Edição N. 22 - 12/12/2021
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Edição Geral: Tuty Osório

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Edição de Fotografia: Manuela Marques 

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

 
ALVORADA

A COERENCIA DE NIETZCHE

Ainda no colégio ouvi de um professor de história o episódio da vida do filósofo alemão que teria acabado seus dias conversando com um cavalo numa praça de Turim. Fiquei muito impressionada e o medo de enlouquecer me seguiu por anos. De tanto pensar e sentir, não conseguir mais comunicação com os outros, da minha espécie. Hoje não sinto mais esse temor. Aprendi que não conseguir conversar muitas vezes significa lucidez. Nietzche, segundo os estudiosos que mergulham em sua biografia, enlouqueceu no sentido clínico, devido a uma doença hereditária que comprometeu o seu cérebro e a consequências da sífilis – comum naquela época por falta de informação e de higiene. Eu converso com a Mafalda e com a Duna, canina e felina, com frequência e elas compreendem e respondem. Ainda me entendo com gente, embora saiba que muitas vezes essa missão é bastante complicada.

Começa agora mais um Domingo à NOITE em 2021! 

ACQ

CLARICE, CÁSSIA E EMILY

por Antônio Carlos Queiroz

REPORTAGEM ENSAIO

DITADURAS

por Miguel Boaventura

foto: Celso Oliveira

A Pandemia está levando a culpa de muitas mazelas que já vinham há muito. Tratar as pessoas com se fossem aplicativos é uma delas. As empresas demitem os veteranos e entregam responsabilidades pesadas aos jovens de 30 a 40 anos, sem lhes garantir equipes de recursos humanos.

 

A crença é que tudo se resolve com tecnologia. Que deveria ter sido criada para facilitar e dar mais qualidade ao dia dos humanos e não para substituí-los. O caso é grave e está adoecendo os trabalhadores, em todos os segmentos – inclusive os que se julgavam acima da média, ocupando cargos executivos estratégicos e, teoricamente, bem remunerados.

 

A ansiedade torna-se estresse crônico. O sono desaparece, os remédios desembarcam com suas malas pesadas.  Reféns inconscientes do controle das câmeras, das lives, dos programas, plataformas – viramos robôs sem teleguia. Está faltando equilíbrio e. sobretudo, humanidade.

 

Diferentes dos replicantes do cinema, seguimos submissos e deslumbrados com a parafernália que nos obriga a trabalhar 14 horas por dia, expor nossa imagem por todo o lado, ter nossos dados pessoais comercializados sem trégua.

 

Um hacker invade o sistema e perdemos informações preciosas sobre a nossa saúde. O reconhecimento facial falha e não conseguimos acessar o local do evento importante que antes dependia de gente autorizando – hoje quem decide é uma máquina, provavelmente sucateada em poucos meses de uso.

 

Tudo isso com uma ilusão patética de que continuamos no comando. Por escolha, milhões contam suas intimidades para outros milhões, sentindo-se celebridades pela embalagem. Reconheço meu mau humor. Mas parece-me que está sobrando falsa alegria, segurança impostora, ilusão de competência.

 

A escassez é de bom senso. De mergulhos que ultrapassem as superficialidades. E reconheçam que essa moda de Cyborg é perigosa e nos subtrai os bichos que somos, afinal.

 

TRILHA

Blude Runner (filme), por Ridley Scott, 1982 e 2017

HISTÓRIAS DE HISTÓRIAS

AUTOR ENCONTRADO

Por Lia Raposo

“Uma das poucas coisas e, talvez mesmo, a única que eu sabia ao certo era esta: que me chamava Mattia Pascal. E dela me aproveitava. Todas as vezes que algum dos meus amigos ou conhecidos dava provas de ter perdido o juízo, a ponto de vir ter comigo, em busca de conselho, ou sugestões, eu encolhia os ombros e respondia:

-Eu me chamo Mattia Pascal.

-Obrigado, meu caro. Isso, já sei.

-E acha pouco?

Para dizer a verdade eu também não achava muito. Mas, naquele tempo, ignorava o que quer dizer não saber nem sequer isso, isto é, não poder mais responder, em caso de necessidade, como antigamente:

-Eu me chamo Mattia Pascal.”

 

Pirandello, in O Falecido Mattia Pascal.

 

Luigi Pirandello nasceu na Sicília em 1867 e morreu em Roma em 1936. Estudou filosofia na Universidade de Bonn, na Alemanha e foi professor até 1923. O Falecido Mattia Pascal é um romance de 1904, onde trata do paradoxo entre a essência e a aparência, entre o que é a pessoa e o modo como a sociedade a vê – tido como a marca de sua obra.

 

Criador de ensaios, romances, contos e peças de teatro. Pirandello produziu muito e teve reconhecimento em vida. Seis Personagens à procura de um autor, ponto alto de sua dramaturgia, foi encenada em 1921, no Teatro Odescalchi de Roma.

 

Moderno, contemporâneo, Pirandello é um clássico perturbador. Sua prosa é concisa e sofisticada, estende-se por existencialismos que só bem mais tarde seriam extrapolados pela pena revolucionária de Sartre. Também pela verve radical de Cocteau. Não pelos estilos, mas pelo aprofundamento da abismal caverna da alma humana, despida de mantos vesperais.

(FONTE: abertura da edição de O Falecido Mattia Pascal, Abril Cultural, distribuída em Bancas de Jornais e Revistas, 1978)    

 

TRILHA

Obras Completas, (livros), por Luigi Pirandello, na Estante Virtual

CONTO

POSITANO

por Tuty Osório

foto: Celso Oliveira

– Filha?

-Oi mamãe.

– Como está?

-Estou bem mamãe.

-O que fez hoje na casa da vovó?

-Enfeites de Natal com material reciclado.

-Que beleza! Nada de celular?

-Não mãe. Celular não presta para levantar astral. Esse papo de dependência é só se a pessoa quiser.

-É mesmo. Fazem muito bafafá com esse negócio. Inventam doença com tudo…

– É. O celular faz parte da vida. Para o bem e para o mal, como tudo. Não é assim?

– Nossa, você está bem objetiva hoje, hein?

-É mamãe. Estou virando adulta. Bem no tempo certo, como você defende.

-Eita! Agora quem ficou perdida fui eu…

O BEM VIVER

AS DOENÇAS DA ECONOMIA

por Camilla Osório de Castro

Há alguns anos, e mais fortemente desde o início da pandemia, tenho notado a incidência cada vez maior de matérias de jornal, posts nas redes sociais e até mesmo livros a respeito dos transtornos mentais, verdadeiras epidemias da contemporaneidade. Depressão, ansiedade, transtornos alimentares e o famoso burnout são doenças que sempre existiram, mas parecem estar mais presentes em nossas vidas neste século.

 

Hoje de manhã deparei-me com duas publicações acerca deste tema. Numa matéria na seção psicologia, o jornal El País trata do burnout, seus sintomas e aponta atitudes que o indivíduo pode tomar para melhorar seu quadro de saúde. O burnout configura-se como um esgotamento físico e mental, ou estresse crônico como definiu a OMS, associado ao trabalho. As dicas da matéria vão de “prática do mindfulness” até “reaproximar-se do seu ciclo de amigos”. Já no instagram, a influenciadora Gabriela Pugliesi, dava dicas de bem-estar que passavam por pensamento positivo, meditação e banho gelado ao acordar.

 

O que parece faltar a estas abordagens, e é muito sintomático do tamanho do problema social que atravessamos, é a compreensão de que a origem deste mal não é individual e sim coletiva. O modo de organização do trabalho no capitalismo contemporâneo está nos adoecendo e certas áreas do conhecimento insistem em ignorar esta obviedade.

Em artigo publicado no portal do observatório do agrotóxico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a depressão como fenômeno social no capitalismo é apontada, ressaltando-se a problemática de sua abordagem pela psiquiatria como uma questão unicamente biológica e individual. É o que também aponta o psicanalista Christian Dunker, para quem a depressão é um sentimento totalmente compatível com o neoliberalismo e deve ser analisada também sob este prisma.

 

Na contemporaneidade, o sistema econômico baseia-se na especulação financeira, no desmonte das leis trabalhistas e no enfraquecimento de sindicatos e entidades de classe. Aliado a isso temos a tecnologia como um instrumento de controle. Ao acordar e abrir o celular o trabalhador já está exposto às demandas do dia, mesmo fora de seu horário de trabalho.

 

A exaustão física e mental neste contexto parece-me apenas um natural sinal de lucidez, humanidade e conexão com o que ainda restou de orgânico em nós. Que a gente possa enquanto sociedade ouvir o corpo. Desacelerar a economia e mudar suas lógicas de funcionamento pode compor o caminho rumo a redescoberta da qualidade de vida de nossos trabalhadores.

 

E, mais uma vez, isso é tarefa coletiva.

 

 

 

Trilha

 

Uma biografia da Depressão (livro), por Christian Dunker, 2021

(Re)conhecendo o stress no trabalho: uma visão crítica (artigo), por Gabriel de Nascimento e Silva. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-82202019000100005

SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS

ARTESANIAS

Por Alim Amina

No meu tempo de menina, aprendíamos trabalhos manuais na escola. Bordado, tricô, crochê, tapeçaria, costura, pintura em cerâmica. Também era de bom tom tocar piano, cantar árias e cancioneiro popular.

 

Hoje as moças e até os rapazes correm atrás dessas habilidades para relaxar da histeria da vida moderna. As parafernálias festejadas por Eça de Queiroz em As cidades e as serras, estão cansando os jovens, acelerando o seu coração, numa corrida sem nexo.

 

Dos meus trabalhinhos executados em meio à dor das artroses, vem muito da paz que cultuo como oração. Não vejo sentido nessa correria que acabou com a sobra das horas, antes apreciadas numa mesa de lanche.

 

Não sou contra a praticidade e a agilidade dos serviços ao alcance da palma da mão. Só que não dispenso a entrega do mercadinho da esquina, a conversa ao telefone na hora do pedido.

 

Acho o máximo pagar as contas via internet, sentada na minha poltroninha de frente para a TV. Fazer um Pix e resolver o que devo ao rapaz que instalou o filtro novo. Mas não abro mão de um bom papo de domingo ao redor da mesa, no final do almoço que se arrasta, na doce preguiça da folga.

 

Feitos à mão os paninhos, os enfeites, os remendos nas roupinhas que queremos conservar. As botinhas dos bisnetos, o bolo salgado com recheio de sobras.

 

Feita à mão também a vida que se quer vida de verdade.   

BACHIANAS E COMPANHIA

GÊNIO CHEF

por Sérgio Pires

Imagem do cardápio desenhado por Leonardo e Boticelli para o restaurante de ambos.

Desde criança que admiro a obra de Leonardo Da Vinci (1452-1519). Já tive a oportunidade de visitar mostras de réplicas de suas invenções tais como o protótipo de um helicóptero. em Milão admirei o mural da Santa Ceia. no Louvre a Mona Lisa. Visitei seu túmulo no Chateau d’Amboise.

 

O conhecia como escritor, filósofo, botânico, músico (tocava alaúde), poeta, pintor, escultor, engenheiro, urbanista, anatomista e inventor, mas só há poucos anos vim saber da sua faceta como cozinheiro e dono de restaurante. Foi mestre de banquetes na Corte de Ludovico Sforza, durante mais de trinta anos.

 

Na sua juventude, Leonardo conseguiu um trabalho extra como garçom na “Taverna delle Tre Lumache” (Taverna dos Três Caracóis) ao lado da Ponte Vecchio em Florença. Na época os pratos eram abundantes, com grandes pedaços de carne e polenta de aveia (o milho ainda estava na América do Sul).

 

Na Primavera de 1473 Leonardo é promovido a chefe de cozinha após a morte por envenenamento dos 3 cozinheiros do estabelecimento. Quem será que envenenou os cozinheiros? Algum cliente insatisfeito? Com certeza os críticos gastronômicos da época eram muito severos.

 

Sempre prenhe de ideias, resolveu lançar a nouvelle cuisine com 500 anos de antecedência. Dividiu o restaurante em mesas menores e tentou servir os pratos em pequenas porções e com uma bela apresentação. Faltou combinar com os clientes, que ficaram tão furiosos com a novidade que o nosso jovem chefe teve de fugir correndo para salvar sua vida. Mas ficou com sangue no olho pela surra que levou.

 

Em 1478, a Taverna dos Três Caracóis é destruída por um incêndio (outro cliente que não gostou da comida?). Leonardo abandona todos seus projetos e, com Sandro Boticelli como sócio, abre no mesmo local a taverna “Le Tre Rane di Sandro e Leonardo” (nome que já foi traduzido como: “Três Rãs de Sandro e Leonardo”, “A Marca das Três Rãs de Sandro e Leonardo”, “A pegada das três rãs”).

 

O restaurante não foi propriamente um sucesso, pois Leonardo e Sandro insistiam em servir estranha e pouca comida, com receitas como: uma anchova enrolada descansando em uma fatia de nabo esculpido para se assemelhar a um sapo; o peito de um rouxinol ou camarão e cavalos marinhos pequenos, levemente cozidos e depois descascados e servidos cobertos com nata.

 

Como toda a regra tem exceção teve uma receita que chegou até os dias de hoje com pleno sucesso: um prato de ossos de costela de cordeiro, cada um com um pouco de carne numa extremidade, levemente torrado e uma tampa de papel colocada na outra extremidade, depois de arrefecido. Sobre eles, algumas folhas de hortelã.

 

Leonardo nos apresentou o que considerava os requisitos básicos de uma cozinha:

“Primeiro que tudo [é preciso] um lume permanente. Depois, um fornecimento constante de água a ferver. A seguir, um chão que esteja sempre limpo. Então, vêm dispositivos para limpar, moer, talhar, pelar e cortar. Seguidamente, um dispositivo para manter a cozinha livre de cheiros e fedores, enobrecendo-a com uma atmosfera suave e sem fumo. E música, pois que os homens trabalham melhor e com mais alegria quando há música. Finalmente um dispositivo para eliminar as rãs dos barris de água potável”.

 

Segundo a lenda, Leonardo teria inventado e testado as receitas que aparecem sobre a mesa do mural da Santa Ceia, a saber: Miúdos de Cordeiro ao Creme, Pernas de Rã com Verduras e Enguia Assada com Purê de Nabos. Acompanham pão e vinho.

 

A Da Vinci são creditadas diversas invenções para a cozinha:

 

  • Tampa das panelas: “Cada vez que uma panela vai ao fogo, deve ser coberta com um pano, para que a fumaça não se misture ao sabor do conteúdo. Me pergunto se não poderia ser inventada uma tampa definitiva, que fosse tão indestrutível como a panela ? Farei um projeto…” (Codex Romanoff )

 

  • Guardanapo: “O meu Senhor Ludovico tem o costume de atar coelhos adornados com fitas às cadeiras dos seus comensais, a fim de que estes possam limpar as mãos engorduradas às costas do animal, costume que eu considero impróprio na época em que vivemos. E quando, depois da refeição, os animais são recolhidos e trazidos para a lavandaria, o fedor infiltra-se nos outros panos que são lavados conjuntamente com eles. Também não me apraz o hábito de o meu Senhor limpar a faca às vestes do vizinho. Por que razão não lhe é possível fazer como os outros membros da corte que a limpam à toalha trazida para o efeito? Depois de inspecionar a mesa de meu senhor ao cabo de uma refeição, constato uma situação desoladora, que lembra o fim de uma batalha. Creio ter encontrado a solução. Cada convidado deverá ter um pano próprio, para limpar suas mãos e facas. Uma vez sujo, o mesmo seria dobrado, para não profanar a mesa com tal sujeira. Resta-me decidir que nome dar a ele e como apresentá-lo.” (Codex Romanoff)

 

  • Assadores de carne;

 

  • Facas especiais;

 

  • Cortadores de vegetais;

 

  • Uma correia transportadora de lenha;

 

  • Uma imensa picadora de vacas;

 

  • Uma cortadora de pão fatiado automático;

 

  • Um sistema de chuva artificial para combater incêndios;

 

  • Um tambor semiautomático para animar os cozinheiros com música;

 

  • e um aparelho para atordoar as rãs que tentassem colar-se ao barril de água doce.

 

Para completar Leonardo ainda elaborou um código de etiqueta que deveria ser seguido nas mesas nobres:

 

  • Nenhum convidado deve sentar-se na mesa, de costas para a mesa ou no colo de outro hóspede.

 

  • Nem colocar a perna sobre a mesa.

 

  • Não se deve colocar a cabeça no prato para comer.

 

  • Não se deve tomar comida do prato do vizinho de mesa, a menos que tenha solicitado o seu consentimento.

 

  • Não se deve colocar pedaços desagradáveis de sua própria comida ou já mastigadas no prato do vizinho de mesa, a menos que tenha solicitado o seu consentimento.

 

  • Não é para usar a sua faca para fazer desenhos na madeira da mesa.

 

  • Não deve pegar o alimento da mesa e colocá-lo em sua bolsa para comer mais tarde.

 

  • Não deve beliscar ou golpear o seu vizinho de mesa.

 

  • Não é para mostrar apenas o branco dos olhos ou fazer caretas horríveis.

 

  • Não se deve atear fogo aos seus parceiros enquanto estiverem na mesa.

 

  • Não se deve fazer avanços indecentes para os pajens, ou mexer nos seus corpos.

 

  • E se você tiver que vomitar, então, você deve deixar a mesa.

 

Estas notas sobre a cozinha de Leonardo Da Vinci constam no Codex Romanoff, descoberto em 1981, no arquivo da família imperial russa, preservado no Museu Hermitage de São Petersburgo. Muitos historiadores questionam sua veracidade, mas, mesmo assim, é uma obra fascinante e de alto nível, compatível com o gênio desse ser extraordinário.

TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

CREPÚSCULO

A ELEGÂNCIA SOBE AO CÉU

A sexta feira recolheu-se levando-nos o brilho de Zenaide. Aos 96 anos partiu de nós, com a serenidade e a elegância que eram suas marcas. Além de uma beleza inquestionável, que adornava os adornos mais que o contrário. Foi com ela que aprendi a usar os lenços e as echarpes que nunca me deixam, em qualquer clima. Com um gesto suave, deu o toque sutil que separa a banalidade da joia. Solidária, interessante, gargalhava sem tumulto, com a brandura das fadas que em tudo o que tocam espalham belas sutilezas. Não pude despedir-me. Percebo, contudo, que não tem essa parte para quem é eterno.    

 

Obrigada por estarem com a gente até aqui.

Tuty e Trupe