Edição N. 30.1 - 30/01/2022
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Edição Geral: Tuty Osório

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo, Yvonne Miller, Elimar Pinheiro,

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Edição de Fotografia: Manuela Marques 

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

Música: Maurício Venâncio Pires, Alex Silva, Caio Magalhães, Manuela Marques

Vídeos: Deborah Coelho

 
ALVORADA

NÃO É BRINQUEDO, NÃO!

foto: Celso Oliveira

Em 2015, numa temporada de trabalho em Brasília, abriguei-me com a amiga Ana Carolina, na linda casa que construiu na mata do Lago Sul, bem depois do Jardim Botânico. Acordava às quatro e meia da manhã para dar tempo de correr pelas ruas silenciosas do condomínio e pegar carona com ela, um pouco antes das 6. Saíamos com o dia nascendo, em direção ao Plano Piloto. Dias doces. Trabalho e lazer conviviam em perfeita harmonia. Aos domingos, Aninha sempre desafiava para um passeio cultural, já que a morada era em plena natureza. Diariamente, na volta para casa, fazíamos o circuito de dar de beber às plantas, ela de mangueira em punho, eu do lado aprendendo sobre o jardim e trocando casos existenciais. Num dos passeios domingueiros fora, assistimos a um filme sueco no Cinema de Arte do Liberty Mall. Era uma trama interessantíssima sobre obstrução de consciência, mas o que trago aqui é a profissão do protagonista. Cineasta, pago pela coletividade para contar histórias através do audiovisual. Aparecia trabalhando numa função comum, tal qual enfermeiro, professor. Juiz, analista legislativo. Ou seja, a cultura como um serviço essencial à sobrevivência digna da população. Esta edição fala da essencialidade da cultura, entre outros temas, e de como é preciso atentar para o quanto gera renda, constitui-se num segmento da economia, da diplomacia e numa estratégia eficientíssima de prevenção, e cura, de doenças. Desculpando-me por esta ALVORADA tão longa, quero mais uma vez agradecer aos APOIADORES do Domingo à NOITE. Que sentiram vontade, alegria e cumplicidade em fazer parte da Ciranda Virtuosa da Produção Cultural. Junto conosco que escrevemos, fotografamos, desenhamos, filmamos, todos vocês, são os autores valorosos de seu tempo!

 

Começa agora mais um Domingo à NOITE em 2022! 

LAREIRAS MÁGICAS

MANHÃ DE DOMINGO

por Camilla Osório de Castro

O curta-metragem “Manhã de Domingo”, de Bruno Ribeiro, estreou nacionalmente esta semana na 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes e terá sua estreia mundial no Festival de Berlim, sendo o único filme brasileiro a competir este ano.

 

É um filme belíssimo. Mas não é apenas por isto que o trago aqui como fio condutor de nosso domingo à noite. Para além de suas particularidades, penso que este filme resume bem alguns pontos importantes, acerca do cinema brasileiro contemporâneo – seja na temática, seja na estética, seja nas políticas públicas.

 

“Manhã de Domingo” é um expoente do que, na minha opinião, há de melhor e de mais novo no cinema nacional.

 

A narrativa aborda um dia na vida de Gabriela, uma jovem pianista negra que irá se apresentar em seu primeiro grande recital. Iniciamos com um plano de Gabriela ao piano. O plano dura muito, bem mais do que é de costume para esse tipo de imagem. Dura o suficiente para sentirmos a música, nos conectarmos sensorialmente com ela e, consequentemente, com a subjetividade de Gabriela.

 

E aí eu te convido a tentar lembrar de três filmes que você já viu na sua vida sobre pianistas negras. Achou difícil? Pois é. É algo muito novo e ao mesmo tempo muito básico.

 

Após o fim da música, o filme revela um homem nu deitado no sofá escutando Gabriela tocar. Eles têm então uma troca de carícias. Aqui, novamente vemos algo muito diferente. A forma de filmar o desejo, e também o carinho, proposta por Bruno Ribeiro vão na contramão do que hegemonicamente se faz no cinema, mesmo o independente. Não há uma objetificação do corpo da mulher, mas também não há uma exclusão da sensualidade do universo da personagem. Há uma protagonista mulher que deseja. Que é sujeito do desejo.

 

Por fim, para além da obra em si, falemos um pouco de contexto.

 

Nos créditos do filme constatamos duas características que são comuns à maioria dos filmes nacionais atualmente: foi realizado a partir de um edital público de baixo orçamento. Notamos o edital público pelas logomarcas e o baixo orçamento pelo tamanho da equipe.

 

Explicito estes dois pontos para chegar ao terceiro: ele representará o Brasil em um dos mais importantes festivais do mundo; mesmo tendo sido realizado em condições que não são as ideais. Ainda assim sua realização só foi possível porque ainda restou algum investimento público em cultura neste país.

 

Seis dias atrás, a produtora executiva de “Manhã de Domingo”, Laís Diel, publicou em seu perfil no Instagram o link da vakinha online que a equipe está fazendo para conseguir comparecer ao festival.

 

Até 2019, a ANCINE – Agência Nacional de Cinema, possuía um Programa de Apoio à participação Brasileira em Festivais, Laboratórios e Workshops Internacionais, que, atualmente, encontra-se suspenso.

 

Algum leitor pode estar se perguntando: mas por que o ESTADO deveria pagar por esta participação? O que o Brasil ganha com isso? Se o artista quer ir para Berlim ele não deveria pagar do próprio bolso? Eu explico.

 

Há na diplomacia o conceito de Soft Power. Significa o poder cultural que um país exerce e que é tão importante quanto o bélico. Para verificar o que eu digo basta observar o investimento que os Estados Unidos da América fazem em cinema e a consequente hegemonia dos filmes estadunidenses em festivais e salas de cinema mundo afora.

 

Esta presença converte-se em prestígio e dinheiro para o país na forma de bons negócios, turismo e toda a sorte de investimentos que são atravessados pela influência subjetiva que uma cultura pode exercer sobre indivíduos tomadores de decisões.

 

É triste e sintomática essa negligência, com um setor que sempre foi o mais forte na diplomacia brasileira.

 

No entanto, o filme é também um exemplo didático da resiliência do artista nacional.

 

Com as mínimas condições têm-se feito o máximo. Somos reconhecidos e prestigiados em todas as linguagens artísticas ao redor do mundo. Que o cinema nacional tenha vida longa e as futuras gestões executivas e legislativas façam seu papel constitucional. Que a cultura seja direito de todos.

 

* Camilla Osório de Castro é cineasta e produtora cultural.  Pesquisa o Bem Viver. Mora no mundo, entre cidades. Acredita que sonho que se sonha junto é realidade.

TRILHA

 

CONTO

VAZIO JAMAIS

por Tuty Osório

foto: Celso Oliveira

– O que houve filha? Essa tristeza toda, você estava tão animada com a volta das aulas presenciais! Vamo animar, vai! O que foi que aconteceu?

– Sabe mãe…É que…Você vai achar besteira. Não vou falar, não…

– Que é isso filha, claro que não vou achar besteira. Estou sempre aqui pra te ouvir, na hora que você precisa.

– Nem sempre né, mãe! Tem hora que você fala que eu tô pensando besteira, ou pior, diz que eu tô sentindo besteira!

– Não é bem assim, filha. É que não acho bom alimentar sentimentos negativos, caçar problema onde não tem…Tem alguém te incomodando sai de perto. E presta atenção nas coisas que você fala, nem tudo é para ser dito.

– Olha aí mãe! Já não é o que eu sinto. É o que você acha…Isso é atenção, eu concordo e acho bom. Mas não é abertura pra me ouvir. Uma coisa é o que você acredita que faz, mãe. Outra é o que chega pra mim.

– Pois é, não é filha? Por isso que a sua tia diz que as mães são loucas. Cada uma à sua maneira, somos loucas mesmo! Ou por excesso, ou por falta, a gente nunca sabe direito se está agindo bem! E sente uma obrigação danada de acertar, sempre…

– Relaxa mãe. Você faz tudo o que pode. E como você mesma diz, quando quer relevar deslizes, com sinceridade…

– Eita filha, não era pra eu te ouvir e te consolar da tristeza? É você que tá me consolando?

– Sei lá se estou te consolando, mãe! Estou tentando me colocar no seu lugar. Depois que aprendi isso, minhas tristezas passam mais rápido.

– Coisa da terapia, filha?

– Coisa da vida, mãe! 

UM HOMEM QUE AMOU DEMAIS

Sarah Coelho

foto: Celso Oliveira

A cara do juiz denunciou. A expressão continuava séria e compenetrada. Mas os olhos teimavam em arregalar-se toda vez que um novo nome era pronunciado. Oito nomes, oito mulheres de pé. 

“Aos meus amores,  

Não fiz fortuna. Isso vocês sabem. Mas considero, no alto de meus oitenta e dois anos, que soube viver a vida, ainda que meus impulsos apaixonados tenham rendido alguns desagrados, a mim e a vocês oito. 

Para Maria, a mais antiga, deixo a cafeteira vermelha. Depois de certo tempo, todos os corpos carecem de uma dose extra de disposição. 

Para Verônica, a segunda, fica a rede colorida da varanda. Nunca entendi a pressa daquela mulher. Uma hora seus joelhos hão de querer repouso. 

À Sandra, a terceira, relego a gaiola vazia onde fiz um arranjo com plantas verdadeiras. Existem almas livres demais para permanecerem abrigadas em um teto só. Perdoei você no dia em que a primeira flor desse arranjo nasceu, Sandrinha. 

Eduarda, a do meio. Fica com ela a vitrola e os discos. Todos. Os que foram presentes das outras, inclusive. É a justiça da reparação. Ela sabe o porquê.

Karina, a quinta, aprendeu a ler tarde demais. Os livros da estante são seus. Merece a boa companhia das histórias até o fim dos dias. 

Martina, a sexta, suportou meus dias de maior agonia. Por isso, ela receberá a minha maior fonte de alegria: a Pentax. 

Com Paula deixo os gatos, e com Lucinha os cachorros. Eles são o mais perto que tive de filhos. E elas sempre quiseram tê-los. 

O apartamento deve ser vendido e dividido por oito. Assim como foi, nesta vida, o meu coração. 

Sinto muito. Me perdoem. Amo-as. Sou grato. 

Até à próxima, 

Alex”. 

*Jornalista, produtora de eventos, celebrante, sonhadora e realizadora de sonhos, Sarah Coelho tem 32 anos de muita determinação e romantismo.

HISTÓRIAS DE HISTÓRIAS

ENQUANTO ERA NO CATETE

Por Tuty Osório

“Uma história pode ser contada de muitas maneiras. Antigamente a História era o produto da reunião de fatos e documentos, apresentada através de um bom enredo. O estilo do autor era fundamental, e o bom historiador tinha de ser obrigatoriamente um bom narrador.”

 

In HISTÓRIAS DE PRESIDENTES – a República no Catete, por Isabel Lustosa, 1989

 

Narradora de grandes qualidades literárias, Isabel Lustosa brindou-nos com diversas obras, históricas, que contam os fatos através de textos saborosos, feitos por quem gosta e sabe escrever – para quem gosta de ler.

 

Dedicada ao período de Dom Pedro I e, em especial, à História da Imprensa Brasileira, Isabel lançou recentemente a biografia de nosso primeiro empreendedor de Jornal – Hipólito José da Costa, que a partir de Londres produzia o Correio Brasiliense, lançado em 1808, antes mesmo  do primeiro Jornal impresso em território brasileiro, em setembro desse mesmo ano, a Gazeta  do Rio de Janeiro.

 

Os detalhes vocês aprofundam lendo os livros de Isabel Lustosa, todos disponíveis nas boas livrarias, físicas e virtuais.

 

O que escolhi para hoje, pedindo licença à Lia Raposo para ocupar o espaço semanal dela, pois fiz questão de escrever eu mesma, talvez não se encontre com facilidade, a não ser em sebos ou nas mãos de particulares.

 

Garanto que vale a busca e a leitura.

 

Trata-se de HISTÓRIAS DE PRESIDENTES – A República no Catete, em que a historiadora conta curiosidades e bastidores dos ocupantes do Palácio Carioca, do primeiro ao último, em divertidas crônicas ilustradas com caricaturas e fotografias da época.

 

O meu veio da estante de Ana Carolina, a mesma amiga da temporada na pequena chácara brasiliense, contada na Alvorada deste Domingo.

Peguei emprestado para mostrar a meu pai, e ele, viciado em livros, achou de mandar encadernar em tecido, para devolvê-lo em trajes de gala, como forma de agradecimento.

 

Aninha quis presenteá-lo de volta, e como sou guardiã de parte da biblioteca paterna, após seu encantamento (falecimento) em janeiro de 2021, é comigo que o maravilhoso compendio de lúdicos casos, envolvendo as figuras máximas da República, do Café com Leite a JK, mora e exala seu conhecimento de refinada contação.

 

Uma reedição seria a maravilha das maravilhas. Inclusive para sublinhar que Presidente, Monarca, Líder, de maioria que seja, é, sobretudo, pessoa, corpo, vivente, errante. Pode ser exemplo, acerto, caricatura. Certamente humano, em trânsito e escrevendo uma história sua, que por sua posição, acabará sendo de todos.

  

TRILHA

HISTÓRIAS DE PRESIDENTES – a República no Catete, por Isabel Lustosa, Editora Vozes, Fundação Casa de Rui Barbosa, 1989

DENTRO E FORA

Este espaço é para tratar de psicologia, psicanálise, psiquiatria, enfim, das reflexões e formas que dizem respeito à Saúde Mental. Teremos textos, vídeos, podcasts, entrevistas, Lives – trazendo relatos de especialistas e de experiências positivas de conquista de dias melhores para a angústia e a ansiedade. Entre outras expressões dessa misteriosa esfera da nossa existência.

Nós, mulheres, temos a mania de nos culpar por tudo e nos exigir além da conta. de onde vem isso? já parou pra tentar entender?
Pois minha senhora, tá bom de pensar sobre isso porque não tá fácil pra nenhuma de nós! bora?
https://www.instagram.com/tv/CZNjOKypjyh/?utm_medium=share_sheet

*Deborah Coelho é psicóloga, educadora e fadinha da alegria de viver. Sensata, conhecedora e estudiosa, entre lágrimas, sorrisos e gargalhadas luta e ajuda a gente a lutar.

POESIA

Mãe,

MÚSICA

Festival De Música de Santa Catarina

O Festival De Música de Santa Catarina- FEMUSC acontece anualmente em Jaraguá do Sul e nos traz tudo da música Erudita, Clássica, Romântica, Contemporânea e Popular. Concretizado por Orquestras, está na 17ª edição, em versão presencial e online. Dia 28 exibiu As Bodas de Fígaro, ópera de Mozart em montagem criativa e deslumbrante – simplicidade de adereços e exuberância de canto, instrumentos e regência. 

POR AMOR ÀS CIDADES – Rio de Janeiro

Lembrando que combinamos na semana passada ser este um espaço para contarmos histórias, tendo as cidades como tema. Começando pelo Rio de Janeiro, que perversamente combinaram de matar, mas seus cidadãos combinaram de NÃO MORRER. Apesar de tantas mortes assolarem a Maravilhosa, bem como ao Brasil inteiro, vítimas de equívocos e maldades, publicas e privadas. Mas vamos à luta da memória e da cultura.

foto: Andrea Beltrão e Marieta Severo, via Gauchazh

POEIRA DOS ANJOS

por Lia Raposo

O Teatro Poeira, em Botafogo Foto: Luiz Maurício Monteiro

O Site Rio Encena traz uma notícia boa para quem ama as artes cênicas. O Teatro Poeira reabre as portas com uma exposição assinada por Bia Lessa, revivendo os mais 160 espetáculos já encenados ali.

 

Tocado por Marieta Severo e Adriana Beltrão, amigas e sócias num empreendimento de alto risco e máximo prazer. Atrizes da maior qualidade, em novelas, séries, filmes, peças, de gerações diferentes, essas duas são a cara da gente brasileira.

 

E são a cara do Rio, também. Carioquíssimas, expressam no Poeira a relação preciosa que mantêm com a sua cidade. São cidadãs resistentes, que permanecem por lá sem recuos, aconteça o que acontecer.

 

É de Ações assim que o Rio e o Brasil precisam para seguir em frente sem perder a essência, evoluindo sempre. Desde a subida do rio Carioca pelos tupinambás, a serviço do comércio do pau brasil para os portugueses, no primeiro acordo que os dominados toparam, certamente, por sobrevivência. E nem sempre em acordo. Muitas vezes por violenta submissão.

 

Numa máxima do senso comum: não podemos fugir ao nosso passado, muito menos modificá-lo. Podemos, indubitavelmente, com força e vontade, fazer outro presente para boas bases de futuro. Fazer como Marieta e Andrea.

 

Um Teatro que mostra, diverte, comove, ensina, respira perfumes de abençoados incensos.

 

Reverencia os deuses e as deusas de uma mambembe existência – de lá para cá, em teto de estrelas que nos salvam da desolação.

 

*Lia Raposo dedica-se a Estudos da Cultura, é redatora de Projetos Culturais, Produtora de Conteúdo e jornalista. Tem 33 anos de muitas dúvidas, algumas certezas e esboços de ousadia.  

REPORTÁGEM ENSAIO

CANCELA E SUBSTITUI

Miguel Boaventura

Atenção, atenção. Sabrina Fernandes em seu canal Tese Onze, no Youtube, e Rita Von Hunty, no Tempero Drag, lembram uma pesquisa de 2019, aplicada pelo Senado Federal, que diz serem quase 80% os brasileiros que declaram informar-se pelo whatsapp. A seguir vem a TV e depois o Youtube,

 

Muito preocupante. Em 2022 uma atualização deve trazer números maiores para a plataforma de mensagens que bizarramente substituiu o jornalismo como fonte de informação. O perigo está na impossibilidade de se checar a precisão do que circula por ali. A instância de legitimação da verdade é, em geral, o emissor, que em geral é alguém do grupo de amigos e da família, repassando por sua vez.

 

Avizinhando-se a eleição, principalmente, mas essa prática vale em geral, é fundamental questionar as informações – veio de onde, com base em quê, que provas existem, qual a lógica na perspectiva da sensatez.

 

E, também, nada de reproduzir algo que abominamos. Fiquemos indignados e ao invés de compartilhar para ampliar a expressão da nossa indignação, que acaba dando mais visibilidade aquilo que rejeitamos, enviemos uma mensagem com conteúdo positivo, conhecimento comprovado.

 

Em tempos onde uma enxurrada de besteiras do TikTok empolgam muito mais que vídeos de viagem, por exemplo, vamos dar espaço ao que exercita o nosso cérebro para o belo e o bem.

 

Não é moralismo de chato, é apelo de barqueiro. Pra ver se remando em maior sintonia, nos salvamos dos naufrágios em profusão que nos ameaçam.

 

TRILHAS

  • Teze Onze, por Sabrina Fernandes, no Youtube
  • Tempero Drag, por Rita Von Hunty, no Youtube
  • Canal da Lili, por Lilia Shwartz, no Instagtam e no Youtube
  • Eduardo Moreira, Silvio Almeida, Leandro Karnal, Canal da Boitempo, Gabriela Prioli, Bruno Altman, Roda Viva, Paulo Rezutti, todos no Youtube com informação checada, provada, referenciada, refletida, instigante.
SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS

VOLTA AO JARDIM

Por Mila Marques

O nome dela era ROSA! Tinha apenas 16 anos. Alta, muito branca, olhos e cabelos escuros que contrastavam, com a sua pele mimosa de adolescente, o que lhe dava uma certa e singela beleza.                 

 

Moça simples, mas cheia de majestade! Gostava-se dela! Embora tímida, tinha presença, porque irradiava simpatia e muita doçura!                          

 

Na época, trabalhava numa floricultura. Atendia ao balcão as encomendas e por vezes até as entregas de lindos buquês ou corbeilles (arranjos) de flores.        

 

Havia clientes certos e assíduos que encomendavam para oferecer às namoradas ou enviar às atrizes que atuavam no Teatro localizado muito perto da loja.                                   

 

Um em especial lhe chamava a atenção e lhe dava atenção: rapaz moreno, muito alto, simpático, insinuante e muito atraente. Conversavam bastante!

 

Até que um belo dia ele mandou preparar um buquê especial, muito especial, duas dúzias de rosas de cores variadas. Depois, com uma vênia e um largo sorriso, o entregou dizendo:

 

“Lindas rosas para uma ROSA mais linda, ainda!!!

 

E foi assim que tudo começou. Acompanhando do trabalho até casa, pegando – lhe na mão, como que querendo conduzi- la para um novo destino!    

Um lindo romance, uma linda história de amor, foi vivida por aqueles dois, até que muito prematuramente a morte os separou, primeiro ele, depois ela para logo se juntarem de novo para sempre!                        

 

Vida curta, mas muito intensa a desta ROSA menina!                          

 

Deixaram uma filha para continuar a sua história. Não sei se vai conseguir contá-la.

 

*Mila Marques, 81 anos, é dona de casa, mãe, avó, artesã das linhas e das letras, leitora aplicada, portuguesa, brasileira, viúva e Sapiente demais. Mora em Fortaleza, a algumas quadras do mar, entre plantas, objetos e muitos, muitos afetos.

NÃO ESPERARÁS

Alim Amina

Andei meio ausente, incomodada com umas coisas aí. Há dias e dias. Mila Marques, com quem revezo este espaço, tem dado conta sozinha, graças a Deus. E vamos combinar, como dizem as nossas netas, a Mila arrasa!

 

Mas eis-me aqui, em dupla com ela, para vos falar de uma reflexão que me aturdiu estes dias. Estranhamente, porque já devia estar escolada nesse tema. Mas o amor é traiçoeiro das decisões, muitas vezes. Não que seja desleal. Talvez desobediente seja uma palavra melhor.

 

Um texto muito especial que a Mila me enviou fala da expectativa e como ela nos tira a liberdade. Como nos traz angústias, mágoas, lágrimas desnecessárias. Publicado no Facebook num Grupo de nome Fãs da Psicanálise, foi parar no Whatsapp da Mila pela tecla da Maria Inês, uma amiga de infância dela.

 

Vale ler, é curtinho:

Estás à espera de quem?

– Já não espero ninguém! Estou só a usufruir a brisa passar…

– Não tens família?

– Tenho! Deixei de esperá-los…

– Estão zangados?

– Não! Estamos resolvidos, de bem…Com a vida!

– Como assim?

– Aprendi com os anos de caminho que não devemos esperar ninguém!

– Mas…Uma mãe deve esperar sempre os seus filhos…

– Por muitos anos achei que sim…Depois aprendi que só esperamos na ilusão de posse…

No dia em que entendemos que ninguém pertence a ninguém, que até os filhos são do Universo…

passamos a ser livres para receber, sejam os filhos ou tudo o que a vida nos reserva!

– E quando os filhos não chegam?

– Quem nada, nem ninguém espera, tudo é só vida a acontecer…

– É difícil de entender!

– Eu sei. Fomos iludidos a sentir amor como apego, quando a verdade é que o autêntico Amor é saber desapegar, Amor é liberdade para amar sem prender, para amar permitido ao outro voar!

– E não sentes solidão?

– Ela não existe para quem resgatou para si o direito de também continuar a voar…

E hoje, mesmo de forma diferente, aceito e ajusto e continuo a permitir-me ao meu voo!

– E quando não conseguires?

– Eu acredito que quem se permite a Ser livre, a morte chegará leve, quando o meu corpo físico deixar de poder voar, partirei de regresso a casa!

E sabes…

Acredito também que esse é o propósito da vida, nunca deixar de voar.

Até lá…

Vou continuar a usufruir simplesmente a brisa passar…

 

Não é que magicamente vamos deixar de esperar coisas boas e presença da parte de quem amamos. Não sou boba de achar que isso é possível. É um convite a termos segurança afetiva daquilo que construímos. É como a saudade doce de alguém que morreu e por a quem nos dedicamos muito. Se tiver amargo é de sabor, jamais de culpa.

 

*Alim Amina, também com 81, é professora formada mas nunca exerceu, cearense, estudou em Portugal na adolescência e foi colega de colégio de Mila. Reencontraram-se em Fortaleza, na década de 70, e retomaram a amizade até hoje. Dividem o espaço da Sabedoria dos domingos.

BACHIANAS E COMPANHIA

FALÊNCIAS ILIMITADAS

por Sérgio Pires

Está na placa, e no cartão, Falências Ilimitadas. É o nome da firma. Não temos CGC, não deu tempo de precisar. A placa já foi repintada várias vezes, cada vez um nome. Muda a firma fica a placa.

 

Sapatos. Todo mundo usa sapatos. Dois de cada vez. Quer ficar rico? Venda sapatos. Onde comprar? Onde vender? Como vender? Calma, vamos por partes.

 

Onde vender? Na nossa loja é claro. Loja? Nós tínhamos loja? Sim, tínhamos. Nos subterrâneos do bloco “O” uma transformação se dava na calada da noite. O depósito, o “buraco”, com tinta, uma faixa de papel de parede, estantes, sofá e som, é, tinha som ambiente, então a transformação se deu e a “SAPATARIA & Cia” surgiu.

 

Onde comprar? Ligamos para as fábricas. Chegam os vendedores. – Quantas grades?

 

– Grade??? Ô meus!!! Nós queremos é sandália, sapato….. não é cerveja não!

 

É! Grade. Sapato se vende em grade. Sim! Sandálias também. Quinze pares cada grade, todos do mesmo modelo, da mesma cor, só muda o tamanho. Falei tamanho? Falei que os números 32 e 43 femininos hoje estão em promoção? Quase de graça! Tá legal, leva de graça.

 

Verão. Sabia que o verão tem cor? Cores? Cores do verão? Bem, neste verão as cores foram o amarelo arrepiante, vermelho cegante e laranja berrante. Verão. Sabia que o verão da moda dura somente duas semanas?

 

Como vender? Avon chama? Não! “Lili” chama. Nossa rede de vendedores. Chegaram a ser 7 ou 8. Verdade que contando minhas filhas. a Lili e eu mesmo.

 

É, tínhamos uma rede, ou teia, sei lá. Uma vendedora ficou doente na exata hora de nos pagar. Outra nós fomos atrás e recuperamos a mercadoria em um escritório de função indefinida, com umas moças simpáticas aguardando para serem atendidas. Ou seria para atender?

 

Técnicas de venda. Uma empresa moderna treina seus vendedores. Nós somos modernos, utilizamos técnicas de vendas, treinamento da equipe com vistas a enfrentar a globalização e a abertura dos mercados.

 

Estou te passando a mercadoria por R$10,00 o par. Você vai vender por …..?

– Nove.

– NÃO!!!! Por nove não dá!!!!!

– Ééééé. Tem razão, vou vender por oito então. Aí dá né?

 

Algo estava estranho. algo não cheirava bem, e não eram os sapatos. Numa feira vendiam produtos iguais aos nossos por um preço menor do que o de “fábrica”. Uma palavra com “O” ressoava em minha mente, e não era “onestidade”. E lá vinha ela novamente … OTÁRIO.

 

Em algum lugar jazem diversos pares de sapatos esperando por um dia. Um dia de verão, quando as cores cítricas serão novamente o grito da estação.

 

Desistir? Isto é para os fracos que adversidade abate. Olhar para cima e em frente. Faca isso por 120 kms e você chegará em Formosa-GO. É, gê-ó! Está no cartão, “VÍDEO-GAME & Cia”. A febre da criançada.

 

Sim. Crianças. Essa seria a nossa frequesia. Três colégios nos cercavam, temíamos uma invasão. Éramos três, tínhamos uma sócia. Sim, ela acreditou.

 

Oito tv’s, 300 fitas, computador, balas, lanchonete, mesinhas, inauguração com som, campeonato de futsal feminino, levamos dois times de Brasília. De última geração, uma máquina automática de fazer pipoca.

 

Queria comprar 50 salgados. Elas falaram – É pouco! Retruquei – 100! – Hum, hum! Subi para 150. – OTIMISMO!!!! Disseram com entusiasmo. E fecharam o número. – 300!!! No mínimo! No mínimo!

 

Trezentos. Salgado goiano não é igual a estes de coquetel, parecem uma pamonha. Vendemos. Não posso dizer que não vendemos. Vendemos dois. No dia seguinte vendi mais um, mas tive de dar um desconto, não era feito no dia. Não posso dizer que passamos fome, afinal tínhamos 297 salgadinhos, goianos, no congelador.

 

Falei congelador? É, compramos uma geladeira. Já falei da estufa? Acharam pequena para tantos salgados, troquei por uma do dobro do tamanho.

 

Crepe. Crepe é chique. Crepe suíço. No palito. A máquina está lá, virgem, nunca encrepou. Tem mais. Máquina de vender chicletes. Aquela da pipoca pelo menos era alugada, o dono a levou de volta. As outras conservo comigo. No fundo sou um sentimental.

 

Parei de contabilizar os prejuízos, não gosto de más notícias.

 

Não! Está tudo errado, temos é de agregar valor à mercadoria. Sim! Esta é a solução. “PINTURAS ESPECIAIS & Cia”. Está no cartão. É, pintamos, ou melhor a Lili pinta. Eu vendo. Caixas, bancos e bandejas. Ora! Produtos de primeira necessidade. Todo mundo tem o que guardar, precisa se sentar e comer. Agora não tínhamos dúvida, íamos faturar muito.

 

Trabalho pesado, os bancos tinham de ser lixados, esfregados com bombril e talquinho, carregados nas costas até os locais de venda e outras suadeiras mais. Lili é delicada, Lili é uma moça frágil. Contratamos um FORTÃO para pegar no batente pesado. O FORTÃO era o ajudante da artista na produção. Por motivo de sérias restrições orçamentárias quem ocupou a vaga do FORTÃO foi este redator que vos fala ou escreve, sei lá. Não podia dar certo.

 

Sucesso? É, fez sucesso. Ainda fazem, são obras lindas, um ótimo presente. Mas lucro não dão nenhum. Trabalho e tempo dão muito. Investimento também é muito. Lucro? Quase nenhum. Virou hobby. Hobby não dá prejuízo, hobby dá despesa.

 

Vaidade. Vaidade feminina. Essa não termina, não vê crise. É aí o filão, não tem erro. Bijuterias finas. Bijuterias de grife. Nossa empresa – “BIJUTERIAS & Cia”, está no cartão. Este negócio foi atípico, não deu prejuízo e até hoje funciona. Não vamos, portanto, falar muito sobre ele.

Up-grade. Grade? Grade novamente? Não, eu falei ÁPIGRÊIDE. De bijoux para jóias. “JÓIAS & Cia”, está no cartão. Ouro e diamantes. Lili ficou nervosa, era muito dinheiro, não nosso, mas do Nélson das Jóias, o louco que bancou o empreendimento.

 

Jóias lindas. Jóias de ouro e pedras preciosas. Jóias caras. Você conhece alguém com dinheiro? Minha turma sofre de sérias restrições orçamentárias. Sem reajuste salarial há cinco anos. Traduzindo, é tudo pobre. Jóia de pobre é cordãozinho que foi da vovó.

 

Prejuízo? Não, não tivemos prejuízo. Lucro? Se experiência é lucro tivemos bastante. É, aprendemos mais um pouco. Será que um dia iremos saber das coisas ou vamos ficar sempre nessa de “valeu pela experiência”?

 

Desistimos? Que é isso? Novos rumos. Comida, aí é que está o filão. Todo mundo come. Todo dia todo mundo come. O que vender? Onde vender? Feijoada, é lógico, o prato nacional. Onde? Sim, onde? Na feirinha do Lago Norte. Quituart. FEIJOADA & Cia., está no cartão.

 

Trabalho, calor, reclamações, bêbados, supermercado, filhas reclamando, mulher reclamando, eu reclamando, chega ou preciso ainda dizer que o lucro era quase nada. Pelo menos comi nove meses seguidos de feijoada, quase gestei um leitãozinho.

 

Experiência. Esta temos muita, quem erra uma vez não repete o erro, por isso cada vez é uma falência totalmente original. Mas parece que nem a experiência está funcionando mais, já estamos repetindo um negócio, o de bijouterias, desta vez misturado com de jóias, Qual o nome? “LILI SEMI-JÓIAS & Cia”, está no cartão.

 

Vende? Sim, está vendendo, ainda não falimos. Não deu tempo. Mas falir não é problema. Temos náurráu. Crise é tempo de crescer. Já tenho a próxima firma concebida. Esta é infalível. O mercado está em constante expansão, só eu mesmo já tive mais de cem.

 

 Após a próxima falência lançaremos a firma “CARTÕES & Cia”. Aguardem, estará no cartão.

* Aposentado como bancário e praticante de karatê e Sommelier na ativa, integrante da ABS-DF, Sérgio Pires é escritor e desenhista, poeta da prosa e exímio contador de histórias. Mora em Brasília com Lili, sua companheira linda e maravilhosa, aposentada da Embrapa, cozinheira, apaixonada pela alegria.

TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

CREPÚSCULO

MANDA A PRIMAVERA, PÁ!

Há uma Manuela além-mar que tem sido presença das nossas saudades e orações. Manuela luta contra uma doença poderosa e luta muito e bem. Com acesso a um Sistema de Saúde Pública com defeitos, porém, muitas qualidades, mora no Porto, cidade onde nasci e faz parte dos meus afetos. Hoje foi dia de eleição em Portugal. Eleições Legislativas. Pelo Sistema Político de lá escolhem-se os parlamentares e da maioria sai o primeiro-ministro que será chamado a assumir a chefia de governo pelo chefe de estado, o presidente da república. Manuela decidiu não esperar por Dom Sebastião, e independente de haver as opções perfeitas saiu para votar. Para nossa alegria. Sinal que está melhor, mais forte. Sinal que continua firme. Sinal que há uma democracia viva para se escolher livremente. Relativa ou não, a liberdade está lá e aqui, para que a abracemos. Votar não resolve, mas é conquista de muitas batalhas. Salvé Manuela! Combinemos, também nós, de viver!  

 

Obrigada por estarem com a gente até aqui.

Tuty e Trupe

APOIO SUSTENTABILIDADE
APOIO LUXUOSO

Em breve, bistrô saltimbanco