dar lugar a obras que buscavam atender a um evento que atendia a interesses de grandes corporações da iniciativa privada.

 

Em artigo de 2013, publicado na revista Piauí, David Harvey retoma o tema do Direito à Cidade e afirma que “a qualidade de vida nas cidades virou uma mercadoria”Comercializa-se o acesso a água, a vento, a ar puro, a transporte, a lazer… Reformula-se a cidade para melhor atender ao lucro, enquanto a dignidade humana vai descendo pelo ralo junto com os recursos naturais.

 

O direito à cidade é, portanto, um direito humano que aglutina algumas das grandes lutas de nosso tempo.

Direito de vivenciar a cidade e acessar os seus recursos. Direito de não ser esmagado pela cidade, de modificá-la enquanto ela nos modifica, de pensá-la mais justa. Onde caiba a vida de todos.

 

TRILHAS

 

O Direito à Cidade, (livro), por Henri Lefebvre, 1968

 

O direito à cidade, artigo de David Harvey publicado na revista Piauí, 2013. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-direito-a-cidade/

BACHIANAS E COMPANHIA

DEGUSTAÇÃO FILÓSOFICA

Por Sérgio Pires

ilustração: Adobe Stock

“Existe mais filosofia numa garrafa de vinho que em todos os livros.” (Louis Pasteur – Cientista francês – 1822-1895)

 

Enquanto cientistas, engenheiros, médicos, economistas, políticos e outros profissionais resolvem os problemas do mundo, que não deixam de ser relevantes, para mim, o fato mais importante, no momento, é entender o líquido da garrafa especial de vinho que está contido na minha taça. Vou degustá-lo.

 

Quando identificado como Sommelier, é normal a curiosidade sobre do que tratamos nesta profissão, sendo que a técnica de degustação dos vinhos é a maior geradora de questionamentos. Há diferença entre beber ou degustar um líquido? Ou como explicar a resposta à mais comum das perguntas, o porquê de ter gostado, ou não, de um determinado vinho.

 

Sábios, não em vão, já procuraram nos explicar que o simples beber é um ato quase que automático, sem a necessidade de reflexão. Já degustar é o mesmo beber, só que prestando atenção, empregando todos os nossos sentidos e o intelecto.

 

Já foi dito que tudo o que vem até o nosso conhecimento vem pela via dos sentidos, e sejamos otimistas em neles acreditar. Ao degustarmos um vinho o analisaremos nos seus aspectos visual, olfativo, gustativo e tátil (na boca). E tudo somado às informações acumuladas pelo nosso conhecimento e estudo, nos permitirão formar nossas avaliações.

 

Mas, e se formos céticos? Duvidando da precisão dos nossos sentidos, das conclusões da nossa mente?

Teremos de sair do campo das meras impressões, para que nossas avaliações deixem de ser um simples palpite. Precisaremos de estudo e de um método científico de aprendizado que transformarão o conhecimento em saber.

 

Assim, o profissional possuirá a base para responder o porquê de ter, ou não, gostado do vinho.

Cabe ao Sommelier avalizar a qualidade de um vinho, mesmo que não seja do seu agrado, e oferecer uma avaliação ancorada em conhecimento técnico.

 

Uma garrafa de vinho sozinha, sobre o tampo de uma mesa, não é um número numa Vinícola. É um ser vivo e independente, tal qual o pé de milho de Rubem Braga.

 

Como se vê, a técnica da degustação é muito subjetiva, mas existe uma forma de tornar mais objetiva a avaliação de um vinho. Seria na “degustação às cegas”. Nela o rótulo da garrafa está encoberto e o vinho é degustado sem as informações de origem, uva, preço, método de elaboração, fama ou notas de especialistas. Com os degustadores vendados, nem a cor se saberia, a avaliação se tornaria mais intelectual.

 

Então, poderemos concluir que para beber vinho é preciso seguir regras, estudar, fazer cursos, aprender sobre técnicas de degustação e de harmonização, usar taças corretas e controlar a temperatura ideal?

Minha resposta como Sommelier Profissional e professor em diversos cursos de vinho é um SIM para quem tem interesse no assunto, um relutante TALVEZ, para quem prefere apenas escutar quem conhece mais; ou um categórico NÃO para os que acreditam no “meu vinho minhas regras”. Para estes digo, faça o que quiser, tudo ao seu gosto está certo. (Alerta de ironia!!!)

 

Ia encerrar a coluna, mas achei que seria mais adequado deixar dois pequenos avisos para este epicurista que não aceita regras. Primeiro, não se espante se não gostar da maior parte dos vinhos que tomar. As regras existem para que possamos obter o melhor de cada vinho e não apenas para te contrariar. Segundo aviso, quase que um pedido. Faça o que quiser, menos querer ensinar sobre degustação ou harmonização.

 

 

TRILHAS

 

Um pé de milho, crônica de Rubem Braga.

 

Pitacos filosóficos de Pirro, Locke, Platão, Kant, Francis Bacon e Epicuro.

 

O vinho e a filosofia, artigo de Ivan Carlos Regina

SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS

AS MÃOS QUE TRAGO

Por Alim Amina

foto: Celso Oliveira

Navegadores antigos diziam. Navegar é preciso, viver não é preciso. Muito já se disse sobre esta frase, reproduzida por Fernando Pessoa em sua poesia épica. Ressignificada por Caetano Veloso que a inverteu e enfatizou que preciso, necessário, é viver.

 

Pessoa cantava que é necessário criar. Mais tarde, interpretou-se que o sentido da palavra PRECISO na frase tão repetida e polemizada não é o de necessidade. É o de precisão. Aquilo que se pode controlar, talvez.

 

Navegar pode ser planejado, previsto, estudado, calculado. Viver, não. Por mais que se pretenda, o destino dispõe por outras rotas, nunca antes vislumbradas. Para o mal e para o bem, viver é impreciso, imprevisível, por vezes imponderável.

 

 

Assim senti quando recebi o convite para escrever neste Domingo à NOITE. Nunca pensei em fazer algo semelhante antes. Tenho 81 anos e sempre li muito. Sou do tempo das cartas, escritas por todos e por tudo. Eram elas que nos traziam as dores e as alegrias dos entes queridos que, longe, desenhavam a saudade em folhas pautadas, fininhas.

 

 

Havia o papel de carta, o envelope carta. Os selos para carta. Muito mais que palavras, vi certa vez, como slogan, numa agência dos Correios, em Paris.

 

Me convidaram para escrever e fiquei meio perdida. Escrever sobre o quê? – questionei. O que sei eu, para dizer a outros? – Conte histórias – foi a resposta. – Dê conselhos, compartilhe suas vivências, foi a insistência.

 

Daí decidi experimentar. E experimentar é algo negado aos velhos, elegantemente chamados de idosos. Por mais que se dê polimento às palavras, ter idade é sempre sinônimo de passado, do que não vale mais a pena.

 

E pasmem! É agora que me sinto leve e firme para experimentar.

 

Meti-me em aventuras incríveis nos últimos tempos. Aplicativo de Banco, conta de telefone por email, pesquisa no Pinterest pelo celular. Essa abençoada parafernália eletrônica mostrou-me que posso arriscar. Ter o coração aos pulos até dar certo. Nunca conseguir ser rápida. Contudo, ser precisa e dedicada. Como fui com as cartas, os bilhetes, as listinhas manuscritas em bloquinhos. Posso digitalizar incontáveis analogias que me vêm de meus anos verdes, vermelhos, azuis, amarelos, brancos e matizados por misturas sutis.

 

 

São esses anos e seus dias que contarei aqui.

 

Espero que gostem. 

 

 

“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” Cora Coralina

TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

CREPÚSCULO

PESSIMISMO DA RAZÃO, OTIMISMO DA VONTADE

Foto de Gustavo Marinho via Twitter

A jovem de vinte anos diz que prefere os conservadores porque estes assumem que não existe bondade nem compaixão. Que a essência do ser humano é o egoísmo e o desprezo pelo outro. Ela prefere a verdade e por isso escolhe não se iludir com os progressistas, os que defendem a igualdade, a união e a fraternidade. Para ela é tudo uma questão de consciência em lugar de alienação. Ela é alegre, bonita, cheia de brilho e entusiasmo. Agradece por estar ali, por poder se expressar, por ter sua visão respeitada. Precisamos de espaço, ela afirma, com um sorriso que é mais largo porque traz o aperto de mão que não podemos trocar, restritas pela Pandemia. Não tenho pena, raiva ou desamor pela sinceridade cruel da menina. Ao contrário. É ternura que me toca. Parece claro que por omissão, cinismo ou ingenuidade, a entrega não é dela, mas da geração que lhe negou a chance de acreditar.  

 

 

Obrigada por estarem com a gente até aqui.

Tuty e Trupe