Edição N. 32 - 13/02/2022
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Edição Geral: Tuty Osório

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo, Yvonne Miller, Elimar Pinheiro,

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Edição de Fotografia: Manuela Marques 

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

Música: Maurício Venâncio Pires, Alex Silva, Caio Magalhães, Manuela Marques

Vídeos: Deborah Coelho

 
ALVORADA

ARRASTANDO, EM DANÇAS E DORES

foto: Celso Oliveira

Recentemente reouvi uma frase que aprecio e que diz muito sobre nós, embora tenha vindo para confundir mais ainda. Cada vez mais percebemos, ou nem tanto, que somos muitas pessoas, personas na língua do teatro e das terapias. Já enlouquecidos pela busca do autoconhecimento, aparece-nos mais esta – em vez de um, temos que descobrir, conhecer, aceitar e compreender vários dentro de nós. Por outro lado, – e já lembrando que também existem, sempre, vários lados, ou seja, muito mais que dois, – é interessante para assumirmos que a nossa loucura é incurável, que o mal existe em tudo e há que estar minimamente atento à compaixão como o caminho menos arriscado de viver sem triturar o outro – tão diferente, mas ao mesmo tempo tão semelhante em suas múltiplas faces e interiores. Lembrando que o Domingo à NOITE é mais que seus escribas, artistas da fotografia, da música, do desenho, do audiovisual, da mente, do corpo e da alma. O Domingo é a Comunidade de Leitores que amam tudo isso junto com a gente, e de todos que se juntarem a nós.

  

Começa agora mais um Domingo à NOITE em 2022! 

RODA DE CONVERSA

Este espaço é para publicar os sentimentos e comentários dos leitores, colaboradores, apoiadores, de todos os cantos e a qualquer momento. Transformando essa conversa de domingo numa ampla roda de afetos, palpites e bordões. Mandem pra cá por email (preenchendo o formulário do Menu), pro whatsapp ou pro Instagram, como preferirem. Valeu!!!

ENCONTROS

O espaço acima, onde recebemos pessoas de áreas diversas, em jeito de entrevista, volta em breve, com versões em vídeo e podcast.

HISTÓRIAS DE RÁDIO

MAIS QUE UMA ERA, A VIDA INTEIRA

por Tuty Osório

via Aventuras na História

Gente, estão crescendo essas histórias. Hoje é o Dia Internacional do Rádio. Ou Mundial, talvez. E lançamos nossa Coluna dedicada a essa magia incomparável que é a Imaginação ativada pela voz. Radialista, quando é bom, faz a gente VER através da voz.

 

Fui do rádio, com sete anos, em Moçambique. Era âncora de um programa infantil, apresentava discos, recebia cartas das crianças e um dia veio uma de um soldado em combate, na guerra colonial. Lembrou-se da irmãzinha da mesma idade e resolveu escrever na sua solidão.

 

Correspondi-me com ele e com os colegas adultos da rádio até aos 10 anos, quando imigrei, junto com meus pais e irmãos, rumo ao Brasil.

 

A rádio promoveu ditadores como Hitler, Mussolini e Getúlio Vargas.

 

Também colaborou com a mudança, sendo a senha na Revolução dos Cravos em Portugal. E no manifesto clandestino de Mariguella, no Brasil. Em datas bem pertinho. Foi palco de Lili Marlene, de Dalva de Oliveira, Carmem Miranda, Francisco Alves, João Vilareth.

 

E está firme e forte. Nem televisão, que amo aliás, nem internet. Nem nada de nada eliminou a rádio. Em modernas e contemporâneas versões está aí. E me cutucou para contar suas histórias.

 

TRILHA

E Depois do Amor e Grândola Vila Morena da Revolução dos Cravos

 

Carmen Miranda no rádio

LAREIRAS MÁGICAS

DEPOIS COMO FARSA

por Camilla Osório de Castro

Matrix Resurrections chegou aos cinemas em 22 de dezembro de 2021. O filme faz parte de uma tendência majoritária na Hollywood do século XXI: atualizar franquias famosas que foram sucessos de bilheteria para ter lucro garantido em novas bilheterias.

 

De autoria das irmãs Wachowski, o primeiro Matrix foi lançado em 1999, totalmente dentro do clima da virada do milênio, e revolucionou o cinema de ação dando o tom do que seria feito nas décadas seguintes em termos de efeitos especiais.

 

Havia uma expectativa do público que foi ao cinema assistir Resurrections de que essa inovação se repetisse.

 

Para a alegria de uns e a decepção de outros, o que o filme entrega no final é muito coerente com o seu legado inclusive, ao escolher, de modo proposital, quebrar essa expectativa.

 

A trilogia Matrix conta a história de Neo, um homem comum que descobre de uma só vez que faz parte de um mundo controlado por máquinas, onde os seres humanos são presos a uma realidade virtual que só existe em sua mente.

 

Enquanto são utilizados como baterias, fora da Matrix, no “mundo real”, a humanidade acredita que Neo é uma espécie de messias que colocará fim à guerra com as máquinas.

Os três filmes possuem uma estrutura muito coesa e apesar de terem se consagrado pelos momentos de luta e pelos efeitos visuais inovadores, possuem uma reflexão filosófica acerca do livre arbítrio na sociedade capitalista, extremamente sofisticada e necessária.

 

Zion, a cidade dos humanos que vivem fora da Matrix, é uma mistura singular de utopia e distopia. O mundo acabou, porém a vida ainda pulsa e um novo mundo pode surgir. Luta-se por ele.

 

É muito claro, para quem assiste, que a história foi pensada para ser uma trilogia e era coesa assim.

 

Os protagonistas morrem ao final, mas o objetivo coletivo de libertação de seu povo é conquistado. Pura violência revolucionária disfarçada de tiro, porrada e bomba.

 

Foram as exigências contratuais com o estúdio milionário, vejam que ironia, que forçaram Lana Wachowski a fazer o quarto filme do qual sua irmã recusou-se a participar. E aí, ela poderia ter feito o que tantos fizeram antes dela: um fan service preguiçoso com muita ação, beijo na boca e uma atriz famosa seminua. Teria sido um sucesso. Teria sido também a negação de sua obra.

 

Ao invés disso, Lana posiciona seu protagonista como um alter ego. Neo inicia o filme como um bem sucedido, famoso, rico e deprimido game designer. Sua obra prima foi o jogo Matrix e por obrigações contratuais é necessário desenvolver uma continuação.

 

A partir daí o primeiro ato desenrola-se como um grande deboche da própria existência do filme e de como a Matrix dentro da história, e o capitalismo fora dela, apropriam-se de toda a essência de uma criação para transformá-la em plástico, corrompê-la e domesticá-la.

 

O arremate é feito com a aparição de Morpheus, o mentor de Neo nos três primeiros filmes, que surge repaginado com um terno amarelo marca-texto, atirando de forma exagerada e proferindo de forma auto referencial a famosa frase de Marx (originalmente publicada no livro “O 18 de Brumário de Luís Bonaparte”): “ A história se repete. A primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.”

 

Está estabelecido aí o tom do filme: será uma grande farsa, um grande deboche dessa obrigação absurda de fazer-se um filme para ganhar dinheiro com uma história que já terminou.

 

O segundo ato segue na mesma toada, questionando o próprio papel do filme. A cada cena de ação percebemos um certo desgosto e muita ironia.

 

A câmera lenta é lenta demais, o som dos socos é exagerado e o efeito da bala que é congelada no ar, grande inovação do primeiro filme, é repetido à exaustão, até enjoar. Lembrei do refrão da música “Lithium”, do Nirvana, onde é feita uma crítica ao próprio público:

 

He’s the one who likes all the pretty songs (ele é aquele que gosta de todas as músicas bonitinhas)

and he likes to sing along (e ele gosta de cantar junto)

and he likes to shoot his gun (e ele gosta de atirar)

but he don’t know what it means (mas ele não sabe o que significa)

when I say (quando eu digo)

 

 

O que acontecia naquele momento com Kurt Cobain era uma profunda desilusão com seu trabalho, devido à demanda por deixar sua música mais pop e palatável de modo a melhor enriquecer a gravadora. Poderíamos citar também Belchior quando diz “Sons, palavras são navalhas/ E eu não posso cantar como convém/ sem querer ferir ninguém”.

 

Mas voltemos a Matrix.

 

Lana Wachowski optou por ferir e colocar o dedo na ferida.

 

A partir disso o filme consegue fazer uma discussão muito interessante acerca da criação e seu caráter disruptivo. O protagonista Neo frequenta um psiquiatra que receita todos os meses pílulas azuis para que ele pare de confundir realidade e ficção.

 

Na simbologia do filme a pílula azul serve para domesticar o sujeito a aceitar as condições da Matrix e não oferecer resistência ao seu controle. É uma anestesia, assim como o Lítio da música de Cobain.

 

O que salva nosso protagonista, no entanto, é a sua própria criação. O Morpheus que aparece desta vez não é o original, que já está morto, e sim um personagem criado pelo próprio Neo, em seu jogo. Morpheus consegue fugir para salvar seu criador, oferecendo-lhe a pílula vermelha, aquela que permite a tomada de consciência rumo à libertação, sem anestesia.

 

Matrix Resurrections consegue, portanto, cumprir suas exigências contratuais sem deixar de ser o que sempre foi em essência: um filme disruptivo e revolucionário. Não é coincidência que o mentor do protagonista é um homem negro que cita Marx e oferece uma pílula vermelha.

 

 

* Camilla Osório de Castro é cineasta e produtora cultural.  Pesquisa o Bem Viver. Mora no mundo, entre cidades. Acredita que sonho que se sonha junto é realidade.

CONTO

A PAZ DA DÚVIDA

por Tuty Osório

– Mãe, estou meio confusa sobre a Semana de Arte Moderna, a de 1922, que faz cem anos estes dias…

-Estão abordando na escola, filha? Que chique…

-Não especificamente, mãe. Lembrei porque estão rolando notícias e falamos no Grupo de Artes Plásticas. Lógico, né? Enfim, dei uma pesquisada e tem polêmica nas versões…

-Pudera, né filha! Um evento puxado por um camarada doido como o Oswald de Andrade, não tem como ser visto de um modo só…

– Pois é, mãe, Meio confuso. O Oswald era da elite paulistana. Um latifundiário urbano, mesmo, com montes de imóveis onde hoje são os Jardins lá em São Paulo. Mário de Andrade também tinha posses, mais modestas. A Semana foi apoiada por Paulo Prado, que era riquíssimo, daquelas famílias bem poderosas e filiado ao Partido Republicano Paulista! Mas falam de revolução nas artes…

-Na verdade filha…Foi um movimento liderado por elites, direcionado a elites. Mas pretendia, sim, expor a necessidade de tornar a arte brasileira mais brasileira. Tornar novo a partir do que identificaram como o verdadeiro tradicional. Os povos originários, a herança negra…Era uma busca por identidade. Já rolava desde antes, a semana foi um acontecimento para chamar a atenção, fazer escândalo para divulgar essas ideias.

-É verdade que depois o Oswald virou comunista e pobre de verdade, mãe?

-É sim. Depois do casamento com Tarsila, foi companheiro de Patrícia Galvão, a Pagu. Uma das comunistas mais importantes. Que também vinha de família rica. Sabe filha, é complicado, mesmo. Oswald era um revolucionário na alma, independente da bandeira que empunhasse. Um radical, arrogante, mas capaz de atos de extrema coragem e bondade. É o que chamamos de complexo…

-Sabe mãe…Eu até que entendo isso de complexo. Só que serve pra tudo, agora. Principalmente quando não se sabe explicar. Já que vai ter que se reconhecer que não se sabe, melhor chamar de complexo.

– Como assim filha?

– Assim, mãe. Eu entendo e é bacana, mas tem que ter cuidado pra não virar desculpa…E dar espaço para umas coisas aí, meio, meio…

-Tipo o quê, filha?

-Bom, mãe, a tal da fragmentação, por exemplo…

-Menina…Fala sério! Domingo é dia de relaxar!!

-Mas mãe, não é você que vive dizendo…

– Não digo mais!! Vou ficar calada agora, tá, filhinha? É o que dá querer ensinar aprendendo. Misericórdia!!

HISTÓRIAS DE BIBLIOTECAS

LUGAR DE FALA, OLHAR AMPLIDÃO

Por Lia Raposo

 

A Biblioteca Viva é o que nomeiam de equipamento social, no bairro do Barroso, em Fortaleza.

 

Região classificada como de baixa renda, nas estatísticas oficiais, o Barroso não é famoso, como outros bairros da capital do Ceará. Não recebeu Centros Culturais dos governos e é pouco lembrado por Ações Sociais privadas.

 

A Biblioteca Viva surge como uma iniciativa da comunidade, em 2016. Antes e depois dela surgiram muitas. Quase foram engolidas pela Pandemia, mas resistiram, estão aí, contando muitas histórias. Em prosa, verso, papel, filme e internet. Tudo como o tempo de hoje permite.

 

Graças a gente como Raphael Andrade, Thales Azigon e por aí vai.

 

Vamos ter tempo e espaço ilimitado para falar de todos e todas.

Filomenas, Marias, e muitas mais. Curió, Jangurussu, Grande Bom Jardim, Conjunto Palmeiras e tantos bairros mais que vamos descobrir. Em Fortaleza e por esse Brasil afora.

 

Severino Voador e Camilla baixaram no Barroso com a Oficina de Cinema Poético Meu quintal é maior do que o mundo. E a garotada da Biblioteca Viva vai mostrar em filme o que pode ver a partir do seu quintal. Seja qual for o espaço que tem esse nome. O quintal pode ser a varanda, a calçada, a rua, o pedaço de céu visto pela fresta da porta.

 

Camilla e Severino são da Produtora de Cinema Mar de Fogueirinha e acreditam numa aliança que vai muito, muito além do próprio quintal.

 

Bóra, pois, voar com eles!!!

 

*Lia Raposo dedica-se a Estudos da Cultura, é redatora de Projetos Culturais, Produtora de Conteúdo e jornalista. Tem 33 anos de muitas dúvidas, algumas certezas e esboços de ousadia. 

 

  

TRILHA

Biblioteca Viva as muitas bibliotecas comunitárias, na internet

Mar de Fogueirinha, no Instagram mardefogueirinha

CRÔNICA

SARAH TRAZ A PESSOA AMADA

Por Sarah Coelho*

foto: Celso Oliveira

Li o anúncio em um poste uma vez. “Sarah traz a pessoa amada”. Acreditei. Resolvi trazer-me, então, para mim mesma. Embalada para presente.

 

Cheia de técnicas e tropeços próprios. Explico: mancho roupas e quebro coisas com facilidade. Feito dia desses, quando quebrei a caneca de uma colega em seu último dia de trabalho.

 

Encontrei-a chorando no banheiro.  Lágrimas pingando na carta de demissão. “O que você precisa?”, perguntei. “Sair daqui o mais rápido possível”. Arrumei caixa de papelão, reforcei com fita crepe e juntei gentilmente as lembranças de um cotidiano de trabalho que já ultrapassava 15 anos. A caneca se espatifou durante a cuidadosa arrumação.

 

Mas não posso negar: meu coração tem boa intenção. Queria eu, esbarrar comigo mesma depois de notícia ruim.  Daria abraço apertado, sem pressa de findar. Sentaria a mim mesma com zelo e, enquanto dava o play em alguma música bonita, ofereceria as três especialidades da casa: café coado, pipoca de panela e cafuné.  

 

Por falar em cafuné, não suporto quem faz carinho como quem coça picada de mosquito. Dispenso. Meus dedos, ao contrário. Sobrevoam com leveza a pele de quem tem a sorte de pousar em meu colo. Nisso, não tenho modéstia. Faço carinho como apenas outros dois ou três. Minha irmã gêmea inclusa. Formada na mesma escola de cafuné que eu, anos atrás: a cama de papai e mamãe, aos domingos de manhã.

 

Papai também tem lá seus dotes e devo a ele o apelido que melhor define o que fazemos uns nos outros: “cosquinha”. Talvez seja a “cosquinha” a minha herança familiar. Ela e as aftas. Malditas. Para essas, também desenvolvi antídoto de inegável eficiência. Algodão e omcilon em quantidades exatas e voilà: sua boca sem aftas ou o dinheiro de volta. 

 

Sarah faz cosquinha, cura aftas e, no mais, traz o espelho. E o espelho, meus caros, esse sim “traz a pessoa amada”. 

 

 

*Jornalista, produtora de eventos, celebrante, sonhadora e realizadora de sonhos, Sarah Coelho tem 32 anos de muita determinação e romantismo.

POR AMOR ÀS CIDADES – Brasília

NOSSA SENHORA MODERNISTA

Por Tuty Osório

via http://www.encontrobrasilia.com.br/

Não há como falar de modernismo sem falar de Brasília. Cidade desenhada em prancha de artistas, erguida por vontade e violência, contudo Cidade Livre em seu nascer.

 

Oscar Niemayer não foi ao baile no Palácio. Comemorou com os já chamados Candangos, os operários, no chão de terra vermelha, dançando forró ao luar.

 

É assim. Brasília é muitas coisas. Capital injustiçada, pouco reconhecida pelos brasileiros. Inocente dos horrores, é penalizada. Seus moradores são em sua maioria muito conscientes ambientalmente, socialmente, artisticamente.

 

Em Brasília existe um Condomínio chamado Verde que tem aprovada em votação, verba para eventos culturais. E a Diretoria Condominial tem um diretor de cultura.

 

Brasília tem deslizantes, alpinistas, milicianos e fascistas. Tem também amantes da cultura, acadêmicos de atuação global, militantes da igualdade social. Com todo o desmonte, a saúde pública e a escola pública resistem.

 

E tem a arquitetura moderna. Se você se posicionar no meio do descampado da Esplanada dos Ministérios, de frente para a cidade lá na frente, vai ver, compreender e se emocionar com esse símbolo real da liberdade humana.

 

Nada a ver com liberdade para matar, com arma ou recusa à vacina. Liberdade para lutar por um dia melhor a cada dia. Melhores instituições, melhores estruturas, para melhores tempos.

 

Se ser Moderno foi definido como TORNAR NOVO, Brasília é nossa senhora desse mote.

 

Na Catedral que parece bailarina, nas colunas suspensas dos Palácios, Nas Plataformas Integradas da Rodoviária do Plano, na abóbada mágica do Museu da República, na respiração do urbanismo, na natureza que se impõe a cada seca.

 

SOL NASCENTE, POR DO SOL, ITAPOÃ, ESTRUTURAL, cidades na cidade, avançam reivindicando mais MODERNISMO. Porque em Brasília, favela é cidade. Se não for no oficial, vai ser na marra.

 

 

TRILHA

BRASÍLIA, pelo ar e por terra, a capital no exato ponto central do país. Para os moradores, a trilha é visitarem mais os museus e outros edifícios – museu da república, museu de arte moderna, panteão da pátria, catetinho. Um tour pelos pontos de cultura em todas as regiões é bem interessante para um mergulho nos modos de vida em torno do Plano Piloto e Lagos. Falaremos de trilhas diversas por aqui.

MÚSICA

Lua Branca

Mais uma vez recebemos Maurício Pires, que hoje nos trouxe Chiquinha Gonzaga. A mais moderna das nossas compositoras, no sentido de inovar. Revolucionária, nas artes, na vida e na política, Chiquinha era uma negra parda, feminista, abolicionista, republicana, livre, mulher, mãe, profissional, dona de casa e gente, que de jovem a velha, sempre deu o recado sem se intimidar. Tinha um defeito – da boca dela saía o que a mente pensava. Salve defeito bom!!!

 

Escolhi para cantar hoje uma música da primeira quarta parte do Século 20: LUA BRANCA, da maravilhosa Chiquinha Gonzaga.

 

Foi composta em 1912 para uma peça teatral e ganhou nova letra em 1929. 

 

Teve numerosos registros fonográficos por cantores e instrumentistas como Paulo Tapajós, Paulo Fortes, Rosemary, Vânia Carvalho, Maria Bethânia, Verônica Sabino, Leila Pinheiro, Joana, Alessandra Maestrini, Antonio Adolfo, Eudóxia de Barros, Rosária Gatti, Marcus Vianna, Maria Teresa Madeira e Leandro Braga.

 

Peço, mais uma vez que me escutem e apreciem esta obra monumental.

REPORTÁGEM ENSAIO

O QUE VALE UMA SEMANA

Miguel Boaventura

via Reconheça São Paulo

O Sérgio Pires propôs à Tuty Osório dedicarmos uma edição à Semana de 22. Iniciada em 13 de fevereiro de 1922, faz cem anos exatamente hoje, E assim o fizemos. Fiquei meio sem chão. Esse assunto exige muita pesquisa e reflexão. Umas trinta edições mais, deste humilde Domingo à NOITE.

 

Mas não tem quem tire uma coisa da cabeça da Tuty Osório. Ainda mais quando é o Sérgio Pires que sugere…Enfim, eu, sempre imerso no meu mau humor fui atrás do que de útil poderia falar. Até porque não sou obrigado.

 

Aqui falamos do que queremos, com exceção de polarização política e citação direta de algumas figuras. Nem concordo com isso, mas a Tuty fincou pé, e como já lhes disse é difícil tirar uma coisa da cabeça dela…

 

Voltando à Semana há dois pontos que investiguei e me vieram como muito fundamentais. Ainda bem, pois pra me enquadrar, a Tuty me mostrou o texto do Sérgio Pires para Bachianas e que primor de pesquisa, de análise…Tive que me aprumar e mostrar serviço. Também já me comprometi em estender o assunto, por mais edições. Sergioe Tuty têm razão. A questão é muito relevante.

 

Um: a Semana foi um movimento da elite para a elite, mas não era de direita. Na verdade, nem cor política tinha. Só muito mais tarde seus integrantes foram se identificar, a um lado ou outro.

 

Vargas viu vantagens em exaltar o Brasilianismo da Semana, que sua ditadura interpretou como um nacionalismo conveniente.

 

Convidou alguns artistas para integrar o governo, alguns aceitaram, mas mesmo assim, a conveniência não contaminou a essência revolucionária, no campo das artes, da Semana.

 

Dois: a Semana não foi só Paulistana. Teve repercussão no Rio, no Nordeste e no Norte. Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Pará, Amazonas e certamente muitos outros lugares receberam os ventos que queriam uma arte brasileira, com raízes nos povos originários e na herança africana. Mesmo sem ter incluído as pessoas ameríndias e negras no acontecimento da Semana, em si, há um legado a considerar,

 

Não é de tábula rasa que se faz o presente e o futuro.

 

São Paulo é mais exuberante em equipamentos culturais porque teve uma elite amante da arte. Podia não ser, como não foram as elites de outros lugares.

 

Outro exemplo é o Sistema Fecomércio. Que financia, com as contribuições, de cada comerciante, Cultura da maior qualidade e de inclusão, pelo país Brasil. SENAC e SESC são expressões inequívocas.

 

Para os mais inflamados, não estou desculpando omissões. Estou recorrendo ao novo COMPLEXO e ao velho BOM SENSO.

 

  • Com dupla residência entre Lisboa e Brasília, Miguel Boaventura é arquiteto urbanista e escreve por vocação e obrigação. Pessimista por consciência, luta para resgatar a esperança, a cada indignação.

 

TRILHA

Revista Pesquisa Fapesp/ janeiro de 2022, nas bancas

SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS

ÉS UM SENHOR TÃO BONITO! TEMPO, TEMPO, TEMPO,TEMPO!

Por Mila Marques

Acervo Pessoal

Esta semana demorei para escrever. Não por preguiça, mas porque são muitas as reflexões que tenho feito e sobre todas elas gostaria de falar. Difícil foi escolher!  Tenho mudado de opinião em relação a situações que tenho tido que enfrentar e concluo que mudar de opinião não é ser volúvel, instável…Ao contrário, o tempo para pensar, traz-nos a maturidade necessária para mudar.

Quase sempre a solução para problemas que não depende só de nós, da nossa ação ou vontade, depende das circunstâncias, e por isso temos que ter paciência e esperar que essas circunstâncias mudem. E elas muitas vezes só mudam com o tempo.

Esse sim, é um importante senhor que temos que respeitar.  Só a vida, o tempo que vivenciamos e passa por nós, nos faz entender muitas coisas, mesmo que seja de maneira dolorosa.             

E continuo com muita gratidão a Deus por tudo, até pelos problemas, porque sempre podem piorar. As soluções estão aparecendo, por isso tenho que olhar para trás com gratidão, para a frente com fé e muita esperança que tudo se vai resolver.

Ao meu redor, procurando ser útil! Não ser uma mãe viúva idosa, rabugenta, só dando trabalho para os filhos e as netas. Me ajudam muito sempre que preciso. Só peço ajuda quando não consigo resolver sozinha. Nunca gostaria de me sentir um peso, mas uma presença com que minha família possa contar sempre, em todos os momentos, com alegria, opiniões sensatas, e, principalmente tendo a capacidade de ouvir sem críticas.                       

E … Vamos caminhando!                     

Minhas netas, minha maior herança, estão preparando um” happy hour” para mim que aguardo com a maior alegria!

Sempre me surpreendem, são muito criativas e fazem tudo para me distrair!

Estou aguardando, depois conto como foi.

Até!

BACHIANAS E COMPANHIA

MODERNIDADE ACONTECIDA, MODERNIDADE AINDA BUSCADA

Por Sérgio Pires

Ao longo da história da humanidade, a busca pelo novo é uma característica da juventude. Isto pode ser constatado nos diversos períodos e fases da pintura, e também na linha do tempo das diversas escolas literárias. Poderíamos ainda falar da moda, poesia ou gastronomia.

 

No início do século XX, com o avanço da industrialização e como reação aos traumas da 1a. Guerra Mundial e da gripe espanhola, as novidades borbulhavam pelo mundo, com epicentro em Paris. Tudo de moderno estava lá ou indo em sua direção.

 

Os movimentos do expressionismo, fauvismo, cubismo, abstracionismo, dadaísmo e logo em seguida do surrealismo, bebiam em diversas fontes de cultura, aí incluídas as africanas e as das Américas. O Brasil tinha a cultura indígena e o seu folclore para contribuir.

 

E vários dos nossos intelectuais e artistas espalhados pelo Brasil (Belém, Fortaleza, Rio de Janeiro, Minas, Rio Grande do Sul, São Paulo e diversos outros locais) acompanhavam e reagiam a estes movimentos.

 

Quem podia ia para Europa, e principalmente para Paris; e voltava prenhe de novas ideias.

 

Assim, a Semana de Arte Modena de 22 não inaugurou o modernismo brasileiro, mas foi o marco físico, o símbolo, destas ideias que nas décadas anteriores já incomodavam os conservadores.

 

Mas quando se iniciou a associação da gastronomia à identidade nacional? Acredito que desde que o primeiro invasor português experimentou a mandioca em uma praia da Bahia.

 

Nos cadernos do Mordomo do Imperador D. Pedro II, responsável pelas compras para a cozinha do palácio, constam produtos da terra, caças, cachaça e até vinho nacional, tudo elaborado pelas receitas encontradas em O Cozinheiro Imperial, O Cozinheiro Nacional e A Doceira Brazileira, os três primeiros livros de gastronomia aqui publicados. 

 

Ainda foram necessários muitos anos para que a gastronomia se tornasse matéria de estudo nos meios acadêmicos.

 

Podemos afirmar que foram em encontros e reuniões em redor das mesas em almoços e jantares que a Semana de Arte Moderna foi articulada e conheceu seus financiadores. Mas os cardápios ainda eram de grande influência francesa, nas receitas, na ordem de apresentação e redigidos em francês.

 

Di Cavalcanti comentou a ideia da Semana com Graça Aranha e este o apresentou ao Paulo da Silva Prado, empresário e cafeicultor paulista, que se entusiasmou em ser o mecenas da exposição. E a decisão final foi em um almoço na sua casa.

 

“A culinária era um campo de ação e de expressão para as ideias modernistas” segundo Rudá K. de Andrade.

 

Sim, o historiador Rudá K. de Andrade, neto de Oswald de Andrade e da escritora Pagu, publicou o livro “A Arte de Devorar o Mundo” sobre a gastronomia na vida e obra do seu avô. E nele conta esta saborosa história.

 

“O movimento antropofágico, corrente que marcou a primeira geração modernista, nasceu durante um jantar, em 1927. A trupe de artistas se deliciava com uma apetitosa porção de rãs. Ao se deparar com a iguaria no prato, que preparada e servida lembrava um pequeno corpo humano, Tarsila do Amaral, então esposa de Oswald de Andrade, ponderou que naquele momento eles estavam sendo quase antropófagos.

A inspiração veio do ritual tupinambá, pelo qual o comensal acreditava que devorar o inimigo gerava a absorção de suas qualidades. Ou seja, a proposta do movimento falava sobre uma fome simbólica, que engoliria outras culturas, transfigurando o que vinha de fora, absorvendo elementos típicos brasileiros, para reforçar uma cultura com caráter nacional.

 

Depois do jantar com rãs, inspirada por este ideal, Tarsila pintou o quadro que é o símbolo maior do movimento. “Abaporu” significa “o homem que come” e foi dado de presente para Oswald de Andrade.”

 

A coleção de cardápios de Mário de Andrade, estudioso da nossa gastronomia, que tinha em seus arquivos receitas manuscritas e datilografadas, recortes de jornal e fichas de estudo com referências a livros de culinária e a trechos relacionados à alimentação retirados de diversas obras, foi a base da tese de mestrado de Paula de Oliveira Feliciano, “Modernistas à mesa: a coleção de cardápios de Mario de Andrade (1915-1940)” que cruza a história do modernismo em torno da mesa com a literatura culinária.

 

Os vinhos destes banquetes eram majoritariamente franceses, alguns portugueses, espanhóis e alemães, nada do Brasil ou dos nossos vizinhos do sul. O cardápio era menu. O idioma era francês.

 

Viemos desde lá em um contínuo de modernização na nossa gastronomia e nas bebidas aqui produzidas, mas ainda temos um longo caminho para modernizar nossos consumidores e acabar com o preconceito ainda existente com relação ao vinho nacional.

 

* Aposentado como bancário e praticante de karatê e Sommelier na ativa, integrante da ABS-DF, Sérgio Pires é escritor e desenhista, poeta da prosa e exímio contador de histórias. Mora em Brasília com Lili, sua companheira linda e maravilhosa, aposentada da Embrapa, cozinheira, apaixonada pela alegria.

TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

CREPÚSCULO

Gosto mais da Alvorada que do Crepúsculo. Embora lindo, igual. Já viram as tardes quando vão entardecer? E já sentiram das planícies orvalhadas, o cheiro doce das frutinhas monçabê? Pois amor, tinha um pouquinho disso tudo. E na boca a cor das penas do Tiê. Quando  cantava os passarinhos ficavam mudos. Sabem quem é, o meu amor? O nosso amor? Nós juntos e juntas, em 2022.

 

Obrigada por estarem com a gente até aqui.

Tuty e Trupe

APOIO SUSTENTABILIDADE
HISTÓRIAS DE STERI 10

PARCEIRA DE TEODORA

Por Brigitte Bordalo*

Teodora é a cadela shitzu de uma família amiga. Na Pandemia não desce. E a varanda virou banheiro.

 

Mesmo sem Pandemia a varanda é alvo preferido do canino mais educado, na hora do aperto.

 

Por mais que não seja porosa a cerâmica, o cheirinho vai impregnando. Por mais que se use o vinagre, neutralizador natural de cheiros, e o álcool líquido 70 com aroma de Capim Limão, vai se intensificando.

 

Você não sente.

 

Mas a visita querida, compreensiva, que ama seu pet, há-de sentir. E adeus delícia de petiscos servidos na brisa da varanda. Destruídos pelo cheiro desagradável das necessidades legítimas de Teodora.

 

STERI 10 salvou os encontros. Alguns esguichos, antes dos amigos chegarem, eliminam os odores da varanda.

 

Teodora feliz. Convidados felizes. Minha amiga feliz.

 

STERI 10 herói, também, da varanda. Ou de qualquer superfície eleita por seu PET.

 

*Brigitte é microempresária da gastronomia e da cultura.

APOIO LUXUOSO

Em breve, bistrô saltimbanco