Edição N. 15 - 24/10/2021
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Edição Geral: Tuty Osório

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Edição de Fotografia: Manuela Marques 

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

 
ALVORADA

INVENTIVIDADE DETOX

Sempre fui uma otimista incorrigível. Meu pai preocupava-se com o limiar da ingenuidade e da imprudência, ameaças constantes para quem é assim. Pessimista convicto, não havia pôr do sol garantido até ao momento exato, única prova de que não choveria. Nos dias que vivemos nestes 20 do XXI, penso muito no espaço para tanta positividade. Não podemos viver sem esperança. Contudo, é preciso não negar a realidade. Criar novos modos de organizar a vida. Intoxicados por ficções como o nervosismo dos mercados, de existência abstrata, que inundam de concreta privação o nosso dia a dia, não dá para adiar a consciência de que se impõem outros formatos. Se foi possível o absurdo de agentes econômicos artificializados, nos conceitos, mandarem na fome e no abrigo, certamente será viável que os interesses da verdadeira vida passem a comandar. Em comunidade e em parceria. Vamos experimentar?

 

Embarquem em mais um Domingo à NOITE em 2021! 

ACQ

Pela revolução copernicana da mente!

por Antônio Carlos Queiroz

O que você faria se tivesse que escolher entre um suco de laranja e um milkshake de chocolate, ou entre uma esfirra e um saco de batata frita? E o seu cachorro, o que ele escolheria, um prato de ração ou um bife?

 

Um neurocientista enquadraria o seu comportamento em pelo menos duas etapas, a de avaliação e a de decisão ou deliberação, condutas que se supõe próprias dos animais ditos “superiores”, dotados de sistemas nervosos muito complexos. No seu caso, ele deitaria falação sobre a “mente”. No caso do cachorro, mencionaria os “processos de cognição”.

 

Acontece que o mundo é bem mais complicado do que supõe a vã filosofia da grande maioria dos neurocientistas. Há pouco mais de dois anos, pesquisadores da Alemanha e da Grã-Bretanha descobriram que, em meio a um ambiente contendo nutrientes pobres, a bactéria Escherichia coli desenvolve rapidamente, com grande gasto de energia, a sua capacidade de locomoção (quimiotaxia) para alcançar nutrientes mais ricos. É isso mesmo, a  esperta bactéria rejeita a gororoba à sua disposição imediata para buscar comida mais  saudável… O mesmo comportamento é verificado no verme Caenorhabditis elegans. Se o bichinho já comeu alimentos de alta qualidade no passado, ele vai recusar a comida ruim que lhe é oferecida na expectativa de achar coisa melhor. Num caso e no outro supunha-se que essas condutas, envolvendo deliberação e memória (no caso do C. Elegans), seriam próprias de organismos de “ordem superior”.

 

Na Origem das Espécies (1859), Charles Darwin propôs que todos os seres vivos, sem exceção, evoluem por seleção natural “com atributos corporais e mentais”, e previu que a psicologia ganharia novas bases quando aceitasse essa nova visão da natureza. O psicólogo francês Alfred Binet e o geneticista matemático americano Herbert Spencer Jennings desenvolveram pesquisas na trilha de Darwin, mas o fisiologista alemão Max Verworn turrou na velha concepção que até hoje constitui o paradigma da Psicologia. Qual seja: em vez de admitir que a mente evoluiu simultaneamente com os organismos desde a primeira forma de vida há 4,2 bilhões de anos, os psicólogos conservadores apegam-se ao suposto mistério do aparecimento do “espírito” apenas em alguns animais superiores em época muito mais recente. Pior, o corpo e a mente seriam, na visão deles, entidades (substâncias) separadas, segundo a proposta dualista de Descartes, de maneira que muitas escolas da Psicologia tratam os fenômenos mentais sem levar em consideração o estado do cérebro. Pode um trem desse?

 

Está passando da hora de substituir esse paradigma obsoleto, propõe Pamela Lyon, pesquisadora visitante interdisciplinar do Instituto Southgate para a Saúde, a Sociedade e a Equidade da Faculdade de Medicina e Saúde Pública de Universidade Flinders de Adelaide, Austrália. Lyon considera que a teoria da contiguidade da evolução mental, ainda hoje negligenciada, é a proposta mais radical do repertório de Charles Darwin, “com o potencial de induzir uma completa revolução copernicana nas ciências cognitivas, e de transformar a maneira como vemos o mundo e o nosso lugar nele”.

 

Em artigo publicado esta semana na revista Aeon, Pamela Lyon afirma que o atual paradigma “cognitivista” está baseado em três princípios: 1) Na centralidade do cérebro humano; 2) Na crença de que o cérebro é uma máquina de computação; e 3) Na ideia de que “a cognição é uma computação sobre representações”. O resumo da ópera, que exclui a biologia e a evolução,   consiste no seguinte, segundo Lyon: “Há coisas identificáveis no cérebro que ‘representam’ aspectos do mundo, da mesma forma que as palavras o fazem nas frases. Esses bits de informação são ‘processados’ de acordo com algoritmos ainda a serem descobertos. Isso seria o que chamamos de pensamento, planejamento, tomada de decisão e assim por diante. Nenhuma atividade mental existe além do processamento das representações; a cognição é apenas esse processamento”.

 

Em contraposição a esses princípios, Pamela Lyon apresenta a sua própria definição de cognição, com a qual ela tem trabalhado para publicar o seu próximo livro: “A cognição compreende os meios pelos quais os organismos se familiarizam com, avaliam, exploram e evitam elementos de seu entorno para sobreviver, progredir e se reproduzir”.

 

Ela diz que os primeiros teóricos que a inspiraram na formulação dessa ideia foram o zoólogo estoniano Jakob von Uexhüll e o neurobiólogo chileno Humberto Maturana. O primeiro cunhou o conceito de Umwelt (ambiente), segundo o qual os organismos se adaptam ativamente aos seus nichos ecológicos,  avaliando os elementos de sua composição para otimizá-los para as suas necessidades. Já Maturana propôs que a vida é autoproduzida, não apenas auto-organizada ou autossustentada. E os organismos interagem cognitivamente com o seu entorno para incrementar a sua sobrevivência, progresso e reprodução. “Viver como um processo é um processo de cognição”, dizia Maturana.

 

Bem se vê que o novo paradigma das ciências cognitivas, com base na “grandeza dessa visão da vida” de Darwin, deslocaria (de novo!) a nossa espécie do centro do Universo, assim como Copérnico arredou a Terra desse centro.

 

Diz Pamela Lyon que “agora podemos nos ver – baseados na Ciência e sem a necessidade de verniz místico ou antropomorfismo – num narciso (a flor), numa minhoca, talvez até numa bactéria, assim como num chimpanzé. Compartilhamos origens comuns. Compartilhamos genes. Compartilhamos muitos dos mecanismos pelos quais nos familiarizamos e avaliamos os mundos criados por nossos sentidos. Estamos todos lutando pela existência, cada um à sua maneira, dependentes uns dos outros, lutando para sobreviver, prosperar e (para alguns) reproduzir, neste planeta que compartilhamos – que não é o centro do Universo, nem mesmo do sistema solar, mas é a única casa que qualquer um de nós tem”.

 

Encerrando o artigo, a minha nova ídola das ciências cognitivas, afirmou: “Assim como passamos a conceber que os nossos corpos evoluíram de formas mais simples de organismos, é hora de abraçar a ideia radical de Darwin de que nossas mentes também evoluíram de mentes muito mais simples. Corpo e mente evoluíram juntos e continuarão a evoluir”.

REPORTAGEM ENSAIO

DA PORTA PRA FORA TAMBÉM É MEU

por Miguel Boaventura

foto: Celso Oliveira

A nossa sociedade é complexa e isso não é segredo. mesmo para quem tenta, teimosamente, simplificar o que nunca será trivial.

 

Muito se tem debatido o papel da Imprensa nos dias de hoje. Definição, legitimidade, limites e consistências estão na arena.  

 

Uma Imprensa manipuladora, usando de sofismas e manobras intelectuais na abordagem de fatos, assustou-nos. Nesse susto e na desconfiança consequente, abriu-se espaço para modos de comunicação totalmente desvinculados de qualquer ética, código de conduta, regras de ação.

 

Não pela Imprensa, mas por outros agentes que ocuparam o espaço.

 

As chamadas Fake News infestaram blogs, grupos de whatsapp, Faces e Instas. Nas consultas de opinião, sistematizadas por Institutos Especializados, o público entrevistado afirma que volta à Imprensa como forma de checar as possíveis mentiras. Paralelamente, surgem blogs especializados nessas checagens.

 

É uma guerra na comunicação. Em aparente segmentação, já que ser diferente virou banalidade, a massa debate-se em confusas informações. Em conflito aberto, já que a internet é o meio da rua virtual, todo o mundo atira e qualquer um pode ser atingido. Menos os que, covardemente, proferem seus tiros de canhão escondidos em bunkers luxuosamente invisíveis.

 

O que vos digo, amigos e amigas do Domingo à NOITE – que resiste e deseja ampliar consciências e consistências, – é que a Esfera Pública Democrática não prescinde da Imprensa Livre, pautada por ética e aprofundamento da informação.

 

Podemos e devemos debater, aperfeiçoar, mas jamais fazer sucumbir o que conquistamos, desde o século XIX. Com equívocos, distorções, enfim, existir é imperfeito.

 

Distinguir no inferno o que não é inferno, nas maravilhosas palavras de Ítalo Calvino, é nossa tarefa urgente e inapelável.

 

Nós, os bons sem complexos. Os que têm fome e sede de justiça, sem mistificações. Os que acreditam na igualdade, na tolerância, na compaixão e na família que a todos e todas inclui.

 

TRILHAS

 

Mudança Estrutural na Esfera Pública (livro), por Jurguen Habermas

As Cidades Invisíveis (livro), por Ítalo Calvino

 

CONTO

O SOL COM AS MÃOS

por Tuty Osório

foto: Fernando Carvalho

– Mãe!!!

-Lá vem esse grito apavorante! O que foi que aconteceu, menina???

-Affe mãe! Não posso nem chamar? Você é muito apavorada demais! Depois fica falando de sobriedade…Que não é para ser histérica, e isso, e aquilo…

-Tava demorando a pontinha de crítica. São coisas distintas. Uma é não me chamar como se o mundo estivesse acabando, caso não esteja acabando, porque às vezes pode estar. Outra é essa mania de falar gritando e rindo histericamente quando se juntam a partir de duas criaturinhas da sua idade…

-Pois pronto. Baixinho agora. Mãe…Posso falar o que eu ia falar?

-Manda.

– Pintei girassóis para você na tela nova. Sabe, essa coisa solar que você é. Quer dizer eu te vejo assim. E acho que você é. Olha!

-Poxa, filha, que lindo! Obrigada!!Acho que vou gritar de alegria!!!

-Viu??

CRÔNICA

QUEM AMA NÃO MATA

Por Tuty Osório

foto: Jornal A Noite, 18 de janeiro de 1919

É consenso como as ligações de telemarketing irritam e invadem. A sujeita está curtindo o sábado, indo lavar o carro, que não vê banho há meses, para o Lava Jato, e toca o celular.

 

Não adianta mais o aviso de suspeita de spam porque há números importantes habitando a nossa vida que também trazem a advertência- portaria eletrônica do prédio, consultório médico que você está aguardando confirmação de consulta há semanas, secretaria do colégio da filha…

 

Daí você atende e lá vem o poderia falar com a senhora Maria? É uma irritação tão imensa que você nem se toca que pode ser a contribuição para o Médicos Sem Fronteiras que precisa ser renovada. Ou o pessoal da Santa Casa de Misericórdia atrás da sua paciente adesão. Já sai falando, muito alterada, que não TEM TEMPO PARA OUVIR!!!

 

Além do óbvio incômodo da enxurrada de tentativas de venda de planos de celular+ internet+ Tv a Cabo, que podem incluir combos da Netflix e da Amazon Prime – isso porque você acabou de assinar contrato novo e o massacre é sequencial, sempre! Pois bem, além desse óbvio, o telemarketing me traz um sentimento de culpa horrível com os pobres trabalhadores que não têm culpa alguma do assédio. Fora precisarem desesperadamente daquela precária oportunidade de renda.

 

Fico arrasada, quase compro tudo só para compensá-los da humilhação. Sorte que não tenho recursos, e o cartão de crédito, por motivo de clonagem, só pode ser usado no presencial. Sorte!

 

Existem, contudo, uns telefonemas que declino com doçura e prometendo dar atenção mais tarde. Assim que receber meu novo cartão. São os de assinatura de Jornal.

 

Nem faço conta do que inclui. Estou contemplada numa promoção de 3 reais por seis meses, há anos. Depois muda para 30, no automático, lógico.

 

Essa paixão bandida pelo jornal é tanta, que faço questão de não fechar porta. De desejar boa sorte, bom dia, muitas assinaturas. Peço desculpas e sigo lembrando que o Banco está atrasadíssimo no envio do novo cartão…

O BEM VIVER

TEMPO É DINHEIRO

por Camilla Osório de Castro

foto: Adobe Stock

O nosso sistema econômico atual, chamado capitalismo financeiro pelos teóricos, tem gerado distorções delirantes. Enquanto os bancos têm lucros astronômicos em meio a uma crise política, social, sanitária, ambiental e econômica, as pessoas disputam lixo e restos de ossos para comer.

 

Políticos ao redor do mundo, inclusive no Brasil, foram flagrados pelo Panama Papers com contas bilionárias nas Ilhas Virgens britânicas, em contraste com a insegurança alimentar dos países que administram. Em meio a pandemia, muitos governos relutaram em liberar quantias modestas para socorrer o povo trabalhador, mas para salvar os bancos nenhum esforço é poupado ou medido.

 

Se os bancos falirem a economia quebra de vez e será o caos, eles dizem.

 

O Mercado é um deus soberano que rege as decisões políticas e o dinheiro nem é mais um papel e sim uma ideia, dígitos na telinha. E assim, obedecemos a este status quo, sem questionar. Em profissão de fé.

 

E se a gente pudesse ter um outro tipo de economia? E se a gente pudesse ter um outro tipo de banco?

 

Os Bancos de Tempo surgiram na Itália espalhando-se para Portugal, Espanha e outros países. Aqui no Brasil estão presentes em várias cidades, como Florianópolis e Brasília, e consistem em um banco onde a unidade não é o dinheiro e sim o tempo.

 

Funciona assim: ao abrir uma conta no banco de tempo o indivíduo lista as suas habilidades que podem ser disponibilizadas em formato de serviço e contabilizadas em horas.

 

Uma hora de faxina vale o mesmo que uma hora de assessoria jurídica ou aula de inglês, não há saberes mais importantes que outros, tudo é contabilizado como hora de serviço prestado. A mesma quantidade de horas ofertadas ao banco será trocada por horas de serviços oferecidos por outros membros.

 

Tomemos como exemplo uma faxineira que oferte 3 horas semanais de faxina ao Banco de Tempo e faça faxina na casa de um dos membros, ela poderá receber essas 3h em outros serviços, digamos, 1h de massagem, 1h de aula de inglês e 1h de aula de piano. Se cotados em dinheiro, esses serviços estariam muito além do poder aquisitivo de um trabalhador com uma profissão pouco remunerada.

 

Este tipo de iniciativa compõe a filosofia da economia solidária, baseada em compartilhamento do trabalho e dos recursos. A ideia é que todos trabalhem e o valor produzido por esse trabalho seja dividido da forma mais igualitária possível.

 

Outro ponto importante é o senso de coletividade e a criação de uma comunidade afetiva em torno das trocas. No Banco de Tempo é necessário entrar em relação com o outro para trocar, algo que nem sempre ocorre nas transações em dinheiro. Deste modo, a confiança no grupo sai fortalecida. Bem como a qualidade de vida, em um ciclo virtuoso.

 

Como não podia deixar de ser, agora é a parte do convite. Que tal participar na sua cidade de comunidades que praticam trocas econômicas solidárias e que não estão baseadas no lucro? Posso te dizer que há um impacto individual gigantesco e um potencial de impacto coletivo maior ainda.

 

Desejo para você e para mim muita coragem e criatividade para inventar caminhos para fora desse abismo em que nos encontramos hoje. Tempo é mais do que dinheiro, tempo é a nossa vida correndo, passando, mudando.

 

Tempo é também, assim como dinheiro, uma ideia abstrata, ao contrário da vida, que é bem concreta. A economia solidária é um convite para nos reaproximarmos dos valores concretos de nossas vidas

 

TRILHAS 

Banco de Tempo de Portugal (website) disponível em: https://bancodetempo.pt/ 

Banco de Tempo de Brasília ( página no instagram) disponível em @bancodetempobrasilia

BACHIANAS E COMPANHIA

O QUE VALE É A AMIZADE

Por Francisco Bento

foto: Adobe Stock

Foi pelos idos de 1997. Eu não estive lá mas quem esteve me contou. Sérgio Pires, Tuty Osório, e alguns dos leitores e leitoras do Domingo à NOITE.

 

O amigo era festeiro. A esposa também. Tudo virava festa na casa. Podia ser fim de tarde na semana, domingo pela manhã. Inspirou, festejou. Música boa, improviso de comidinhas, bebidinhas reforçadas no mercado da esquina e chegava a ciranda, corações em confraria.

 

Daí que ao fazer 40 anos não podia passar sem baile. Criativo, artista, convidou os 40 casais mais chegados. A companheira, de sorriso largo, voz de Ava Gardner e disposição contagiante, chamou algumas amigas para contribuir na confecção do cardápio.

 

Na tarde da festa, enquanto ele bolava a decoração, junto com os rapazes, as garotas rodeavam uma grande mesa, preparando quitutes juntas, temperados por conversas e risadas.

 

A avó reclamou da lista – língua de boi, peixe cru, macarrão com pimenta, macarrão com maionese, só tem porcaria nessa função de vocês, declarou indignada. As cozinheiras riram mais e pediram que confiasse.

 

Na verdade era língua ao vinagrete, ceviche com leite de coco, massa argolinha com haddock, salsinha e cebolinha; e o prato quente, um penne arrabiata.

 

Foi tudo servido em mesa decorada com flores do jardim da casa, espumante seco, vinho tinto seco, uísque e bastante água.

 

Era novembro, a chuva só caiu ao amanhecer, sobre os mais altinhos que cantavam MPB4 à beira da piscina, bebericando um caldo esplêndido. As moças dançando descalças na sala virada em salão.

 

Os olhos da Tuty Osório brilham quando conta. Inesquecível, Chico. Inesquecível!!!

 

TRILHA

A Amizade (música), por MPB4

SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS

NÃO ESPERE ENVELHECER

Por Alim Amina

Sempre defendi o direito de cada qual aprender com as próprias vivências, os erros individuais. Ultimamente, muito circunspecta, com a partida de cada vez mais amigas e amigos, outros na porta da passagem, tenho repensado essas ideias feitas.

 

Por que não aprender com as vivências alheias, se o outro ou a outra merecerem a sua confiança e puderem, humildemente, servir de exemplo para não repetir erros? Penso, hoje, e digo quando tenho oportunidade, para os mais jovens, cometa erros novos. Os já conhecidos são mapa para economizar cilada.

 

É aflitivo assistir a alguém padecer dos mesmos equívocos que cometi. Está na cara que não vai dar certo, dar bom, como dizem agora, e a pessoa insiste.

 

Olho para mim e para a longa estrada que já percorri e desejo que minhas linhas do tempo possam ser úteis, além de inspiradoras.

 

Vejam, não pretendo ensinar. Somente compartilhar as experiências que foram testadas e não, não são relativas. São absolutas no prejuízo e não carece entornar caldo tão precioso, sabendo da dor da derrama.

 

Voltar aos 17 depois de viver um século. É como decifrar signos, sem ser sábio competente. Vivam esse século através de mim. E escorreguem em musgos inaugurais para presentearem, aos que vêm após vocês, a sola resistente e testada.

 

Estou chique, também tenho trilha!!!

TRILHA

Volver a los 17 (música), por Violeta Parra, vídeo com Mercedes Sosa, Caetano Veloso, Gal Costa, Milton Nascimento

TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

CREPÚSCULO

PISE FIRME

Num de seus lindos livros, que não há nada de ruim que esse homem escreva, Mia Couto fala sobre os sapatos alheios que não devemos calçar, porque não nos servem. E os que devemos experimentar para sentir um pouco do que o outro sente. É um ensaio que serviu de base para uma de suas Conferências ao redor do mundo (Interinvenções, 2010). O céu de Brasília está escuro neste anoitecer de outubro, de cigarras caladas e chuvas tímidas. Penso em quais sapatos evitar. Quais conhecer. E nos que não há. 

Obrigada por estarem com a gente até aqui.

Tuty e Trupe