Edição N. 13 - 10/10/2021
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Edição Geral: Tuty Osório

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Edição de Fotografia: Manuela Marques 

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

 
ALVORADA

GATA EM TETO DE ZINCO QUENTE

Alguns dos grandes filmes foram adaptações do teatro. Tentavam levar para a grande tela a mesma linguagem, com imagens paradas e muita atuação. Viraram clássicos, no sentido da eternidade de seus temas e de seus formatos. Fluem para quem gosta de cinema de verdade. Assim é com as pessoas que agem com delicadeza, decretada como fora de moda. E acreditem, já esteve em gosto ser gentil, elegante na alma para não ferir o outro, nem com sinceridade. Quem gosta de vida, de verdade, aprecia esses Vintage da generosidade do gesto. Vamos caçá-los por aí, na rua ou na virtual, feito pokemons!

 

Salvé, para mais um Domingo à NOITE em 2021! Que 2022 já está batendo à porta e insistiremos por aqui! 

ACQ

O sol há de brilhar mais uma vez

por Antônio Carlos Queiroz

Bandeira do Ceará

Sá menina, você se lembra do meu amigo Jürgen, de cuja agonia metafísica eu falei aqui na semana passada? Pois não é que ele me contra-atacou, vixe Maria! Me mandou um vídeo da Illustra Media, vinculada à Igreja Adventista do Sétimo Dia, comparando a nossa pequenez com a grandeza do Cosmos em defesa do  criacionismo…

 

Macaco velho, também no sentido darwinista, preferi lhe responder com um emoji engraçadinho, desconfiado de que ele é um entusiasta, afinal. Entusiasta, você sabe, é aquele sujeito tomado pelo sopro ou sufoco de Deus, do grego en-théos-asthma. Daí me precavi de discutir com ele, um possível fanático, como aconselha o Erasmo de Roterdão. Não adianta!

 

Só que eu não estou conseguindo segurar o meu espírito herético-iconoclasta, cara amiga, e ainda cogito propor ao Jürgen a adoção de uma divindade com a qual ele possa conviver sem perder a razão. Na verdade, em vez de uma, tenho duas propostas não excludentes. Pondere ambas por favor e me mande a sua avaliação, sempre sensata.

 

A primeira opção é o Deus do Einstein, o mesmo do filósofo portuga-holandês Bento de Spinoza. Um Deus infinitamente simples, que se confunde com o universo inteiro, cujas criaturas – nas quais ele tem se expressado desde sempre – estão todas compreendidas nele, sejam quarks, átomos, galáxias, estrelas, buracos negros, planetas, elefantes, bactérias, vírus, fungos, caca de nariz, minhocas ou gente. Esse Deus não exige ser adorado em qualquer ritual, e a única religião que se pode fundar em sua homenagem tem um único mandamento, o amor ao próximo e à próxima. Ele não é uma pessoa criada à nossa imagem e semelhança, não é um rei todo poderoso nem um árbitro entre o bem e o mal. Que, aliás, não sendo coisas, mas qualidades relativas das ações dos homens, só existem, o bem e o mal, quando a gente compara os atos benignos do João com as sacanagens do Mourão, digamos. Na verdade esse Deus nem tem vontade pois ele está submetido às suas próprias leis, que são exatamente as leis da Natureza – a gravitação universal, a lei da conservação da energia, a teoria da relatividade, a teoria da evolução etc etc etc. Daí por que não cabem milagres neste universo, os quais, por definição, seriam violações das leis naturais e insultos à potência divina. Ah, como é Deus sive Natura, quer dizer, “Deus, ou seja, a Natureza”, é uma divindade sem gênero!   

 

A segunda opção é o Sol, responsável pela sustentação da vida em nosso planeta, pelas marés, ventos, chuvas. O divertido é que a gente não pode olhá-lo de frente como Moisés também não pôde encarar Javé quando ele lhe apareceu em forma de sarça ardente. Estou dizendo isso porque, como escreveu o Freud, Moisés teria sido um funcionário egípcio de Aquenáton que, depois de sair do Egito, legou ao povo hebreu o monoteísmo desse faraó, isto é, a adoração do Sol na figura de Aton. Na altura do campeonato, sá menina, podemos deixar de lado qualquer culto a esse Deus, menos um, a despeito do nosso renovado embasbacamento diante de cada alvorada ou crepúsculo. A exceção, anote aí, é o santo ritual de passar filtro solar no corpo do próximo ou da próxima, na praia, parque ou laje. Veja você que em qualquer hipótese eu defendo uma religião do amor!

 

Por fim, acho também que a gente deve buscar no Sol a fonte que vai nos salvar das catástrofes do aquecimento global. Como? Uai, produzindo cada vez mais energia fotovoltaica, eólica e maremotriz. O que lhe parece?

 

Você já notou, caríssima, quantos países têm o Sol na bandeira? Antigua e Barbuda, Argentina, Bangladesh, Cazaquistão, Filipinas, Japão, Kiribati, Malawi, Macedônia do Norte, Namíbia, Quirguistão, Ruanda, Uruguai… Alguns Estados brasileiros também: Pernambuco, Tocantins e, puta coincidência, o Ceará, terra natal do meu amigo Jürgen!

 

Pois é, o Sol se levanta por trás do antigo Farol do Mucuripe no brasão que fica no centro da bandeira do Ceará, Ó!

REPORTAGEM ENSAIO

AS PALAVRAS E AS COISAS

por Miguel Boaventura

foto: Celso Oliveira

Peço emprestado a Michel Foucault um de seus títulos, Les mots e le choses, no original, para trazer ao palco uma coisa que me incomoda, há anos.  As palavras ao vento, jogadas no ventilador e na mesa como se por si sós, definissem tudo.

 

É sério. Odeio palavras clichê. Ou frases clichê.

 

Nossa língua é tão nutrida de opções, não vejo necessidade de repetir as mesmas, em manifestações de unidade ou frásticas (qualifica-se de frástico o que é relativo a frase). Creiam, o dicionário do word não reconheceu – deve estar impregnado de senso comum (meme da menina com a mão na testa!!!)

 

Esta invenção de reportagem ensaio, que chamei assim pra ser diferente e porque não sabia como chamar um texto que traz informação investigada mas tem estilo indefinido.

 

Na dúvida, chame de ensaio.  Enfim, esta invenção está mais para crônica. Muito diálogo direto com o leitor. Muito desabafo.

 

Palavras. Fico irritadíssimo com as que querem explicitar, resumir, e só conseguem reduzir. Explico: foco, narrativa, limite, escuta, gringa. E tem as próprias gringas: fake, vero, story, digital.

 

E fico por aqui. Mais chato que nunca! Ever! Sorry. O normal é ser diferente. Thanks. De nada, véi. De tudo, minha! Tipo assim, nós tudo, certo? Nam…Totalmente fora do meu DNA! Tudo é não…Tu!

CONTO

HELP.

por Tuty Osório

foto: Fernando Carvalho

– Filha…

-Oi mamãe…

-Filha…

-Diz mãe…

– Vem aqui…

– Tá! O que foi?

– Essa imagem aí… Apareceu do nada na tela do computador. Não consigo tirar… Já apertei num monte de botão…

-Não é botão, mãe. É tecla.

-Que seja. Saiu? Como é que você fez?

-Sei lá mãe! Coisa de computador…

– Pode ser. Mas é meio burro isso. Se você não estiver por perto como é que eu faço? Porque quando eu aperto não acontece nada!!!

-Besteira mãe. Coisa sua de não tentar. Sai apertando…

-Mas isso não tem lógica nenhuma, filha!

-Quem tá falando de lógica? Estou falando de experiência. Você mesma vive falando que tem que experimentar comida nova, programas novos, amizades novas…

-Não tô vendo a conexão…

-Toda! Tecla nova, saca?

-Menina!…Não é que é? É, né?

HISTÓRIAS DE JORNAL

ROMANCE E MEMÓRIA

Por Lia Raposo

Vejo a Lua no Céu

Novelas das seis e das sete, na Globo dos anos 70, eram as prediletas das mocinhas a partir dos 10 anos.

 

Minha tia Mirela era uma dessas garotas, voltava a pé da escola antes do meio-dia, tomava banho correndo e fresquinha, cheirosa de Alfazema, em short e camiseta de malha, sentava na mesinha de estudo e fazia as tarefas logo em seguida.

 

Lia e resumia as lições do dia, estudante aplicada que era. Quando minha avó chamava para o almoço ela já estava livre para a tarde diante da TV.

 

Começava com o filme da Sessão da Tarde. Emendava com o Festival Hanna e Barbera, de desenhos. E a esperada novela, às 6 em ponto.

 

Eram adaptações da literatura, muitas das vezes. A Moreninha, O Feijão e o Sonho, Sinhazinha Flor, A Escrava Isaura, Olhai os Lírios do Campo.

 

Vejo a Lua no Céu correu em 1976, adaptada de um conto de Marques Rabelo, por Sylvan Paezzo. Norma Blum com vinte e poucos anos, Eduardo Tornaghi, lindo, o enredo se passava no início do século XX e mostrava o Rio em momentos marcantes.

 

Dentre eles a participação do Brasil na I Guerra Mundial e o lançamento do Jornal A NOITE. O personagem Seu Pedro, senhor impiedoso, austero e seu assistente na fábrica de meias, este vivido por Claudio Cavalcanti, apareciam lendo o vespertino, em cena, em Fac-símiles perfeitos, imitando os reais.

 

Tia Mirela viveu emoções românticas assistindo essas novelas que habitaram as fantasias da sua geração de adolescente.

 

As imagens de A NOITE, o Jornal de sagrada leitura nas tardes dos personagens, foi o que mais a marcou. É dessas cenas, agora ela avó, que recorda com mais entusiasmo.

 

Mesmo que tenham sido os suspiros das doces heroínas e dos bravos heróis, que lhe tenham garantido lindos sonhos, nas noites cor de rosa que se sucediam ao jantar.

CRÔNICA

PÁSSARO FORMOSO

Por Tuty Osório

fotos: Fernando Carvalho; Celso Oliveira; K.Reichert, encontrado em Wikipedia.com

O voo sobre a praia, o sertão, a cidade.

 

Em Lisboa, no tempo da faculdade, eu amava a beira do Tejo, contra o vento, em busca das gaivotas de Alcantara, da Cruz Quebrada. Restos de cais, naquele tempo, num abandono só.

 

A chamada zona portuária foi revitalizada nos anos 1990, mesmo antes da Feira Mundial de 1998, que promoveu a construção do Oceanário e de todo o chamado Parque Expo.

 

Um marco na integração cultural de Lisboa a toda a Europa, o evento teve os típicos equívocos pós, o day after decepcionado, embora ansiado pelos planejadores, como dotador de um futuro garantido de crescimento urbano, com qualidade.

 

O século XIX havia separado Lisboa do Tejo, naquele trecho, erguida a barreira da linha férrea. No resgate ao final do século XX, o cuidado com o Espaço Público encantou a população, reconquistando, em parte, vida e arte para o lugar.

 

O futuro não foi rigorosamente como o esperado.

 

Porém, certamente valeu a intervenção de resgate do passado, via confiança no devir.

 

Portugal é mar, céu, cores, voos e movimento de eternas caravelas, convertidas em aviões. Que levam e trazem gente. Daqui pra lá, de lá pra cá.

 

A bordo do pavão misterioso do Nordeste, do pássaro dourado das lendas do Vale do Jequitinhonha em Minas, do corvo que surgiu no entardecer do cerrado em Brasília.

 

São sonhos, planos, alucinações, vertigens, coragens que nos transportam para descobertas.

 

Como o vento que anda e sarabanda.

O BEM VIVER

CANAIS DA BOA VIDA

por Camilla Osório de Castro

Esta coluna é inspirada no conceito de Bem Viver dos povos Andinos, principalmente a partir do estudo feito por Alberto Acosta no livro O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos (2016), onde o autor propõe que o mundo atual, extremamente ocidentalizado, possa incorporar os saberes tradicionais destes povos para a construção de um futuro melhor para a humanidade.

Hoje vamos tratar de espaços na internet que realizam este debate e utilizam também o nome Bem Viver.

 

O Brasil de Fato possui, desde 2018, um programa de rádio chamado Bem Viver, que discute alimentação saudável e agroecologia. A partir de janeiro de 2021, o programa passou para o canal no youtube e conta com diversos colaboradores realizando debates, entrevistas e receitas.

A coluna Comida de verdade apresenta receitas em uma perspectiva mais ativa e política da alimentação, apresentando pratos feitos com ingredientes in natura, tratando da necessidade de cozinharmos com autonomia e tendo a consciência das substâncias que estamos de fato ingerindo.

Já a coluna Cozinha Afetiva ensina receitas que são parte da cultura alimentar tradicional do povo brasileiro.

 

Há também debates com nomes como Leonardo Boff, tratando do olhar sobre o planeta como a nossa grande casa.

 

A leveza aliada à grande variedade de informações é um convite a enriquecer nossas referências acerca deste importante debate e ainda enriquecer nossa cozinha com pratos carregados de sabor e significado.

 

Um outro Bem Viver, este levemente flexionado como Bem Vivendo é o canal no youtube do ativista Thiago Ávila. 

 

O gerúndio aponta para o caráter contínuo e prático desta filosofia: o bem viver é uma construção diária e no caso de Thiago, uma luta constante. Ele possui inclusive uma música de sua autoria chamada “Tem que construir (o bem viver)”, que resume seu intuito como comunicador. O refrão diz:

Pra nossa sociedade florescer

Vamos levar pro mundo o Bem Viver

Vambora, formiguinha, na nossa missão

É hora de fazer uma Revolução.

 

Os vídeos do Bem Vivendo tratam da importância do “trabalho de formiguinha”, onde nossa união faz a nossa força, apesar de sozinhos sermos extremamente vulneráveis. E buscam desconstruir certas mitologias, como a de que exista um agronegócio sustentável.

 

Assim como a nossa coluna do Domingo à NOITE em 2021, esses canais de comunicação buscam pequenas revoluções por meio do acesso à informação e do debate sério de novas ideias que podem revolucionar o nosso mundo.

 

Em meio a uma semana carregada de notícias de destruição, trago aqui um afago de esperança para nos nutrirmos e enfrentar a semana que inicia.

 

TRILHAS

Bem Vivendo (canal no Youtube), por Thiago Ávila

Brasil de Fato (veículo de comunicação multiplataformas)

O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos (livro), por Alberto Acosta, 2016

Sociedade do Bem Viver, página no Instagram que reúne informações acerca desta causa

BACHIANAS E COMPANHIA

O ARTEIRO E O POETA

Por Sérgio Pires

Pablo Neruda no Brasil. Com Jorge Amado e Zélia Gattai

Não há registro se Flor, professora da Escola de Culinária Sabor e Arte, entre as muitas receitas de quitutes, quitandas e comidas de santo, em suas aulas também falava de vinho. O casal Flor e Vadinho, perfeita maridagem entre comida e bebida.

 

Já o baiano contador desta história, o autor maior da nossa brasilidade, Jorge Amado, era um declarado glutão e consumidor de “garrafas preciosas de vinho fino”.

 

“A presença noturna de Vadinho a embriagava, vinho de buquê inebriante, como resistir à sedução de sua boca de palavras e língua?” (Dona Flor e os seus dois maridos)

 

De frente a outro oceano, no Chile, o poeta Pablo Neruda talvez já se dividisse entre La Chascona, La Sebastiana e Isla Negra, suas três casas, onde bebia vinho chileno, sempre chileno, entre suas coleções de coleções. Aparentava achar uma ofensa beber vinhos de outras nacionalidades.

 

O ano era 1957, o Prêmio Nobel de Literatura de Neruda só viria 14 anos depois, em 1971, mas o poeta já era internacionalmente conhecido.

 

Para sua estada no Rio de Janeiro foi fácil para Jorge Amado encontrar um casal amigo que tivesse a honra de hospedar o autor de Ode ao vinho, onde o seu amor ao néctar é expresso em palavras.

 

“Vinho da cor do dia,

vinho da cor da noite,

vinho com pés de púrpura

ou sangue de topázio,

……….”

 

O jovem casal de anfitriões se desdobrava para agradar o Poeta, mas a verba era curta, tinham dissipado toda a herança da família da moça.   

 

Rasparam o tacho, juntaram os últimos cobres e pediram emprestado “para abastecer a adega com os vinhos chilenos da predileção de Pablo, para fornir a dispensa com acepipes refinados, caviar, patês, trufas, salmão defumado, carestias para o paladar fino do poeta”.

 

Pobreza de rico é melhor que fartura de pobre.

 

Passados alguns dias surgiu a ideia de irem para uma propriedade do irmão da anfitriã, vizinha a Miguel Pereira, uma “casa-grande de arquitetura colonial, merecedora de tombamento pelo Patrimônio Histórico e Artístico, coisa de ver-se e de gozar-se”.

 

Eram oito os viajantes para o final de semana, o casal de anfitriões esvaziou o que restava na dispensa e na adega, tudo era a conta para sobreviverem até no próximo domingo, mas, neste último dia, o poeta, regalado com a hospedagem decretou: “Nos quedaremos hasta el miercolis”.

 

E a ébria decisão foi comemorada com “a última garrafa do tinto chileno, “un terciopelo” na poética classificação do hóspede famoso”.

O anfitrião procura Jorge, quase que em lágrimas, antecipando a vergonha que passaria com o hóspede acostumado a ser recebido em mansões e palácios. Não tinha mais vinho! Muito menos dinheiro para comprar outras garrafas.

 

O espírito arteiro de Jorge encontra rapidamente uma solução: junte todas as garrafas vazias e as rolhas. Pegue o carro porque vamos para Miguel Pereira.

 

O final desta história nos será contado nas palavras do próprio Jorge Amado, como consta no livro Navegação de Cabotagem.

 

 “Num armazém de secos e molhados adquiri — fiz questão de pagar, não era muito dinheiro — vinhos nacionais de marcas mais ou menos semelhantes, com a ajuda do balconista ali mesmo baldeamos os nacionais para as garrafas vazias dos chilenos, arrolhamos bem arrolhadas, de volta à casa-grande os brancos postos a gelar no refrigerador, os tintos à vista na garrafeira.

 

“Pouco afeito aos vinhos rio-grandenses, naquele tempo,então, muito deixavam a desejar, declarei-me indisposto da barriga, abstive-me. Garrafa por garrafa, o vinho foi bebido todo ele, entre exclamações patrióticas do poeta ao degustá-lo — não há vinho que se compare ao chileno, o francês tem mais fama, mas não é o melhor —, discursava Pablo, connaisseur. Acompanhado pela dona da casa no copo e nas exclamações, nos elogios à vendange andina: tirante o uísque, ela não era contra…”

SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS

DONA DE MIM

Por Alim Amina

foto: Celso Oliveira

O rapaz da entrevista na rádio fala que somos todos empreendedores. Os empresários de todos os portes e os funcionários, também. Ser empreendedor é um estilo de vida, segundo ele. E fadado ao sucesso.


Será que dona de casa também? Pela descrição das providências que tomou na vida para ficar rico, tudo o que ele fez, eu sempre fiz. Ter consciência das minhas habilidades e das minhas dificuldades. E neutralizar as segundas, fortalecida nas primeiras. Só nunca anotei num papel, como ele recomendou, é verdade…


Substituí o talento pelo esforço. Outra recomendação do jovem rico. Não sabia cozinhar, nem passar roupa. Mas me esforcei muito, nunca desisti e hoje passo e cozinho que é uma maravilha.


Escuto a entrevista de madrugada, para enganar a insônia. Sempre aparece alguma coisa interessante para a gente aprender. E gosto muito de aprender.


Esse seria o meu conselho de sucesso na vida se me entrevistassem na rádio.


Esteja sempre disposta a aprender. Além de ser impossível a gente saber tudo, a sensação de ganhar um conhecimento, ou uma aptidão, é muito gratificante. Traz de volta a vida com suas virtudes mais poderosas.


A próxima entrevista é sobre a leitura para as crianças. São três moças. Comparam a leitura na cabeceira dos filhos ao colo. Interessante. Nunca pensei nisso. Muita imaginação dessas moças, tão empreendedoras no culto à Contação de Histórias. Assunto para a próxima semana.

Vou começar a anotar para não me perder nas ideias. E fazer sucesso com vocês!

TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

CREPÚSCULO

A BAGAGEM DA ADÉLIA

ilustração: Manuela Marques

Mais que nunca precisamos lembrar do primeiro poema de Adélia Prado que falava da VONTADE DE ALEGRIA remontando ao mil avô. E da tristeza sem pedigree. Aqui estamos nós para o resgate cotidiano da esperança. Tem que regar todo o dia. Vamos lembrar disso e propagar para ninguém esquecer. Sejamos prudentes. Arriscar também é seguro.

 

Obrigada por estarem com a gente até aqui.

Tuty e Trupe