Edição N. 23 - 19/12/2021
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Edição Geral: Tuty Osório

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Edição de Fotografia: Manuela Marques 

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

 
ALVORADA

UTOPIA BENDITA

Há uma imagem da infância que retive em mim até hoje, que já sou avó. Por enquanto são netos emprestados, mas estão em mim com muito amor. A história da Pequena Vendedora de Fósforos, e as visões que tem ao acender os últimos palitos da caixa – uma família, uma sala quentinha, uma mesa de natal farta, o colorido de uma infância acolhedora. Ela parte colhida pela neve, embalada pela alucinação que a realidade lhe negou. O meu desejo nesta passagem para o ano que começa é só um. Nessa noite mágica em que ainda nos encontraremos com restrições da Pandemia interminável. Que consigamos pegar ao colo todas as pequenas vendedoras de fósforos espalhadas pelo mundo e levá-las para dentro de uma verdade mais justa.

 

Por Tuty Osório

Começa agora mais um Domingo à NOITE em 2021! 

ACQ

ESSÊNCIAS

por Antônio Carlos Queiroz

foto: Celso Oliveira

 

Quem perderia tempo com dois dedos de prosa piegas sobre a distinção de tipo bourdieusiana das classes sociais pelos cheiros?

 

De um lado, as petites madeleines burguesas de Marcel Proust, que, amolecidas numa xícara de chá, eram capazes de transportá-lo, tão logo as migalhas atingiam seus lábios e palato, a um delicioso prazer sem noção de causa, deixando indiferentes as vicissitudes da vida, inofensivos os seus desastres, ilusória a sua brevidade, do mesmo jeito como opera o amor, completando o seu eu com uma essência preciosa, que não estava nele, era o próprio, a ponto de ele deixar de se sentir medíocre, contingente e mortal.

 

De outro lado, o menino proletário da Vila Nova em Anápolis com uma dor excruciante no nervo do terceiro molar inferior, sem quaisquer recursos na madrugada além de um envelope de cibalena e alguns cravinhos-da-índia, que, socados, preencheriam a loca, vedada com um chumaço de algodão, na esperança de encurtar a longa jornada até o amanhecer, quando o sono e o cansaço dominassem a tortura, enquanto na sua consciência a cárie com a essência de eugenol iria tatuar marcas indeléveis da miséria, apenas suportáveis por sua banalidade na vizinhança, junto com o cobreiro, a fome e o amarelão, a cor do conformismo arraigado como habitus. O mesmo perfume, dias depois rescendendo do doce de mamão ralado pela mãe, faria sua alegria beirar as lágrimas, pela rara compensação.

REPORTAGEM ENSAIO

MUNDOS

por Miguel Boaventura

foto: Celso Oliveira

Alguns amigos do grupo de trabalho do Domingo à NOITE reclamaram que ando meditativo. O Boaventura que inspirou o meu nome, grande amigo de meu pai, chamava de meditabundo. São sinónimos, mas o segundo tem jeito de ser mais melancólico que o primeiro.

 

Já confessei aqui, que não sou ingênuo, nem cínico o suficiente para não me indignar com os absurdos que cada dia mais se agravam por nossa terra devastada, moral e fisicamente. Nem para não me insurgir contra os falsos profetas, os hipócritas e os perversos.

 

Refletindo bastante, percebi o tanto de arrogância está contida na minha confissão. Com que direito o meu mau humor e meu pretenso senso de justiça, expresso, me fazem superior aos que cultivam a alegria? A alegria como modo de ser e até como forma de luta.

 

De que servem a minha cara feia e as minhas palavras tristes?

 

Tal qual o Afinador de Silêncios, do fantástico Mia Couto, serei eu um Afinador de Barulhos? Que afinação se consegue fazendo barulho? Confesso agora que não sei. Só sei que de fato, Mia e Adélia são melhores companhias que Shopenhauer, o Arthur que no século XIX, perseguia a maligna vontade metafísica – a despeito de sua filósofa genialidade. 

 

Mais forte é, com certeza, o Mil Avô alegre da Maravilhosa Senhora Prado das Minas Gerais.

 

TRILHA

Antes de Nascer o Mundo (livro), por Mia Couto

Bagagem (livro), por Adélia Prado

O mundo como vontade e representação (livro), por Arthur Shopenhauer

CONTO

O TEMPO DO TEMPO

por Tuty Osório

foto: Celso Oliveira

– Filha…

-Diz mamãe.

– Natal chegou.

-Eu percebi mãe.

-Eu mal me dei conta. E chegou. Não vi o tempo passar…

-Tá igual à Carolina do Chico Buarque, é?

-Engraçadinha! Estou falando sério. Não percebi o ano passar. Ou passou de um jeito tão assim que não tive tempo. De olhar o tempo…

– Olha aí! Você mesma diz que não é para ficar elaborando. Quanto mais elaboração mais sofrimento. Que ao contrário do que a psicanálise diz, parará, tururu…

– Ai menina! Me deixa, vai…

O BEM VIVER

EM MEMÓRIA DE BELL HOOKS

por Camilla Osório de Castro

No dia 15 de dezembro de 2021, quarta-feira, morreu bell hooks ( assim mesmo, em minúsculas, por decisão dela) e não há como não falar sobre. Não há, no entanto, palavras o suficiente para homenageá-la. Nada do que eu escreva sobre ela dará conta de sua grandeza, do tamanho da perda, do que ela representa para pesquisadores ao redor do mundo, do que ela representa para mim.

 

Limito-me, portanto, a fazer uma breve nota de algo que me deu muita esperança. Em tempos de cultura do cancelamento, endeusamento do capitalismo e um individualismo sem tamanho, as redes sociais encheram-se de citações de bell hooks a propósito de sua morte. Acredito que, como é comum quando alguém marcante morre, muita gente teve contato com suas ideias pela primeira vez esta semana. Como a morte não é o fim e sim uma etapa do decurso da vida e do pensamento, que está sempre em movimento, – é aí que vive a minha esperança.

 

Mais do que uma das mais importantes ativistas do feminismo negro, mais do que uma grande pesquisadora da educação emancipadora, bell hooks acreditava no “amor como prática de liberdade”. Hoje, em dezembro de 2021, nos vemos por vezes sem qualquer esperança no amor e na liberdade. Que a gente possa ter a coragem de resistir na práxis revolucionária dessa forma de inventar um novo mundo possível. Que a gente faça isso em homenagem a ela.

 

TRILHA

 

Obra completa de bel hooks (livros), na Estante Virtual

MÚSICA TALENTOS AOS DOMIGOS

GENTE HUMILDE

A história desta música é bem interessante, a começar que foi composta em um espaço de quase vinte anos.

 

Primeiro, a melodia, e aí entra a participação de Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto.

Garoto era filho de portugueses e considerado um fenômeno no violão, nasceu em 1915 e faleceu com apenas 40 anos em 1955. Deu aulas para Carlos Lyra, era conhecido pela sua virtuosidade ao tocar o instrumento a ponto de Baden Powell tê-lo como referência, o que – convenhamos – não é pouco.

 

As músicas que compunha ganharam letras de outros autores e, no caso de Gente Humilde, ela foi composta não se sabe o ano preciso, em forma de suíte, ou seja, tocada com outras duas músicas simultaneamente.

 

Não foi gravada, mas em 1951 foi interpretada em um Programa musical da Rádio Nacional pelo coral “Cantores do Céu” com uma letra de um autor desconhecido. Foi apenas uma apresentação e não ficou registro nos arquivos da emissora.

 

Com o falecimento do Garoto ela continuou sendo tocada, de forma instrumental apenas pelos seus admiradores, entre eles Baden Powell.

 

Em 1961/62 Baden mostrou a melodia para Vinícius de Moraes, mas somente em 1969 em Roma, quando foi visitar o amigo e compadre Chico Buarque, ele pegou a melodia e os dois fizeram a letra que eternizou a música.

 

Há quem ache provável que a dupla desconhecesse a letra de 1951, já que não havia gravação, mas o verso “É a voz da gente humilde que é feliz” me parece ter servido de inspiração para a obra-prima.

O que vale, para nós, foi o resultado.

 

Para matar a curiosidade, a primeira letra de Gente Humilde foi esta:

“Em um subúrbio afastado da cidade
Vive João e a mulher com quem casou

Em um casebre onde a felicidade
Bateu à porta foi entrando e lá ficou

E à noitinha alguém que passa pela estrada
Ouve ao longe o gemer de um violão
Que acompanha

A voz da Rita numa canção dolente
É a voz da gente humilde
Que é feliz.

A música com a famosa letra de Vinícius e Chico, recebeu a primeira gravação em 1970 por Ângela Maria e depois vieram gravações de Chico, Vinícius, Renato Russo, Chitãozinho e Xororó, Maria Bethânia, Taiguara, Luis Melodia e, mais uma vez, agora eu peço que me ouçam também.

ENCONTROS

GUIAS DE SONHOS

Encontro de Tuty Osório com Gelsi Minetto

Gelsi com seu filho Pedro Henrique

Gelsi Minetto é o que se chama de Agente de Viagens. Só que é muito mais que isso. Ela soluciona problemas, empreende buscas, desenha o mapa para a realização do roteiro desejado. Em tempos da praticidade dos sites de viagem, na palma da mão, parece esdrúxulo e antigo contar com uma agente.

Mas não é.

 

Se você precisa adiar, perde o vôo, não conseguiu fazer o check in, ela resolve tudo. Negocia valores, descobre rotas e hospedagens que não estão nas plataformas. É uma pessoa operando os sistemas para você, Sem cobrar um tostão a mais por isso. E não são raras as vezes em que nos faz economizar. Cotações, plantão pelo melhor preço, o horário mais conveniente, a oportunidade imperdível. E em tempos de remota comunicação é um luxo ter um ser humano que responde, pergunta, coloca-se empaticamente na sua situação específica. Sempre especial porque é aquela, nossa, única.

Gelsi tem uma Agência de Viagens física em Cuiabá, Mato Grosso. Contudo, atende o Brasil e o mundo via internet, de forma personalizada e muito eficiente. Curiosa de sua história, cutuquei e ela contou alguns episódios de sua trajetória de mulher moderna, mãe, empresária e equilibrista nesta dimensão que não tolera amadores.

“Comecei numa agência de um amigo do meu pai, eu tinha 20 anos, na base do “QI (risos), meu pai pediu que me contratasse. Depois trabalhei na VASP na loja e no aeroporto em horários alternados diurno e noturno por 3 anos. Após a VASP trabalhei em algumas agências e em  30 de julho de1999 abri a minha agência junto com a minha irmã.”

 

“Em novembro de 2000 nasceu meu único filho e eu já desejava ser mãe então, me fiz mais feliz. Entre uma balançada de berço com o pé e caneta na mão para emitir bilhete (na época era tudo manual) aos dias de hoje, onde minha profissão me permite ter a oportunidade de proporcionar ao meu filho uma das melhores faculdades do Brasil, a FGV, no curso de Economia. É um símbolo de que consegui boas coisas com o meu trabalho. Só aí já me sinto realizada.”

 

“Minha vida é ser agente de viagens, são 31 anos nesta trajetória e a constante alegria de viver e participar de histórias belíssimas no coração e nas lembranças de tantas pessoas.” 

“Tive oportunidades de muitas viagens a trabalho, nacionais e internacionais – Miami, Aruba, Curaçao, Punta Cana,  Santiago. Sempre que possível viajo a lazer, também, o melhor caminho para ser um bom agente de viagens além de dedicação e foco é viver experiências- das mais simples, como conhecer Aeroportos, até situações mais complexas, como uma alfândega.” 

 

“Enfim, emitir bilhete qualquer computador emite, mas cuidar de você, dos detalhes isso só nós fazemos. E eu tenho o orgulho de dizer que igual a mim conheço muitos colegas, temos paixão pelo nosso trabalho.”

 

“Porque nunca casei?! Não sei! Caberia algumas sessões de terapia talvez!  Me vi como Mãe e Pai e priorizei a maternidade!”

 

TRILHA

HOY Viagens (Agência de Viagens), por Gelsi Minetto

Telefone e Whatsapp +556581116595

SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS

MAIS QUE PALAVRAS

Por Mila Marques

Sou amiga íntima da Alim Anima. Conheço-a há muitos anos e sempre fomos grandes amigas. Chamou- me a atenção o que falou no último “Domingo a Noite”, sobre as aulas de trabalhos  manuais que tínhamos no Colégio na nossa infância. Lembro delas com muito carinho e eu também com artroses nas mãos, cultuo os meus crochês e bordados .            

 

Mas, do feito à mão, sinto falta das cartas, dos cartões de Boas-Festas, dos postais ilustrados, enviados nas viagens para a família e amigos. Colecionava- se os selos das cartas enviadas. Saí cedo da minha terra, por motivo da carreira profissional do meu marido.

 

Então me acostumei a dar notícias nossas, através de cartas para a família e amigos. Era um ritual, desde a compra do papel com o respetivo envelope, escrever com detalhes sobre a cidade, o crescimento e evolução das crianças e finalmente, finalmente selar e colocar no correio. Isto é o enviar a carta.

 

Quando se recebia, era um sentimento misto de alegria e curiosidade, sobre o que vinha de novidades, naquele papel dobrado, dentro dum envelope.      

 

Lia logo que chegava, ou então nos juntávamos, saboreando cada palavra das notícias vindas. No Natal enviavam-se lindos cartões, escolhidos com estampas do presépio ou do papai Noel. Depois enfeitava-se a base da árvore com eles, como se isso nos aproximasse da família do outro lado do mundo.

 

E tudo isso escrito à mão, feito à mão.                           

 

Caiu em desuso. Acho que as crianças menores, nem sabem o que é escrever cartas e muito menos, recebê-las. Hoje tudo se resolve com uma mensagem de whatsapp.  Nada  contra, também uso bastante.

 

Mas sinto falta de escrever as minhas cartas e receber a resposta. Guardava-as como um tesouro e quando a saudade apertava, lia e relia, muitas vezes chorando, no melhor cantinho da minha casa. Muito jovem, compartilhava com elas a minha solidão.                            

 

Outras emoções! Feliz por poder recordá-las.

CURADORIAS

Música para beijar

Antônio Carlos Queiroz – publicado originalmente em BRASILIARIOS

Guia Musical de Brasília nº 9 – Ao entrar no quintal do subprocurador-geral da República, pianista e compositor Antônio Carlos Bigonha, no Setor de Mansões Dom Bosco, a gente se depara com um grande painel de azulejos de Athos Bulcão, composto especialmente para a casa. As peças foram parar em 2004 na capa do primeiro CD de Bigonha, o Azulejando, título do chorinho que ele dedicou ao amigo Bulcão, o criador da pele de Brasília, complemento dos eixos do Lúcio Costa e das curvas do Niemeyer.

 

De chofre, o editor do Guia Musical faz uma provocação política à guisa de cumprimento: “Eu o entrevistei para a revista do Sindjus no início do século, numa época em que o Ministério Público ainda defendia o princípio da presunção de inocência”! Bem humorado, Bigonha dá uma resposta séria, antes da conversa tratar de música: “Eu estou preso ao Ministério Público guardião das garantias fundamentais. Ele se desviou um pouco do caminho, mas vai voltar a cumprir o seu melhor papel, de advogado da sociedade, e não de delegado nacional”.

 

Voltando ao motivo da entrevista, o pianista-compositor faz um resumo de sua vida e carreira. Tomou as primeiras lições de piano com a mãe, dona Helena, em Ubá, Minas Gerais. Estudou também com a professora Ana Lúcia d’Ávila, sobrinha do cantor Nelson Ned, seu conterrâneo. Quando tinha de onze para doze anos, o pai, funcionário do Banco do Brasil, foi transferido com a família para Brasília. E aqui ele cursou piano clássico na escola Lorenzo Fernández. No final da década de 70, frequentou a Escola de Música de Brasília, como aluno do maestro Emílio de César. Terminando o segundo grau, ingressou na UnB, onde concluiu o curso de piano clássico.

 

Desde criancinha – Composições Antônio Carlos Bigonha faz desde os sete anos, incentivado pelo avô materno, um violinista descendente de italianos. Os professores de piano não gostavam nada de seus exercícios, achando que eles tiravam “a disciplina do estudo”. A ideia de se lançar como compositor se concretizou no dia 21 de abril de 2001, no show Saudades de Brasília, apresentado na Sala Martins Pena do Teatro Nacional.

 

“Eu chamei o Eladio Oduber, um pianista, que eu conheci no Gate’s Pub e no Bom Demais, líder de uma banda ótima, a Cocina del Diablo. O Eladio produziu o show, tocou piano, e eu toquei também. O repertório foi todo autoral, com o Ademir Júnior no saxofone, o Rômulo Duarte no contrabaixo, o Erivelton Silva na bateria, e o Cleiton Souza também no saxofone”.

No ano seguinte, Bigonha conheceu Toninho Horta na casa do amigo Marquinho, marido da poeta Amneres Santigo. Mostrou-lhe algumas músicas e, para sua surpresa, Toninho lhe perguntou se não gostaria de gravar com ele. “Aí eu quis, né! Lógico”! Desse encontro resultou o CD Azulejando, produzido por Flávio Henrique, do estúdio Via Sonora de Belo Horizonte, com as participações de Toninho Horta (violão e guitarra), Juarez Moreira (guitarra),  Esdra Ferreira, o Neném (bateria), Maurício Freire (flauta) e Chico Amaral, da banda Skank (flauta). As duas canções com letra, O Lamento do Pierrô e Maio Azul, foram interpretadas por Marina Machado. O disco ganhou o IV Prêmio BDMG Instrumental, e Bigonha saiu em turnê por Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro.

 

O encontro com Dori – Na sequência, o produtor Flávio Henrique de Belo Horizonte apresentou a Bigonha a cantora e compositora Simone Guimarães, que lhe propôs parceria. Daí resultaram duas canções, Flor de Pão e Confissão, gravadas para o CD Flor de Pão de Simon no estúdio Biscoito Fino de Francis Hime, no Rio. Ali Bigonha conheceu Dori Caymmi, que arranjou a valsa Confissão, depois gravada também por Nana Caymmi.

 

A partir dessa experiência, e da amizade imediatamente iniciada com Dori, Danilo e Nana, Bigonha deu um passo gigantesco na carreira. Com Dori gravou o segundo disco, Urubupeba, em 2010, com todos os arranjos de Dori. O próprio Bigonha tocou o piano; a guitarra, Paulo André Tavares e Dori Caymmi; o baixo, Oswaldo Amorim e Jorge Hélder; a bateria, Leander Motta e Jurim Moreira; e a percussão, Michael Shapiro. O álbum gerou shows no Clube do Choro, no Rio e Belo Horizonte.

Oito anos depois, ele quis gravar um disco só com piano (ele próprio), baixo (Jorge Hélder) e bateria (Jurim Moreira), o Anathema. Detalhe: com a segunda faixa do álbum, Que ironia, inaugurou uma nova parceria, dessa vez com o compositor Clodo Ferreira, renovada no disco seguinte, o último, Saudades de Amanhã, lançado em dezembro do ano passado.

 

Os arranjos do piano e da orquestra desse disco foram feitos por Dori Caymmi, que, aliás, foi quem o engatilhou. Isolado pela pandemia em Petrópolis, um dia Dori ligou para Bigonha perguntando se ele não tinha “música pra gente arranjar”. Ele tinha algumas, e compôs outras para completar o álbum com uma pegada confessadamente jobimiana. “Não é à toda que eu me chamo Antônio Carlos”, diz ele, atribuindo seu nome de batismo à Bossa Nova.

 

A faixa Perto do Tom é a que compôs com Clodo Ferreira. O Prólogo e o Epílogo ele compôs com Dori. No violão comparece Dori; no contrabaixo, Jorge Hélder; na bateria, Jurim Moreira. O luxo das cordas, por indicação de Dori, coube a uma orquestra de São Petersburgo, regida pelo maestro brasileiro Kleber Augusto.

 

Infelizmente, não temos espaço para estender estes comentários. No entanto, o Guia Musical não poderia deixar de registrar três informações relevantes:

1) O nosso entrevistado os três filhos para a música, deixando que cada um escolhesse o seu instrumento: Roberto, o caçula, ficou com a bateria; Antônio, com o baixo elétrico; Márcio, com a guitarra e o violão. Márcia, a esposa, analista do Tribunal Regional Federal, não é musicista, mas é a sua produtora e a primeira crítica.

2) Bigonha concluiu em dezembro de 2015 o mestrado na UnB, investigando a ressignificação da obra original pelo arranjador. Nessa perspectiva, a sua hipótese é um arranjo é uma forma de interpretação, tanto mais original quanto o arranjador “conseguir distanciar-se da forma primeva elaborada pelo compositor, sem, no entanto, descaracterizá-la”. Como seria de esperar, ele escolheu Dori Caymmi como o caso de seu estudo.

3) Nosso músico está sendo ouvido em todo o mundo. A canção Perto do Tom estourou no Spotify com mais de 150 mil audições. No Japão, um crítico aparentemente conhecedor da MPB registrou numa resenha que as melodias do álbum Anathema “são muito bonitas… são músicas boas para beijar”.

 

TRILHA

Leia aqui o guia 

BACHIANAS E COMPANHIA

ENTRE QUATRO PAREDES

por Francisco Bento

via biomafoodhub.com

Quem como eu é viciado em TV e assiste Globo Rural todos os domingos não vai ver novidade no que vou contar aqui. Mas o importante é reforçar a ideia e incentivar a prática. Deixando claro que o tema não invalida a agricultura familiar do campo, nem o campo, Deus me livre, que acho o campo essencial, literalmente.

 

É uma outra confabulação. A reportagem mostrou uma horta vertical em 90 metros quadrados, em plena São Paulo Capital, essa Meca cultural da contemporaneidade. Quem é vanguarda sente-se pleno na Desvairada que foi a maior paixão de Mário de Andrade.

 

Trata-se da Fazenda Cubo, que planta com alta tecnologia, em ambiente climatizado por métodos naturais, economizando água em relação às culturas tradicionais, sem agrotóxicos. Pela loja Online, vemos que não é uma fortuna o que se paga pelos produtos, que podem ser entregues a domicílio ou retirados na loja – dos mais convencionais às PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais).

 

O tema das hortas urbanas tem sido lindamente abordado pela colega de equipe daqui do Domingo à NOITE, Camilla Osório de Castro, cineasta que documenta as hortas das dunas do Ceará e outras mais. Ela já nos falou até das micro plantações na varanda de casa, que proporcionam a experiência de comer o que se planta, e tornam o ambiente mais fresquinho.

 

Uma beleza de ideia. A de termos os alimentos bem pertinho. Hortas públicas, comunitárias, coletivas deveriam ser incentivadas. Já as temos, mas ainda em quantitativo modesto e quase sempre distantes dos agrupamentos com maior dificuldade de acesso a alimentos saudáveis.

 

A Fazenda Cubo é comercial. Uma prova de que lucro, inciativa privada, vendas, podem andar de mãos dadas com consciência ambiental, respeito e ética. Longa Vida!!!

TRILHA

www.fazendacubo.com.br (site), com a história, os detalhes e as ofertas   

TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

CREPÚSCULO

VINTE E TRÊS DOMINGOS JUNTOS!

 

É com muita emoção que chegamos ao número 23 do Domingo à NOITE em 2021. Nossa gratidão a todos os apoiadores, leitores e ativistas do nosso Pasquim dos Afetos, Folhinha Domingueira para fazer companhia ao banzo do início da semana. Também aos colaboradores, tão entusiasmados com a caminhada, sempre criativos e interessantes. Teremos duas edições especiais, ainda em 2021. Uma na semana antes do Natal. Outra na semana antes da virada do ano. Totalizando as 26 em seis meses, como prometemos. Em janeiro lançamos nova campanha de adesões ao Financiamento Coletivo, junto com uma Plataforma Vitrine de Projetos Culturais. Descobri que para além dos Grandes Influencers Digitais, há também os pequeninhos, como nós aqui, que conversam com segmentos e levam um papo bem bom. O pessoal da Comunicação Corporativa tá de olho na gente!! Benza a Deus!!

 

 

Obrigada por estarem com a gente até aqui.

Tuty e Trupe