Edição N. 31 - 06/02/2022
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Edição Geral: Tuty Osório

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo, Yvonne Miller, Elimar Pinheiro,

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Edição de Fotografia: Manuela Marques 

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

Música: Maurício Venâncio Pires, Alex Silva, Caio Magalhães, Manuela Marques

Vídeos: Deborah Coelho

 
ALVORADA

SABIÁ TAMBÉM FAZ HORA

foto: Celso Oliveira

Na disputa de um Festival da Canção da década de 60, Sabiá de Tom Jobim e Chico Buarque, venceu, Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré. Tom e Chico foram vaiados pela multidão de estudantes em revolta, entusiasmados com o conteúdo claramente político da segunda colocada, xingando a primeira de alienada. Hoje, sabemos que as cores de sabiá atraem a justeza das flores. E sabemos, também, que a formiga é a melhor amiga da cigarra.  

 

Começa agora mais um Domingo à NOITE em 2022! 

O BEM VIVER

O NOVO PODE NASCER

por Camilla Osório de Castro

via iNews

“A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparecem.”

 

A famosa citação de Antonio Gramsci retirada do livro “Cadernos do Cárcere” (escritos entre 1926 e 1937) tem sido retomada por diversos autores para interpretar a nossa encruzilhada contemporânea.

 

 

Sabrina Fernandes em seu “Sintomas Mórbidos, a encruzilhada da esquerda brasileira” analisa o momento atual da política brasileira e seus desafios para uma reconstrução. Já Nancy Fraser em “O velho está morrendo e o novo não pode nascer” (2020), “disseca a atual crise do neoliberalismo e argumenta como poderíamos arrancar novos futuros de suas ruínas.”, segundo descrição da editora Autonomia Literária, que detém os direitos da edição brasileira.

 

 

Arrancar novos futuros das ruínas é talvez a missão mais importante deste século. Neste sentido, há muito trabalho a fazer. Tudo morre ao nosso redor, tudo se desfaz e perde sentido.

 

Pretendo, no entanto, direcionar nossa atenção a um aspecto específico, porém estruturante de nossa sociedade atual: as prisões.

 

 

A obra “Estarão as prisões obsoletas?” (2003), Angela Davis parte de uma premissa ousada, – questionar a existência das prisões como estratégia efetiva no combate à violência e na promoção de bem estar para a população. É importante notar que Davis, assim como Gramsci, esteve presa devido à sua atuação política. No caso dela, a prisão ocorreu nos Estados Unidos da América, a dita “maior e mais sólida democracia do mundo”.

 

 

Uma outra obra de Davis, “A liberdade é uma luta constante” (2015), aponta as contradições da sociedade norte-americana, sustentando a tese de que esta democracia nunca existiu para pessoas negras, como ela. E que o sistema prisional é mais uma ferramenta do Estado para controlar, silenciar e descartar pessoas que são consideradas inferiores, como negros e imigrantes. Caberia, portanto, não reformar as prisões, humanizá-las, torná-las palatáveis; e, sim, aboli-las.

 

 

Cabe salientar que abolir, no sentido marxista, ferramenta de interpretação da realidade adotada por Davis, significa justamente tornar obsoleto, desnecessário e não apenas extinguir algo por força de lei.

 

 

Segundo a autora, os números do encarceramento nos Estados Unidos, e o mesmo vale para o Brasil, mostram como a abolição da escravidão nunca se completou. Não é uma coincidência que as pessoas negras sejam a maioria dos aprisionados. É um projeto.

 

 

Neste momento atravessamos a crise e os sintomas mórbidos estão por toda a parte. O sistema prisional predominante no mundo é apenas mais um deles.

 

 

Porém o novo pode nascer, deve nascer, precisa nascer.

 

 

O convite é para não aceitar o mundo da forma que está dado. Questionar um pouco pode nos levar à construção do novo.

 

 

* Camilla Osório de Castro é cineasta e produtora cultural.  Pesquisa o Bem Viver. Mora no mundo, entre cidades. Acredita que sonho que se sonha junto é realidade.

CONTO

PARENTALIDADE AMIGÁVEL

por Tuty Osório

foto: Celso Oliveira

– Mãe, ser mãe atrapalhou o teu trabalho, mãe?

-Nunca nem tive tempo para pensar nisso, filha. Sempre fui Frila, nem licença maternidade tive. Minha licença foi a sua avó…

– Mas assim, mãe, como é que você fazia?

-Filha, fazia. Tinha uma rede de apoio, amigos e amigas que também ajudavam. E assim a gente vai levando.

-Vi na internet que tem Consultoria para ajudar mães a conseguir colocação no mercado. Eles colocam no currículo ser mãe como um atributo, uma capacitação. O que você acha, mãe?

-Genial filha! É mesmo o modo de encarar, né? Eu sempre achei o máximo ser mãe e saber cuidar. Exige concentração, agilidade e determinação. Pode ser uma qualidade, sim…

-Acho legal, mãe, que pra você ser mãe é bem natural, né? Tem gente que faz tanto mito disso…

-Filha, não vejo como não ser natural. Ainda mais no meu caso que pude escolher. Não faço mito nem pro bem, nem pro mal. E acho massa que estejam mudando as visões. Que ser mãe vire diferencial de currículo. Curioso, né?

-É mãe. Embora eu não goste dessa subordinação ao mercado, até da maternidade… Tudo vira mercadoria…Tem que ter cuidado…

-Menina! Deixe de ser inteligente!

– Affe, mãe, você não sempre diz que as coisas, as pessoas, são complexas, que não dá pra reduzir…

-Lá vem cobrança com que eu digo!!Mas você está no seu papel de filha. Quem inventou que aguente, né? Eu…

 

TRILHA

Filhosnocurriculo.com.br

DOIS SOBREVIVENTES E UM DESAMOR

Sarah Coelho

Fim de quarentena. Depois de rodopiar pelo pátio do prédio caímos na grama embriagados de euforia. Ficamos minutos, ou horas, ou dias, sentindo o sol queimar nossas bochechas branquelas. Nos olhamos fundo. Um abraço longo, esperançoso e dolorido – como o mundo inteiro – foi suficiente para dizer: sobrevivemos nós dois, mas não o amor. 

Nunca mais o vi.

Hoje, o porteiro me entregou um envelope feito de papel manteiga.  Rabiscado com a mesma letra irregular que eu via em post its coloridos e recados na geladeira. Em frações de segundos, olhos marejados e peito galopante. “Amores serão sempre amáveis”. Chico gritou.

Escrevo a mão para não deixar dúvidas: falta-me você reclamando que não saio do celular. “Minha alma é analógica!”, te escuto dizer. Quero voltar no tempo e passar dois meses ao teu lado de novo. Te chamar pra dançar pela sala. Fazer café enquanto você toma banho. Te dou razão sobre as torradas trazidas do seu apartamento. “Nunca se sabe”, você disse irritada quando eu reclamei do peso das sacolas, lembra? Se eu pudesse voltar no tempo, nossa viagem seria planejada em mínimos detalhes. Cartagena ainda nos espera. Colocaria o colchão na varanda e abriria o gim guardado para uma ocasião especial. Queria aquele jantar que você não teve coragem de preparar, enquanto eu ficava no quarto fingindo não saber o que acontecia na cozinha. Tiraria fotos nossas para preencher o álbum que você me deu, e diria repetidamente que você está linda, mesmo com a sobrancelha por fazer. Estava mesmo! Gostava de te ver com meus calções. A pinça foi um dos itens que você esqueceu no meu banheiro. Discutiríamos finanças. Faríamos listas de nomes para os nossos filhos. Ou até o próprio filho. Tem uma criança que sempre visita meus sonhos quando penso em nós. Contigo eu criaria um mundo, um futuro. Um presente. E não desataria o laço. Aquele último abraço, cuja lembrança me faz querer de volta o risco, o virus, as tuas manias, teus travesseiros, teus livros empoeirados, teus fios de cabelo pelo chão da casa. Tu. 

 

 

 

*Jornalista, produtora de eventos, celebrante, sonhadora e realizadora de sonhos, Sarah Coelho tem 32 anos de muita determinação e romantismo.

HISTÓRIAS DE HISTÓRIAS

O QUE SERIA

Por Lia Raposo

 

“Era o verão de 1928, o verão em saí de Cambridge, quando a despeito dos pedidos de minha tia para que voltasse para Shropshire, decidi que meu futuro estava na capital e aluguei um pequeno apartamento no número 14b da Beldford Gardens, em Kensington. Lembro-me dele agora como o mais maravilhoso dos verões. Depois de anos rodeado por colegas, tanto no colégio como em Cambridge, retirei grande prazer de minha própria companhia. Desfrutava os parques londrinos, o silêncio da sala de leitura do Museu Britânico; abandonava-me tardes inteiras passeando pelas ruas de Kensington, esboçando planos para o futuro, detendo-me de vez em quando para admirar como, aqui na Inglaterra, mesmo no meio de uma cidade tão grandiosa, trepadeiras e heras podem ser encontradas pendentes de casas finas.”

 

In Quando Éramos Orfãos, por Kazuo Ishiguro.

 

O autor é um japonês radicado em Londres. Foi Prêmio Nobel e a história que nos conta neste livro é intrigante e comovente. É o desabafo de quem tem a vida cortada pelas identidades difusas, consequência de crescer num regime colonial, mesmo que não oficial.

 

O protagonista, filho de ingleses, nasce em Xangai durante uma missão de trabalho do pai. A orfandade marca a sua infância e revela-se bem mais ampla que a perda óbvia, determinando as suas escolhas e, mais tarde, as suas nostalgias.

 

O texto é fluido, interessante, com diálogos muito bem construídos e descrições impecáveis, jamais enfadonhas.

 

Ensina sobre as guerras provocadas pelos impérios coloniais, Seja em campos de batalha, seja na estratégia de destruir populações pelo estímulo ao vício do ópio.

 

Há muito mais por trás da cortina que cobre a janela da velha casa que atravessou o passado, quase sem se dar por isso.

 

*Lia Raposo dedica-se a Estudos da Cultura, é redatora de Projetos Culturais, Produtora de Conteúdo e jornalista. Tem 33 anos de muitas dúvidas, algumas certezas e esboços de ousadia. 

 

  

TRILHA

Quando Éramos Orfãos, por Kazuo Ishiguro, Companhia Das Letras

CRÔNICA

MEDO

por Yvonne Miller

Será que desliguei o forno? Melhor verificar de novo. Já é a quinta vez em meia hora. E nem usei o forno hoje. Mas vou olhar de novo, só pra ter certeza. Desligadíssimo, sim. Pronto, agora vamos. Peraí, coloquei água pro cachorro? E se não for suficiente? Vou só acrescentar mais um pouco. No fim das contas não sei a que horas vou voltar. Falando em horas: tá ficando tarde. Se continuo desse jeito não vou ter tempo para a parada estratégica no supermercado. Sair atrasada e ter que correr na estrada era tudo que eu não queria. Mas o Chico não pode ficar sem água, pode? Não pode. Então entro de novo em casa, levo a vasilha até a torneira da cozinha, aproveito para checar mais uma vez o forno. Continua desligado. Óbvio. Mas nunca se sabe.

 

Vai que só imaginei que já revisei isso mil vezes e, na verdade, não revisei coisa nenhuma. Poderia ser, né? Eu tinha uma amiga na Alemanha que sempre falava em voz alta quando fechava o gás ou tirava o ferro da tomada. Quando, mais tarde, ficava com dúvidas, procurava na memória as palavras mágicas. O lema: falei, logo fiz. Será que funciona?

— Forno desligado, vasilha cheia, torneira fechada. — Chico me olha com a cabeça levemente inclinada para um lado e a língua pendurada para fora da boca. “Bípede esquisita”, deve estar pensando.

— Porta trancada — digo em voz alta ao guardar a chave no bolso.

— Tudo bem aí? — Putz, não tinha visto o vizinho. Vontade de implorar para ele ir buscar a Larissa no aeroporto.

— Tudo, sim, Luciano. Tô indo buscar a Lari.

 

 

Assim que coloco as mãos no volante, me pergunto se fechei a porta de casa. Sim, lembro de ter falado “porta trancada”, não foi? Foi. Falei, logo fiz. Ou não? Olho o relógio, já estou meia hora atrasada. Sendo assim, um minuto mais ou menos também não vai fazer a diferença. Saio do carro e volto até a porta. Fechadíssima. Sei que estou enrolando e sei por quê. Faço de tudo para não dirigir. Nunca me livrei do medo, prefiro mil vezes andar de bicicleta. Mas até o aeroporto são mais de trinta quilômetros.

 

Não tem jeito. Quem mandou a gente morar no interior? Nem Uber sobe até aqui. Coloco o destino no aplicativo. 47 minutos. Inspiro, expiro e ligo o motor. Já é tão tarde que não vou mais poder parar no mercado e ficar um pouco lá no estacionamento, só respirando para acalmar os nervos após os primeiros quilômetros.

 

É só sair pelo portão do condomínio que dá vontade de fazer xixi. Ah, não, agora aguenta! De todas as formas eu sei que a necessidade vem mais da minha cabeça do que da minha bexiga. Desço até Recife sem causar um acidente, nem atropelar ninguém. Ainda bem que a Caxangá está engarrafada. Assim vou bem devagar. Povo doido aqui. Sinaliza e não dobra, dobra sem sinalizar, sem falar dos buracos e dos cachorros suicidas. O caminho é simples. Quase só um retão. O celular desliza pela cadeira do copiloto e não consigo olhar a tela e dirigir ao mesmo tempo. Ainda bem que a Galaxy fala.

 

— Em 300 metros, curva suave à direita. — Visualizo a curva à minha frente e no próximo instante perco a entrada pra BR. Como assim, Galaxy, não era só uma “curva suave”? Aplicativo doido. Agora está recalculando o caminho. Só o que me faltava. Estou entre encostar o carro e chorar, estacionar e pegar um Uber ou parar e escrever a crônica que está rodando minha cabeça desde que saí de casa. Mas chorar não vai me aproximar do aeroporto, nunca lembraria onde deixei o carro e a crônica terá que esperar até depois. Então encosto, espero a Galaxy recalcular, aproveito para avisar pra Larissa que vou chegar mais atrasada ainda, e sigo. Agora o caminho é mais complicado. Azar, vai ter que ser assim mesmo. Nem sinto mais vontade de fazer xixi.

 

 

Agora só quero chegar. Mais de dez quilômetros ainda?? A cada quadra percorrida, parece que o aeroporto fica mais longe. Lembro da minha amiga Josi, que um dia desses, mesmo morrendo de medo, dirigiu sozinha de Sampa até Minas. Doze horas. No entanto, do lado de cá, os trinta e poucos quilômetros dentro da mesma cidade se fazem eternos.

 

 

— Se a Josi chegou em Minas, você vai chegar no aeroporto — digo para mim mesma. Falo em voz alta, vai que ajuda mesmo. Queria ter a coragem da Josi. Mais quadras, sinais, cruzamentos, obras, curvas e o tal do aeroporto não chega. Nem uma plaquinha! Eu, hein!

— Tu não me manda pro cheiro do queijo! — falo em tom ameaçador em direção à Galaxy, que se sacode ao ritmo dos paralelepípedos na cadeira do copiloto. Ela, quietinha.

 

Quando finalmente chego, a Larissa está me esperando na mó tranquilidade. Fico na dúvida se me jogo nos seus braços e choro, se lhe peço que da próxima vez suborne um Uber ou se sento no chão ali mesmo para escrever a crônica. Sim, acho que vou fazer isso.

 

 

* Yvonne Miller é natural de Berlim, mas mora no Nordeste do Brasil desde 2017. Tem crônicas e contos publicados em coletâneas e antologias, como Paginário (Aliás, 2019), A Banalidade do Mal (Mirada, 2020), Histórias de uma quarentena (Holodeck, 2021) e Crônicas de uma Fortaleza obscena (Territórios, 2021), assim como na revista literária feminista Laudelinas, entre outras. É uma das organizadoras da coletânea de contos Quando a maré encher (Mirada, 2022). Participa do coletivo de cronistas nordestinas @teardehistorias e tem colunas no blog do selo Mirada e do Escritor Brasileiro. Escreve também literatura infantil. Atualmente mora no interior de Pernambuco, junto com sua esposa, enteada, gato e cachorro.

Instagram: @yvonnemiller_escritora

POR AMOR ÀS CIDADES – Fortaleza e Caucaia

VIDA VIVA EM CADA CASA

Por Hugo Theóphilo*

Hoje chegamos à marca de 400 pessoas na lista de compradores de kombucha. Isso diz muita coisa.

 

Principalmente porque não fazemos o convencional, nem propaganda, nem anúncios, nem o modo de comercializar, entregar, pagar/receber, etc. Nem rótulo usamos!

 

Nunca propus dar kombuchas em troca de indicações ou propagandas e, no entanto, muitos de vocês fazem isso espontaneamente. Até algumas queridíssimas médicas e nutricionistas (todas mulheres) compram para si, para suas famílias e indicam/prescrevem para os seus pacientes.

 

Para mim, um egresso do sistema penitenciário do mercado de trabalho que agora vive da sua casa e do que faz nela, não existe curriculo ou certificação melhor. Os muitos de vocês que já vieram aqui (inclusive aprender a fazer kombucha) sabem mais de perto o sentimento de profunda gratidão que tenho por cada uma e cada um e como os vejo parte disso tudo.

 

Tenho muitas saudades dos encontros e vivências aqui no sitio com todo esse verde, vento, passarinhos, mesa posta e amigos interessados em modos de vida um pouco mais emancipados e, de fato, sustentáveis.

 

Faz 2 anos que estamos sem esses encontros, mas não vejo a hora de voltar a promovê-los.

 

Tudo isso só pra dizer muito obrigado a cada um de vocês. Abraços.

 

*Hugo Theóphilo é agricultor em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza

 

TRILHA

KUMBUCHA e AGROFLORESTA, encomendas pelo whatsapp +55 85 97008231 e www.instagram.com/hugotheophilo

DENTRO E FORA

Este espaço é para tratar de psicologia, psicanálise, psiquiatria, enfim, das reflexões e formas que dizem respeito à Saúde Mental.

O BOM COMBATE

via Estadão

Nas insônias da madrugada, encontro-me com a entrevista do psicólogo Lucas Veiga, a respeito de seu livro, Clínica do Impossível e do seu site, descolonizando.

 

Lucas fala-nos da Psicologia Preta, da impossibilidade de curar os traumas do racismo, da necessidade, contudo, de fazê-lo como possível.

 

Passa por aquilo que chama de Aquilombar-se, resgatar a liberdade e a proteção dos quilombos, simbolicamente, como estratégia de sobrevivência.

 

O que a branquitude pode por essa luta? Não permitir que a violência se banalize, como vem ocorrendo. Não deixar que se minimize, que se esconda, que se esqueça. Somos todos Brasil e somos todos Mundo.

 

Ao contrário da teimosia de alguns – é pela lucidez de todos que temos que viver. A inclusão também passa por aí. Como justiça e única forma dignidade.

 

TRILHA

  • Clínica do impossível, (livro) por Lucas Veiga
  • descolonizando.com
REPORTÁGEM ENSAIO

CONGOS, MOÇAMBIQUES, MALÊS, NÓS, OUTROS

Miguel Boaventura

via CanalMOZ

Números do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, dão conta de mais de 60% de autodeclarados negros e pardos no Brasil. Fora a indubitável ascendência que todos os brasileiros têm em relação aos negros e ameríndios.

 

Estão roucos os acadêmicos, de todas as cores, que têm em comum a prioridade da justiça e o respeito à diversidade. Roucos de chamar a atenção para o racismo estrutural que nos assola. Que não se transformem em palavras ao vento, de tão repetidas.

 

Afinal de contas, de onde nos viria essa superioridade branca? O colonizador, onde eu mesmo tenho raízes, é miscigenado de ascendências múltiplas, inclusive árabes, os chamados mouros que invadiram Portugal do centro ao extremo sul.

 

Se são negros e pardos a maioria, se são os povos indígenas os originários de onde vimos vindo em direção ao futuro, se muitas culturas vieram juntar-se nesta terra sagrada, de onde vem tanta xenofobia, tanta crueldade?

 

Só encontro virtudes na diversidade. E quanto orgulho temos tido, do acolhimento que tanto cá, como lá, dá-se a refugiados e imigrantes.

 

Em tempos de visibilidade programada, torturam-nos todos os dias as notícias de torturas normalizadas. Numa mesma semana um congolês que para cá veio fugindo da guerra, e um brasileiro que cá estava apesar da guerra, foram assassinados como se rasga um papel em pedaços.

 

Estamos doentes. Muito doentes. Em algumas semanas não se falará mais dos dois jovens mortos pela subalternidade notadamente determinada por serem negros e pobres. Serão mais dois nas incontáveis estatísticas que crescem a cada minuto.

 

Roucos, afônicos, finalmente afásicos e até mudos, ainda restarão mãos para batuques e arcos de berimbau. Não cessaremos de bradar, com voz e corpo – BASTA!!!

 

  • Com dupla residência entre Lisboa e Brasília, Miguel Boaventura é arquiteto urbanista e escreve por vocação e obrigação. Pessimista por consciência, luta para resgatar a esperança, a cada indignação.
SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS

NEM LONGE, NEM DISTÂNCIA

Por Mila Marques

foto: Celso Oliveira

“Longe é um lugar que não existe.” É apenas uma frase que vi num outdoor fazendo propaganda de uma agência de turismo.

 

Longe é um lugar que não existe porque pego um avião e lá vou eu com destino tão longínquo quanto desejar conhecer, programando viagens maravilhosas mundo afora, conhecendo novas civilizações, o que tanto nos acrescenta.

 

Conhecimento é o melhor para a vida, em todos os sentidos. Nada melhor, para isso, que viajar. Das artes à natureza, diversa conforme as regiões, gastronomia, espetáculos, enfim, quanta coisa enriquecedora se pode usufruir numa viagem,

 

Longe é um lugar que não existe também pode ser com sentimentos de amor e amizade. Por nossos familiares e amigos que não estão perto de nós. E pelos lugares que fomos deixando para trás. Mas onde, em alguns momentos, fomos felizes.

 

Existe a distância, o não poder ver, tocar, abraçar. Porém, no nosso coração sempre estamos juntos, porque amamos. Por isso existe a saudade que ao mesmo tempo nos faz tão bem e tão mal. Bem, porque se sentimos saudade de algo ou de alguém é porque esse algo ou esse alguém são importantes, ou foram.

 

É um sofrimento bom, uma tristeza que não nos deve fazer mal. Ao contrário, devemos tentar ter saudades com alegria. Se te dizem que estão com saudades de ti, fica feliz porque em algum momento, ou em algum lugar, foste muito importante para alguém.

 

Hoje estou com saudades de muita coisa e de muita gente. Uma saudade boa. Apenas uma tênue tristeza me envolve porque sei que não mais vou estar presente nesse lugar, nem abraçar aquelas pessoas.

 

Mesmo assim, insisto. Com as lembranças nítidas, verdadeiras, na nossa memória, insisto: Longe é um lugar que não existe.

 

*Mila Marques, 81 anos, é dona de casa, mãe, avó, artesã das linhas e das letras, leitora aplicada, portuguesa, brasileira, viúva e Sapiente demais. Mora em Fortaleza, a algumas quadras do mar, entre plantas, objetos e muitos, muitos afetos.

 

BACHIANAS E COMPANHIA

LES YEUX DU CAMPAGNE

Por Francisco Bento*

via https://sharonsantoni.com

A anfitriã tinha uma casa de campo, rumo sul da França. Era brasileira, mais precisamente baiana, casada com um francês.

 

A casa estava à venda e com planos de fazer algo diferente, por indicação de um amigo doutorando na Sorbonne, Paris IV,  fui ver, para quem sabe, comprar.

 

Gostei da casa e teria ficado só no cafezinho se não tivessem me chamado a atenção as cortinas brancas de crochê ornando o janelão da cozinha, emoldurado por um canteiro de flores. Era a primavera europeia e as cores misturavam-se ao aroma exalado sem economia, como uma revoada de damas da noite.

 

Sobre o balcão, cobertos por panos brancos e azuis, aguardavam os ingredientes de uma iguaria. Confit du Oie. Ganso confeitado. O Conft de Canard, Confeito de Pato, é o mais conhecido. E confeitado em território francês é uma iguaria de sabor inigualável.

 

O Confit de Canard é um prato comum na França. Come-se em qualquer brasserie, bem feito, acompanhado de uma taça de vinho tinto. O de ganso é mais raro, e ali estava, prestes a virar realidade.

 

Arrisquei a ousadia de comentar que nunca havia provado o Confit de Oie. Menti. Só não foi mais grave porque de fato nunca havia experimentado assim, feito numa pequena cozinha de uma casa de sertão francês. A senhora, muito brasileira, imediatamente convidou-me para ficar e provar.

 

Assistir ao preparo foi um espetáculo à parte. Os pedaços da ave são grelhados numa grande frigideira de ferro, transmutando-se suavemente na própria gordura, com leves pitadas de sal e de pimenta.

 

Depois a degustação à mesa de toalha muito branca, guardanapos de pano debruados com renda, um bordeaux magnífico e uma conversa animada em torno de Jorge Amado e sua baianidade também expressa, um dia, em Paris.

 

* Francisco Bento mora em Santa Teresa, Rio de Janeiro, curtindo o repouso do boêmio, após ter sido empresário da noite, dono de restaurante, crítico de gastronomia e bem vivente. Apaixonado por história, pesquisa e relembra os bons momentos de cores e sabores.

TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

CREPÚSCULO

O MANTO DO FUTURO

A estrela da semana tem sido a vacina das crianças. Vacina contra a Covid 19, mobilizando exércitos de pequenos guerreiros em marcha. Numa reportagem, as vozinhas dos cidadãos mirins de 7, 8, 9 anos, explicando com aplicação e seriedade, a importância do evento. Dói um pouquinho, contam, mas você vai estar se protegendo, aos amiguinhos e aos adultos que você ama. Uma pequena comemora o algodão doce como recompensa. Ouvir essas pessoinhas imensas em significância neste drama é mensagem de esperança e ânimo. O cansaço é enorme e o medo insistente. Abençoadas sejam essas crianças que nos salvam.  

 

Obrigada por estarem com a gente até aqui.

Tuty e Trupe

APOIO SUSTENTABILIDADE
HISTÓRIAS DE STERI 10

MODERNIDADE DETOX

Por Brigitte Bordalo*

Anos de bar e foi sempre aquela confusão para usar o banheiro. Para mulher é sempre complicado. Por mais limpo que esteja é sempre risco. E haja treino para segurar a missão em pé, mesmo sem anatomia para isto.

 

Em bar, então! Aquele bar predileto, onde você ama encontrar a roda de conversa, onde a cerveja é gelada, especial. E os tira gostos fora de série.

 

Nas visitas ao banheiro você jura a cada vez nunca mais voltar! Quem nunca? Se você é mulher e gosta de estar com os melhores papos da sua vida, com certeza.

 

E lembre-se, um dia a Pandemia passa e vamos voltar ao bar. Desta vez salvas pelo STERI 10. 

 

*Brigitte é microempresária da gastronomia e da cultura.

APOIO LUXUOSO

Em breve, bistrô saltimbanco