Edição N. 47 - 29/05/2022
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Edição Geral: Tuty Osório

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo, Yvonne Miller, Elimar Pinheiro,

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Edição de Fotografia: Manuela Marques 

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

Música: Maurício Venâncio Pires, Alex Silva, Caio Magalhães, Manuela Marques

 

 
ALVORADA

TRETAS FUCIONANDO NORMALMENTE

por Celso Oliveira

Bom, não vou falar do mal da semana. Foram muitos, em especial os atentados contra a vida, de diversas formas. O Tiktok continua com suas futilidades e relevâncias (é verdade, também tem), o Twiter com sua ilusão de liberdade, o Instagram onde se compartilham intimidades e onde se acreditam celebridades…Está mais do que na hora de refletirmos sobre a consistência de todas esses pseudo espaços de expressão. Não é uma questão moral e, sim, política. Porque políticos é, de fato, a única coisa que podemos estar certos que somos. Ou não teríamos caminhado em direção a uma civilização – mesmo equivocada, refém da barbárie repaginada, um engodo de evolução. Perdemos o manto natural sobre o corpo e não conseguimos, nunca mais, recuperar algum tipo de proteção. Onde está, onde está o nosso coração?

 

Começa agora mais um Domingo à NOITE em 2022! 

 

LAREIRAS MÁGICAS

REALITY NOVEL

por Camilla Osório de Castro

A série “Bridgerton” possui duas temporadas e é uma produção Shondaland, a produtora da aclamada Shonda Rhimes, responsável pela querida e polêmica Greys Anatomy. Baseada na série de livros da autora Julia Quinn, a série é ambientada na alta sociedade londrina do século XIX.

Cada temporada aborda os percalços amorosos de um membro da nobre família Bridgerton.

Como observou o crítico do New York Times James Poniewozik, é um romance de época que soa corriqueiro, algo que já vimos antes. Porém, tem algo de diferente.

A diferença reside em dois pontos.

Primeiro há uma imaginação histórica onde é colocada uma situação hipotética em que a suposta negritude da rainha Charlotte, um fato real na história da Inglaterra, seria aceita e desencadearia a inserção de pessoas pretas na nobreza.

Segundo, as personagens femininas estão constantemente questionando seu papel social desenvolvendo-se um discurso feminista, liberal é importante ressaltar, ao longo de toda a narrativa.

Se por um lado a representatividade em ambos os casos é desejável e merece ser comemorada, cabe pontuar alguns questionamentos.

Até que ponto é possível sustentar uma monarquia europeia com pessoas pretas? É importante lembrar que, na vida real, as cortes europeias, e a inglesa em especial, sustentavam seu luxo em cima da exploração do terceiro estado na metrópole e da população escravizada nas colônias. Imaginar uma possibilidade de acordo em que um grupo seleto de pessoas pretas usufrui dessa exploração é representatividade ou apagamento da violência praticada pela monarquia britânica contra esses povos?

Com relação à questão feminista caímos na mesma dubiedade.

Ver mulheres questionando seu papel submisso é fundamental. Ver personagens femininas complexas, bem desenvolvidas e que carregam as próprias histórias adiante também. Mais ainda: ver mulheres tendo orgasmos em cenas de sexo filmadas para ressaltar o prazer feminino, a mulher como sujeito e não objeto de desejo. Tudo isso é fantástico.

Mas se você coloca todos estes ingredientes em uma narrativa que exalta o amor romântico e a ideia de que o casamento é a única coisa capaz de preencher verdadeiramente a vida de uma mulher – além de romantizar o século XIX para o público será que você está sendo revolucionário ou “mudando tudo para que permaneça igual”?

Existe, no entanto, a possibilidade de Bridgerton ser, de fato, um cavalo de Tróia para nosso patriarcado racista ao colocar todos estes elementos disruptivos em uma embalagem de “novelinha” e baixando a guarda da sociedade conservadora para deixar o questionamento passar.

Só o tempo dirá qual destas interpretações prevalecerá.

Há, no entanto, mais um ponto tocado pela série no qual, em minha opinião, ela acerta em cheio: a defesa do amor.

Apesar de, em um primeiro olhar, o amor romântico saltar aos olhos como a força motriz da narrativa, um olhar mais cuidadoso revela que o amor está em todas as camadas. 

Além do amor pelo interesse romântico há o amor pela família, pelos amigos e, sobretudo, a descoberta do amor próprio, que acompanha boa parte das curvas dramáticas dos protagonistas.

O amor em Bridgerton é uma pulsão de vida e esse talvez seja o seu mais revolucionário legado.

 

* Camilla Osório de Castro é cineasta e produtora cultural.  Pesquisa o Bem Viver. Mora no mundo, entre cidades. Acredita que sonho que se sonha junto é realidade.

CONTO

NORMA

por Tuty Osório

foto: Celso Oliveira

– Mãe, depois da teoria da relatividade tudo pode, é isso?

– Não filha, não é que tudo pode. É que tudo é relativo. Não existe mais padrão único. Tudo é referente a um sistema que varia conforme a cultura, o ambiente.

-Como assim, mãe, não é da física?

-A física é a essência de tudo, filha. Porque até os nossos sentimentos são energia. A Teoria da Relatividade do Einstein foi uma conclusão de estudos geniais da física. Porém, estendeu-se à compreensão da sociedade, dos comportamentos.

-É aquela parada que você fala que somos complexos, mãe? Todos temos o bem e o mal dentro de nós. E seria o segredo, o equilíbrio?

-Desconfio que o equilíbrio não existe. Existe um esforço diário que quando sincero leva a mais momentos alegres, emocionantes, sabe filha? Mais momentos de paz, também. E a chamada normatividade é uma invenção de segurança que só nos torna mais inseguros.

-O normal também é relativo, mãe?

-O normal é o diverso, filha. Não o que querem nos impor como padrão.

– Sei…Você tem certeza?

-Certeza é outro rolê meio complicado. Mas veja…Uma pessoa de libra, apaixonada por literatura, viagens e mergulhos sensíveis, organizada sem ser chata, responsável sem ser covarde, capaz de euforia e de serenidade, extravagância e parcimônia, que nome teria, filha?

-Com essa você me pegou, mãe! Eita, péra aí! Estou reconhecendo essa pessoa! Entendi!

-Grande garota!

MÚSICA

Divina Comédia Humana

por Belchior

Mora Na Filosofia

por Leticia Colin

ACQ

No episódio 3 da República Popular das Letras (RPL), Maria Lúcia Verdi e Daniel Faria conversam com o jornalista Antônio Carlos Queiroz sobre o engenheiro e escritor judeu polaco-brasileiro Samuel Rawet, cuja escrita enigmática desafia e incomoda a crítica literária.

REPORTAGEM ENSAIO

PRECISAMOS FALAR SOBRE NICOLAU

por Miguel Boaventura

A nova política. a ante política, a não política! Posso esclarecer? Tudo conversa para esconder a verdadeira missão da política, que quase ninguém está seguindo, dentro e fora do cenário institucional – Congresso Nacional, Tribunais, Governos, canais do Youtube.

Andam todos se esquivando de enfrentar o que é urgente ser feito – a política para a promoção do bem comum, para pactos de vida e não mais de morte.

Resultado de todos esses desvios – apenas falando de Brasil, são pelo menos 35 milhões de jovens prejudicados com o apagão no ensino formal, por reducionismo ou má fé, atribuído à Pandemia. Para falar de APENAS uma das tragédias.

Foi a total ausência de gestão, deliberadamente escolhida para não haver acesso à educação, que deixou de fora tanta gente. A informatização do sistema educacional está décadas atrasada. E não é por falta de verba, de planejamento ou de eficácia. É de propósito – mais gente indefesa, nutrindo a oferta de mão de obra a ser contratada por qualquer valor, sem direitos e praticamente escravizada.

Tudo bem, o assunto é chato. Mas é que nem terapia de casal, terapia familiar, parece patético e inútil, mas é tão necessário e garantidor de bons resultados que se todos topássemos fazer melhoraria muito as nossas vidas passadas, presentes e futuras.

Assim é a política. Entendida como Arte, na concepção de Machiavel, erroneamente posta a serviço de interesses de pequenos agrupamentos de poder.

Não podemos cair na armadilha de banalizar o mal.

O acaso pode nos proteger na nossa distração, mas há que dar uma mãozinha.

Se assumirmos o protagonismo, nós os timoneiros dessa dita democracia, o acaso não será, porque não o haverá, conosco ao leme.

 

*Com dupla residência entre Lisboa e Brasília, Miguel Boaventura é arquiteto urbanista e escreve por vocação e obrigação. Pessimista por consciência, luta para resgatar a esperança, a cada indignação.

APOIO ECOLOGIA
SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS

ORAÇÃO AO TEMPO

por Mila Marques

Encontrei esta relíquia sobre o TEMPO e quis muito compartilhar com vocês. Enquanto me preparo para falar de Chegadas e Partidas.

Beijos!

*Mila Marques, 82 anos, é dona de casa, mãe, avó, artesã das linhas e das letras, leitora aplicada, portuguesa, brasileira, viúva e Sapiente demais. Mora em Fortaleza, a algumas quadras do mar, entre plantas, objetos e muitos, muitos afetos.

CURADORIAS

RECADO IMPORTANTE DE ANA KARLA DUBIELA

“Bom dia! Só pra vocês guardarem um cantinho nas agendas para o lançamento da coletânea de crônicas PANDEMÔNIO, que será dia 02/06, quinta, 19h, no Café Culture, em Fortaleza. Foi o livro meu mais difícil de produzir, em todos os sentidos! Mas vou ter a alegria de ter vocês ao meu lado, junto com autores como Ana Miranda, Lira Neto, Zuenir Ventura, Xico Sá, Antonio e Mario Prata, Martha Medeiros, Demitri Tulio, Luis Fernando Veríssimo e muitos outros (os cearenses que moram aqui estarão todos lá).  Até lá!  PS: Quem participou da Vakinha virtual receberá seu exemplar no local.”

BÓRA!!!

BACHIANAS E COMPANHIA

O INDISCRETO CHARME DOS TAURINOS

Por Francisco Bento

Cattle - Joseph Denovan Adam

Não sei vocês, mas adoro o meu signo. Embora, obviamente, não acredite nessas coisas. Contudo, identifiquei-me muito quando ouvi, num encontro informal, outro dia, dizer que os taurinos são belos, marcantes e encantadores por essência e natureza. Gostei muito dessa identidade.

 

Até àquele momento que tanto me agradou, só ouvira falar dos nativos de touro como comilões inveterados, embora de bom gosto. Avaros organizados nas finanças, característica que jamais tive. Ciumentos e possessivos, coisa que nunca fui. Também teimosos e determinados e essa parte eu assumo.

 

Assumo, sem susto, também a que nos define como fortes, capazes de aguentar dilacerantes dores e na reação monstruosa e destruidora de quem nos torturou.

 

Acredito que o fim das corridas de touros tradicionais deu-se muito pelo aprimoramento do perseguido em reagir, eliminando os pretensos domadores com suas capas suntuosas, numa só pirueta mortal de patas e chifres. A pressão dos ecologistas contribuiu, claro, mas a sofisticação da reação do ofendido, através dos tempos, fascinou, até, o espírito aventureiro de Hemingway, visitante assíduo das touradas espanholas, para assistir e pelear.

 

Daí que ao ouvir essa versão sensualizada do intelecto e da performance, digamos, dos taurinos, fiquei muito vaidoso. Diz que taurinos não precisam nem de enfeites para seduzir amores, amigos, gentes em geral. Seduzir no sentido de conquistar simplesmente, mesmo, sem segundos, nem terceiros, nem quartos sentidos.

 

Sabendo cozinhar, então… Ou dominando a deliciosa arte de degustar e fruir, aí é que arrasamos…

Sem querer competir com meu amigo Serginho Pires, o geminiano livre e viajante que é o tutor mor deste espaço.

 

* Francisco Bento mora em Santa Teresa, Rio de Janeiro, curtindo o repouso do boêmio, após ter sido empresário da noite, dono de restaurante, crítico de gastronomia e bem vivente. Apaixonado por história, pesquisa e relembra os bons momentos de cores e sabores.

TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

desenho por Manuela Marques/Roteiro por Tuty Osório
APOIO SUSTENTABILIDADE
HISTÓRIAS DE STERI 10

THEODORA RAINHA

Por Brigitte Bordalo*

Diz a história que Theodora foi imperatriz em Constantinopla, grande amor de Justiniano, forte influência política, muita intelectualidade e nada secretos atributos sensuais.

Nome nada típico de PET, uma amiga escolheu para a sua shitzu, mais para plebeia que para nobre, tal a disposição em se sujar pelo mundo, sem traços da raça criada pelos monges tibetanos, para presentear o imperador da China. Cães de manto em pelo e longos bigodes, apreciadores do chão frio, do escuro, do interior de portas, do conforto indoor.

Theodora é do balaco.

Adora rua e, se não sair, confirma a primazia real dominando a varanda do apartamento. Daí, um tico de STERI 10 já ameniza os odores do território de Theodora.

Não é lenda, não. STERI 10 na realeza canina, que independente de raça, origem, história, sempre impera nos nossos afetos, é amigo e protetor.   

 

*Brigitte é microempresária da gastronomia e da cultura.

CREPÚSCULO

NÃO ME DIGAS COM QUEM ANDAS

Rompida a fronteira entre público e privado, da dialética estruturadora da esfera pública, consequente da oposição entre a praça e o quarto, o que sobrou de nossa dignidade? Não, não quero saber o que te deliciou no almoço de sábado, qual a nesga de luz que te conquista nas venezianas das tuas janelas, se gostas de café forte ou fraco. Conta-me, prosaicamente como eternamente, sobre tua busca do saber, da tua espera do amor, da tua compaixão pelo sofrimento do outro que nada fizemos para salvar das garras da crueldade humana.

 

 

Obrigada por estarem com a gente até aqui.

Tuty e Trupe

APOIO LUXUOSO

Em breve, bistrô saltimbanco