Edição N. 08 - 05/09/2021
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório, Ana Karla Dubiela, Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento.

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai

 
ALVORADA

TEU ROSTO NÃO SERÁ O ÚLTIMO

Às voltas com o cotidiano, não dá tempo nem de ficar triste. Múltiplas tarefas para cumprir, nessa gincana alucinada onde não tem havido espaço para rotina. Nem para tédio. Temendo parecer alienada por ter a ousadia de sentir esperança nesse mundo tão bisonho, lembro que bonito ou feio é o único que conheço. Embora o Xamanismo nos revele que há dentro, fora e alto; e a Semiologia nos advirta que toda a realidade é mediada pela nossa percepção humana, sendo jamais acessível em sua verdadeira face. Apesar disso, é desse mundo aqui mesmo que temos o dever de cuidar para que seja melhor. Abrace o domingo com ternura. Respirar é uma aventura. Todavia, é também uma benção.

 

NÓS juntos, criadores e leitores, do Domingo à NOITE em 2021

HISTÓRIAS DE JORNAL

À BEIRA DO SENA

Antes da Pandemia, Paris nunca dormia, nem se esvaziava. De janeiro a janeiro, lotada de visitantes. Em julho e agosto os moradores fugiam, e a bela abria espaço para os turistas no calor. Naquelas férias de 1994, o casal de acadêmicos brasileiros não viajou. Decidiram curtir essa face quente da cidade monumento, com suas ruas lavadas com sabão, jamais libertada dos resíduos de seus habitantes caninos. Os cães são mais que os parisienses, símbolo tão marcante como a Torre Eiffel. Quem por lá habitou pode confirmar.

Naquele julho, as saudades de ler jornais da pátria estava posta. Depois de anos ridicularizando a nostalgia dos amigos que se deliciavam com periódicos acessados 5 dias depois da data da publicação, estavam eles no jornaleiro do Boulevard San Michel, atrás da Folha de São Paulo de domingo, em plena quinta-feira. Désolé, decepcionou-os o jornaleiro. Ainda não chegara e a chegada era sem previsão. Pediram pra reservar, o homem declinou. Reservam, esquecem, e deixaria de vender para outra pessoa. Não teve S’il vous plait que desse jeito. Optaram por esperar. Sem falta de assunto, ficaram de pé mesmo, junto à banca, observando os passantes e comentando a política, a última exposição do Musée D’Orsay, os livros de bolso de Proust no original. Passaram a primeira hora.

O calor escaldante começou a pressionar e o casal despertou para um bar aberto, mesmo em frente ao seu objetivo, mesas irresistíveis, ar livre. Vida de doutorando na Europa não é fácil, evitam-se as saídas, economizar é imperativo, mas uma vez não são vezes e pediram o primeiro chope gelado. Atrás dele vieram alguns que viraram muitos. Quantos mais vinham, mais perdiam a noção e mais pediam. Noite quase a chegar, o monsieur brandiu a Folha e bradou. Trôpegos, porém felizes, os dois caminharam até sua desejada, tocados por risadas sem controle. Grudadinhos no metrô, paixão e segurança em manterem-se em pé, apoiados um no outro, adormeceram minutos depois de rentrée a maison, abraçados ao Impresso, viajado, arrefecido nas notícias e redentor de suas saudades.

 

TRILHA

De vez em quando leia um Jornal Impresso. Sinta o cheiro e acredite sujar as mãos com a tinta das rotativas que hoje não solta mais. Se possível apaixone-se, estude e faça uma dispersão acadêmica para sentir saudades do Brasil.

ACQ

Contra a estupidez, o comunismo! Ahn?

Por Antônio Carlos Queiroz

foto: Divulgação

Na última quinta-feira, discuti na live  no Sofá Amarelo, um programa sobre leitura veiculado no Instagram, a constatação óbvia de que “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”, como disse o Umberto Eco. E deram espaço para himalaias de lixo cultural que sufocam as iniciativas de natureza iluminista, completei.

 

Em contraponto, mencionei o fenômeno que chamo de comunismo cultural, isto é, o compartilhamento gratuito de livros, filmes, músicas, pinturas, cursos de línguas e milhares de outras criações culturais e educacionais em plataformas digitais como a Biblioteca Nacional de Portugal, a Gallica francesa, a Biblioteca Digital Hispánica, o archive.org americano, o dominiopublico.gov.br brasileiro etc.

 

Nesse universo destaca-se a Wikipédia, de longe a melhor enciclopédia do mundo, atualizada diariamente “enquanto o fato ainda não acabou de acontecer”, como diria Drummond. 

 

Ciente do espanto que provocaria, acrescentei o argumento do sociólogo americano Robert K. Merton, fundador da sociologia da ciência, segundo o qual a ciência moderna obedeceria a um imperativo institucional comunista. Comunista? Pois é, o Merton, um funcionalista, disse que a ciência é um patrimônio comum da humanidade, o que implica o cientista no dever de publicar as suas descobertas, de se opor à confidencialidade, e de ter sobre elas direitos morais mas não patrimoniais etc.

 

Por minha conta, eu disse que o princípio comunista da ciência parece ter sido inaugurado pelo primeiro secretário da Royal Society de Londres, o filósofo natural alemão Henry Oldenburg (1619-1677), junto com a adoção da prática da revisão por pares (peer review).

 

Fundador da primeira revista mundial dedicada exclusivamente à ciência, a Philosophical Transactions (março de 1655), ativa até hoje, Oldenburg contava entre seus correspondentes estrangeiros o dinamarquês Rasmus Bartholin; o belga René François Walter de Sluse; os franceses Adrien Auzout, Henri Justel, Pierre Petit e Ismaël Bullialdus; os alemães William Curtius, Johan Hevelius, Gottfried Leibniz, Ehrenfrid Walter von Tschirnaus; os italianos Paolo Boccone, Giovanni Domenico Cassini, Marcello Malpighi; e os holandeses Christian Huygens e seu pai, Constantijn, Antoni Leeuwenhoek, Bento de Spinoza, Peter Serrarius, Isaac Vossius etc.

 

CUDOS – A proposição do éthos da ciência, composto de quatro imperativos institucionais (os CUDOS), foi apresentada por Robert K. Merton (1910-2003) no artigo A ciência e estrutura social democrática de 1942. Além da comunista, compõe as “normas mertonianas” outras três: o universalismo, que exclui da objetividade científica critérios religiosos, raciais, políticos, nacionais, classistas, de gênero etc; o desinteresse, pelo qual o cientista, embora tenha interesses legítimos, como o direito à propriedade moral (reconhecimento público), deve agir como se não tivesse interesses pessoais nas pesquisas; e o ceticismo organizado, a atitude crítica de descartar afirmações sem o devido exame baseado em critérios lógicos e empíricos, e de se opor à credulidade e ao dogmatismo. Posteriormente, acrescentaram à lista outros princípios, como o da originalidade.

 

Na prática, os CUDOS sempre foram violados pelos donos do Capital, a começar pela imposição do sistema de patentes para garantir a exploração comercial dos produtos tecnológicos, rígida e convenientemente separados de suas matrizes científicas. É por isso que as grandes companhias farmacêuticas lucram os tubos vendendo vacinas contra o coronavírus da Covid-19, por exemplo.

 

O conhecimento sobre o comportamento dos vírus, aprimorado por milhares de pesquisadores de dezenas de países, em geral financiados pelo público, é hoje desavergonhadamente apropriado por meia dúzia de multinacionais que exploram a desgraça dos povos, com a ajuda dos atravessadores, aliás.

 

Essas empresas violentam assim a máxima do Galileu Galilei na peça de Bertolt Brecht segundo a qual “a única finalidade da ciência é a de aliviar a canseira da existência humana”.     

 

Espertalhões – Em 2011, a economista ítalo-americana Mariana Mazzucato demonstrou, no livro O Estado Empreendedor, que as maiores firmas de alta tecnologia, como a Microsoft, a Apple, o Google e a Amazon montaram os seus negócios com base em tecnologias chamadas “espertas” (smart), como na palavra smartphone. Mas o que teriam de “espertas” essas engenhocas? O fato de quase todas as suas funcionalidades terem sido desenvolvidas por agências do Estado financiadas pelo público, e, claro, embaladas por designers descolados a serviço dos “gênios de garagem” como Steve Jobs e Bill Gates. 

 

Mazzucato listou no capítulo 5 do livro (O Estado por trás do iPhone) as doze principais tecnologias embarcadas no iPod, iPhone e iPad, que diferenciam esses produtos de seus rivais no mercado. Cada uma dessas tecnologias foi criada por alguma agência estatal antes de começar a dar lucros para a Apple. São elas:

 

1) Microprocessadores ou unidades de processamento centrais (CPU): desenvolvidos pelas empresas Bell Labs, Fairchild Semiconductor e Intel, por encomenda da Força Aérea Americana e da NASA;

 

2) Memória de acesso aleatório dinâmico (memória RAM): Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (DARPA);

 

3) Microarmazenamento do disco rígido ou discos rígidos (HD): Departamento de Energia dos Estados Unidos (DoE) e DARPA;

 

4) Tela de cristal líquido (LCD): desenvolvida pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), Fundação Nacional de Ciência (NSF) e Departamento de Defesa (DoD);

 

5) Baterias de lítio: Departamento de Energia dos Estados Unidos (DoE);

 

6) Processamento digital de sinais (PDS), com base nos avanços nos algoritmos da transformação rápida de Fourier (TRF): Agência de Política de Ciência e Tecnologia (OSTP); 

 

7) Internet: DARPA;

 

8) Protocolo de Transferência de Hipertexto (HTTP ) e Linguagem de Marcação de Hipertexto (HTML): Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN);

 

9) Tecnologia de celular e redes: Exército americano;

 

10) Sistema de Posicionamento Global (GPS): Departamento de Defesa (DoD) e Marinha;

 

11) Navegação click wheel (anel de comando sensível ao toque do iPod):  CERN; telas multitoque (touch screen): Departamento de Energia, CIA, Fundação Nacional de Ciência (NSF) e Departamento de Defesa (DoD); 

 

12) Inteligência artificial com programa de interface com s voz do usuário (SIRI): desenvolvida pelo Stanford Research Institute (SRI), por encomenda da DARPA.

 

No capítulo 9 do livro, Mariana Mazzucato argumenta que as empresas como a Apple deveriam devolver parte de seus lucros para o Estado empreendedor,  o qual, com recursos públicos, faz operações de risco para desenvolver tecnologias avançadas que depois costumam beneficiar só as empresas privadas.

 

Quem é radical? – Mazzucato é moderada, ela não propõe nenhum mecanismo de socialização dos meios de produção. Ela sugere apenas a cobrança de algum retorno direto (além de impostos) das firmas de alta tecnologia para cobrir as perdas inevitáveis dos investimentos feitos pelo Estado, e também para repor os fundos de inovação necessários para as próximas rodadas. Por óbvio, sua proposta é vista no mercado como “radical”.

 

Pensando bem, radicais mesmo são, por exemplo, as seis editoras oligopólicas de artigos científicos – ACS, Reed-Elsevier, Springer, Wiley-Blackwell, Taylor & Francis e Sage –, cujos programas parecem ter como alvo o imperativo comunista da ciência. Os artigos, produzidos por pesquisadores financiados pelo público em vários cantos do mundo, são apropriados por essas editoras caça-níqueis para serem comercializados, dificultando assim a sua divulgação entre outros estudiosos.

 

Por isso considero perfeitamente compreensíveis e louváveis as iniciativas dos sites de popularização do conhecimento como o libgen (aparentemente hospedado na Holanda ou na Rússia), que oferece gratuitamente milhões de livros e artigos científicos; e o Sci-Hub, fundado por uma pesquisadora do  Cazaquistão, que dá acesso a milhões de artigos científicos a partir de seu indexador DOI (Digital object identifier).

 

Nem vou mencionar o Pirate Bay, que distribui filmes, livros e músicas grátis, pra depois não dizerem que estou defendendo a pirataria! 

 

REPORTAGEM ENSAIO

DIGNIDADES

por Miguel Boaventura

foto: Celso Oliveira

A gente combinou textos leves, para um abraço lírico no domingo à noite. Eu tenho sido meio chato, trazido umas reclamações, reflexões, um pouco de peso a essa leitura de acolhimento e enlevo. Mas é porque tem hora que não dá pra não ver. Não sentir. Não falar.

Publicaram o tal  MAPA DA VIOLÊNCIA e são chocantes os dados sobre as agressões sem piedade a pessoas com deficiência física e mental. Resisto a reconhecer que existem seres capazes de tal covardia. São dados seguros, compilados a partir de prontuários de atendimento do sistema de Saúde Pública e Particular. A notificação de suspeita de violência é obrigatória por lei. 

Vendo pelo lado digno, é muito bom constatar o papel central da medicina na nossa civilização. Através da ação curativa, a denúncia é compulsória. E que bizarras as criaturas que agridem e muitas vezes são as que levam as vítimas às emergências das UPAS e Hospitais.

O MAPA traz também os dados dos indígenas, cada vez mais massacrados. É cansativo o tema, há tentativas de o rotular de retórico e fútil. Contudo, é como apedrejar a nós mesmos. O que somos vem desses povos originários porque primeiros habitantes desta terra que chamamos de nação, pátria, país. Onde buscamos, por sobrevivência, a nossa identidade.

Não dá para não ver. Não sentir. Não falar. Que me perdoe a alegria, mas a consciência da dor é fundamental.

 

TRILHAS

A Muralha, por Maria Adelaide Amaral e Denise Sarraceni, Mini Série disponível em DVD na Estante Virtual e Mercado Livre

O circuito dos afetos, por Vladimir Safatle, Autêntica/ Cosac Naif, 2015

CONTO

VESTÍGIOS DE AGOSTO

por Tuty Osório

foto: Fernando "Azul" Carvalho

– Mãe???? O que foi? Você tá triste?

– Nada não, filha. Nem acho bom ficar nessa tristeza perto de você. Odeio essa cafonice de tristeza, sofrimento, passa fora!

– Mas mãe, tristeza não é cafonice. As pessoas ficam tristes. E você também fica. Cafonice é querer ser a super que nunca cai…

-Cafonice, esse negócio de vítima sobrecarregada. Estou me sentindo vítima de tudo. Do trabalho, de vocês, do seu pai, da vida bandida dos códigos de barras que brotam do nada pra pagar…

-Mãe, você devia descansar, sabe? Descansar de verdade. Você não leva a sério. Vive com discurso de responsabilidade e é muito irresponsável consigo mesma…

-Que conversa mais doida é essa menina? Não tem drama, tô meio cansada sim, mas é porque tem sido muita coisa… Mas filha, bacana você prestar atenção, se importar…

-Mãe, você tem muita teoria pros outros e não presta atenção em você.

– Como é que é?

– Você mesma fica repetindo pra mim que tem que se autoconhecer, ter consciência de quem é e agir com essa consciência. Aprendi com você.

-Comigo, foi? Esse papo de espelho e reconhecimento fui eu que te ensinei? E agora você está me cobrando coerência, é vero?

– Valha, mãe, você esqueceu, foi?

– A maternidade realmente faz a gente perder a noção! Fala sério…

O BEM VIVER

MUDAR PELA RAIZ

por Camilla Osório de Castro

 

Encontrado em: gife.org.br

Escrevo em 5 de setembro, dia da Amazônia, dia de lembrar que é preciso manter a floresta de pé em meio às ameaças a ela e a nós.

A segunda década do século XXI chegou com pressões sociais de todas as ordens cada vez mais difíceis de ignorar. A provável origem da pandemia de Covid-19, certamente um acontecimento que marcará um antes e depois neste século, é um combinado de diversos fatores. O desmatamento, que retira o habitat natural de animais silvestres como os morcegos; e os grandes aglomerados urbanos associados a uma grande precarização da vida, que facilitaram a disseminação de um vírus respiratório.

Junto ao desafio de superar a pandemia, muitos países, inclusive o Brasil, enfrentam crises relacionadas à mudança climática. Hoje, acrescenta-se uma crise hídrica sem precedentes, que desemboca em uma crise energética devido à prevalência de hidrelétricas na produção nacional. Mas isso tudo você provavelmente já sabe.

O debate que proponho aqui aponta, como sempre, para as possibilidades de movimento, de mudança, de solução. Acompanhando a cobertura da imprensa acerca da crise energética e à tarifa mais do que vermelha, encontramos sempre o conjunto de recomendações do Ministério de Minas e Energia para o cidadão médio economizar energia: tome banho frio, desligue a TV da tomada… Ocorre que o consumo das famílias representa apenas 30% do gasto energético do Brasil e abrir mão dos pequenos confortos propiciados pela energia elétrica em casa pode, no máximo, deixar a conta individual menos exorbitante. Porém, não vai resolver o problema.

A mudança no regime de chuvas já é uma realidade e é possível que a seca venha ano sim e outro também, pelos próximos anos. Parece haver uma apatia programada, aguardando o país entrar em colapso para dizer que não se tomou nenhuma providência por causa desse mesmo colapso.

Urgem providências de cunho estrutural. Ameaças radicais pedem mudanças radicais.

Para começar, precisamos mudar a estrutura de nossos edifícios. Fortaleza é uma cidade cheia de luz e vento, mas boa parte de suas construções não permitem esse uso pois são caixas fechadas que demandam ar condicionado e luz acesa o dia todo.  Ainda com relação ao ar condicionado, estudos já apontam para uma redução de até 6 graus na temperatura em locais com muitas plantas. Residências, escritórios, universidades e centros de compras teriam muito a se beneficiar com estes serviços ecossistêmicos fornecidos pelo incremento do verde.

Por fim, é necessário um debate sério sobre matriz energética.  Além de depender do regime de chuvas, as hidrelétricas possuem um grande impacto ambiental, ao contrário do que o discurso de energia limpa quer nos fazer acreditar. O debate acerca da usina de Belo Monte é um dos exemplos recentes da complexidade da questão. Contudo, 10 anos após o início de suas obras, seguimos estancados no mesmo ponto.

Que possamos radicalizar nosso debate acerca da energia e ter coragem de propor mudanças na raiz do problema. Para que as raízes que sustentam nossas florestas, no limite, nossas vidas, permaneçam de pé.

TRILHAS

Aruanas, Minisérie por Pedro de Barros, Carolina Kotsho e Estela Renner, com Taís Araújo, Deborah Falabela, Leandra Leal, Globoplay

Amazônia de Galvez a Chico Mendes, Minisérie por Glória Peres e Marcos Schechtman, com José Wilker, Vera Fischer, Christiane Torloni, Cassio Gabus Mendes, em DVD no Mercado Livre

As Amazonias, Berta Becker, 1990, editora Garamond

A Febre, Maya da-rin, 2019 

ROTEIRO AFETIVO

LER, COMER, BRINCAR – O caso do Sebinho

Por Tuty Osório

Quando estamos em Brasília há um templo que não escapa à nossa peregrinação. Sou apaixonada desde a primeira semana, a filha mais velha tinha 2 aninhos. Hoje com 25, a mais nova à porta dos 17, morando em outra cidade, sempre aportando na Nossa Senhora Modernista, o Sebinho não nos escapa. Trata-se de uma loja de livros usados, novos, revistas, restaurante com charme de bistrô e dublê de Café. Mais estantes, prateleiras araras e cestos que oferecem o consumo emocionado de produtos expressivos da arte. Camisetas, toalhas de mesa, jogos à americana, bolsas, canecas, cadernos, e o que mais pode ser carimbado por Clarice, Frida, Pessoa ou Cora. Entre outros. Incluindo Marx, Paulo Freire, Rosa Luxemburgo e Angela Davis.

Visitar o Sebinho é literalmente o que chamam de EXPERIÊNCIA. A comida é deliciosa, a carta de vinhos muito decente, os pratos são montados com beleza, salpicados de desenhos em traços de molho madeira e flores comestíveis. O acervo de livros é divino. Não dá para sair de lá sem uma pilha considerável. E os objetos, balangandãs, fetiche de todo o leitor voraz que se respeita, fazem a gente perder a cabeça e cair nas doces garras do cartão de crédito. Por isso, em indo, bole uma estratégia de controle, caso esteja numa fase de necessária contenção.

Passei um ano sem ir a Brasília no rigor da Pandemia. E assim que fui corri para o Sebinho. Fiquei um tanto confusa com os protocolos e me magoei com uma condução pouco gentil de uma colaboradora. Na mesma semana recebi um email de lá com desculpas e agradecimentos. E fiz imediatas pazes que já havia feito, intimamente, aliás. O amor tem dessas coisas. Intensidade na dor, intensidade na reconciliação.

O Sebinho é a cara de Brasília. Os saraus literários liderados pelo ACQ e por outros amigos, são divertidos, ilustrativos e transformadores. Em torno das mesas do bistrô contei histórias, ouvi histórias, fechei negócios, escrevi projetos, relatórios, contos e rascunhos de romances. Quando a Pandemia abrandar vai ser dos primeiros lugares que vou reassumir na minha rota de espaços públicos. Saudades do Sebinho. Saudades da que fui lá, em tantas tardes e noites de todas as estações anunciadas pelos ipês de diferentes cores.

TRILHA

Sebinho, Livraria, Cafeteria e Bistrô

SCLN 406, Bloco C, Loja 44, Brasília – DF

Brasília, Distrito Federal, capital do Brasil – se você não tem a sorte de morar lá, visite muitas vezes. Beleza, história, gastronomia, arte, natureza, gente interessante. É o mínimo que se encontra por lá.

BACHIANAS E COMPANHIA

EMBRIAGAI-VOS DE LIVROS, DE VINHO E DE VIRTUDE!

Por Sérgio Pires

Este próximo 7 de setembro, que se assevera como o dia da interdependência entre o negacionismo e a ignorância, nos declina o otimismo.

Quase chamei esta situação de pandemia, mas gosto de entender o significado das palavras, sua etimologia, e pandemia vem do grego “de todo o povo”. E tem muito povo que pensa diferente, que defende o pensamento livre, o fluxo irrestrito de informações e o pluralismo da imaginação.

Este último é o povo que lê e o seu símbolo físico é o livro, e o seu templo a livraria.

Nestes tempos de março de 2020 para cá foram muitas as notícias sobre o fechamento de bares, restaurantes e livrarias. Mais recentemente, somos informados sobre a abertura de muitos bares e restaurantes. Nenhuma livraria.

Contudo, neste sábado, pelo WhatsApp, minha irmã me informou que no dia 08 de setembro, dia seguinte ao que prega pela volta das trevas, a luz de uma pequena livraria de rua será acesa.

Quem serão seus leitores? Qual será a sua personalidade? Comprar livros online é prático. Todavia não substitui a experiência sensorial de passear entre as estantes, observando o colorido das lombadas, folheando um ou outro exemplar.

 Se ler é saber, aumento do conhecimento, inspiração, desperta nosso senso crítico, é desenvolvimento, exercício do discernimento, nos torna questionadores e nos ajuda a melhor compreender a vida. É fácil entender porque para alguns os fuzis são menos perigosos que os livros. Livraria neles!

Vou procurar ser freguês, conhecer e ser conhecido por seus livreiros, o elo físico entre o autor e o leitor.

Esta é, ou deveria ser, uma coluna sobre vinho e outras bebidas, então sugiro uma excelente leitura com o livro Vinho & Muito Mais, do Marcelo Copello.

Comprem em uma livraria perto de vocês, não precisam ficar com pena da Amazon, ela continua crescendo sem parar.

TRILHAS:

Educated Guess & Libertas

ARTIGO HOMENAGEM

CONVERSA DE SÁBADO

Por Tuty Osório

Eterno professor cria eternos alunos. Sou aluna até hoje, cria do Gilmar de Carvalho e sua solene e permanente postura de mestre. Gilmar era um estoico complexo e sofisticado. Nunca pedante. Sempre altivo. Exigia cuidado no trato e não perdoava grosserias, nem negligências. Encontrava com ele no café do Shopping e comentava sobre novos projetos, intenções, ideias. Pedia sua opinião e sugeria um almoço. “Faz aquele peixe e vou na sua casa”, dizia simplesmente. Esteve presente em todas as minhas invenções. Todos os dias penso como receberia o Domingo à NOITE em 2021.

“Para de resistir à tecnologia. Não é pra endeusar mas é medíocre negar”, com certeza diria. Pesquisador dedicado da cultura popular, Gilmar criticava os nostálgicos defensores de um passado engessado, que negava aos artistas as facilidades que potencializam o trabalho. Revelou os recantos mais recônditos de um Ceará desconhecido. Colhia tudo pessoalmente, viajando com parcos recursos às agrestes localidades desse sertão nosso. Sua varinha de condão ressuscitava o que era merecido e necessário. Foi muito por ele que conhecemos Aurora, Potengi, Tauá dos Inhamuns, as rabecas, as xilos, os cordéis.

Não dá pra esquecer do Gilmar. Mas ele veio conversar comigo, justo hoje, através do post do amigo Paulo Linhares sobre a capa da revista Impressões, da graduação em jornalismo da Universidade Federal do Ceará. Uma reportagem que mostra depoimentos de eternos alunos dele, como eu. Muito comovente e lembrando que Gilmar é preciso, todos os dias.

 

TRILHA

Revista Impressões – Curso de Jornalismo da UFC – Instagram

TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

CREPÚSCULO

NÓS EM NÓS

Em vídeo de 12 minutos que eram para ser 8, o jurista Silvio Almeida nos lembra que a brasilidade é o que nos permite sobreviver no precário. E que o antídoto contra a morte é a alegria. Na mesma semana em que a Ciranda do Nordeste recebe a condição de Patrimônio Cultural Imaterial. Silvio resgata as obras que compõem o Pensamento Social Brasileiro – Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, que junto com outros autores começaram a Pensar o Brasil em sua riqueza e complexidade. Brasil da percussão de pandeiros, tamborins, afoxés, batidas de lata, caixinhas de fósforos. Das canções guarani recolhidas por DJ Alok, mago da música eletrônica que retorna às raízes sob a égide do Futuro Ancestral. E subirá ao palco acompanhado de seus criadores para mostrar ao mundo que o último hit tem quase mil anos. Brasil que anda, desanda e sarabanda como o vento circular. E que a despeito de mim, de vocês, de todos e de tudo, segue matizes que nos mostram que somos esplêndidos em nossa diversidade e paixão.

Tuty e Trupe