Edição N. 55 - 24/07/2022
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Edição Geral: Tuty Osório

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo, Yvonne Miller, Elimar Pinheiro,

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Edição de Fotografia: Manuela Marques 

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

Música: Maurício Venâncio Pires, Alex Silva, Caio Magalhães, Manuela Marques

 

 
ALVORADA

SEM AÇÚCAR

Café ao acordar. Primeira coisa faz 40 anos. Talvez seja o único vício verdadeiro que realmente tenho. É difícil ficar sem. Na estrada, nos hotéis quando viajo a trabalho, em todos os lugares onde não dá para correr para a cozinha e preparar, fico desamparada enquanto não acesso o aroma, o gosto de um coado, em copinho plástico que seja. Gosto dele amargo, o que causa estranheza a alguns amigos, que o tomam somente pelo doce, quase uma garapa, – dizem. Na faculdade, em Lisboa, minha mãe acordava-me com o cheiro da máquina italiana, ainda madrugada, para o tomarmos juntas antes da minha saída. Aos domingos, de morno sol de inverno, o cafezinho que apelidamos, minha mãe e eu, da AMIZADE. Café para nos dizer que a vida pode ser muito boa.

 

Começa agora mais um Domingo à NOITE em 2022! 

BRUNO E DOM

TERAPIA NACIONAL

SAMAUMA, plantada há 30 anos por Lúcia, na chácara Leão da Serra, em Brasília, canto mágico dela e de Vicente Sá.

Uma canção de Carlos Queiroz, músico português, nascido em 1907 e morto em 1949, aos 42 anos, fala das virtudes do mal que nos fazem. Fala também da gratidão por esse mal.  Tenho pensado sobre como os massacres recentemente mais visibilizados, contra os povos indígenas, porque despidos de qualquer pudor em esconder, nos revelaram, de certa forma, uma obviedade de mais de 500 anos – o quanto os SOMOS, independente de conhecer as precisas origens.

 

São o nosso início, a nossa ancestralidade mais ascendente, a nossa primeva estrutura mental, emocional, social.

 

Só pode dar ruim desprezar quem se é.

 

É como perder o prumo, o rumo, o passo. Como enlouquecer. E o que é pior. Sem ter consciência da fratura interna que nos assola, da sangria de identidades que nos abate. Precisamos falar sobre o que acontece conosco nas sombras da mata. Sobre a concepção monstruosa que armou viventes para matar irmãos.

 

Morte para silenciar vozes que agiam em defesa de todos nós. Ninguém é inocente. Nosso conflito de espelhos, nossa fragmentação de subjetividade, apertou aqueles gatilhos que caçaram os lúcidos valentes.

 

Daí a lembrança da canção. A maldade nos aproximou da consciência da nossa existência verdadeira. Da qual os povos originários são pais, mães, irmãos e filhos.

 

São as raízes da árvore SAMAUMA, a mãe de todas as árvores, que nos fez fortes galhos, espalhando a beleza estonteante das folhas em chuva.  

CONTO

DARK

por Tuty Osório

foto: Celso Oliveira

– Mãe, você está triste?

-Indubitavelmente, sim, filha.

-Nossa! E porquê? Você sempre diz que temos que espantar a tristeza! O que houve, mãe?

– Na verdade, filha, nada de específico. Só uma tremenda consciência da minha impotência diante das coisas. Em especial diante da consciência dos outros.

-Você fala muito em consciência, mãe. Como algo fundamental e ao mesmo tempo que não pode ser acessado conscientemente. É meio bizarro isso!

-Bizarríssimo. O nosso universo verdadeiro, filha, está no inconsciente que só acessamos através de enigmas. Que é bom aprendermos a decifrar minimamente. Prestando atenção nos sonhos, nos padrões de comportamento, nas obsessões fantasiadas de certezas. A consciência é como a tradução do aparente caos do inconsciente, para que possamos saber de nós o que é possível.

-Então, mãe, a consciência é prisioneira do inconsciente e a nossa missão seria libertá-la?

-Talvez sim, filha.

-Você acha que está triste por falta ou por excesso de consciência, mãe?

-Taí, boa pergunta, filha!

-Para o inconsciente ou para o consciente, mãe?

-Você tá ironizando, menina?

-Juro que não! É porque esse teu teorema, sei lá como chamar, não é muito simples de entender né mãe?

-Me deixa na minha caverna, vai…

ENCONTROS

APARTHAID DE BRASÍLIA

Mais um podcast da República  Popular das Letras, que vai dar o que falar! 

O tema é o apartheid brasiliense, que, afinal, é também brasileiro!

Concebida como cidade utópica igualitária, Brasília transformou-se numa metrópole distópica inchada, segregada por faixas de renda e raça, onde a distância média da casa ao centro dos moradores ricos brancos é de 4,5 km e a dos pobres negros e pardos, 25,8 km.

Este é o tema desta minha conversa com o arquiteto Frederico Holanda, professor da UnB, o engenheiro sanitarista Marcos Montenegro, ex-presidente da Caesb, e ex-administrador de Ceilândia durante o governo Cristovam Buarque.

MÚSICA

Atiraste Uma Pedra

por Maria Bethânia

Atiraste Uma Pedra

por Nelson Gonçalves

Lembranças

Nélson Gonçalves e Martinho da Vila

Vocês já ouviram O pianista sul-coreano Lim Yun-chan tocando o concerto n° 3 do Rachmaninoff em Fort Worth , Texas, no mês passado?

Sob a regência de Marin Alsop, que dirigiu a OSESP entre 2012 até 2019, Yun-chan tornou-se o mais jovem ganhador da medalha de ouro da prestigiosa Van Cliburn International Piano Competition. O moleque só tem 18 anos!

A brilhante performance de Lim Yu-chan do Rach 3 já foi vista por mais de 5 milhões de pessoas no YouTube!

(via ACQ)

POESIA
ACQ

Hondurenha e brasiliense

por Antônio Carlos Queiroz

Indiana Nomma

Antônio Carlos Queiroz (ACQ), 10ª edição do Guia Musical de Brasília

 

Pelo 22º ano consecutivo, a cantora Indiana Nomma, meio hondurenha, meio brasiliense, homenageou a argentina Mercedes Sosa com o show Mercedes Sosa – A Voz dos Sem Voz no dia 9 de julho, no Teatro Rival Refit no Rio de Janeiro, com as bênçãos do neto de Mercedes, o produtor Agustín Matus. Em breve o show chegará em Brasília.

 

A data coincide com os 87 anos de nascimento de La Negra. Na véspera, o álbum correspondente, com 10 canções, gravado em parceria com o violonista André Pinto Siqueira, estará disponível em todas as plataformas digitais.

 

Lançado pelo selo Mills Records, o álbum inclui canções imortalizadas por Mercedes Sosa como Alfonsina y el Mar, de Ariel Ramírez e Félix Luna,  Gracias a la Vida e Volver a los Diecisiete, de Violeta Parra, e Si se calla el cantor, de Horacio Guarany. “Prepare-se para chorar muito”, nos disse Indiana Nomma. “São 40 minutos de choro, e mais 30 minutos com as pessoas tentando se recuperar até o final do show”.

 

Combinamos a conversa com Indiana no Sebinho, na 406 Norte, perto de onde a cantora morou anos com o filho, Tagore Martins de Morais. Desconfiada, ela perguntou à proprietária da livraria, Cida Caldas, sua amiga, se por acaso nós não éramos bolsominions. Depois de a Cida atestar o nosso compromisso com o comunismo desde criancinha, Indiana relaxou e acabou dando boas gargalhadas ao nos contar a história.

 

Este registro tem uma razão de ser: Indiana herdou dos pais, obrigados ao exílio pela ditadura militar, tanto a sensibilidade social como o gosto musical. Sua mãe, a educadora Célia Lima, participou do programa de alfabetização do governo sandinista da Nicarágua, nos anos 80. Seu pai, Clodomir Santos de Morais, foi um dos organizadores, ao lado de Francisco Julião, das Ligas Camponesas do Nordeste, tendo sido o seu último dirigente. Preso pela ditadura, foi vizinho de cela do educador Paulo Freire. Clarinetista e saxofonista, foi ele quem apresentou Indiana ao mundo da música clássica e do jazz. 

 

Nômade – Nascida em 1976 em Honduras, quando o pai já era um importante   funcionário da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Indiana cresceu em trânsito por vários países – México, Portugal, Nicarágua e Alemanha Oriental. Nesse país, a partir dos oito anos, estudou canto e teatro. Com a democratização do Brasil, veio parar em Brasília no final dos anos 80, onde morou 23 anos. Com a voz de tenorina, participou de vários corais, tendo acompanhado, em 1994, o Coro Sinfônico Comunitário da UnB, sob a regência do maestro David Junker, no Carnegie Hall em Nova York.

 

Em seguida, integrou o coro feminino do Instituto de Música de Brasília numa excursão à Costa Rica. “Depois disso eu fui cantar na noite, porque precisava pagar as contas, e a música erudita não dava dinheiro. Eu era muito jovem e tinha acabado de engravidar”.

 

Essa fase, quando “cantava discoteca dos anos 70”, durou seis anos, segundo se recorda. “Depois eu fui fazer banda de baile, fui backing vocal de sertanejo, cantei tanto coisas que eu odiava e coisas que eu amava, até que resolvi seguir a carreira solo”.

 

Nesse novo período, o seu principal palco foi o Gate’s Pub, na 403 Sul. Mais tarde, o Feitiço Mineiro, da 306 Norte, tornou-se a sua segunda casa, depois que os artistas locais passaram a ser mais valorizados pelo novo produtor musical do estabelecimento, Gerson Alvim, ex-Canecão do Rio.

 

Finalmente, em 2010, Indiana Nomma mudou-se para o Rio de Janeiro, onde consolidou-se como cantora de jazz, passando a ganhar os palcos da Argentina, Alemanha, Itália.

 

Ela conta que o seu primeiro grande parceiro no Rio foi Osmar Milito, pianista que havia acompanhado gente como Elis Regina, Sarah Vaughan, Leny Andrade e Sérgio Mendes. Com ele gravou, em 2015, o CD Unexpected, finalista do Prêmio da Música Brasileira na categoria “Álbum em Língua Estrangeira”. 

 

Outras parcerias incluíram o guitarrista argentino Victor Biglione, a cantora Leni Andrade, o violonista André Pinto Siqueira, o guitarrista Nelson Faria, o guitarrista americano Mark Lambert, e a cantora Alma Thomas. 

 

Além dos álbuns com Osmar Milito e André Pinto Siqueira, Indiana Nomma gravou outros três CDs: Lessons in Love (2017, Bossa Nova) produzido por Raymundo Bittencourt, parceiro de Roberto Menescal; Indiana & Tico (2021, Jazz), com o guitarrista Tico de Moraes, de Brasília; e Sings Adele in Bossa Nova (2022, Bossa Lounge).

 

Influências – Já perto do final da entrevista, o Guia Musical quer saber quais são as principais influências da cantora, tanto da música latino-americana como do jazz. Com quem ela aprendeu, por exemplo, os típicos saltos melódicos do bebop?

 

No primeiro departamento, Indiana elenca, além de Mercedes Sosa, os artistas que ela cresceu ouvindo na América Central – Silvio Rodríguez, Pablo Milanés, Violeta Parra, Atahualpa Yupanki, Horacio Guarany, entre outros.

 

Quanto ao jazz, surpreendentemente, ela diz que as maiores influências não foram as cantoras Sarah Vaughan ou Billie Holiday, mas, sim, alguns instrumentistas, como Chet Baker, Miles Davis e John Coltrane. “Para evitar o risco de repetir e imitar as cantoras, eu estudava mais os instrumentistas, os tenores, que têm uma onda mais melódica e muitos recursos do improviso. É claro que a Billie Holiday, a Sarah Vaughan, e também a Bessie Smith, uma precursora, estão entre as minhas cantoras preferidas. Atualmente eu escuto muito a Roberta Gambarini, uma italiana radicada em Nova York, espetacular em técnica, improviso e escolha de repertório”.

 

E entre as brasileiras? “Leny Andrade, no jazz não tem outra!”, diz ela sem pestanejar. “Mas na preferência do coração está a Rosa Passos. E tem a Áurea Martins e a Elizeth Cardoso. Das novas gerações, Fernanda Fernandes. Também gosto da Fernanda Santanna e da Liz Rosa, outras duas intérpretes espetaculares”.

 

Por fim, uma curiosidade: onde ela cavou o sobrenome artístico “Nomma”? A cantora explica que o seu nome de batismo, Indiana, sempre provocou confusões: ela teria vindo de Honduras ou da Índia? Um amigo, por sinal indiano, costumava chamá-la de Mama, por seu jeito maternal. Mas Mama daria duplo sentido em português… Para resolver o problema, Indiana recorreu à numerologia e acabou adotando Nomma, que remete à palavra ‘nômade’, “que é exatamente o que eu sou”. 

 

Indiana pede para encerrar o papo porque já está atrasada para uma sessão de consultoria online. Além de cantar, ela também é produtora e oferece workshops sobre os meandros da profissão e do mercado dos músicos.

CURADORIAS
APOIO ECOLOGIA
TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

desenho por Manuela Marques/Roteiro por Tuty Osório
APOIO SUSTENTABILIDADE
HISTÓRIAS DE STERI 10

MAIS MATO GROSSO

Por Brigitte Bordalo*

Estrada de ônibus no maior território do Centro Oeste. Rodoviárias múltiplas, banheiro dentro do ônibus, banheiros de postos de combustível.

 

Minha amiga antropóloga novamente em Ação. E o STERI 10 com ela. Não é que estavam sujos os banheiros. Estavam bem legais, até, segundo ela contou.

 

A proteção do STERI garante um clima de segurança e bem-estar que ajudam até no descanso; no trabalho. XÔ bactérias, tchau maus cheiros, viagens mais confortáveis.

 

*Brigitte é microempresária da gastronomia e da cultura.

CREPÚSCULO
foto: Celso Oliveira

Obrigada por estarem com a gente até aqui.

APOIO LUXUOSO

Em breve, bistrô saltimbanco