Edição N. 29 - 23/01/2022
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Edição Geral: Tuty Osório

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo, Yvonne Miller, Elimar Pinheiro,

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Edição de Fotografia: Manuela Marques 

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

Música: Maurício Venâncio Pires, Alex Silva, Caio Magalhães, Manuela Marques

 
ALVORADA

ESPERAR POR DOM SEBASTIÃO, QUER VENHA OU NÃO

foto: Celso Oliveira

Nesta abertura sempre falo de sentimentos e de eventos. Raras vezes me refiro aos conteúdos que estão por vir, no desdobramento de leitura do Domingo à NOITE. Estilo típico dos editoriais de abertura de jornais e revistas. Hoje quero mais uma vez agradecer, em meu nome e em nome da equipe que me acompanha nesta NAU de SENSATOS, aos apoiadores e apoiadoras de primeira hora, em julho de 2021, quando iniciamos a travessia. Agradeço também aos que já decidiram continuar apoiando. Cada contribuição, seja qual for o valor, é fundamental para a sustentabilidade do projeto, permitindo que o façamos com mais tranquilidade. Repito que este espaço não é meu, nem do grupo que o elabora comigo todas as semanas. É um espaço da comunidade que se junta em torno destas letras, fotos, desenhos e sons para garantir a boa energia da semana, espantando o banzo do final do domingo.

O BEM VIVER

CHILE, LA ALEGRÍA YA VIENE

por Camilla Osório de Castro

JAVIER TORRES / AFP

Em outubro de 1988 a população chilena derrubava o ditador Pinochet em um referendo histórico. O slogan “ Chile, la alegría ya viene”  foi utilizado na campanha publicitária pelo “não”, que significava a não continuidade do regime fascista. Apesar da alegria ter vindo com a importante conquista do campo progressista naquele ano, os resquícios do fascismo estiveram presentes na política e na sociedade chilenas por muitos anos.

 

Mais de 30 anos depois, em 2019, o país enfrentou uma onda de protestos inédita desde a redemocratização. A panela de pressão do modelo econômico neoliberal finalmente explodiu. Movimento estudantil e movimento feminista tiveram um papel fundamental neste processo. Como consequência foi possível a realização de uma nova constituinte para substituir a constituição vigente que ainda era a da ditadura.

 

Faço este longo preâmbulo para chegar a 2022 com a posse de Boric, o jovem presidente eleito que anunciou ontem seu ministério composto por maioria feminina. O preâmbulo é importante porque estes fatos estão todos interligados, foi uma sequência longa de acontecimentos políticos, longos anos de organização e luta.

 

Antes de candidatar-se à presidência pela coalizão Aprovo Dignidade, (formada pela Frente Ampla e o Partido Comunista), Boric trilhou um caminho de mobilização popular, liderando movimentos estudantis a partir de 2011, sempre com duras críticas ao modelo liberal dos Chicago Boys. Mais do que um projeto econômico progressista, porém conciliador com as elites, há na nova equipe de governo visão de mundo, projeto, futuro.

 

Voltando às ministras mulheres. O número, 14 ministras, chamou a atenção. A palavra representatividade ecoa. E há quem faça a crítica de que seria uma representatividade vazia, só colocar mulheres não seria o suficiente. Pois bem, não é “só colocar mulheres”. Somando 50,6% da população chilena atualmente, deveria ser natural elas estarem em maioria em todos os espaços. Mas de fato, não é suficiente serem mulheres, é preciso perguntar que mulheres são essas.

 

A Secretária Geral de Governo, Camila Vallejo Dowling é deputada pelo partido comunista desde 2014 e ganhou reconhecimento da Anistia Internacional pela sua atuação na defesa dos direitos humanos. Já a Ministra de Relações Exteriores Antonia Urrejola foi presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a ministra da defesa Maya Fernanda Allende é deputada federal pelo partido socialista além de neta de Salvador Allende, o presidente socialista deposto por Pinochet, o que carrega em si um forte simbolismo.

 

Estes três exemplos não dão conta do currículo, da competência e da pertinência da nomeação destas mulheres. Servem apenas para ilustrar que há uma consistência nas mudanças que agora ocorrem no Chile e isso não é uma conquista de Boric, é uma conquista do povo.

 

 

CONTO

FEMINISTA PRÁTICA

por Tuty Osório

Ilustração: Adobe Stock

– Mãe, como é essa conversa de feministas que ficam falando mal das mulheres e das pessoas LGBTQIA e +?

-Sei não filha. Só sei que é uma conversa delicada e complicada…

-Pois então. Se é delicada e complicada, melhor ter a conversa que não ter, não acha?

-Filha, acho que não sou a pessoa mais indicada para te orientar sobre isso. Não sou estudiosa do assunto. Minha militância é nas coisas do dia a dia. Na escolha pela autonomia, na atenção constante em passar para você essa convicção da autonomia…Eita, tá ficando chata essa conversa. Parece discursinho moralista…

– Tá não, mãe. Eu entendi o que você falou. E acho bacana seu cuidado com o julgamento. Julgamento desune. E não faz pensar. Pensa que resolve ali, de uma sentença, né?

-É isso filha. Sem fugir do enfrentamento daquilo que é preciso enfrentar, devemos tentar ter cuidado. Cuidar de nós e cuidar do que for possível.

-Você está séria hoje, mãe!!!

– Foi você que já começou a prosa me fazendo pergunta difícil, menina!!

HISTÓRIAS DE HISTÓRIAS

A PEQUENA ÁFRICA

Por Lia Raposo

Fotos: Lira Neto via El País/Capa do livro Uma História do Samba

“O samba agoniza, mas não morre. Reinventa-se, orbitando entre os signos ancestrais da festa e da agonia. Tributário da grande diáspora africana, soube sobreviver à gramática do chicote e da senzala. Nascido no saracoteio dos batuques rurais, adentrou a periferia dos grandes centros urbanos sem pedir licença. Iniciado nos terreiros de macumba, incorporou-se aos cortejos dos ranchos, blocos e cordões, numa simbiose perfeita com o Carnaval. Enfrentou preconceitos, ouviu desacatos, padeceu segregações. Ganhou espaço no picadeiro dos circos mambembes e foi adotado pelos tablados do teatro ligeiro. Sinônimo de malandragem, viu-se perseguido pela polícia, entregou-se à vadiagem das ruas, perambulou pelos cabarés mais ordinários da zona do Mangue. No morro, foi morar nas ribanceiras das favelas, sem nunca abdicar dos apelos do asfalto. Vendido e comprado na surdina, tratado como produto clandestino, aos poucos foi sendo envolvido pelos códigos e engrenagens do grande mercado. Ladino, chegou ao disco, ganhou o rádio, virou astro de cinema. Desde que o samba é samba, é assim. A multiplicidade e a surpreendente capacidade de reelaboração fazem parte indissociável de sua natureza plural, absorvente, caleidoscópica. Nasceu maldito e cativo. Cresceu liberto de amarras.”

 

In Neto, Lira. Uma história do samba: As origens (p. 17). Companhia das Letras. Edição do Kindle.

 

Lira Neto é um dos maiores biógrafos que a língua portuguesa já nos presenteou. Jornalista de formação, suas biografias envolvem minuciosa pesquisa em fontes históricas, muitas entrevistas, mergulhos no tempo e na atmosfera de cada biografado.

A escrita de Lira é bela, agradável, envolvente, sedutora, irresistível.

 

Revela-nos personagens marcantes como Rodolfo Teófilo, Castelo Branco, José de Alencar, Maysa, Getúlio Vargas. Além de gente, Lira biografa entidades como o SAMBA abordado aqui. E sagas como o mais recente Arrancados da Terra – sobre a diáspora dos judeus portugueses e brasileiros.

 

Em três palavras: imprescindível, inadiável, imperdível.

  

TRILHAS

  • Uma história do samba: As origens, por Lira Neto, Companhia das Letras.
  • E todas as outras obras citadas, por Lira Neto, Companhia das Letras.
CRÔNICA

POR AMOR ÀS CIDADES

por Tuty Osório

foto: Celso Oliveira

As cidades surgiram a partir das encruzilhadas das trocas comerciais. Pontos de encontro de mercadores, viraram lugares seguros quando cercadas por muralhas, pra defesa dos aldeões perseguidos pelas disputas de poder dos senhores encastelados.

 

Mais tarde transformados em cidadãos com esboços de direitos, os habitantes das cidades tiveram para sempre nelas o refúgio dos perigos. Mesmo com uma outra forma de violência, a que nos assola na contemporaneidade, continua sendo a cidade o lugar do encontro. Em aliança com o campo, com todos os sofrimentos, é nela que se realiza a liberdade e a criação.

 

Jacques Le Goff, o historiador francês que se dedica ao conhecimento da Idade Média, em especial, fala da Cidade como a invenção do mundo e da liberdade. Adelaide Gonçalves, historiadora nossa, estende a percepção e enaltece a invenção da UniverCIDADE como a extensão magnífica da Urbe que nos alberga e nos redime.

 

A partir da edição 30 vamos contar histórias, revelar detalhes e sublinhar demandas de Cidades. Primeiro as brasileiras, mais tarde convidadas. Começando pelo Rio de Janeiro que nasceu em homenagem ao rei português, Dom Sebastião, o desejado e depois, o esperado.

 

TRILHAS

Adelaide Gonçalves, entrevistas, livros e o percurso do Plebeu Gabinete de Leitura (na internet)

Dom Sebastião, biografias diversas em livros e filmes (na internet)

Toda a Obra de Jacques Le Goff, livros

CURADORIAS

DANTESCOS, Contos Indigestos, por Ponciano Correia, Editora Flyve, Bento Gonçalves

Com a inspiração na Divina Comédia, a obra e a vida, Ponciano envia-nos do sul, um primoroso livro com diferentes gêneros, diversas linhas dramáticas, como o próprio define em sua contracapa. Texto bem cuidado, criativo, com uma pegada de suspense que nos prende o fôlego, vencido o medo pela curiosidade do que vem. São variadas viagens, diferentes pousos, surpreendentes paisagens. Vale muito o mergulho na recusa à neutralidade, ao ultrapassar da superfície que falsamente nos sustenta. Estes contos suspendem-nos em voo perigoso, vibrante, sonante.

Peça já o seu. Parte I e II. Instagram @poncijr

POESIA

I - O meu olhar é nítido como um girassol.

O meu olhar é nítido como um girassol,
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e a esquerda
E de vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem…
Sei Ter o pasmo essencial que tem uma criança
Se ao nascer, reparasse que nasceras deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo
Creio no mundo como um malmequer
Porque o vejo, mas não penso nele
Porque pensar é não compreender
O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…
Eu não tenho filosofia, tenho sentidos…
Se falo na natureza não é porque a amo, amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama.
Nem sabe porque ama, nem o que é amar…
Amar é a eterna inocência
E a única inocência é não pensar.

MÚSICA

A MIRAGEM

Maurício Venâncio Pires

Um instrumentista e compositor de música popular, quando emplaca um ou mais sucessos, certamente fica constrangido pelo assédio. Ir a uma praia ou a um supermercado ou a um shopping deixa de ser algo que possa ser feito como fazia antes.

Se o mucisista está focado na música erudita ou instrumental, sua popularidade demora a acontecer, quando acontece.

Vou mostrar uma música composta por Marcus Viana. Sinceramente, a música eu conhecia, mas o nome do autor não. E isto é algo que não deve ser exclusivo meu. Muitos dos nossos leitores devem estar se perguntando, quem é Marcus Viana?  Outros devem conhecê-lo e irão concordar comigo, ele é um compositor de talento enorme e que merece ser mais ouvido.

“A Miragem” foi composta para a trilha sonora da novela “O Clone” da Rede Globo, quando ouvi essa música pela primeira vez, fiquei impressionado com a riqueza de seus detalhes melódicos e vale a pena repassar um pouco da biografia do seu autor:

 

“Compositor e Multiinstrumentista

Marcus Viana é o músico brasileiro independente com maior número de CDs lançados no mercado nacional, com 75 títulos que vão desde música instrumental, MPB e trilhas sonoras passando pela música infantil, new age, clássica, contemporânea e rock progressivo.

Marcus é considerado um dos grandes compositores de música instrumental brasileira, principalmente no segmento de trilhas sonoras para cinema e TV, com as quais alcançou projeção internacional. Entre seus maiores sucessos para TV brasileira podemos citar as trilhas compostas para as novelas “Pantanal”, “Ana Raio e Zé Trovão”, “Xica da Silva”, “Terra Nostra”, “Flor do Caribe”, “O Clone”; para as minisséries “Chiquinha Gonzaga”, “Aquarela do Brasil”, “A Casa das Sete Mulheres” e para os filmes “Olga”, “Filhas do Vento”, “O Mundo em Duas Voltas” e “Mangoré”.

Marcus Viana tem um imenso repertório de obras (mais de 1600 composições) em sua editora, com representação na América do Norte, na Europa e Ásia.

O sucesso de suas trilhas sonoras em mais de 180 países que importam as séries da TV brasileira o coloca, atualmente, como um dos maiores embaixadores da música brasileira no exterior.”

https://marcusviana.com.br/biografia

 

Agora, peço que me escutem.

 

REPORTÁGEM ENSAIO

SERES QUE NÃO FINDAM

Miguel Boaventura

Elza Soares (Foto: Divulgação)

As palavras são, sobretudo, o significado. Embora nem sempre nos apercebamos. O que provocam quando expressas. Bem antes, o que pretendiam quando escolhidas. Há muitas delas que percorrem novos sentidos na mudança dos tempos. São eleitas para trazer mais força, mais intensidade, mais evidência.

 

Parece-me que foi assim que CORPO, CORPOS passou a ser usado num discurso acadêmico, social e político em lugar de PESSOA, PESSOAS. “Corpos negros exterminados nas periferias das cidades brasileiras”. Uma frase repetida, e mesmo assim sem efeito de mudança sobre a realidade que cita. Quando é dito corpo, ao invés de pessoa, podemos visualizar com mais nitidez que somos um corpo, tão complexo que é preciso muita energia no empreendimento de matar.

 

Por isso admiro os suicidas. Há imensa coragem na ação de interromper a respiração, o fluxo vital dentro daquele corpo que é o seu próprio, afinal.

 

Corpo é também mais inequívoco na indicação da presença. O corpo que morre não estará mais. Ficará a memória, a saudade, os rituais da ausência e tudo isso pode ser pessoa. Mas jamais será corpo, vida em batimentos, trocas, toques, abraços.

 

O corpo de Elza Soares se foi. Um corpo maltratado pela violência doméstica por ser de mulher. Social por ser negra e pobre. Pelo assédio moral e pela indiferença por ser artista. O corpo e a dignidade sobreviveram a todos os atentados. Chegou o momento da mudança para essas outras dimensões que desconhecemos.

 

Ficará uma outra palavra em seu lugar. O que chamam de LEGADO. As máximas e mínimas a inspirar os corpos que aqui ficam. E em especial, a maior de todas, o maior e real lema de Elza – não substituam a verdade pela enganadora tranquilidade da aparência.

 

Vista a sua fantasia de pessoa. Mas jamais esqueça que somos um corpo, simbioticamente amalgamado a uma alma e que é sobre essa estátua por vezes pesada, por vezes mais leve, que deambulamos por esse mundo. Com ou sem rumo. Quem passou fome, levou tiro, nutriu-se de trabalho, alegria e liberdade, sabia.

 

TRILHAS

 

  • Discografia de Elza Soares nas Plataformas de Música, Cds e Lps encontrados em sebos.

 

  • Zeca Camargo e José Louzeiro escreveram biografias mais completas sobre Elza. Há outros livros que abordam aspectos de sua trajetória. Além de vídeos e textos. Tudo disponível na internet para visualização e compra. Digite ELZA SOARES e várias trilhas estão lá.
SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS

DEUSA DO AMOR

Por Mila Marques

Catedral de Chartres, via InfoEscola

Foi há muito tempo já, mas ao recordar algo bom do passado, ocorreu-me este episódio.  Parece brincadeira, mas não é, passou-se comigo, acreditem!             

 

Morávamos em Moçambique, numa cidade chamada Beira. Meu marido conseguiu umas férias para assistir as Bodas de Ouro dos pais. Nessa ida a Portugal fomos dar uma voltinha pela Europa. De avião até Paris onde ficamos uns dias e de lá pegamos um carro na Renault que já havíamos comprado através da representante.

 

Assim, voltamos para o Porto. Foi uma pequena viagem, mas muito agradável e inesquecível, diria. Íamos rodando, sem hora, sem roteiro, visitando tudo que tínhamos vontade.   

 

Em Paris, até às pedras falam de cultura…tudo vale a pena! Me lembro que saímos bem cedo, porque em Paris a qualquer hora tinha movimento de trânsito, e, por isso aproveitamos a madrugada, para ser mais fácil.

 

A primeira cidade, a uns 80 km de Paris, foi Chartres. Sabíamos que tinha uma catedral estilo gótico, das mais soberbas obras de arte da Idade Média.

 

Àquela hora ainda estava tudo fechado, mas nos encaminhamos para lá, paramos o carro em frente a um Café e aproveitamos para tirar um cochilo. Estava muito frio, então, quando o Café abriu, um bom chocolate quente com croissants recém saídos do forno e tortinhas de maçãs, foi a nossa primeira refeição.

 

Depois de visitar a Catedral, sem dúvida maravilhosa, seguimos o nosso caminho, atravessando outras cidades. Fomos registrando tudo com fotos, slides e filmes, para depois mostrar às crianças.          

 

Chegamos à cidade de Bordeaux e nos instalamos num hotelzinho bem familiar de duas irmãs. Era um lugar charmoso e agradável. Lembro que os quartos eram com nomes flores e a decoração, combinando. O nosso era lilás.

 

Tudo na cor e as paredes forradas de papel estampado de florzinhas! Tudo encantador e aconchegante! As proprietárias, uma simpatia.

 

No térreo, com porta para a rua, tinha um bar, com especialidade em patês, para acompanhar os drinks. Na primeira noite o serviço do bar era cortesia.

 

Bom, no dia seguinte de manhã meu marido foi preparar o carro para seguirmos viagem e eu fiquei arrumando a mala. O tempo passava e ultrapassava a hora combinada para sairmos, mas não achei estranho. Aproveitei para escrever uns postais ilustrados para as crianças e olhar algumas revistas de turismo, buscando alguns lugares a visitar.

 

Até que finalmente ele chega, muito aflito, branco como a cal, e só dizia: ” Não imaginas o que aconteceu. Esqueci o nome do Hotel, o nome da rua e como se vinha para cá”.

 

Estava aflito e com toda a razão!!!

 

E o que se passou, depois de tudo resolvido dá para rir…. Após muita aflição, pediu um catálogo telefônico e procurou, hotel por hotel, com a lembrança de que era o nome de uma deusa grega. Encontrou: Afrodite!!!

 

E lá me encontrou, tranquila, nem de longe imaginando o que se estava passando.

 

Abraçamo-nos muito e descemos para o Bar. Tomando um bom vinho acompanhado com os deliciosos patês do Hotelzinho com um quarto lilás!

 

Boa lembrança. Foi uma linda e inesquecível viagem, cheia de pequenos momentos de muita felicidade!!!

BACHIANAS E COMPANHIA

AS RODAS DE SABOR

por Francisco Bento

via Diário do Rio

Tuty Osório está atacada de amor pelo Rio de Janeiro. Faz anos que não me visita e fica nessa. Mas ela defende uma coisa que me emociona como carioca. Tenho o privilégio de ficar mais ou menos a salvo da violência porque hoje em dia saio pouco de casa. No meu abrigo confortável de Santa Teresa usufruo de muita tranquilidade e vivo o Rio com doce nostalgia. De vez em quando arrisco umas caminhadas pelo Centro Histórico, agora que a Pandemia mais ou menos permite.

 

Antes que me disperse, e irrite o Miguel e o Serginho, passo a explicar, portanto, que Tuty Osório defende que o Rio é patrimônio do Brasil porque lá se funda a nossa história como país; e a institucionalidade da nossa cultura. Não é que ela ache o Rio superior às outras cidades. É mais ou menos como reverenciar uma avó. Não pela idade, mas pela sabedoria e conhecimento que guarda e compartilha quando lhe damos atenção. Pelo menos é assim que eu entendo.

 

É complexo, eu sei. Só que é bom pensarmos nisso com um olhar mais cuidadoso sobre as coisas que nos são essenciais para sobrevivermos como gente. Não somente como consumidores, investidores, influenciadores, vencedores. Se as nossas referências implodem e explodem a cada dia é porque estamos perdendo. Cada vez mais.

 

Por isso fico revigorado quando passeio pelo Centro e relembro em viagem mental a existência de Tia Ciata, a cozinheira baiana que aqui chegou no último quartel do século XIX, vinda do mágico Recôncavo, e fez de sua casa um imenso quintal de celebrações e batucadas.

 

Havia os bailes no salão da frente e no jardim. A música negra no pátio. E os rituais religiosos de terreiro, na parte de trás.

 

Poupada da perseguição policial por ter curado com ervas uma ferida grave do presidente Wenceslau Brás, Tia Ciata foi a precursora dos barracões do samba, do carnaval regado a comida de inspiração africana, cachaça e cerveja artesanal.

 

Era a Rainha da Pequena África – nome pelo qual ficou conhecido o reduto de libertos, fugitivos e escravos de ganho, vivendo em torno de suas tradições, mesmo assombrados por constante repressão. Uma devolutiva em festa contra a violência, deixando as lanças de seus ancestrais para sempre fincadas neste Brasil de chagas e de maravilhas.

 

TRILHAS

Casa da Tia Ciata, Site

Uma História do Samba, as origens, por Lira Neto (abordado por Lia Raposo em HISTÓRIAS DE HISTÓRIAS)

TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

CREPÚSCULO

VARANDAS DE AFETO

Em clima mais quente, varandas abertas. No frio é bom ter opção de fechar, para escancarar quando volta o verão. Nos trópicos, avarandados, para receber a brisa. Em todas, o embalo da contação de histórias, da noite estrelada, do fim de tarde alaranjado, da manhã de sol tímido. Varandas para fazer circular o viver. Com vinho generoso, boa comida, linda conversa.

 

Obrigada por estarem com a gente até aqui.

Tuty e Trupe