Edição N. 43 - 01/05/2022
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Edição Geral: Tuty Osório

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo, Yvonne Miller, Elimar Pinheiro,

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Edição de Fotografia: Manuela Marques 

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

Música: Maurício Venâncio Pires, Alex Silva, Caio Magalhães, Manuela Marques

 

 
ALVORADA

MAIS UM CÉU DE NOSSA SENHORA NOSSA

Estar em Brasília no dia 1 de maio não é novidade. Já passei muitos primeiros de maio aqui. Quando morava. Depois, nas minhas voltas. Hoje a manhã foi com as crianças. Que são o presente repleto de sinceridade. Pode parecer lugar comum, mas é salvador, nos resgata da angústia. Obrigada Matias e Cícero, meus heróis!!!

Começa agora mais um Domingo à NOITE em 2022! 

O BEM VIVER

25 DE ABRIL SEMPRE, FASCISMO NUNCA MAIS

por Camilla Osório de Castro

“25 de abril sempre, fascismo nunca mais!” bradava a multidão que, cravos em punho, comemorava o aniversário da revolução naquele abril de 2018, na cidade do Porto. Naquele ano, o Brasil acabara de sofrer o golpe parlamentar que retirou Dilma Roussef da presidência da república e começávamos a ver o fascismo retomar o nosso cenário político e o nosso cotidiano.

 

Deste modo, ver o povo português, ou um recorte dele, tão convicto do seu grande marco democrático foi para mim um motivo de grande emoção. No Brasil era ano eleitoral, estávamos apreensivos. Marchei pelas ruas e arranjei um cravo para segurar. Alegremente, senti-me parte da festa e ousei ter esperança no “cheirinho de alecrim” de Chico Buarque.

 

Hoje, 4 anos depois, é novamente ano eleitoral. Enquanto Portugal perdeu deputados tanto no Partido Comunista, que passou de 12 para 6, como no Bloco de Esquerda, que de 19 passou a 5 e viu a direita fascista representada pelo Chega ganhar espaço, no Brasil enfrentaremos em breve uma eleição que mais parece um plebiscito entre fascismo e democracia.

 

Tenho visto diversos intelectuais de esquerda como Vladmir Safatle e Sabrina Fernandes apontando um aspecto como relevante para analisarmos a ascensão da extrema direita no mundo: ela tem monopolizado o discurso da radicalidade e da mudança. Enquanto social democratas e esquerdistas moderados defendem conservar modelos que claramente estão obsoletos e não atendem às necessidades reais do povo, a extrema direita acena com a possibilidade do novo e mobiliza afetos como a paixão e o ódio sequestrando a subjetividade da população em torno de projetos autoritários.

 

É possível voltar àquele momento de diversos prismas e apontar erros e acertos. Não o farei aqui neste texto pois é uma análise complexa que não deve ser banalizada. Parece-me, no entanto, que o principal erro naquele momento foi novembro de 1975, quando a revolução foi interrompida e colocaram-se panos quentes.

 

Ficou, de todo modo, o legado de coragem. Se Portugal foi para o Brasil e para os países africanos um símbolo de opressão e violência colonial, hoje é também uma fonte de inspiração pela luta pela liberdade operada nessa data histórica, que rendeu inclusive o fim desastrado, mas ainda assim fundamental, da colonização em África e direitos trabalhistas para o povo português.

 

Hoje, nossa tarefa seja do lado de lá ou do lado de cá do atlântico, é retomar esta narrativa , da mudança e da radicalidade, à esquerda radical. Ouso defender inclusive que é à esquerda que ela legitimamente pertence pois é esta que historicamente e até os dias de hoje possui preocupação real e ações concretas para a garantia da dignidade do povo.

 

Em 25 de abril de 1974, a crise estava instalada e haviam as condições para uma mudança profunda. A revolução dos cravos provou novamente que erram aqueles que dizem que o poder não emana do povo.

 

O povo organizado pode mudar o seu destino.

 

Em nossa crise atual, que é de outra ordem e outra natureza, um projeto de esquerda radical hoje é a única postura ética diante do limite civilizatório que o capitalismo nos impõe.

 

A ameaça da crise climática e a transição tecnológica sem responsabilidade com empregos unem trabalhadores ao redor do mundo.

 

Que a memória da coragem dos capitães de abril possa inspirar a nossa possibilidade de imaginar um futuro mais livre.

 

Fascismo nunca mais.

 

* Camilla Osório de Castro é cineasta e produtora cultural.  Pesquisa o Bem Viver. Mora no mundo, entre cidades. Acredita que sonho que se sonha junto é realidade.

CONTO

MICÉLIO

por Tuty Osório

-Mãe, gostou do documentário?

– Muito filha! Gostei muito! Nunca imaginei que os cogumelos fossem tão importantes. E nunca tinha me tocado que são fungos…Incrível?

-Você viu, mãe, é diferente, né?

-Sim, filha, uma outra leitura do mundo. Os fungos nos resgatam. Nunca imaginei!

-Pois é mãe, já pensou! Seres desprezados são a nossa salvação.

-É filha. Fico pensando. Você, de uma geração underground sem poesia, que me mostrou a esperança. Bicho, é mesmo tudo relativo. Fungos? Fala sério.

-Mãe, é porque como você mesma diz, desculpa te lembrar o que você diz, é tudo muito relativo.

-É sim filha. Estou sempre com vontade de desembarcar do mundo. E de topar o desafio de alcançar o simples, o que é muito complicado…

-Mãe, a dificuldade é porque é o inconsciente que manda, lembra?

-É. E não temos acesso a ele.

-Isso, Mãe. Estão falando que as drogas psicodélicas podem ajudar a acessar o inconsciente. Terminais com câncer, gente com dificuldade de entender a realidade, enfim, gente em sofrimento…

-Eita, menina. Devagar, filha…

-Mas mãe, você vive dizendo que o inconsciente é a realidade.

-É mesmo filha. Não vai ser no dia primeiro de maio que vou pedir pra você não me lembrar do que vivo dizendo. Aliás, obrigada por tudo, sempre.

RITOS

A RUA É MINHA

por Sarah Coelho

foto por Xodó Foto e Filme

Olá, queridos/as leitores/as!

 

Hoje, peço licença para transformar esta coluna nossa de todo domingo em um mural destes bem coloridos que figuram, quase sempre, na entrada de escolas ou empresas, cheias de mensagens motivacionais e avisos importantes. Entre eles, quase sempre, os aniversariantes do mês ou da semana! Todo mundo sabe que mural é esse.

 

É que hoje a nossa editora faz aniversário. E aprendemos, com o passar dos últimos anos, que isso, de estar radicalmente vivo, é um jeito bonito de adiar o fim do mundo.

 

Há exatamente 1 ano, a vacinação já havia começado, mas o isolamento ainda nos impedia de agarrar nossos afetos com abraços apertados, exibindo sorrisos escancarados de quem é feliz (e sabe!).

 

Decidi então, junto com duas amigas que comigo compartinham este ofício de celebrar momentos importantes de famílias, iniciei o projeto “Desce, vai ter serenata!”. E Tuty foi a primeira agraciada com este presente à moda antiga, de levar versos e canções para sacadas cidade afora.

 

Fiquem com um trechinho do texto feito para aquele momento, pois continuam sendo estes os meus mais profundos desejos para essa mulher que tenho o orgulho de chamar de tia.

 

Hoje é o dia de celebrar a vida de uma mulher maravilhosa, cujo sorriso

largo contagia quem está ai dentro, aqui embaixo, ali em cima, ou do

outro lado da rua! Dona de um canto suave que embalou o sono e a infância de muitas meninas, eu inclusa.

 

Desconfio que talvez fosse esse o motivo dos olhos arregalados de Manu, a mais nova, durante a noite. Queria ouvir aquele canto, sentir a aura meio mágica que apenas mães ninando seus bebês possuem.

 

É por isso que estamos aqui. Pra fazer uma serenata e dizer que a voz doce de Tuty e seu jeito de achar que a vida pode ser maravilhosa nos deu esperança para atravessar as noites, mesmo as mais longas e sombrias, o que nos fez crescer fortes, corajosas e cheias de alegria.

 

No teu aniversario, é a nossa vez de vir acalantar teus sonhos e aconchegar tuas saudades. Queremos encher a casa com música, poesia e afeto, e te fazer sentir as mesmas coisas bonitas que sentimos tantas vezes, em dias brilhantes ou madrugadas mal dormidas, graças a ti.

 

Como eu, a aniversariante também é amiga das palavras. Mas o senso comum insiste em desconsiderar nossas letrinhas, dizendo que mil delas não valem mais que ações.

 

Assim sendo, para agradar a gregos e troianos, resolvi puxar pela memoria três atos de Tuty que me marcaram demais.

 

O primeiro: desde que me entendo por gente, Tuty diz que vamos para Paris. Temos alguns programas já definidos, como comer croissants olhando para o senna, enquanto observamos as

pessoas passarem. Acho que eu tinha menos de 10 anos quando comecei a ouvir falar deste intento. já passei dos 30, a viagem não aconteceu ainda, mas Tuty segue confiante, falando com o mesmo entusiasmo, como se a realização disso estivesse logo ali.

 

O segundo: corridas na praia e na serra, aula experimental de surf e bloco de carnaval em bairro distante são coisas que vi Tuty fazer nos últimos anos. Justiça seja feita: ela não tem a postura séria e acomodada de outros cinquentões. É aberta ao novo, sabe se divertir e, com isso, contagia quem está por perto.

 

O terceiro: Tuty aprendeu a dirigir já véia. Foram quatro provas até conquistar a carteira. E ela rapidamente dominou a arte de passar perrengues no trânsito, tipo não saber estacionar ou amassar o teto do carro porque calculou mal a altura de um galho de árvore, isso tudo sem permitir que nós, que éramos crianças, ficássemos nervosas. Com a carteira na mão, ela tratou de garantir passeios e caronas, permitindo coisas que em nenhum outro carro era possível: bancos engordurados pelos nossos dedinhos de manteiga de pipoca e as músicas favoritas no volume máximo!

 

Dito isso, reafirmo o que avisei no início da serenata, com a canção de  ninar que é tua marca registrada: se a rua fosse minha, também mandaria ladrilhar com pedrinhas de brilhante pra você passar. Com cada pedrinha faria uma trilha longa e colorida, que te levaria de volta para o lugar mais potente e aconchegante que existe: teu próprio coração.

 

Viva Tuty e seu coração selvagem!

 

*Jornalista, produtora de eventos, celebrante, sonhadora e realizadora de sonhos, Sarah Coelho tem 32 anos de muita determinação e romantismo.

 

CRÔNICA

SEM NOÇÃO – OU: UMA VINGANÇA LITERÁRIA

Yvonne Miller

Acordo no meio da noite com um barulho no corredor. Rodas de mala sobre ladrilhos. Demoro uns instantes para me localizar em tempo e espaço: férias, Maracaípe, pousada. Nem um pingo de luz passa pelas frestas da janela. Olho o celular: quatro da madrugada.

— Qual o quarto? — Voz de mulher com sotaque paulistano.

— Doze. Aqui — responde um homem no mesmo instante que escuto a chave na fechadura ao lado. As vozes são tão nítidas como se os dois estivessem do lado da minha cama.

— Olha que bonitinho, amor! — Ela de novo. — Vou ligar pro Rafa.

Só o que me faltava.

— Oi, Rafa, tá me ouvindo? Oi! Sim, já estamos no hotel…. Maracaípe, do ladinho de Porto de Galinhas…. Não, lá não tinha mais hospedagem….

— Deixa eu falar com ele — intervém o marido. — Meu, a TV aqui no quarto é melhor que a sua, hahaha!… O quê? Fortaleza? Não, cara, estamos em Pernambuco, não na Paraíba!

Minha cabeça começa a latejar, não sei se pela falta de noção geográfica ou pela falta de noção em geral. Nunca entendi esse costume do povo falar gritando. Não dá pra conversar num tom normal? Ou em tom nenhum, visto que são quatro da madrugada?

— Claro que tem água encanada, estamos num hotel! — está reforçando o homem do outro lado da parede nesse momento. — Tem até ar-condicionado. Espera, vou ligar a câmera pra você ver. Tá vendo? Ar-condicionado, frigobar, TV… Se não soubesse melhor, pensaria que estamos em Ubatuba.

Minha dor de cabeça mistura-se com vergonha alheia e o impulso instintivo de defender Pernambuco. Pernambuco, do carnaval de rua mais conhecido do país! Pernambuco, da maior estrada em linha reta da América Latina! Pernambuco, berço do forró! Não, da cultura em geral! Onde nasce, do encontro entre o rio Capibaribe e o rio Beberibe, nada menos do que o Oceano Atlântico! E mais: o próprio Brasil! Não foi em São Paulo, não foi no Rio de Janeiro, não foi em Brasília; foi em Jaboatão dos Guararapes que nasceu a pátria! Tudo bem, provavelmente fez só mesmo foi nascer lá e logo mais deu as costas em busca de um canto mais bonito, pois pense num lugar desolado… Mas nascer nasceu lá, a póbi, pelo menos se acreditamos na placa de boas-vindas em cima da BR. Ah, se esses turistas soubessem que se encontram nem mais nem menos do que na matriz da nação, no estado-mãe da pátria amada, no umbigo do umbigo do mundo!

No quarto ao lado, o homem está provando ao Rafa que a televisão funciona mesmo. Enquanto os primeiros raios de luz se filtram pelas frestas da janela, o bebê do quarto de cima começa a chorar. E quanto a mim, só me resta enfiar a cabeça embaixo dos travesseiros e esperar. Esperar que, em prol da nação, essa próxima geração já venha com um update de noção.

 

*Yvonne Miller é natural de Berlim, mas mora no Nordeste do Brasil desde 2017. Tem crônicas e contos publicados em coletâneas e antologias, como Paginário (Aliás, 2019), A Banalidade do Mal (Mirada, 2020), Histórias de uma quarentena (Holodeck, 2021) e Crônicas de uma Fortaleza obscena (Territórios, 2021), assim como na revista literária feminista Laudelinas, entre outras. É uma das organizadoras da coletânea de contos Quando a maré encher (Mirada, 2022). Participa do coletivo de cronistas nordestinas @teardehistorias e tem uma coluna quinzenal no blog do selo Mirada. Escreve também literatura infantil e, além de ficcionista, é autora e redatora de livros escolares. Atualmente mora no interior de Pernambuco, junto com sua esposa, enteada, gato e cachorro.

HISTÓRIAS DE HISTÓRIAS

NAÇÃO LITERATURA

por Lia Raposo

Sandice completa, como diria meu colega Miguel Boaventura, o boicote à literatura russa como represália à guerra na Ucrânia. Não faz nenhum sentido passar a odiar romancistas de tantas virtudes, histórias belíssimas, intensas, marcos inquestionáveis de momentos importantes da nossa sociedade.

Foram os escritores russos os criadores do romance psicológico, levado por eles às maiores e melhores consequências de qualidade em forma e conteúdo. As descrições, as reflexões, os subterrâneos da humanidade trabalhados com maestria de texto e subtexto.

Todas as guerras são ruins, embora algumas sejam necessárias. Os conflitos armados pela libertação de países de seus colonizadores, a luta pela autonomia dos povos, foram pertinentes e levaram a conquistas civilizatórias fundamentais. Esta guerra na Ucrânia, por outro lado, é insensata e sem objetivo para além da ganância e da disputa de mercados. Ao final, Estados Unidos e China farão o rateio equilibrado à luz dos interesses deles.

Por Gogol nesta crônica que conta histórias. Almas Mortas como mortas estão as nossas, corrompidas pelo teatro do poder que abate, banaliza e avilta a vida. Tudo combinado com um russo. Os russos, povo, artistas, viventes comuns e irmãos nossos, não têm nada com isso.

 

*Lia Raposo dedica-se a Estudos da Cultura, é redatora de Projetos Culturais, Produtora de Conteúdo e jornalista. Tem 33 anos de muitas dúvidas, algumas certezas e esboços de ousadia. 

REPORTAGEM ENSAIO

O 25 DE ABRIL E O PRIMEIRO DE MAIO

por Miguel Boaventura

foto via Lúcia Evangelista

Muito complexos estes dois temas, o Nilton Trança e a Lucinha Evangelista cobraram da Tuty Osório a falta imperdoável dessa abordagem. A culpa é totalmente minha. Combinei que escreveria mas não fui capaz. Preciso de mais uns dias para elaborar. O fim das revoluções, o fim do trabalho. É muito. Deixo um link do Morin e da Nara cantando a Grândola. Me perdoem. Vou compensar.

*Com dupla residência entre Lisboa e Brasília, Miguel Boaventura é arquiteto urbanista e escreve por vocação e obrigação. Pessimista por consciência, luta para resgatar a esperança, a cada indignação.

DENTRO E FORA

por Deborah Coelho

MÚSICA

Amazing Grace

por Maurício Venâncio Pires

Certamente é uma das músicas mais executadas até hoje. Um hino religioso, o que chamamos de música Gospel, lançada em 1779, ou seja, tem 243 anos.
O seu autor foi o pastor anglicano John Newton, que era um ex-traficante de escravos que se converteu ao cristianismo após o seu navio ter sido abatido por uma violenta tempestade em alto-mar e ele implorou a Deus por misericórdia.
Amazing Grace recebeu interpretações maravilhosas, entre elas destacam-se: Diana Ross, Andrea Bocelli, Judy Collins, Aretha Franklin, Whitney Houston, Celine Dion, Elvis Presley, Ray Charles, LeAnn Rimes, Celtic Woman, Divo e André Rieu.
Agradeceria se vocês me ouvissem também.

APOIO ECOLOGIA
SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS

NOSTALGIA

por Mila Marques

Achei que não conseguiria estar aqui hoje.

Foi uma semana muito triste, neste tempo difícil, neste mundo incompreensível e tantas vezes desolador.                          

 

A perda de amigos queridos ou familiares dói muito no nosso coração, e a tristeza é inevitável!                     

 

Nesta travessia da vida, é a fé que nos sustenta. Temos que aceitar o que Deus determina, mesmo com algum sofrimento. As perdas nos fazem reavaliar a vida.  E, com o pouco tempo que me resta, pois já vou fazer 82 anos nos próximos dias ,vou tentar aproveitar esse tempo com alguma sabedoria que me resta da experiência do meu viver.                                     

 

É bem verdade que há duas coisas na vida que só se dá valor quando se perdem: a juventude e a saúde.

 

A juventude já perdi, mas tenho saúde, por isso vou sempre agradecer por ela e aproveitar o meu tempo sem egoísmo, mas com a generosidade e a delicadeza que esperam de mim.

 

Dizer mais vezes “EU TE AMO” para os meus familiares e amigos. Muito gratificante para quem escuta e transformador para quem fala.

 

Faz muito bem a todos vindo de dentro, não apenas palavras, mas um sentir, um doar, uma entrega.                            

 

Alguém disse que envelhecer bem é dar- se aos outros com generosidade e seguir em frente. As coisas nem sempre são determinadas pela nossa vontade, sim pelas circunstâncias. É para elas que temos que olhar, e,  se for o caso, procurar mudá-las.   Nunca nos preparamos para as perdas, não conseguimos assimilar nada antes, só depois com o tempo.                

 

Vamos então continuar a nossa caminhada com gratidão por podermos faze-la, mesmo que o coração esteja triste, mesmo que os nossos olhos não parem de chorar, procuremos caminhar!!!                    

 

Hoje, a par da tristeza das perdas, tenho muita razão para estar alegre também. Minha caçula é aniversariante do dia, e a primeira no mês de Maio!

 

Não está aqui comigo, por isso a dor boa da saudade, por imposição do trabalho, mas sei que está bem. Nada mais que as circunstâncias!!! 

 

*Mila Marques, 81 anos, é dona de casa, mãe, avó, artesã das linhas e das letras, leitora aplicada, portuguesa, brasileira, viúva e Sapiente demais. Mora em Fortaleza, a algumas quadras do mar, entre plantas, objetos e muitos, muitos afetos.

CURADORIAS

Mário Sanders volta ao circuito de exposições com uma individual no Espaço Cultural da UNIFOR em Fortaleza, no ar desde 7 de abril. Visitem mais que uma vez que vale a viagem e o sonho. Vamos contar aqui a história de Mário, do Movimento Fratura Exposta lançado nos anos 90 a partir do Bairro José Walter, as progressões do grito contra a violência bradado dali e o início da arte contemporânea ocupando a cena cearense, pela ação mágica e dedicada de Dododra Guimarães.

TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

desenho por Manuela Marques/Roteiro por Tuty Osório
APOIO SUSTENTABILIDADE
HISTÓRIAS DE STERI 10

ON THE ROAD

Por Brigitte Bordalo*

Essa foi uma amiga antropóloga que me contou. Bom na vida é ter amiga e amigo de tudo quanto é jeito. Varia as histórias e a gente vive muitas vidas, através da escuta.

 

Marília viajava de carro, promovendo Rodas de Conversa entre os usuários do SUS, pelo interior. Iam ela e Ezequiel, um motorista bom papo, gentil, sempre atento ao conforto e à segurança. Um isopor com água fresquinha e sucos ocupava o chão do banco de trás.

 

-Você não toma água nunca! Líquido nenhum, observou sério, Ezequiel. Providenciei suco para revezar com a água. Isso faz mal, completou.

 

-Constrangida, Marília explicou sobre seu bom hábito de consumir líquidos. E sobre o pavor dos banheiros da estrada. Prefiro evitar, tenho um pouco de trauma, sabe? Justificou.

 

-Pois não seja por isso! Bradou Ezequiel, sacando do porta-luvas um recipiente de 60 ml, azul, colocando-o no console. Você vai esguichar isto na tampa da privada, na água, no ar do banheiro. Em segundos some bactéria, germe e qualquer cheiro ruim. Comprei em Brasília. Mas tá ganhando mundo! Enfatizou.

 

Marília ganhou motivação, a viagem virou um passeio, além de missão importante. 

 

STERI 10 livrou uma ansiedade. E salvou dezenas de banheiros!

 

*Brigitte é microempresária da gastronomia e da cultura.

CREPÚSCULO

ESCOLHAS DO CÉU

É fim de tarde em Brasília. É onde que estou hoje, dia do trabalhador. Dia que nasci, no ano da graça de 1965. Em 1975, no Porto, fiz dez anos. Estava longe de meus pais por causa da guerra. Após a Revolução dos Cravos, foi o primeiro feriado após a ditadura. Minhas primas, Béca, Mila e Zé, levaram-me às manifestações de rua. Os namorados, João, já marido de Mila, colocavam-me nos ombros para que visse a multidão. O POVO, UNIDO, JAMAIS SERÁ VENCIDO!, gritavam. Eram milhares, e para mim, era a comemoração do meu aniversário. Naquela primavera portuguesa, eu pequena e grande no aprendizado da democracia. Obrigada primas!

 

Obrigada por estarem com a gente até aqui.

Tuty e Trupe

APOIO LUXUOSO

Em breve, bistrô saltimbanco