Edição N. 17 - 07/11/2021
Orquestra
Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.
Edição Geral: Tuty Osório
Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório, Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo
Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho
Edição de Fotografia: Manuela Marques
Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.
Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.
Revisão: Camilla Osório de Castro.
Mídias sociais: Beatriz Lustosa.
Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.
ALVORADA
SERES QUE SÃO
Escuto muito rádio, inclusive de madrugada, nas insônias. Desta última ouvi André Abujamra, – filho do grande Antônio, ator, diretor, produtor – , dizer que ele próprio não é uma pessoa. É um barulho. Referia-se André à sua inquietude, às múltiplas tarefas e vocações, ao medo zero de arriscar. E Chico César, segundo ele, também não é uma pessoa. É uma poesia. Essa nem precisamos explicar. Dizia também André, numa voz apressada e doce ao mesmo tempo, que tocou todos os instrumentos e ainda fez mais coisa na sua última produção, indicada ao Grammy Latino, aliás, não por ser metido, mas por lhe faltarem meios para investir em múltiplas colaborações. Lembrou-me uma certa trupe, de um certo Domingo à NOITE EM 2021. Ainda sem indicação pra Prêmio, mas quem sabe, né? Nossa gratidão a todos os apoiadores e leitores que conosco navegam.
ACQ
Soneto dos ossos
por Antônio Carlos Queiroz
Não podem estar nos ossos
os colossos dos heróis –
Nem nos templos ou cemitérios
devem estar seus méritos –
Bússolas são – na peleja
pela vida em abundância
sempre apontaram o Norte
com ações e consciência –
Não memoro dos heróis as mortes –
Confiante no combate prefiro
celebrar seus nascimentos –
Canto los muertos de mi felicidad –
Sou infeliz porém por carecer de heróis
na guerra colossal da Liberdade –
REPORTAGEM ENSAIO
É.
por Miguel Boaventura
Ando meio confuso com as referências europeias e as nossas próprias. Passamos uma vida sendo incentivados a cultuar uma identidade. Entretanto descobrimos que temos muitas outras. Entretanto qual delas é a nossa? Identidade é fato e é dever. Foi como falamos aqui uma outra vez sobre o imigrante – que é o estar entre, é o que é muito e nada ao mesmo tempo. Raízes transportadas em canteiros móveis, pelo mundo.
Quem não nasceu em uma condição definida e é o descendente de muitas condições misturadas, fica perdido. A identidade é uma cobrança. Individual, social. Mas nem sempre é um fato possível. Uma identidade marcada, definida, única. Uma existência identitária. Aí a gente não é nada, nem de ninguém. Viramos alvo de pancada da reação e da militância. Não só questões de raça, povos, nações, ou o que for. É história de vida. Qual é a minha, qual é sua. São muitíssimas, ouso suspeitar.
Não é uma tentativa de nos vitimizar. Nós que não somos brancos, nem pretos, nem indígenas, nem europeus, nem originários. Mas que somos oprimidos, por outros pertencimentos, ou não pertencimentos. E como isto é, definitivamente, mais ensaio do que reportagem, mais bocas, como dizem os portugueses, que sentenças absolutas, como, de resto, sabem todos, posso dizer como Álvaro de Campos* – coitado de mim, em vadiagem na alma e que peço aos dias que passem e me deixem, e por isso sou vadio e pedinte, no sentido translato.
Eu que não empunho o punhal do matador. Não ateio o fogo às florestas. Não aperto o gatilho do cínico livre arbítrio. Nem me posiciono em heroico suicídio, como forma inequívoca de não compactuar. Assisto a tudo, desesperado, de quadrado em quadrado, acreditando acreditar.
*heterônimo do poeta Fernando Pessoa
TRILHAS
34ª Bienal de São Paulo – Faz Escuro mas eu canto e Homenagem a Jaider Esbell, o espalhador de identidades (Artes Visuais), no Parque do Ibirapuera, em São Paulo até 5 de dezembro de 2021
Poemas de Álvaro de Campos (livro), por Fernando Pessoa, edições múltiplas
MÚSICA talentos aos domingos
SUBLIMES ENCONTROS
Por Maurício Venâncio Pires
Os seguidores do Domingo à noite em 2021, no Instagram, depararam-se, na semana que passou, com um vídeo onde eu canto Quase fui lhe procurar – canção com versões do Luís Melodia e do Roberto Carlos.
Preciso, então, me apresentar.
Eu me chamo Mauricio, com o sobrenome da Silva Venancio Pires.
Descobri que deveria investir no canto quase que sem querer.
Seis meses antes do meu aniversário de 60 anos, em fevereiro de 2016, eu escrevi para os meus parentes espalhados por 5 estados (Maranhão, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais) – e os daqui do Distrito Federal – para saber quem viria para que eu pudesse organizar uma festa.
Esperava uns trinta, quem sabe quarenta, mas confirmaram uns 60 de fora e outros tantos, incluindo também os amigos daqui.
Decidi por uma surpresa.
Teria que ser algo que ninguém suspeitasse. As minhas opções: fazer mágica (descartada, sem chance de dar certo), dançar (o meu “sem jeito” não me recomendava) e cantar – algo que nunca tinha feito, a não ser no banheiro.
Em dezembro, três meses antes da festa, eu procurei a escola de música e canto GTR e disse que fossem sinceros comigo. Haveria a possibilidade de me prepararem – conseguir cantar uma música, a tal surpresa?
Se foram educados ou pacientes, eu ainda não sei, mas após uma aula o professor me disse que eu precisaria de 12, 4 por mês, e estaria pronto.
Escolhi a música: “You’ve got a friend”, composta pela norte-americana Carole King.
Motivo: Carole King tinha em torno de 18 a 20 anos em 1970 ou 71, estudava piano e canto em uma Escola de Nova Iorque e cantava na noite. Em uma dessas apresentações ela foi vista por um produtor musical de Los Angeles, que a convidou ao outro lado do país onde ele cuidaria de sua carreira.
Se hoje temos a internet, ligações com vídeo, etc e tal, naquela época uma mudança como esta – que aqui seria comparável a alguém sair de Porto Alegre e mudar para Manaus ( 4 mil km) – implicaria em praticamente perder o contato com os amigos.
Uma ligação interurbana precisava do auxílio de uma operadora e era agendada para 5 ou mais horas depois.
Ou seja, ao comunicar a seus amigos da escola de canto que iria morar em Los Angeles eles tiveram um misto de alegria e tristeza. A possibilidade de alcançar o sucesso era comemorada, mas “perder” a amiga …
Ela percebeu isso, foi para casa e em uma noite compôs o que foi o seu maior sucesso. A letra fala sobre o valor da amizade. No dia seguinte reuniu os amigos em volta do piano da escola e cantou para eles.
Voltando ao meu aniversário, que foi um almoço na pérgula do Clube AABB, em um determinado momento eu fui fazer um discurso de agradecimento.
Falei que teria entendido perfeitamente se me enviassem mensagens, no entanto, com aquele comparecimento mostraram que mais do que parentes, eram meus amigos.
Contei esta história da Carole e li a letra traduzida da música. Ao fundo, o meu professor tocava uma música incidental no teclado. Após a última frase, veio um acorde e comecei a cantar em inglês.
A emoção não foi apenas minha, mas de todos que me acompanhavam em um coro de 120 vozes.
Isso foi há 5 anos, quase seis, e – de lá para cá – continuei as minhas aulas na GTR e hoje canto por diversão.
Você Tem Um Amigo (You’ve got a friend) – Carole King
Quando você estiver deprimido e preocupado
E precisar de uma mão amiga
E nada, nada estiver dando certo
Feche os olhos e pense em mim
E logo estarei aí
Para iluminar até as suas noites mais escuras
Apenas chame meu nome
E você sabe onde eu estou
Irei correndo, oh sim baby
Para te ver de novo
Inverno, primavera, verão ou outono
Tudo que você precisa fazer é ligar
E eu estarei lá, sim, sim, sim
Você tem um amigo
Se o céu acima de você
Ficar escuro e cheio de nuvens
E aquele velho vento norte começar a soprar
Mantenha sua cabeça no lugar e chame meu nome em voz alta agora
Logo estarei batendo na sua porta
Apenas chame meu nome
E você sabe onde eu estou
Eu irei correndo, oh sim eu irei, para te ver de novo
Inverno, primavera, verão ou outono
Tudo que você precisa fazer é ligar
E eu estarei lá, sim, sim, sim
Ei, não é bom saber que você tem um amigo?
As pessoas podem ser tão frias
Eles vão te machucar e te abandonar
Bem, eles vão levar sua alma se você deixar
Oh sim, mas não os deixe
Você acabou de chamar meu nome (meu nome)
E você sabe onde eu estou
Eu irei correndo para te ver de novo
Oh baby, você não sabe sobre
Inverno, primavera, verão ou outono
Ei agora, tudo que você tem a fazer é ligar
Senhor, estarei aí sim, estarei
Você tem um amigo
Você tem um amigo
Não é bom saber que você tem um amigo
CONTO
ELOGIO À VIDA
por Tuty Osório
– Mãe!
-O que houve?
– Nada mamãe. Estou só te chamando. Eu gosto de falar Mãe!!!
– Ah, filha, que lindo! Estou procurando uns livros perdidos na estante…Mas me dá aí o mote pro próximo conto, vai! Já que você já deu o start aí chamando Mãe.
– Pode ser sobre a conversa que a gente teve ontem à noite, na hora que eu cheguei, lá na varanda?
-Pode… Mas péra, a gente falou mal de alguém?
– Não. Falamos que tem coisa páia e coisa boa na vida. E eu te falei que acho que tem mais coisa boa que coisa páia. E você ficou contente de eu achar isso.
– Menina! Não falamos mal de ninguém e ainda falamos bem da vida! Estamos de parabéns, hein? Porque o negócio tá difícil e a gente tá vendo saldo…
– É, mamãe. Você sempre fala que a gente tem que ver as vantagens. Eu ando meio de saco cheio de quem só reclama, sabe?
– É mesmo, filha. E se você está dizendo é porque é isso mesmo. Cara, que bom!
CRÔNICA
NA CASA DA MINHA TIA
Por Tuty Osório
Não estou certa do tamanho do pátio. Era no piso térreo de uma casa antiga. Muito antiga. Para os meus nove anos era uma enormidade. O banheiro era lá e no meio da noite eu enfrentava frio e mistério e ia, cheia de coragem e de medo. Talvez nem fosse tão grande quanto me parecia ao meu tamanho e aos temores de infância.
Era um deserto estrelado nas noites de inverno. Que eu invadia tal cavaleiro andante, em saga de criança aventureira. Nem era tanto. Mas toda a criança é um pouco. Eu era o suficiente para enfrentar o escuro, o gelo portuense, e ir ao banheiro do pátio, naquela velha casa da minha tia.
Passava eu uma temporada na casa. A tia, acolhedora e leal, recebia-me com cuidados de mãe e não me faltava nada. As primas, moças ainda, rodeavam-me de carinho, alegria, colos reais e simbólicos. Muito mimada por pai, mãe, irmã e irmão, tinha ali todas as compensações da distância que uma guerra nos impunha.
Como se faz com as crianças, nas guerras, quando é possível, fui posta em segurança. Na casa da tia, com suas paredes cheias de história e o pátio como um convite à fantasia.
A prima de 19 anos, que dividia o quarto comigo, enfiava as pantufas e o roupão quando dava pela minha falta no meio da noite. Já me sabia no pátio e até lá se arrastava, cheia de sono, encostava-se ao umbral da porta da cozinha aberta e perguntava: – Outra vez, miúda? Vais apanhar uma pneumonia neste andar, – advertia. Apressava-me no xixi e entrava atrás dela. Uma princesa de contos de fadas, cabelos dourados caídos em cascata de leves ondas sobre os ombros, olhos dourados, a combinar; e era sempre de verde que se vestia. Nenhuma artista de cinema era para mim mais linda. Como preocupá-la? Desistia da aventura no pátio e recolhia-me, conformada.
A prima mais nova, danada, 16 anos, logo me descobriu o fascínio pelo pátio à noite. Ofereceu-se para trocar a guarda noturna por uns dias – Anda inquieta a miúda, não deixa a mana dormir. Fico com ela uns tempos. Logo serena. São saudades dos pais e dos manos dela, certeza, – insistiu.
Contudo, o plano era outro. Ceia à meia noite, tal qual os romances juvenis de Enid Blyton e nos divertimos à grande! Farrista do balaco, essa prima não perdia minuto sem alegria!
Dias muito doces, no abraço da tia, que sabia, com muita verdade, amar os seus.
TRILHA
Memórias sentimentais de Maria Aguda, (livro), por Tuty Osório, em elaboração
Obras de Enid Blyton (Livros disponíveis em inglês, espanhol, e português.)
O BEM VIVER
FAZ ESCURO MAS EU CANTO
por Camilla Osório de Castro
O projeto nasce da necessidade de manifestar o massacre da cultura indígena.
A narrativa emerge da terra, representando o nascimento de um ser genuíno em simbiose com a natureza, que passará por um processo de busca de identidade.
A pintura indígena simboliza a primeira identidade, relacionada a ancestralidade e a origem cultural e familiar. Esse processo é interrompido pela negação da origem, o rosto negro simboliza o fim e o início de uma nova identidade; que será representada pela pintura ocidental. Essa pintura simboliza a castração sofrida pelo índio na tentativa de inserir-se na sociedade. Em um movimento cíclico e delicado, acontece o retorno à terra, o resgate e conexão com a natureza, essa é a força da resistência – A luta pela inclusão indígena na sociedade sem abrir mão da ancestralidade. R-existir é a esperança de renascimento para as próximas gerações indígenas.
Esta é a descrição da performance R-existo da artista Zahy Guajajara. O trabalho de Zahy pode ser enquadrado no que vem sido chamado por curadores de Arte Indígena Contemporânea, que vem ganhando galerias de arte e museus brasileiros nos últimos anos, principalmente com a chegada de curadores indígenas aos espaços culturais, como Naine Terena e Denilson Baniwa.
Aliando saberes e técnicas tradicionais às tecnologias digitais, os artistas expressam suas culturas e subjetividades, individuais e coletivas.
Representando o Brasil na mesa dos líderes da COP26, a Conferência do Clima de 2021, em Glasgow, Escócia, estava Txai Suruí, jovem liderança que discursou pela urgência da preservação das florestas para as vidas dos povos indígenas no Brasil.
Nesta segunda década do século XXI está muito claro que o mundo está mudando.
A ausência do nosso chefe de Estado e de governo na COP26, demonstra, no mínimo, falta de sintonia com esse mundo em mudança, no qual estamos inexoravelmente inscritos, a despeito da negação de alguns.
O modo como viveremos nas próximas décadas está sendo escrito agora e todos os atores da sociedade estão em disputa pelo poder de traçar as diretrizes dessa nova vida.
Naine Terena conta que muitos indígenas não precificam suas obras, já que seu valor simbólico não pode ser valorado em dinheiro, assim como não é possível quantificar o prejuízo cultural causado a esses povos desde a chegada dos colonizadores. Esse gesto, bem como a presença desses povos em espaços de decisão e poder como galerias de arte e conferências climáticas trazem uma cosmovisão fora do eurocentrismo para o debate.
Ousemos esperançar uma vida realmente nova escrita a essas mãos e narrada por essas vozes tão caladas e excluídas pelos vencedores das guerras coloniais.
ROTEIRO AFETIVO
MÃOS LANÇADAS
por Tuty Osório
vídeo: Vitória Sanders
Quando iniciamos o Domingo à NOITE em julho de 2021, alguns leitores apontaram ter o Jornal um certo ar de família. Fiquei ressabiada com isso, embora saiba que os comentários vieram de pessoas generosas e atentas. Não era uma crítica, mas uma observação.
Hoje deparo-me com uma família grande, de sangue, amigos, conhecidos, repleta de talentos. Na verdade, é impossível deixar essa família de fora. E que venham mais unir-se a nós na participação!
Aconteceu a coincidência da estreia de Manuela Marques nas artes visuais no dia 5 de novembro, numa Coletiva no Espaço Kraft em Fortaleza – exatamente no mesmo dia de mais uma exposição, também Coletiva, da nossa veterana Inês de Castro, no Museu Lamas, na cidade do Porto, em Portugal.
Primas irmãs, Manuela e Inês estão unidas pela vocação e teve o Cosmos o plano de as unir nesse dia, em continentes diferentes.
Inês tem carreira consolidada, com elegante traço e Instalações marcadas por inusitados materiais.
Manuela inicia caminhada, inspirada pela prima, pelo mestre Mário Sanders, pelas trocas com o grupo – Isadora, Magnólia, Pedro e Bia -, e por tantas outras referências que irão ordenar e desordenar esse caminho.
VIVA A ARTE! VIVA A VIDA!
TRILHAS
REFLEXÕES sobre o Castelo da Feira (exposição), no Museu de Lamas, Portugal, até 5 de dezembro.
Individualidade Coletiva (exposição), no Espaço Kraft, Fortaleza, Brasil, até 30 de novembro.
@inesosorio_artstudio, (Instagram)
@mariosanders, (Instagram)
@kraft.atelier (Instagram)
BACHIANAS E COMPANHIA
SEMPRE TEREMOS PARIS
Por Francisco Bento
Encontrava-me uma temporada fora, uma de minhas Residências Informais para aprender sobre o mundo. Sobre essas viagens ainda contarei muitas histórias por aqui. Meu conservadorismo não me atrapalha em querer saber mais e melhor sobre outros lugares e outros modos de ser e de viver.
Estava eu na capital francesa, Cidade Luz do meu tempo de jovem, e após cansar-me dos roteiros típicos dos turistas daquela época – início dos anos 90, perdi-me de propósito e deslumbrei-me numa praça de sonho, no bairro medieval do Marais.
A Place du Marché de Sainte Catherine é um lugar mágico, onde se pode jantar, almoçar ou simplesmente tomar um café. Tem mesas ao ar livre, na calçada, e espaços interiores, com muito charme, sabores, gente bonita em alegres conversas. Sentei-me sozinho, era um fim de tarde, e lamentei não ter uma companhia para deliciar-se comigo naquele fantástico reduto de bom gosto.
Comi um Moule Frite (pequenos crustáceos, tipo mexilhão, acompanhados de batas fritas crocantes), comum na França, que na verdade é um prato belga, presente nas brasseries( misto de café, com restaurante, com cervejaria) de todas as esquinas.
Só que lá, no Marché, tinha o clima de um petisco de praia, acompanhado de um espumante branco brut da região da Borgonha, perfeito para harmonização com os mariscos e com a manteiga associada ao molho natural que soltam no cozimento.
Dos Deuses. E o melhor é que lá na cidade maravilhosa francesa o risco de encontrar cantos assim é deliciosamente provável e gratificante.
Passada a Pandemia deem um pulo lá.
TRILHA
Place du Marché de Sainte Catherine, (espaço de gastronomia informal), Marais, Paris, França
Região da Borgonha, (espaço de enoturismo, Dijon e entorno, França
SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS
ESTRELA NA TERRA, ESTRELA NO CÉU
Por Alim Amina
Não pretendo ser original, a verdade é que não consigo evitar o assunto. Não era o meu estilo de música, sou mais tradicional. Entretanto, admiro quem se afirma com personalidade e estilo próprios, muito trabalho e muita dedicação. E fico sempre desolada quando alguém tão jovem morre. Ainda mais deixando um filhinho pequeno. Tenho os meus motivos.
Pois é, essa partida da Marília Mendonça, tão repentina, tão chocante. Traz uma insegurança sobre que mundo frágil é este, em que é muito provável nos pegar um tiro na rua, um vírus no ar, um fio de alta tensão na rota do jatinho.
Muitos dirão que se ela não fosse famosa não haveria tal comoção. Pois vos digo, eu que não sou ninguém, pois ninguém me conhece além dos meus que se sentam na minha mesa para um café com bolo, que é muito triste. Todas essas perdas.
Esse descuido dos desígnios que nos arranca assim os afetos. Ou descuido dos humanos, sei lá…Muitas vezes maldade, como foi com o pequeno Miguel, com o músico num domingo à tarde, com a vereadora Marielle, e com tantos que nos são subtraídos todos os dias.
A minha fé sustenta-me.
A tristeza, porém, é mesmo uma senhora que ainda vai balançar-se na cadeira de palhinha por uns tempos.
TIRINHA
SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA
CREPÚSCULO
PRESENÇA É TUDO
Na semana em que perdemos Nélson, Marília, Gilberto, Tarcísio, Fernando, e tantos e tantas mais que nem sabemos, só dá para lembrar que é preciso, sim, estarmos atentos e fortes. Sem ter medo de temer a morte. Atenção! Tudo é Divino e Maravilhoso! Envoltos na nossa Tropicália Desvairada, nosso Pau- Brasil manifesto em delícias e dores, na extensa riqueza cultural, moral, afetiva, artística, que ninguém, ninguém, por mais que se esmere em mediocridade, nos tira!
Obrigada por estarem com a gente até aqui.
Tuty e Trupe