Edição N. 54 - 17/07/2022
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Edição Geral: Tuty Osório

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo, Yvonne Miller, Elimar Pinheiro,

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Edição de Fotografia: Manuela Marques 

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

Música: Maurício Venâncio Pires, Alex Silva, Caio Magalhães, Manuela Marques

 

 
ALVORADA

UMA PRIMAVERA

via Estadão

Leitura é Amor, dizia Paulo Freire, nosso MAIOR. Com suas ideias, métodos revolucionários, o imenso otimismo da vontade, levou luz a muitos que por sua ação e inspiração aprenderam a ler. Escrever para ser lido é o texto da entrega, nunca do narcisismo do pretenso hermetismo. O Domingo à NOITE faz um ano de chegadas domingueiras. Uma só vez falhou. Chegou na segunda de manhã. Todos os que se reúnem em torno deste pasquim afetivo e literário o fazem por prazer. Quem produz e quem recebe, todos são fazedores destas linhas, fotos, ilustrações, canções, vídeos. Não vou mentir que não imaginava chegar até aqui. Mais que imaginava, sabia. Como diz Camilla Osório de Castro, sonho que se sonha junto é realidade. Somos dessas e desses. SONHOU, TÁ SONHADO.

 

Começa agora mais um Domingo à NOITE em 2022! 

 

BRUNO E DOM

UNIVERSIDADE DA FLORESTA

Conheci pessoalmente Marina Silva numa palestra no auditório Nereu Ramos da Câmara Federal, no final do século XX, ou início do XXI. Era Dia do Meio Ambiente e na minha ignorância sobre muitas coisas, foi a primeira vez que ouvi falar dos povos da floresta em sentido mais amplo.

 

Indígenas, Quilombolas, Seringueiros, Catadoras de Babaçu, Pescadores dos igarapés, artesãos das casas flutuantes e muitos outros agrupamentos de gente que nasce e vive ali para sempre. Sem desejo de concreto, alheia ao barulho das megalópoles.

 

Chegou-me por ela, podia ter sido por qualquer outra pessoa conhecedora de Brasis menos evidentes para uma urbanoide como eu.  Hoje tenho a minha consciência expandida, uma dor no coração por não fazer mais pela conciliação entre os tantos mundos que fazem a nossa terra. Mágoa de mim, por não ser mais radical contra a opressão, a invisibilidade desses povos, o cinismo cruel de falsos profetas que os desprezam. 

 

Faço o que minha covardia permite. Escrevo, enquanto aprendo a canção que é de luta e foi inventada para trazer a paz.

CONTO

CLARA

por Tuty Osório

foto: Celso Oliveira

– Mãe, não existe essa história de não julgar, né?

-Como assim, não existe filha?

-Assim, mãe. Tem gente que afirma que não julga, mas todo o mundo julga. De um jeito ou de outro julga.

-É. Pode ser, filha…Eu acho que faço um esforço para não julgar. Só que não fico alardeando por aí que faço esse esforço.

-É mãe. Acho que você faz, sim. Você meio que se acha bem leal e correta mas você até que é, mesmo.

-Ôxe, filha! Tá debochando de mim, é?

-Claro que não, mãe. Estou sendo sincera. Você é o maior legal e tem uma certa vaidade nisso, confessa!

-Eu hein, menina! Que conversa mais besta! Eu não tenho vaidade de nada. Só acho, sinceramente, que busco mesmo bastante ser correta com as pessoas…

-E de vez em quando dá uma rabissaca em quem não reconhece, né, mãe?

-Rabissaca, eu, filha?

-Mãe, você mesma. Para de se fazer de boba…

-Não estou me fazendo de boba, filha. Só não vejo assim tão evidente essa minha candidatura a santa que sai chicoteando os vendilhões do templo, revoltada…

-Você é engraçada, mãe. E fofinha.

-Isso é elogio, filha?

– O que responde a tua vaidade, hein mamãe?

-Menina!!!

VIAGEM SONHADA

SE QUERES SER DO MUNDO

por Tuty Osório e Manuela Marques

via Wikipedia

-Mãe vamos começar viajando aqui por perto? Não conheço quase nada.

-Boa ideia. Nem tinha pensado nisso. Eu conheço muita coisa, e tenho vontade de voltar a tantos lugares…Que tal a terra de Raquel?

-Qual seja?

– É uma cidade de pedras, águas e lendas. Tem até disco voador.

-Jura! Que máximo!

-Pois é. Muita cultura, muita natureza. E as noites estreladas mais lindas que já vi. É legítimo sertão.

-E como chegar?

-Tem estrada boa. Ônibus confortável também. Hotéis simpáticos. Boa comida. A Fazenda NÃO ME DEIXES, casa da Raquel de Queiroz que virou museu. O teatro recuperado. Passeios a cavalo, a pé. Muita lindeza.

-Pois vamos, mamãe!

-Vamos sim!!!

-Busca o Site pra gente planejar.

-Deve ser um Instagram, mãe! Site tá fora de moda!

-Que história torta, menina! Claro que não está! Deve ter os dois!

-OK!

TRILHA

https://quixada.ce.gov.br

https://www.instagram.com/prefeituradequixadace/

 

ENCONTROS

Alguns cortes selecionados da entrevista do Turiba à República Popular das Letras:

O BEM VIVER

UTOPIA PERTENCE-NOS

por Camilla Osório de Castro

filme Boca de Loba

Escrevo este texto na sexta-feira 15/07/2022. Herdei de meus pais o hábito de ler notícias pela manhã, de preferência de mais de um veículo de comunicação, de preferência que se contradigam, para tentar ter uma visão ampla dos acontecimentos. Hoje pela manhã me chamou a atenção que dois veículos muito díspares, A Carta Capital e o Meio, traziam mensagens muito semelhantes. Destaco aqui dois trechos de minhas leituras:

“Além de denunciar o pesadelo, precisamos encontrar formas de comunicar o sonho, para que, em união, possamos construí-lo…” (trecho da coluna “A potência dos Afetos, de Rita Von Hunty na Carta Capital)

“O cidadão, para agir politicamente, precisa antes de uma visão de futuro. De uma ideia de como as coisas podem se ajeitar. Essa esperança é realista, mas contempla um futuro melhor. Na História, existem exemplos de grandes líderes que souberam usar ondas de esperança em favor de projetos maiores. Oportunistas se aproveitam da esperança mal elaborada e se apresentam como salvadores. Líderes bem-intencionados podem inspirar essa esperança ou emergir dela. O Brasil necessita desse reencontro com a esperança.” (trecho do editorial da Newsletter do Meio)

 

Os trechos destacados foram escritos por um comunista, Guilherme Terreri que interpreta a Drag Rita Von Hunty, e um liberal, Pedro Doria, editor do Meio. Se colocados em uma mesa para debater o momento atual é provável que discordassem tanto em diagnósticos quanto em soluções para as nossas múltiplas crises, no entanto, concordam sobre a urgência da esperança enquanto nossa maior arma para enfrentar o momento atual. Perceber isso me fez sentir coragem de ter a ousadia de, em uma semana tão absolutamente desoladora, ter esperança também.

 

Em 2020 eu idealizei e fui curadora junto com Alisson Severino de uma mostra de cinema chamada “Utopia Pertence a Nós”. Inspirados nos comentários que a Sabrina Fernandes faz do trabalho do Ernst Bloch sobre o conceito de Utopia, nós selecionamos filmes que articulavam a utopia enquanto possibilidade de enfrentamento , imaginar para não desistir. Hoje, dois anos depois, já questionei algumas vezes se o conceito faz sentido, já quis desistir e enfiar a minha cabeça debaixo da terra. Rita e Pedro cada um ao seu modo me lembraram hoje que eu não posso e além de não poder eu não quero.

 

Como disse Galeano, citando Fernando Birri: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” Caminhemos, pois.

TRILHA

 

Coluna “ A Potência dos Afetos”, por Rita Von Hunty, disponível em: https://www.cartacapital.com.br/opiniao/a-potencia-dos-afetos/

 

Plataforma de Notícias Multimídia Meio, disponível em: https://www.canalmeio.com.br/

 

Vídeo “U de Utopia”, por Sabrina Fernandes, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=75MFF0odip0

 

Livro O Princípio Esperança, por Ernst Bloch, editora Contraponto, 2005

 

Vídeo do programa Singulars, de TV3, com Eduardo Galeano, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8&t=1s

* Camilla Osório de Castro é cineasta e produtora cultural.  Pesquisa o Bem Viver. Mora no mundo, entre cidades. Acredita que sonho que se sonha junto é realidade.

INDIGNAÇÃO
Não Violentarás!!! (foto: Celso Oliveira)
DENTRO E FORA
MÚSICA

Canto das Três Raças

por Clara Nunes

Back to Black

por Amy Winehouse

POESIA

LIQUIDAÇÃO

por Carlos Drummond de Andrade

via Instituto Ling

A casa foi vendida com todas as lembranças
todos os móveis todos os pesadelos
todos os pecados cometidos ou em via de cometer
a casa foi vendida com seu bater de portas
seu vento encanado sua vista do mundo
seus imponderáveis 
por vinte, vinte contos.

SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS

CASA POEMA

Por Tuty Osório

fotos: Lili

 

Muito diferente da casa da poesia de Drummod, a casa de que vos falo não será assim vendida. Tem também as lembranças, os móveis, os pesadelos, os pecados cometidos e em via de cometer. O vento encanado, o bater de portas e, sobretudo, sua vista do mundo. Seus imponderáveis. Mas vendida nunca. Poderá ser repassada em negociação financeira justa, para as mãos de novos artistas. Com seus sonhos sempre renovados.

 

É a casa de Lili e Serginho. Ontem teve festa na cozinha, todos os dias tem. Quem regeu a orquestra da feitura de guloseimas foi Lígia, uma das filhas. Para mim sempre Liginha, que conheci menina, embora menina permaneça. A alegria de mãe e filha nas artes dos doces e biscoitos é um deslumbramento. Uma tarde de muitas risadas, conversa boa derramada, e uma abundância de afeto de que nenhuma meditação será capaz.

 

As paredes são uma galeria de belas peças. Também os aparadores, o chão, os pedestais que parecem estar ao acaso em frente ao lavabo, a adega transparente, a enorme mesa para abrigar a gritaria mágica dos dias em que vêm as quatro filhas, maridos, amizades, crianças. É tanta cor, tanto acolhimento, tantos acordes de vida verdadeira.

 

Lili, a Fada que em toques de amorosidade e criação desenhou cada encanto, tornando férteis os nossos olhos.

 

Tal qual um livro, escrito em múltiplas linguagens.

 

Vontade de me deitar no colo acolhedor desta casa. De abarcá-la em meu colo de gratidão e chorar muito, chorar da beleza que é receber e entregar as energias mais lindas.  

TÃO BONITO

Por Socorro Bulcão

foto: Socorro Bulcão

Acho tão bonito quando ele fala assim, defendendo a causa dos idosos em todos os lugares por onde anda, feito um Dom Quixote, sem desacreditar de que unidos podemos transformar o Brasil num país melhor e mesmo o mundo.

 

Isso é um ideal! Ei-lo, portanto, novamente na Câmara dos Deputados, tentando fazer um furo nesse discurso esférico que temos presenciado nos últimos tempos. Ele fala “às paredes”, para usar uma expressão de Lacan, e “isso interessa a algumas pessoas”, embora não a todas.

 

Assim, algum efeito essa fala produz, ao menos naqueles que estão interessados em ouvi-la e dar-lhe crédito. Oliveira Alcantara é um homem que tem esperança ativa, do verbo esperançar, segundo ensinamento de Paulo Freire.

 

E eu me orgulho de estar ao lado dele, paralelamente, nessa luta por um país mais justo e por uma sociedade mais igualitária. Nosso amor segue os ensinamentos do amante anarquista.

 

“Porque eu te amo, tu não precisas de mim. Porque tu me amas, eu não preciso de ti. No amor, jamais nos deixamos completar. Somos um para o outro, deliciosamente desnecessários.”

 

Sigamos todos nessa luta!

 

*Avó, Mãe, Filha, Mulher, Socorro Bulcão é Artista Visual, Escritora, Juíza e tem articulações com a psicanálise. Sensibilidade é o seu maior talento, bússola da ficção do tempo. 

ACQ

O violão de Álvaro Henrique

por Antônio Carlos Queiroz

Guia Musical de Brasília n° 10

Quando entrevistamos o premiado violonista Álvaro Henrique, professor da Escola de Música de Brasília, ele estava preparando as malas para viajar aos Estados Unidos. Ali, no início de julho, ele lançaria a primeira gravação mundial das composições para violão solo de César Guerra-Peixe, daria uma palestra sobre esse compositor brasileiro, e ainda competiria com grandes instrumentistas de todo o mundo durante o maior evento de violão das Américas, a Convenção da Guitar Foundation of America (GFA), sediada na Universidade de Indianápolis.

 

Não é a primeira vez que Álvaro Henrique brilha no Exterior. Há dois anos foi premiado na Quebec Music Competition, no Canadá, trabalhou como solista de orquestra com a Vaasa Sinfonietta, na Finlândia, e já se apresentou em outros 13 países. Bacharel em violão pela Universidade de São Paulo (USP), é diplomado em Educação Artística pela Universidade de Música de Nuremberg, Alemanha, e é mestre em música pela Universidade de Brasília.

 

Ele é presidente-fundador da Associação Brasiliense de Violão (BRAVIO), a primeira entidade da América do Sul parceira da Guitar Foundation of America (GFA).

 

Curiosamente, foi a sua extrema timidez que o levou ao violão. Seus pais, um maranhense e uma pernambucana que veio menina para Brasília, ainda na época da construção, não sabiam o que fazer com o moleque com dificuldades para se comunicar, numa época, anos 80, em que buscar o apoio de um psicólogo ainda era tabu. Seu pai então teve a ideia de levá-lo para a escola de violão.

 

As primeiras experiências com o instrumento foram frustrantes, diz Álvaro, porque se resumiam a ficar embaixo do bloco “batendo acordes e cantando a Legião Urbana”. Até que um amigo o levou à casa de um primo para ouvir Som de Carrilhões, de João Pernambuco, e Romance de Amor, atribuído ao espanhol Antonio Rubira. Álvaro descobriu o violão clássico e aceitou a proposta de seu pai, que o matriculou na escola Espaço Sonoro, no Guará 2, onde morava a família. O seu primeiro professor, Zilmar Gustavo Costa, é hoje seu colega na Escola de Música.

 

Rock ou Lua – Álvaro Henrique diz que na época havia três tipos de adolescente em relação à música: “Os que ouviam o que a Globo mandava ouvir, os que ouviam rock, e os que moravam na Lua”. Ele mesmo ouvia rock, e tinha a ideia de tocar violão durante um tempo e depois migrar para a guitarra. “Só que o violão clássico foi me encantando cada vez mais”. Por quê? “Eu acho que a música clássica tem, acima de tudo, a linguagem da emoção. E eu fui descobrindo que eu tenho uma gama maior de emoções para explorar no universo da música clássica. Isso me fez nesse universo até hoje”. 

 

O próximo passo foi a mudança para São Paulo, para cursar bacharelado de música na USP. Ali enfrentou o ambiente hostil de uma cultura que usa o bullying como ferramente pedagógica, como retratado no filme Whiplash: Em Busca da Perfeição, de Damien Chazelle. Enfrentou o desafio com paciência, em sala de aula e fora, frequentando festivais, master classes e concertos.

 

Num dos seminários conheceu Alvise Migotto, músico canadense de origem italiana, uma de suas grandes influências, junto com Edelton Gloeden, violonista paulista.

 

Álvaro Henrique conta que a partir daí aprendeu muitas lições com músicos que nem foram seus professores. Foi o caso do maestro David Junker, que comandava o Coro Sinfônico da UnB. “Vivenciar como ele organiza e conduz o ensaio, como determina o horário para cada coisa… Isso é melhor do que uma aula…” Bohumil Med foi outra figura marcante. “Eu o vejo mais como um mentor, paternal, amigável, mas que também fala o que a gente não quer ouvir, mas precisa (risos)”. E mais: “Leo Brouwer (violonista cubano), mudou a minha visão de música”; e Paul Galbraith (escocês) “me mostrou o quanto que é bom ser genuíno, mesmo que você tenha um bando de gente chata fiscalizando porque que você não está fazendo as coisinhas do jeito que todo mundo faz”.

 

Entre 2006 e 2008, Álvaro trabalhou com o grande violonista e regente Fábio Zanon, que o apresentou a Franz Halász, um guitarrista alemão casado com uma brasileira de quem tomou emprestado o sobrenome húngaro. Foi Halász quem o convenceu a estudar na Universidade de Música de Nuremberg. “Eu aprendi violão com muita gente, mas estava faltando unir esse conhecimento  com o panorama mais amplo da música. Foi o Halász que me ajudou a fazer a síntese”.

 

As aulas gravadas – De volta ao Brasil, Álvaro Henrique passou num concurso para lecionar na Escola de Música de Brasília. Sua efetivação como professor demorou nove anos, no entanto, e só depois de uma decisão judicial. Com ampla preocupação social, resolveu gravar e disponibilizar para o público, gratuitamente, as aulas dos  seis anos do curso técnico, tarefa que está quase no fim. As pessoas interessadas podem acessar essas aulas no site alvaro.henrique.com/cursosabertos 

 

Queremos saber agora os compositores que mais fizeram a cabeça do entrevistado. “Olha, se eu tivesse que ir para uma ilha deserta levando o violão e um conjunto de partituras, certamente seriam as do Villa-Lobos, do  Mauro Giuliani e do Bach”.

 

Para o editor ignorante do Guia Musical, Álvaro informa que Mauro Giuliani foi um contemporâneo de Beethoven, que, aliás, conheceu o compostor e teria tocado violoncelo na estreia de sua Sétima Sinfonia, na Universidade de Viena, no dia 8 de dezembro de 1813. Muito provavelmente, Giuliani aprendeu a tocar violão com a sua mãe, como ocorria com os músicos homens de sua geração, quando a maioria dos violonistas era formada de mulheres. Os homens costumavam aprender a tocar um instrumento na escola, mas aprendiam violão com a mãe. Só depois da geração de Giuliani é que o mercado se abriu também para os homens solistas e concertistas.

 

Naquela época, ensina Álvaro Henrique, os músicos queriam ser Beethoven ou Rossini (o compositor de óperas italiano Gioachino Rossini). Giuliani quis ser Rossini, tanto é que o último conjunto de suas seis obras, compostas entre 1822 e 1828, tem o nome de Rossinianas, trazendo para o universo do violão o espírito do canto lírico.

 

E quando foi que Álvaro Henrique se interessou por César Guerra-Peixe? Quando participou de um concurso em Belo Horizonte, em 2003 ou 2004, que previa como música obrigatória a Sonata do compositor carioca. Ele não teve sucesso no concurso, mas viu que aquela música era rica, importante e bonita, espicaçando a sua curiosidade pelas outras composições.

 

Guerra-Peixe foi um discípulo de Hans-Joachim Koellreutter, um músico representante do expressionismo alemão que se exilou no Brasil em 1937 fugindo do nazismo. Tornou-se amigo de Mário de Andrade e Heitor Villa-Lobos. Em 1939 ele fundou o movimento Música Viva, e foi professor de composição de Guerra-Peixe, Cláudio Santoro, Eunice Katunda e Edino Krieger.

 

Um aspecto da riqueza e da complexidade de Guerra-Peixe, segundo Álvaro Henrique, é que ele saltou do serialismo para a música armorial no início dos anos 70, quando Ariano Suassuna fundou o Movimento Armorial estando no posto de diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Suassuna tinha claro o que o movimento faria no teatro e nas artes plásticas, mas foi Guerra-Peixe quem deu os primeiros rumos à música segundo essa estética nacionalista com base em elementos nordestinos. 

 

Pensando a obra de Guerra-Peixe como um tesouro ainda escondido dos brasileiros, Álvaro Henrique resolveu resgatar e gravar em CD, em primeira mão, as suas composições para violão solo, com seu lançamento previsto para a Convenção da Guitar Foundation of America (GFA). Disponíveis nas plataformas digitais, estão ali a Sonata para Violão, os 5 Prelúdios, o Caderno de Mariza, as Breves, as Lúdicas e os Peixinhos da Guiné.

HENRIQUETAS, NEUCILAS, ZENEIDAS, ZENAIDES

Frases em Frascos

Por Tuty Osório

Minha avó Henriqueta comunicava-se por histórias inteiras e frases precisas. NAS COSTAS DOS OUTROS VEMOS AS NOSSAS, dizia dos maledicentes, que animados cortam nos outros conosco e em nós com os outros.

NÃO SE MOSTRA TODA A FRALDA DA CAMISA, era a recomendação de que não devemos expor todos os nossos segredos. FOI TÃO GRANDE O DIA, COMO A ROMARIA, era o comentário quando demorávamos a voltar de algum programa. E uma das minhas prediletas, que serve para política, casamento, trabalho, amizade. ATRÁS DE MIM VIRÁ, QUEM DE MIM BOM FARÁ.

 

A vida trouxe-me mais Henriquetas, com outros nomes.

 

Mulheres sábias, mães de turbas recolhidas nas lidas da existência, referência para achar as veredas das charadas dessa vida.   

 

Quero mostrar aqui as frases que expressaram na sua passagem.

 

Salvé elas.

 

Com seus mantos de razões emocionadas.

BACHIANAS E COMPANHIA

Quem escolhe o vinho?

por Sérgio Pires

Somos nós mesmos que escolhemos nossos vinhos? Ou apenas selecionamos entre aqueles que os líderes do mercado de venda e distribuição resolvem nos oferecer? Quem coloca os vinhos nas prateleiras das lojas e nas cartas de vinho?

Os diversos Clubes de Vinhos, devido ao volume de venda só podem comprar de grandes produtores, poucos agem de forma diferente. Os restaurantes não importam diretamente e dependem dos importadores e distribuidoras que atuam na sua região, quando não se conformam apenas à opção mais simples de terceirizar sua carta de vinhos com um único fornecedor.

Mas também os fornecedores, importadores, distribuidores, Sommeliers e proprietários dos estabelecimentos são fortemente influenciados pelas forças sociais que afetam o vinho, como a influência de multinacionais de vinho, de críticos e publicações especializadas assim como dos movimentos ambientalistas.

Ao final deste funil de escolhas o provável um milhão de rótulos que existe no mundo estará reduzido a algumas poucas dezenas, no máximo algumas centenas de opções para a nossa seleção e escolha final.

Mas esta nossa opção de escolha será ainda mais reduzida quando aplicarmos à carta de vinhos nossos critérios de preço, harmonização e de gosto pessoal. Se bobear ficaremos entre apenas duas opções, com uma distante alternativa de uma terceira via de escolha.

O engraçado é que ainda vamos achar que fomos nós que elegemos o vinho que iremos tomar. Mas, como retomar, ao menos em parte, o controle da sua adega? A boa notícia é que temos cada vez mais opções de rótulos no nosso mercado.

Beber vinho também é um ato político em todos os seus aspectos, nós é que não prestamos a atenção devida. Se não gostamos de política e gostamos de vinho, teremos de nos conformar com o fato de que quem não gosta de vinho, mas gosta de política, é que irá definir o que colocaremos na nossa taça.

Nossas escolhas refletem a nossa personalidade e a escolha da garrafa de vinho que iremos comprar, sem desconsiderar a qualidade, terá influência na agricultura, na indústria e no comércio. Quando tomamos nossas decisões considerando pequenos produtores, produtores locais, cooperativas, comércio local, insumos agrícolas, energia e água estaremos praticando um pequeno ato político de longo alcance, que terá início e fim na nossa adega e taça.

TRILHA
Vivendo e aprendendo a jogar
Vivendo e aprendendo a jogar
Nem sempre ganhando
Nem sempre perdendo
Mas aprendendo a jogar

música do Guilherme Arantes, na voz da Elis Regina

 

* Aposentado como bancário e praticante de karatê e Sommelier na ativa, integrante da ABS-DF, Sérgio Pires é escritor e desenhista, poeta da prosa e exímio contador de histórias. Mora em Brasília com Lili, sua companheira linda e maravilhosa, aposentada da Embrapa, cozinheira, apaixonada pela alegria.

CURADORIAS

MURO BERRA

por Tuty Osório

fotos: Tuty Osório

Esbarra-se com ele na esquina. Dizem que Brasília não tem esquinas. Papo de quem não conhece. Tem, muitas e repletas de surpresas, lirismos. É o caso do OBJETO ENCONTRADO, literalmente um objeto achado no caminho. Contemporâneo, mundano, simpático, é um espaço de drinks, cervejas, petiscos, música, arte. Ao lado QUERO MELANCIA exibe criações de grife brasiliense. Inclusiva, colorida, underground, QUERO é um querer de si.

 

 

Para quem conhece vai minha confissão de afinidade. Para quem ainda não foi, deem uma chegada. É um balaio adorável de maracatus, roques, sambas, choros, erudições, espiritualidades, ativismos. Para cafés menos demorados, ilusões de praia e sertão por longas e preguiçosas horas, pôr do sol raiado pelas folhagens intercaladas com os prédios. Cadeiras vermelhas, chão azul. Estrelas no olhar.

 

 

OBJETO ENCONTRADO, comércio Local Norte, quadra 102, bloco B, Loja 56 Instagran @objetoencontrado,www. Objetoencontrado.com.br

APOIO ECOLOGIA
TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

desenho por Manuela Marques/Roteiro por Tuty Osório
APOIO SUSTENTABILIDADE
HISTÓRIAS DE STERI 10

MAIS MATO GROSSO

Por Brigitte Bordalo*

Estrada de ônibus no maior território do Centro Oeste. Rodoviárias múltiplas, banheiro dentro do ônibus, banheiros de postos de combustível.

 

Minha amiga antropóloga novamente em Ação. E o STERI 10 com ela. Não é que estavam sujos os banheiros. Estavam bem legais, até, segundo ela contou.

 

A proteção do STERI garante um clima de segurança e bem-estar que ajudam até no descanso; no trabalho. XÔ bactérias, tchau maus cheiros, viagens mais confortáveis.

 

*Brigitte é microempresária da gastronomia e da cultura.

CREPÚSCULO

MAIS E MAIS DOMINGOS

Hora de mais uma vez agradecer o entusiasmo com o Domingo à NOITE. Estamos criando espaços, elaborando ebooks com a produção deste ano incrível, seguindo em frente, às vezes parando para contemplar, outras recuando para tentar aprimorar. Sempre no desejo que um dia, todos, todos os dias, sejam domingos. 

 

Obrigada por estarem com a gente até aqui.

 

Tuty e Trupe

APOIO LUXUOSO

Em breve, bistrô saltimbanco