Edição N. 40 - 10/04/2022
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Edição Geral: Tuty Osório

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo, Yvonne Miller, Elimar Pinheiro,

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Edição de Fotografia: Manuela Marques 

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

Música: Maurício Venâncio Pires, Alex Silva, Caio Magalhães, Manuela Marques

 

 
ALVORADA

NO CÉU DE NOSSA SENHORA NOSSA

via https://www.vice.df.gov.br

Pela sei lá qual vez, sobrevoo o céu mágico da capital numa madrugada comum, com destino trabalho, amigos, e a fruição dessa cidade tão querida. Brasília é um de meus amores urbanos, espaços imensos entre os edifícios, desenhada também para ser vista de cima, como se extra terrestres fossemos. Nos fones toca Resposta ao Tempo, Nana Caymmi e sua gravidade comovente, doce, calorosa. Os olhos umedecem, o coração dói de tanto que este lugar me afeta. O avião toca o chão e agradeço por mais uma chegada ao abrigo da Catedral Bailarina, da luz incandescente que tonteia, dos ipês brancos e coloridos que floram na seca, das cigarras estridentes anunciando a chuva, das árvores tortinhas do cerrado, das contradições políticas, sociais, econômicas, do Brasil em mosaico vivendo lado a lado. Você já foi a Brasília? Então vá! 

 

Começa agora mais um Domingo à NOITE em 2022! 

LAREIRAS MÁGICAS

AQUILOMBAR

por Camilla Osório de Castro

filme "Preces precipitadas de um lugar sagrado que não existe mais", de Raphael Luan, em exibição na Mostra Quilombo Cearense

O termo quilombo remete às comunidades formadas por pessoas que, fugindo de uma situação de escravidão no Brasil colonial, formaram comunidades de refúgio, auto-cuidado e rebeldia. No presente, o termo evoca tanto a questão fundiária, direito à terra ocupada pelos ancestrais na formação destes povoados, quanto a uma postura coletiva e rebelde ante à perpetuação do racismo em nossa sociedade.

 

Quando tratamos do Ceará há ainda um aspecto histórico de apagamento da negritude no estado. A retórica, que já foi oficial, de não existirem negros no Ceará, ainda encontra fôlego nos dias de hoje. Mais recentemente, artistas, ativistas e pensadores têm revisto este conceito procurando afirmar sua identidade étnica e enfrentar o apagamento cultural e político da população negra em nosso estado.

 

É nesse contexto que a exposição Quilombo Cearense, em cartaz no Museu de Arte Contemporânea do Centro Cultural Dragão do Mar, propõe a sua curadoria. Aqui é importante lembrar ao leitor, principalmente quem não é de Fortaleza, que Dragão do Mar foi um jangadeiro abolicionista que recusou-se a transportar escravos desencadeando a abolição da escravidão no Ceará, que ocorreu antes da brasileira.

 

“A exposição Quilombo Cearense convida o público a debater acerca da representação e da representatividade da população negra, indígena e não-branca nas historiografias da arte cearense e nacional, com o objetivo de substituir a constante invisibilidade a que pessoas negras, indígenas e não-brancas são relegadas na estrutura social brasileira”, afirma Marcondes, curador da exposição.

Vinculada à exposição, a mostra de curtas-metragens homônima com curadoria de Darwin Marinho e Talita Arruda, exibe até o dia de hoje (10/04) no Cinema do Dragão curtas-metragens dirigidos e protagonizados por pessoas não-brancas. A quantidade e diversidade das produções selecionadas revela a potência estética e política não só de cada obra individualmente mas do conjunto. Reunir estes filmes em uma mostra, aquilombados, potencializa o debate em torno de suas temáticas bem como as emoções disparadas por suas poéticas.

 

Destaco ainda que ao longo de toda a sua história, o MAC e o Cinema do Dragão enquanto instituições estiveram majoritariamente ocupados por curadores e artistas brancos. A mostra de curtas-metragens e a exposição Quilombo Cearense, são um passo importante para questionar e modificar esse cenário, celebrando a arte e a vida das pessoas não brancas no estado do Ceará.

CONTO

QUARENTITUDE

por Tuty Osório

foto: Celso Oliveira

-Mãe, foi diferente fazer quarenta anos?

-Não sei, filha. Acho uma besteira esse negócio de datas, marcos. Rótulos me irritam!

-Nada a ver com rótulo, mãe. Eu não desconsidero que tem idades que representam mudanças, até simbólicas. Você vive dizendo que é preciso ressignificar, e tals…

-Lá vem a cobrança do que eu falo! Falei uma vez já vivo dizendo! O que tem a ver os 40 anos com ressignificação, filha?

-Tudo, né mãe? Quando você empaca de não querer ver um ponto, vou te contar! Depois eu que sou teimosa!

-Ihhh, filha, amanheceu com projeto de puxar briga comigo, é?

-Nada disso, mãe. Mas você bem que podia ser menos intransigente com o senso comum, como diz você. Não é possível que você seja a única criatura do mundo indiferente aos 40 anos! E vai ser aos 60, aos 70, aos 80, só para provar que é diferente! Tá ficando chato, mãe!

-Eita filha, você me chamou de anormal? Bem, você tem razão por um lado. É meio idiota resistir a um rito só pra ser diferente da maioria. Digamos que os 50 me impactaram mais que os 40. Bem mais. Os 60 estou fazendo aos poucos, na medida que me aproximo…

-E os 40 você foi fazendo depois, na medida que passou, a partir do dia que fez, mãe?

-Nossa! Que certeira filha! Fico é com medo de ti, às vezes…

-Affe mãe, que drama!!!

CONFERÊNCIAS

OS MONSTROS

por Tuty Osório

Lyslei Nascimento/foto por Polly Schivek

A acadêmica da UFMG Lyslei Nascimento levou a Fortaleza uma fala interessante sobre os monstros na literatura de Borges. Doutora em Letras, brindou-nos com uma expressão divertida, leve, recheada de curiosidades e inusitadas revelações, mesmo para os ávidos leitores do nosso malvado predileto.

O monstro é uma questão de ponto de vista e os mostrados por Lyslei foram garimpados na leitura com esse foco.

Destaque para a mulher da turma, Lilith, primeira esposa de Adão, que se recusou a obedecer, rebelou-se, escolheu o prazer e foi punida com as garras do demônio.

Na próxima edição publicaremos passagens da deliciosa alocução de Lyslei. Mesmo discordando de alguns pontos, foi um momento de aprendizado, simpatia e muito amor à literatura.  

RITOS

RESPOSTA AO TEMPO

por Sarah Coelho

Sarah Coelho, acervo pessoal

Autenticidade não foi o meu forte por uns bons anos. Cheguei cedo ao divã, argumentando: “não sei quem sou”.

Eram os primeiros dos meus 20 anos e parecia complicado ser eu mesma. Não por pressão ou cobrança, mas porque eu não sabia o quê, afinal, “ser eu” significava.

Ontem, em uma conversa despretenciosa, fui perguntada se eu era psicóloga e, por isso, tinha desenvolvido um olhar sensível para os ritos de passagem.

Não sou. Mas dizem que a gente escolhe trabalhar com aquilo que nos falta.

É verdade que vivi episódios que poderiam ter sido melhor elaborados se eu tivesse entendido que mudanças importantes estavam acontecendo na vida. Talvez, não ter tido a tal “passagem”, nestes momentos, tenha me custado alguns descompassos emocionais. Mas, agora percebo, não foi esse o meu impulso original para o trabalho com cerimônias personalizadas.

É a autenticidade a minha busca mais antiga e constante. Saber quem sou, do que gosto, o que quero e como quero, e bancar isso, é um pacote que tenho que comprar todos os dias de manhã. Por isso, mantenho olhos, antenas e coração sempre alertas. Sempre. Pois sei que o caminho para dentro de mim foi um trabalho árduo e silencioso, que exigiu coragem.

Mas me sinto orgulhosa em afirmar (não porque sei, mas porque SINTO) que, dos 20 para os 30, muita coisa mudou.

REPORTAGEM ENSAIO

por Miguel Boaventura

O anjo revelado, a mulher que espreita em doçura, pelas lentes comoventes de CELSO OLIVEIRA
HISTÓRIAS DE HISTÓRIAS

NAÇÃO LITERATURA

por Lia Raposo

Nikolai Gogól

Sandice completa, como diria meu colega Miguel Boaventura, o boicote à literatura russa como represália à guerra na Ucrânia. Não faz nenhum sentido passar a odiar romancistas de tantas virtudes, histórias belíssimas, intensas, marcos inquestionáveis de momentos importantes da nossa sociedade.

 

Foram os escritores russos os criadores do romance psicológico, levado por eles às maiores e melhores consequências de qualidade em forma e conteúdo. As descrições, as reflexões, os subterrâneos da humanidade trabalhados com maestria de texto e subtexto.

 

Todas as guerras são ruins, embora algumas sejam necessárias. Os conflitos armados pela libertação de países de seus colonizadores, a luta pela autonomia dos povos, foram pertinentes e levaram a conquistas civilizatórias fundamentais. Esta guerra na Ucrânia, por outro lado, é insensata e sem objetivo para além da ganância e da disputa de mercados. Ao final, Estados Unidos e China farão o rateio equilibrado à luz dos interesses deles.

 

Por Gogol nesta crônica que conta histórias. Almas Mortas como mortas estão as nossas, corrompidas pelo teatro do poder que abate, banaliza e avilta a vida. Tudo combinado com um russo. Os russos, povo, artistas, viventes comuns e irmãos nossos, não têm nada com isso.

 

 

*Lia Raposo dedica-se a Estudos da Cultura, é redatora de Projetos Culturais, Produtora de Conteúdo e jornalista. Tem 33 anos de muitas dúvidas, algumas certezas e esboços de ousadia. 

MÚSICA

Memory - Cats

por Maurício Venâncio Pires

O musical Cats foi encenado durante 21 anos em Londres,18 anos em Nova Iorque e, no resto do mundo, teve versões em 20 idiomas, entre os quais o português brasileiro.
“Memory” certamente é a música mais bonita e conhecida, cantada pela personagem Grizabella – uma gata já nos seus últimos anos de vida que recordava os tempos de glória.
Recebeu brilhantes interpretações de Jeniffer Hudson, Barbra Streisand, Sarah Brightman, Lea Salonga, Barry Manilow e outros.
Aqui eu apresento a versão brasileira de Memory, espero que gostem.

APOIO ECOLOGIA
SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS

A GRANDE ARTE

por Alim Amina

foto: Celso Oliveira

Já disse aqui que não sou nostálgica, apenas sinto afeto por momentos já passados e que me aquecem o coração.

 

Recordo-me que ouvir já foi mais comum que hoje. Ouvir com atenção, calma e dedicação. Hoje há muitas maneiras de se comunicar e muito ruído, muita dispersão.

 

As pessoas não lêem o que se escreve. Não ouvem o que se diz. E essa parede invisível de surdez e cegueira simbólicas causa muita confusão.

 

Meu recado de hoje é um lamento e um pedido. Vamos nos enxergar mais e melhor. Saber o que o outro tem a dizer. E com essa disposição para dar certamente receberemos, também.

As plantas precisam de água, nutrição, observação. Experimentem cuidar de uma e ter de volta a retribuição em folhadas generosas, em flores perfumadas.

 

*Alim Amina, tem 81 anos, é professora formada mas nunca exerceu. Cearense, estudou em Portugal na adolescência e foi colega de colégio de Mila Marques. Reencontraram-se em Fortaleza, na década de 70, e retomaram a amizade até hoje. Dividem o espaço da Sabedoria dos domingos.

CURADORIAS

Mário Sanders volta ao circuito de exposições com uma individual no Espaço Cultural da UNIFOR em Fortaleza, no ar desde 7 de abril. Visitem mais que uma vez que vale a viagem e o sonho. Vamos contar aqui a história de Mário, do Movimento Fratura Exposta lançado nos anos 90 a partir do Bairro José Walter, as progressões do grito contra a violência bradado dali e o início da arte contemporânea ocupando a cena cearense, pela ação mágica e dedicada de Dododra Guimarães.

BACHIANAS E COMPANHIA

DRIBLE DELÍCIA

por Francisco Bento

De passagem por Brasília, onde fui prestar uma consultoria para um bistrô que irá para lá ainda este ano, visitei o MERCADO MANÉ, mais um templo da boa comida na nossa capital. Tuty Osório também está por aqui e fizemos farra modesta regada à hospitalidade grandiosa de Sergio Pires e Lili no sábado.

 

No domingo foi a vez desse lugar mais que interessante, muito belo e apetitoso. Os melhores restaurantes da cidade ocupam boxes erguidos com muita sofisticação e bom gosto. Do Peru às Arábias, passando pela Itália, França e Bahia, há de tudo com muito requinte e sabor.

 

Os brasilienses adoram uma feira, e essa é muito a cara moderninha da cidade. Erguido em terreno ao lado do estádio MANÉ GARRINCHA, a gestão está a cargo de gente experiente em eventos permanentes de rua. Numa palavra -ADOREI!!

 

* Francisco Bento mora em Santa Teresa, Rio de Janeiro, curtindo o repouso do boêmio, após ter sido empresário da noite, dono de restaurante, crítico de gastronomia e bem vivente. Apaixonado por história, pesquisa e relembra os bons momentos de cores e sabores.

TIRINHA
desenho por Manuela Marques/Roteiro por Tuty Osório
APOIO SUSTENTABILIDADE
HISTÓRIAS DE STERI 10

PANTALONA

Por Brigitte Bordalo*

Essa é interna só para mulheres, mas é bom que os homens se conscientizem de mais esse estresse que temos para administrar no cotidiano.

 

Não tem pra ninguém em matéria de malabarismo e leve sofrimento fazer xixi em banheiro de avião – dependendo da demanda o chão fica invariavelmente molhado e ficar em pé, segurar a roupa e não se molhar inteira é totalmente impossível.

 

O resultado é um desconforto injusto, você tão arrumadinha pra viajar, com aquela sensação… É aí que entra o herói do banheiro, muito adequadamente nomeado.

 

Algumas sprayadas sobre o acento do vaso e todas as bactérias e germes desaparecem. Uma passada de espesso maço de papel toalha e voilá! Pronto pra usar sem malabarismos.

 

Pense no sorriso de conforto ao caminhar de volta ao seu acento!

 

*Brigitte é microempresária da gastronomia e da cultura.

CREPÚSCULO

SOB O MANTO DA RETÓRICA

Um amigo professor diz que a valorização dessa missão é teórica e vazia. De verdade o professor não tem o que merece. Quem escolhe esse caminho chega a ser ridicularizado. Penso que meu amigo tem razão. Precisamos colocar esses maravilhosos tecedores de dignidade no destaque que lhes pertence por direito. Assumir que conhecimento é necessidade, liberdade, cidadania. Deixar claro para os que desprezam a verdadeira educação que não há mais lugar para falácia, hipocrisia, cretinice. Ensinar é despertar. É, inclusive, aprender. É círculo virtuoso, valentia que abraça, coragem que protege. Pelo menos uma vez por dia vamos lembrar de expressar gratidão a pelo menos um professor, uma professora. Somos porque eles são.

(está reflexão é dedicada a Túlio, professor por escolha, que faz a diferença todos os dias)

APOIO LUXUOSO

Em breve, bistrô saltimbanco