Edição N. 24 - 26/12/2021
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Edição Geral: Tuty Osório

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Edição de Fotografia: Manuela Marques 

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

 
ALVORADA

ENQUANTO FAZ CAFÉ, UMA HISTÓRIA BEM CURTINHA...

A maioria de nós, assim que acorda, ou pouco depois, checa as mensagens do whatsapp. Não necessariamente sobre trabalho, diretamente. Pelo receio de perder algum recado urgente, deixar escapar alguma providência premente. Comentaristas, especialistas, passaram a cultuar a culpa por essa dependência das telas, em especial do celular. Ouço muito rádio, principalmente de madrugada, porque tenho frequentes insónias. Já comentei sobre, aqui. A rádio e as insónias. Outros colegas nossos, do Domingo à NOITE, pegaram a minha mania. Recentemente uma especialista em Gestão Corporativa falou que essa relação pode não ser de dependência, e, sim, de hábito. Podendo ser transformada em algo saboroso, se chamarmos para perto um pouco de sabedoria. Ela, Sandra, esqueci-me do sobrenome, sugere substituir a checagem por uma boa música, um podcast divertido, um vídeo agradável, enquanto se prepara o primeiro cafezinho, ou cafezão, do dia. Eu sou mais realista e embarco na sugestão após checar as mensagens. Não exijamos demais de nós. E abracemos levemente o dia.

 

Por Tuty Osório

Começa agora mais um Domingo à NOITE em 2021! 

ACQ

por Antônio Carlos Queiroz

REPORTAGEM ENSAIO

NÃO TOMBARÁS

por Miguel Boaventura

foto: Celso Oliveira

Unicef- Fundo das Nações Unidas para a Infância, promoveu uma pesquisa interessante, de suma importância. Em parceria com o Instituto Gallup. mede os percentuais de otimismo dos países, a partir de indicadores, comparando cidadãos jovens com adultos de mais idade.

 

 

A conclusão é que os jovens são mais otimistas, portam mais esperança no futuro. Por outro lado, os jovens do Brasil ocupam o segundo lugar entre os menos otimistas pesquisados. Só o Mali tem juventude mais pessimista que a nossa.

 

 

Não se iludam. Não é aprimoramento de consciência ou criticidade. É desespero, mesmo, diante de uma sociedade que mata os seus jovens desde crianças. Com tiro, fome, negação de atendimento de saúde, exclusão da educação e das oportunidades de trabalho.

 

 

Apesar de tudo, os jovens brasileiros têm mais esperança no futuro e reivindicam mais participação nas decisões e nas ações – criatividade, inovação e vontade comandam as expectativas. Só precisam de espaço para efetivar.

 

 

A pesquisa é de novembro de 2021, promovida e publicada a propósito do Dia Mundial da Criança, que acontece a 20. Bizarrice de datas, que servem mais para esconder que para evidenciar o que precisa ser exposto. Fazem o espetáculo no dia marcado e depois a carruagem continua, cada vez mais distante da vida.

 

 

Vejamos os números. Citando literalmente o SITE OFICIAL DO UNICEF, segue o quadro.

Adolescentes e jovens de 21 países estão mais otimistas do que os adultos quanto ao futuro. No Brasil, no entanto, esse índice de otimismo é um dos mais baixos entre os países analisados. É o que revela pesquisa lançada nesta quinta-feira pelo UNICEF e o Gallup, em comemoração ao Dia Mundial da Criança, celebrado em 20 de novembro. O estudo compara a visão de adolescentes e jovens (15 a 24 anos) com a de adultos maiores de 40 anos sobre como é ser criança e adolescente no mundo de hoje, mostrando as diferenças entre gerações.

 

Nos 21 países analisados, adolescentes e jovens são mais propensos do que os adultos a acreditar em um futuro melhor. Ao serem perguntados se o mundo está se tornando um lugar melhor para cada nova geração, 57% deles disseram que sim, versus 39% dos adultos. No Brasil, o índice de otimismo foi o segundo mais baixo, atrás apenas do Mali, país da África ocidental. Somente 31% dos adolescentes e jovens brasileiros, e 19% dos adultos, acreditam que o mundo está melhorando. As entrevistas foram realizadas entre fevereiro e junho de 2021. É importante notar que no Brasil foram realizadas entre o dia 23 de fevereiro e o 17 de abril, o pior momento da pandemia de covid-19 no País.

 

“Não faltam motivos para o pessimismo no mundo de hoje: mudança climática, pandemia, pobreza e desigualdade, aumento da desconfiança e crescimento do nacionalismo. Mas aqui está um motivo para otimismo: adolescentes e jovens se recusam a ver o mundo através das lentes sombrias dos adultos”, afirma a diretora executiva do UNICEF, Henrietta Fore. “Em comparação com as gerações mais velhas, adolescentes e jovens do mundo permanecem esperançosos, com uma mentalidade muito mais global e determinados a tornar o mundo um lugar melhor. Eles se preocupam com o futuro, mas se veem como parte da solução”.

 

Saúde mental e engajamento por um mundo melhor
Nos países pesquisados, adolescentes e jovens de fato relatam uma maior incidência de problemas de saúde mental, em comparação com os adultos. Entre adolescentes e jovens, 36% se sentem frequentemente nervosos, preocupados ou ansiosos, e 19% se sentem deprimidos ou com pouca vontade de realizar atividades cotidianas. Entre os adultos, foram 30% e 15%, respectivamente.

No Brasil, esses indicadores são significativamente mais altos: 48% dos adolescentes e jovens (41% dos meninos e 54% das meninas) se sentem frequentemente nervosos, preocupados ou ansiosos, e 22% dos adolescentes e jovens (15% dos meninos, 28% das meninas) dizem se sentir muitas vezes deprimidos ou com pouca vontade de realizar atividades cotidianas, versus 39% e 11% respectivamente dos adultos.

 

Porém, o estudo mostra também que a juventude não é ingênua e quer se engajar por um mundo melhor. Adolescentes e jovens afirmam que o acesso a direitos melhorou, mas destacam a urgência de ações dos governos para reverter as mudanças climáticas; afirmam ser fundamental investir em saúde mental; e querem participar das decisões que impactam sua vida. Na média dos 21 países, 58% dos adolescentes e jovens disseram ser muito importante os políticos escutarem crianças e adolescentes para tomar decisões. O Brasil ficou acima da média, com 61% dos adolescentes e jovens respondendo positivamente a essa questão.

 

Só para deixar claro que não sou eu que invento!

 

TRILHA

https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/adolescentes-e-jovens-brasileiros-estao-mais-otimistas-quanto-ao-futuro-do-que-os-adultos

CONTO

ENGANAÇÕES DO SUPEREGO

por Tuty Osório

foto: Celso Oliveira

– Qual teu tipo preferido de série, mãe?

-Não tenho tipo preferido, filha. Gosto de séries de época, mas também curto temas atuais. Gosto muito de dramaturgia brasileira, sobretudo.

-As minhas preferidas são as que falam do tempo contemporâneo. Do que está acontecendo agora, com complexidades e perplexidades.

-Chique, hein filha?

– Nada de chique. É enfrentar. Você mesma vive dizendo que a gente não deve fugir, mamãe.

-Mas o fato de eu gostar de séries de época não é sinal de fuga. Eu nem sei explicar. Acho bacana me deixar transportar pela ficção histórica, para qualquer tempo. O século XIX e as primeiras décadas do XX são os meus prediletos.

-Taí! É uma espécie de fuga camuflada de interesse pela história…

-Credo, que crítica mais antipática, filha!

-Não é crítica mamãe. É constatação. Não fica chateada. Acho você fofa na maioria dos sentidos. Sério, mesmo.

-Suave, como diz o outro…

O BEM VIVER

O PÃO NOSSO DE CADA DIA

por Camilla Osório de Castro

foto: Celso Oliveira

Estudos e estatísticas reafirmam que a agricultura familiar abastece, principalmente, o mercado interno brasileiro de alimentos. Produtos básicos como feijão, arroz, mandioca, milho, legumes e frutas da nossa cultura alimentar.

 

Essa constatação fortalece a obviedade de que é a pequena propriedade que tem que ser incentivada e fortalecida. Uma vez que o objetivo primeiro da dinâmica da economia de uma sociedade saudável é garantir a alimentação de sua população, – a partir do acesso a produtos que integrem a sua história e os seus hábitos. Bem como os nutrientes essenciais.

 

O cumprimento desse objetivo primeiro, demanda Planejamento Público (sob o comando do Estado como orquestrador e dinamizador das instâncias privadas) e uma Política de Abastecimento que faça a alimentação chegar a todos. Promova estoques para regular os períodos de escassez por crise sanitária, climática e outras.

 

Os países mais ricos e centrais do capitalismo fazem estocagem de alimentos para que suas populações jamais se privem do acesso à alimentação. União Europeia, Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Europa do Norte. Enquanto isso o Brasil encontra-se em situação de calamitosa insegurança alimentar para um percentual considerável dos seus. E há quem defenda que a prosperidade não é para todos. Sequer a comida, parece…

Trata-se de muito mais que segurança alimentar. É a Soberania Alimentar que temos obrigação de garantir. Não nos pega mais a pecha de ingênuos por defendermos isso. Quem não enxerga essa urgência é insensato e cruel.

 

Lembremo-nos que no Natal celebramos o aniversário de um refugiado, pobre, que foi perseguido, torturado e assassinado por defender a igualdade com paixão.

 

 

TRILHA

 

SOBERANIA ALIMENTAR, BUSQUE NO Google e no Youtube

Biografia de Jesus (livro), por Rodrigo Alvarez

SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS

Por Mila Marques

Sempre gosto de fazer uma decoração de Natal, ainda que simples. Deus Menino em primeiro lugar, claro! E, na procura do que guardo dos outros anos, sempre me deparo com coisas, que nem me lembrava, mas que me trazem lindas recordações. Assim são todos os objetos que estão conosco.

 

Não são coisas, nem apenas enfeites decorativos. Muitos deles vêm de alguém, de algum tempo e têm história. Eles fazem parte da nossa vida como entes queridos! É como se tivessem alma! Assim acontece com um pequeno vaso de vidro colorido, pintado à mão, que guardo religiosamente num pequeno móvel da minha sala. Acho que peça igual, só se encontra em antiquário. Era da minha querida mãe. Estava na penteadeira do quarto dela, perto da foto do meu pai, já falecido. Sempre com flores naturais, as trocava comigo, com uma oração. Era muito nova, viúva dum marido que amou incondicionalmente. Comprávamos as flores e as colocávamos sempre fresquinhas e lindas, para fazerem companhia a meu pai. Aconteceu durante 5 anos da sua vida, após a morte dele. Foi dos meus 4 aos 9 anos, idade com que me deixou. Então, a partir daí, eu passei a colocar as flores na foto dos dois. 

 

Hoje, eu tenho 81 anos e 7 meses e esse vasinho está sempre presente em minha memória.   Ele simboliza uma linda história de amor! Não é apenas um objeto guardado através do tempo, mas sim uma saudade, um sentimento, uma presença constante em mim de quem partiu tão precocemente!!

BACHIANAS E COMPANHIA

A MALA VERDE

por Sérgio Pires

Esta é uma fábula urbana, que poderia iniciar com “era uma vez” e encerrar com um “e foram felizes para sempre”, mas, como é um “causo” acontecido, vamos nos ater apenas aos fatos conhecidos.

 

Nossa história é de como, na vida, existem momentos em que se entrelaçam as linhas das existências de diversas pessoas, que nunca se encontraram pessoalmente, – mesmo a linha de quem já não está mais aqui.

 

Dona Aída tinha uma barraca na feira da Praça Gal. Osório em Ipanema, no Rio de Janeiro, onde, durante 35 anos, vendeu roupas de criança bordadas à mão e sapatinhos de crochê que produzia. Já tem cerca de 10 anos que parou de trabalhar e 2 que faleceu.

 

Eliana e eu éramos fregueses da sua barraca e só muito tempo depois viemos a saber que ela era mãe do Siqueira, amigo da Sônia, irmã da Vera Marinho.

 

E foi a Sônia que nos contou sobre a existência da mala verde, fechada há 10 anos e cheia de roupinhas produzidas pela Dona Aída.

 

Recentemente a Sônia, junto com o Siqueira, resolveram que a Eliana, que tanto valoriza este trabalho e sua história, seria quem deveria herdar as roupinhas.

 

E assim foi feito, ganhamos a imensa mala verde lotada com as roupas

lindas e delicadas, precisando apenas serem lavadas para tirar as manchas do tempo de guardadas.

 

No nosso quarto no hotel (toda história se passa no Rio de Janeiro) Eliana, delicadamente, admirando peça por peça, conseguiu arrumar todas as roupas, as distribuindo entre sua mala e uma sacola de mão, que havia levado justamente para este fim.

 

Mas, e agora? O que fazer com a mala verde? Nem a Sônia ou o Siqueira a queriam de volta. Levar para Brasília estava fora de cogitação.

 

Em busca se uma solução procurei a Camareira do Piso 18 do hotel, para falar da mala. Encontrei-a falando ao celular e pude escutar que passava várias recomendações para quem a ouvia.

 

Para me atender ela se despediu dizendo “Beijo filha!”. Pedi que me acompanhasse até o meu quarto.

 

Nesta caminhada de menos de 1 minuto pelo corredor do piso 18 do hotel, com aquela minha interminável vontade de puxar assunto, tive tempo de perguntar se era a filha dela ao telefone.

 

Ela confirmou e disse que conversavam sobre a sua netinha de apenas 45 dias. Falei para ela que também estávamos com uma netinha de poucos dias. Percebi uma tristeza em seu semblante.

 

Já no quarto resolvemos que o melhor destino para a mala verde seria ficar com a Camareira do Piso 18, que revelou que não possuía mala alguma.

 

Comento com a Eliana sobre a netinha da camareira e ela pergunta o nome da nenezinha – “Vitória!”

“Tenho uma roupa para dar de presente para ela!”

Minha curiosidade não para. “Alguma razão para ela se chamar Vitória?”

 

Os olhos de D. Isabel marejam, – sim, já havíamos nos apresentado.

 

“Minha filha sempre me deu muito trabalho e preocupação. E o pai da minha netinha morreu de bala “perdida”, sentado na calçada da sua própria casa. Minha neta é uma vitoriosa por ter nascido.”

 

Eliana, comovida com o que ouve, vai aumentando o monte de roupas para a Vitória. E D. Isabel conta mais histórias tristes de sua vida e as poucas alegrias. Tudo entrecortado por muitos agradecimentos a Deus.

 

Ficamos sabendo de outra neta e mais vestidos aumentam o monte.

 

  1. Isabel pede para nos abraçar.

 

Assim veio a linha da vida de Dona Aída para a da Sônia, desta para Eliana, que contatou a sua linha com a de D. Isabel, cujo laço final será com a pequena Vitória.

 

                  FIM

 

Será mesmo o final desta fábula? Só o destino poderá dizer.

TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

CREPÚSCULO

SALVÉ TREMENDÃO

Mais uma vez a Rádio da madrugada foi veículo de paz. Entrevista de Erasmo Carlos, 80 anos, sobre seu mais novo Projeto – Álbum e Circuito de Shows colocando a Jovem Guarda no futuro. Erasmo fala de criar sempre, para que as novas gerações se sintam motivadas a descobrir a história dele que foi revolucionária e continua sendo. Regravou sucessos, repaginou composições, suas e de outros. Confessa-se machista e militante convicto contra o mesmo machismo. Diz que considera ter melhorado um pouquinho, mas cobra-se muito mais. Tremenda juventude, sem dúvida um estado da alma que se fortalece com a sabedoria.

 

Obrigada por estarem com a gente até aqui.

Tuty e Trupe