Edição N. 27 - 09/01/2022
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Edição Geral: Tuty Osório

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo, Yvonne Miller, Elimar Pinheiro,

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Edição de Fotografia: Manuela Marques 

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

Música: Maurício Venâncio Pires, Alex Silva, Caio Magalhães, Manuela Marques

 
ALVORADA

MÃE QUE NASCE DE NÓS

Mia Couto conclama a gestarmos a mãe. O compartilhamento vem de Paula, nossa apoiadora e leitora de primeira hora. Diz-nos que é preciso, agora, coragem para a esperança. “A verdade é esta”, diz Mia. ”Somos nós que temos de ir dando à luz uma mãe. Só somos parentes, pátria e cidadão, numa relação alimentada grão a grão, gota a gota”.

Começa agora mais um Domingo à NOITE em 2022! 

REPORTAGEM ENSAIO

MERGULHAR NA PROSPERIDADE, VIBRAR NA AMBUNDÂNCIA

por Miguel Boaventura

foto: Celso Oliveira

Coisa que me irrita são esses movimentos atuais que prometem milagres pelo poder da mente e da força de vontade. Aglutinam pobres inocentes acreditando que estão derrotados por forças negativas internas. Ou por incompetência no combate às externas.

 

Esclareço que sou um pouco mal-humorado. Talvez retraído, trancado, ensimesmado. Jamais pessimista. Penso que devemos lutar sempre pelo que queremos. Seguir nossas crenças e estar abertos a reformulá-las se esse desafio se apresentar.

 

Nem sempre fui assim. Com o tempo e as quedas aprendi que a minha cara amarrada e as lamentações indignadas não faziam celeiro – nem material, muito menos espiritual.

 

Entretanto, há coisas que não consigo mesmo condescender e fingir que não vejo.  Essa onda recente de distorções do Sagrado Feminino que atraem mulheres para Mandalas e Teias que envolvem dinheiro e têm iludido algumas guerreiras de boa fé.

 

E o que é pior, alegando de algo maravilhoso como a união das mulheres, a partir de suas histórias e poderes únicos.

 

Vamos investir na união, sim.

 

Sem mistificações, fórmulas mágicas de mudança, líderes relâmpago surgidos em cavalos de luz pelo Youtube. Falsos profetas, enfim.

 

Celebrar o trigo verdadeiro, amassar em solidários grupos o pão nosso de cada dia, resgatar a vida comunitária, fortalecer laços ancestrais.

 

Com verdade e ética.     

 

TRILHAS do bem

Kaká Verá, no YouTube

Maracá, em episódios no Youtube, canal da ABIPOFICIAL (Plano de Cura, A mãe do Brasil é indígena, Ancestralidade e mais)

O BEM VIVER

MULHER, TE PRESERVA!

por Camilla Osório de Castro

foto: Camilla Osório

“Você não é daqui não né, moça?  Já ta com vontade de ficar? Quem vem morar em João Pessoa não quer saber de outra cidade, isso eu garanto.” Assim me recebeu o UBER em meu primeiro dia em João Pessoa. Ele me contou que é do Recife e já morou em todas as regiões do Brasil, mas nunca encontrou um lugar “tão bom pra se viver” quanto aquele.

 

Eu já conhecia os dados da qualidade de vida da capital paraibana. Não pude deixar de me intrigar com a ênfase e espontaneidade da fala. O que será que essa cidade tem que é diferente?

 

Logo no meu primeiro dia de visita desconfiei de um dos motivos: a simpatia do povo. Não acredito em qualidade de vida em terra de gente mal-humorada. Os pessoenses são alegres e gentis, não há sol quente que lhes tire o sorriso, nem barreira cultural que tire a boa vontade em ajudar quem quer que seja.

 

Sem qualquer embasamento científico, meu achismo aponta para uma certa autoestima, no sentido de auto apreço mesmo, que se reflete na atenção com quem chega perto e principalmente no cuidado com o entorno. Chegamos ao segundo ponto: essa é uma cidade que em todos os sentidos se preserva.

 

Fundada em 1585, João Pessoa é uma das cidades mais antigas do Brasil. Isto significa dizer que sua história, suas paisagens e monumentos arquitetônicos ajudam a contar a história de nosso país, inclusive em todas as suas contradições. ~

 

Com tanto passado, poderia ser uma cidade amarrada a ele como acontece com tantas capitais brasileiras. Ocorre ali, no entanto, algo muito atípico em terras nacionais: um olhar respeitoso para o passado sem perder o prumo do futuro.

 

O Centro Cultural São Francisco é um exemplo muito marcante. Localizado no centro histórico da cidade, o espaço corresponde a um complexo arquitetônico formado pela Igreja e o Convento de Santo Antônio, a Capela da Ordem Terceira de São Francisco, a Capela de São Benedito, a Casa de Oração dos Terceiros (chamada de Capela Dourada) e o Claustro da Ordem Terceira.

 

Datados de 1589, estes espaços guardam todas as contradições da história brasileira, como por exemplo uma separação entre a capela dos fiéis ricos, a Capela Dourada, e uma capela para pessoas escravizadas pela igreja, a Capela de São Benedito.

 

Olhando para estas construções, seu tamanho, e seu conforto, ou a falta dele, entendemos as relações de poder daquele período e para isto é fundamental que a cidade invista em sua conservação e na difusão do conhecimento histórico. E ela assim o faz.

 

Como também olham para o futuro, o centro cultural dispõe de uma exposição permanente de arte brasileira que compreende desde nomes consagrados da pintura, até manifestações populares como carrancas e ex-votos.

 

Por fim, podemos verificar ainda uma exposição de arte e cultura negra que conta com objetos sagrados da umbanda e do candomblé, como uma imagem de Exu, entidade muitas vezes demonizada de forma racista por católicos e pela própria instituição da igreja. Na mesma exposição encontramos jovens artistas negros paraibanos com produções contemporâneas em diversas linguagens e materiais.

 

Os aspectos mencionados até aqui dão conta de uma perspectiva simbólica que aponta para um respeito ao passado e ao futuro, à arte e à história. Há, no entanto, um aspecto mais prático a ser observado e que, na minha visão, está relacionado ao anterior: o planejamento urbano de João Pessoa dá espaço para o ser humano e para a natureza e não apenas para o dinheiro.

 

A cidade é repleta de parques e áreas de conservação de mata nativa, tendo recebido o título de segunda capital mais verde do mundo, atrás apenas de Paris.

 

No aspecto da construção civil e da apropriação do espaço público por particulares há também uma série de detalhes. Um exemplo marcante para mim, que resido em Fortaleza onde a orla possui um paredão de prédios, é a delimitação da pavimentação dos edifícios. Quanto mais perto do mar, mais baixos eles precisam ser.

 

Aqui encontramos a união do respeito à natureza com o respeito ao conforto da população já que prédios altos na orla geram problemas, como por exemplo o de ventilação, que prejudicam a todos, sendo benéficos apenas para enriquecer empresas.

 

É importante salientar que não estou fazendo aqui a defesa de um governo específico nem afirmando que a cidade não possui problemas.

 

Este texto parte da ideia de que há uma política de Estado atrelada a uma cultura de respeito na capital paraibana. Que ela nos sirva de inspiração e aprendizado.

MÚSICA

PARA CAZUZA, COM AMOR

por Maurício Venâncio Pires

Neste ano de 2022 estaremos completando 32 anos sem Agenor de Miranda Araújo Neto ou, simplesmente, Cazuza.

 

Esta era também a idade que ele tinha ao falecer, deixando um legado maravilhoso para a cultura nacional. 

 

Gosto é algo que não se discute, mas eu tenho a minha preferida: Codinome beija-flor.

 

Contam que ela foi composta em uma de suas internações hospitalares. Do seu leito observava um beija-flor na janela indo de flor em flor seguindo a sua vida, enquanto ele ali, sozinho. Provavelmente uma metáfora para descrever a sua desilusão amorosa.

 

Cazuza, Frejat, Barão Vermelho (ele ainda cantava na banda quando compôs a música), Simone, Luís Melodia e Diogo Nogueira fizeram versões marcantes e o que me resta é pedir para que me escutem também.

SEGUNDEIRA DA SILVA

Por Alex Silva e Banda da Silva

Olá, pessoal!

A partir do dia 12 de janeiro, quarta-feira, a SEGUNDEIRA volta a ser presencial, no projeto SEGUNDEIRA nas quartas do Feitiço das Artes.

Toda 4ª feira, das 19 às 22 horas, no Feitiço das Artes, antigo Feitiço Mineiro, na 306 Norte, onde vou receber convidados para um passeio pelo melhor da Música Popular Brasileira.

Aparece lá!

 

Canal Alex Silva:

https://www.youtube.com/channel/UCWQ9jMwHmqxoZBqF03fgMZg/videos

CONTO

A CAMINHADA DE FIM DE TARDE

por Elimar Pinheiro do Nascimento

foto: Fernando "Azul" Carvalho

Quase todos os dias, no fim da tarde, os dois caminhavam no calçadão da cidade. Conversavam muito. O avô falava mais, o neto, menos. Ao passar pelos transeuntes cumprimentavam-nos, sorrindo. Os dois eram, igualmente, mais efusivos em relação aos mais velhos e às crianças, menos em relação aos outros. E os transeuntes lhes respondiam sempre de forma gentil. A caminhada não costumava durar mais que uma hora, pois o sol morria cedo naquela cidade, em torno das 18 horas.

 

Eles não gostavam de andar no escuro. A iluminação do calçadão não era notória, e corria uma versão de que, à noite, era perigoso, pois visitado por pequenos ladrões.

 

 

Eles moravam sozinhos em uma grande casa de madeira, daquelas que se veem em algumas regiões do sul do Brasil. A avó já havia partido há um pedaço de tempo, quando o neto tinha 10 anos. Agora, com 17, a dor da perda já havia passado, e apenas por alguns segundos batia a tristeza da perda. O mesmo não ocorria ao avô. Toda noite ao deitar lembrava da velha companheira com quem havia vivido por mais de três décadas. Embora ainda relativamente novo, nunca se interessou por outra mulher. Vivia de seu trabalho, do amor ao neto e seus hobbys, ler e jogar carta. Este último hobby era o que lhe permitia encontrar os velhos amigos. Às vezes, mas poucas, ia ao cinema ou ao futebol.

 

 

Todo o dia de manhã, os dois tomavam café juntos e partiam para seus destinos. O neto para a escola onde estudava, e o avô para outra escola, onde trabalhava como professor. A vizinhança os via frequentemente juntos cuidando das plantas, fazendo trabalhos domésticos de manutenção da velha casa, ou indo ao cinema ou ao futebol. O neto gostava da companhia do avô porque ele não ficava lhe cobrando atitudes.

 

 

Via seus amigos com as mães sempre dizendo que não estavam corretamente vestidos, que não deviam chegar tarde em casa, que se cuidassem das más companhias nas ruas, que deveriam estudar, acordar cedo etc. E comparava com o avô, que não lhe fazia comentários sobre a forma de se vestir e de se portar.

 

 

Ele achava engraçadas as roupas folgadas e pretas que o neto usava, os cabelos cumpridos, os brincos no rosto e as tatuagens nos braços. Não lhe dizia como se comportar, apenas perguntava, inquiria o que isso ou aquilo significava, ou porque ele gostava de uma coisa ou outra. Mas sempre despido de qualquer julgamento.

 

 

Considerava-se feliz e curtia aquele velho, sempre disposto a se atualizar. Mesmo quando no final do mês chegava com uma menção ruim no boletim escolar, o velho não ralhava. Apenas perguntava: por quê? E inventava uma forma de fazê-lo interessar-se pelos conteúdos da disciplina em que não havia se saído bem. Era feliz com aquele velhote engraçado e carinhoso.

 

 

Um dia ao chegar em casa, o avô se deparou com a casa em fogo. Correu desesperado para dentro da casa sem saber se o neto lá se encontrava ou não. Multidão de pessoas se formou em volta da casa, enquanto chegava a polícia, os bombeiros, os repórteres, a ambulância. Era um fogo que não acabava, e os vizinhos comentavam como aquilo havia começado, e onde estavam seus habitantes.  Os bombeiros levaram algumas horas para conter o fogo. No final, restou pouco da casa, metais sobretudo. E as pessoas se foram.

 

 

No dia seguinte, no fim da tarde, o avô e o neto caminhavam, como sempre fizeram, no calçadão da cidade. O avô falando mais, o neto, menos. Cumprimentavam sorridentes todos os transeuntes, com mais ênfase aos mais velhos e às crianças. Porém, os transeuntes não lhes respondiam ao cumprimento. E continuaram caminhando, sem se darem conta de que a noite se aproximava, com sua escuridão e pequenos ladrões.

 

Publicado originalmente na revista Será

POESIA

TRADUZIR-SE

Por Ferreira Gullar

via Wikipedia

Uma parte de mim

é todo mundo;

outra parte é ninguém:

fundo sem fundo.

 

Uma parte de mim

é multidão:

outra parte estranheza

e solidão.

 

Uma parte de mim

pesa, pondera;

outra parte

delira.

 

Uma parte de mim

almoça e janta;

outra parte

se espanta.

 

Uma parte de mim

é permanente;

outra parte

se sabe de repente.

 

Uma parte de mim

é só vertigem;

outra parte,

linguagem.

 

Traduzir-se uma parte

na outra parte

— que é uma questão

de vida ou morte —

será arte?

TRILHA

Na Vertigem do Dia (livro), por Ferreira Gullar, 1980

CRÔNICA

CERTEZA QUE HAVIA ALGO DE ERRADO.

por Renato Lui

via Wikipedia

Bom, eram 6 da manhã e eu estava me preparando para dormir.

 

Foi quando aconteceu a primeira vez: olhei para o Sol nascendo, e senti algo crescer dentro do peito.

Esfriando e esquentando.

 

Uma sopa com cubos de gelo.

 

Lembro de ter lido algo sobre isso, em um panfleto de supermercado…

 

Uma daquelas propagandas para fazer você comprar suco em pó:

 

“Todo gosto, com sabor de esperança “

 

Nem dormi! Fui ao médico no mesmo dia. Desde então, aconteceu tanta coisa. Quando vi estava em uma maca, cercada por estudantes, esses observavam um fenômeno até então extinto.

 

Havia, algo no cérebro, ainda não entendia bem… Ao que parece, estou com “Esperança”.

 

O doutor disse que na humanidade, fazia 100? talvez 112 anos que não era detectado Esperança na população.

Como aconteceu? Uma hora eu estava mal, de repente…

Será o Sol? Bom, não sei…

 

Mas hoje, veio um cara engravatado e apertou minha mão, com um sorriso no rosto, e em nome de uma empresa sei lá das quantas…

Me trouxe uma intimação, disse que eu precisava de um advogado urgente porque a situação era séria.

 

Parece que patentearam a Esperança!  Mais essa agora.

 

Estavam entrando com um processo contra mim, por uso sem autorização…

 

Ora, mas que culpa tenho eu?

 

Nem sabia que iam lançar um novo sabor de Doritos com essa merd*.

 

Isso repercutiu de uma forma, que até fizeram um grupo no Twitter me cancelando.

 

Familiares ligando perguntando se estava mal? Mas é claro que eu não tô mal, eu tô ótimo. Não seria esse o problema?

 

 

De resumo, minha vida virou um auê…

 

E até agora o médico ainda não descobriu como tirar.

Imagina se eu tenho que viver com isso? E se for contagioso?

 

Um monte de gente com Esperança por aí, e de graça!

Que rombo na economia.

LENDA

SIGAMOS A LUZ

por Tuty Osório

foto: Aluysio Oliveira

O Filósofo perdeu o relógio de bolso no pátio. Caiu sem que notasse, mas tinha precisão de onde havia sido. Voltou pra procurar à noite. O local que acreditava exato, envolto na escuridão.

 

Dirigiu-se ao lampião, e passou a procurar em torno da mancha clara que iluminava o chão.  Mãos para trás, dava voltas à volta do suporte da lâmpada, com método e vagar.

 

O Amigo questionou. Filósofo onde afinal perdeste o relógio? Ali adiante, atravessando o pátio, respondeu-lhe. Então porque procuras aí, questionou novamente o Amigo.

 

Porque é aqui que está a luz, respondeu-lhe novamente o Filósofo. Com prontidão, cobrindo-se com o manto perigoso das certezas.

SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS

O ABANDONO E OUTRAS DOENÇAS

Por Alim Amina

Narram os estudos que escuto pela rádio que parte das buscas nos atendimentos de emergência, públicos e privados, são por dores no estômago, taquicardia, dores musculares, tonturas, respiração ofegante sem inflamação respiratória. A conclusão de alguns psiquiatras, psicólogos e antropólogos é de que é tudo ansiedade. Pelos tempos de crise que se arrastam há décadas e só pioram. A Pandemia ampliou mas não trouxe novidade.

 

Eu ouso acrescentar que são sofrimentos físicos que explodem em pedido de socorro a sofrimentos da alma. São dores de solidão. Não tem havido escolha. Estar só tem sido imposição. O medo não é covardia. É espreita diária por tantos perigos.

 

Perdoem a falta de abraço, de espaço, de ar. Os dias estão assim…

 

Que tal combatermos toda essa angústia? Cuidados extra com os que amamos e com os que nos cruzam o caminho, mesmo desconhecidos. Não tem nem que sair do lugar. Somente prestar atenção.

 

E, sem ser médica nem especialista em políticas públicas, recomendo às Unidades de Saúde mais acolhimento, chá de tília e palavras amenas com quem as busca, aflito.

 

Quem sabe as filas transformam-se em grandes rodas, em volta da fogueira da solidariedade.

BACHIANAS E COMPANHIA

AMIGOS PARA SEMPRE

por Francisco Bento

Já tinha meu texto pronto e a Tuty Osório bateu um fio aqui pro Rio e me deu uns motes afetivos que mudaram completamente o rumo da conversa.

 

Não reparem na minha antiguidade, a gente batia fio quando telefone tinha fio grudado na parede, era artigo raro pelo qual se pagava a linha – como sendo um bem móvel e entrava até na declaração de imposto de renda.

 

Hoje, com os maravilhosos smarts phones que até falar sozinhos, falam, com as alexias e companhias, o velho fixo que parava de funcionar a cada chuva, foi-se. Os códigos de comunicação voltam às vezes, por nostalgia ou charme, até…Não sou saudosista, mas gosto de um momento retrô para provar a mim mesmo que vivi umas aventuras e tenho minhas histórias para contar.

 

Pois bem, pra variar faço preâmbulos demais antes de entrar no assunto. Minha amiga editora falou-me da emoção da amizade em torno da mesa. Eu já havia falado disto aqui, a propósito de um almoço afetuoso em casa de Serginho Pires e de Lili. E do aniversário de um outro amigo. Amigos herdados de Tuty, que por sua vez os herdou de outrem, há mais de trinta anos.

 

Amizade é coisa boa. Amigos e amigas que gostam de boa comida e bebida, é coisa melhor, ainda. Tarde de domingo em torno de uma mesa enorme na chácara da família de uns deles. A conversa séria, misturada a relatos engraçados, num sábado chuvoso ao abrigo de um bom restaurante.

 

Jantares de aniversário no bistrô artesanal da ocasião – Brasília teve muitos no final da década de 90 – Alice, um francês que não lembro o nome e um finlandês com cardápio para lá de extravagante. Foram alguns. Passava temporadas longas na Nova Capital, nessa época.

 

Uma amiga comemorou os 40 anos num que ficava debaixo das velhas árvores da Asa Sul. Era simples e tinha o nome pomposo de Faisão Dourado.  Em pesquisa rápida na internet continua existindo no mesmo lugar. Vale conferir. Como disse, sem luxo, cerveja gelada e comida deliciosa.

 

Debaixo de árvores começou o chef Valdir em Fortaleza. Era um pátio no Papicu, depois outro pátio na Aldeota. Muita amizade tomou porre por ali. Com a companhia de iguarias inesquecíveis.

 

Tuty Osório teve notícias dele ontem no bairro Guararapes, do lado sul, região para onde se espalha a solar cidade que na origem era um lugar de tomar de conta – na definição do urbanista Fausto Nilo.

 

Mas isso já são outras conversas – a história da cidade que era um Forte de vigia aos invasores por mar; e a história do restaurante Tilápia, fusão da comida do sertão com as técnicas da alta gastronomia, em criações primorosas do talentoso Valdir.

   

Aqui o tema é a amizade que se acolhe em sabores. A receita é estar sempre pronto para receber e doar.

 

Deixo-vos a trilha pro novo Tilápia do Valdir. Na minha próxima vez falo mais deste amigo, gastrônomo, genial, dotado de uma alegria que tempera a visita aos seus bem cuidados abrigos de encontros.

 

TRILHA

Tilápia (restaurante) por José Valdir, em Fortaleza

TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

A pedidos, mais uma vez…

CREPÚSCULO

A DONA DA VOZ

Há um silêncio a ser ouvido. A ser rompido. A ser aprendido. A ser vencido. Não há mais esfinge a decifrar em fuga da devoração. Há um enigma que aguarda ser chamado a dar as mãos ao devir, ao minuto futuro que está grudado ao presente. Vamos colorir as pirâmides de areia, vencer a caminhada da muralha em balés redentores. Dar boas vindas aos ancestrais que descem para nos auxiliar na luta. Abraçar as bençãos dos santos sábios. Deixar-se proteger pelos profetas da paz.

 

Obrigada por estarem com a gente até aqui.

Tuty e Trupe