Edição N. 44 - 08/05/2022
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Edição Geral: Tuty Osório

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo, Yvonne Miller, Elimar Pinheiro,

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Edição de Fotografia: Manuela Marques 

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

Música: Maurício Venâncio Pires, Alex Silva, Caio Magalhães, Manuela Marques

 

 
ALVORADA

GENTILEZA NO VENTILADOR, POR FAVOR

Não sei se fui muito mimada. Quer dizer, sei, fui. Os terapeutas dizem que sou muito sensível. Os colegas cruéis, desde a escola ao mundo do trabalho, chamavam-me de mole. Até que reagi, e aos seis anos de idade dei minha primeira coelhada à La Mônica da Turma do Maurício de Souza. Na verdade, foi dentada na barriga da menina mais velha que me perseguia no recreio. Depois disso nunca mais ofereci a outra face, nem chorei pelos cantos. Na ameaça do abuso, choro no centro, bato na cara, ou em outro alvo, em sentido figurado e literal. Dizia meu pai que sou mansa disfarçada, falsa meiga. Minha afilhada definiu nos meus 40 anos, há já anos: Um sorriso sempre, mas não leve desaforo pra casa. Essa sou eu. Ando me controlando pra não revidar tanta falta de brandura, ternura e respeito que cada vez mais povoam os nossos dias. As Tutadas estão praticamente aposentadas e vou ficando trabalhada na aceitação. Cansei dessa guerra que não peço, não provoco, não quis jamais. Quero dançar como dançava Isadora, que ficou na história, por dançar como bem quisesse…Bóra?

Começa agora mais um Domingo à NOITE em 2022! 

O BEM VIVER

CADÊ OS IANOMÂMI?

por Camilla Osório de Castro

via https://jornal.usp.br/

No dia 6 de abril, o jornal O Globo divulgou que a comunidade indígena desaparecida, dias após conflitos com garimpeiros na região foi encontrada pela polícia, que reiterou não ter encontrado qualquer indício de mortes ou violência sexual, contradizendo o que relatam os indígenas. Segundo estes, há um histórico de violência sexual em série, ocorrendo na comunidade desde 2017, tendo se agravado a partir de 2020 e incluindo práticas como violentar mulheres em troca de comida, visto que a comunidade vive um cenário de fome.

 

As notícias acerca da violência sexual contra as mulheres Ianomâmi começaram a circular no final de 2021 e desde então a cobertura da imprensa tem sido protocolar e um pouco cínica, eu diria.

 

Como é possível repercutir acriticamente que a polícia afirmou “não ter encontrado indícios de estupro”. Que indícios um estupro deveria ter?  Quando comparamos as palavras utilizadas e o espaço ocupado por matérias acerca da guerra na Ucrânia fica muito evidente que para setores da imprensa brasileira as mulheres ucranianas são mais gente e merecem mais atenção que as mulheres indígenas.

 

Deste modo, penso que seja necessário bater à exaustão nessa tecla, de preferência até quebrar o piano. Cadê os Ianomâmi na imprensa? Cadê os Ianomâmi nas políticas públicas? Fala-se tão pouco sobre isso que o word está corrigindo a palavra “Ianomâmi” enquanto escrevo este texto pois não a identifica.

 

Há algo de muito podre em nossa sociedade neste momento e isso se manifesta no desprezo que coletivamente temos dado a estas vidas.

 

Em seu livro, “Discurso sobre o colonialismo” Aimé Césaire defende a ideia de que o fascismo nasce no colonialismo. Que a branquitude envenenou-se e tornou-se monstruosa a partir do momento que iniciou o processo de violência, escravização e estupros que formaram os países do dito “Novo mundo”.

 

Ele afirma que “No fundo do capitalismo, ansioso por sobreviver, há Hitler. No fundo do humanismo formal e da renúncia filosófica, há Hitler”. Eu tomo a liberdade de completar: no fundo do nosso racismo de cada dia e de nosso silêncio ensurdecedor ante à questão indígena, há Hitler.

 

Assumir este imenso e incontornável problema é o primeiro passo para construirmos uma saída digna do fundo do poço.

 

* Camilla Osório de Castro é cineasta e produtora cultural.  Pesquisa o Bem Viver. Mora no mundo, entre cidades. Acredita que sonho que se sonha junto é realidade.

POR AMOR ÀS CIDADES - Fortaleza

O UNIVERSO NA ALDEIA

por Tuty Osório

via https://www.opovo.com.br/

Os bons ventos da terra do sol fazem valer as lendas e sopram lufadas maravilhosas de cultura viva. Uma delas, dentre muitas outras, das quais já falamos e continuaremos falando aqui, é a chegada do Museu da Imagem e do Som, no ar em voo pleno, de contemporâneas expressões.

 

Sob a batuta do mestre Silas de Paula, promete e entrega muita novidade, tradição, histórias e movimento. Vamos acompanhar pelas redes e não economizar presença nessas ondas de razão e emoção garantidas.   

via Leda Rocha

ALDEOTA, MEU AMOR

por Sarah Coelho

Morei a vida toda na Grande Aldeota, que no mapa da minha cabeça abarca o Papicu, a Varjota e um pedaço do Dionísio Torres.

 

 Confesso que demorou um tempo para eu saber que essa parte da cidade é cheia de privilégios e serve de morada pra um monte de gente pouco interessada em enxergar além de seu umbigo.

 

Ok. Mas, para além de todas as benesses que essas ruas possuem, a minha relação com a Aldeota e suas adjacências é a mesma que outros tantos fortalezenses têm com suas vizinhanças. É memória, afeto.

 

A escola com poucos alunos, tensos em atravessar a Dom LuÍs, sozinhos pela primeira vez.

 

A banca dos meus avós, que fechou depois de dois assaltos, findando os tempos de bombons e figurinhas. A pequena academia, perto do colégio, em que parte da turma resolveu se matricular para as aulas de forró.  

 

Enfim… Sei que a Aldeota, e tudo o que simbolicamente ela representa, é, por muitas vezes, medíocre perto do que Fortaleza pode ser. Mas não deixo de pensar que suas esquinas guardam, em inúmeros detalhes, instantes cruciais de minha vida.

 

E isso me faz querer um bem danado a ela.

 

*Jornalista, produtora de eventos, celebrante, sonhadora e realizadora de sonhos, Sarah Coelho tem 32 anos de muita determinação e romantismo.

MAIS DIREITOS

RESGATAR NÃO É PUNIR

por Tuty Osório

Encontro Cristiane Holanda, – Pedagoga, com Pós-doutorado em Justiça Restaurativa na Espanha, no atual momento histórico a serviço do povo do Ceará através do Conselho da Paz, que foi fundado e evoluiu sob a égide da atual governadora Izolda Cela, – numa sala de uma casa de Vila, na Aldeota fortalezense, onde abrigo meu escritório cultural.

 

Conversamos por mais de duas horas, nas quais faço perguntas curiosas e ela me conta a saga santa de sua luta por formas alternativas de justiça e modos originais de conquista de dignidade para a população penitenciária, e não só.

O tema de Cristiane é novo. As chagas que tenta resolver são milenares. Temos que conhecer para compreender e conferir credibilidade a tal heroica batalha.

 

Nas próximas edições contaremos com vagar e cuidado as histórias reveladas por Cristiane Holanda. Hoje divulgamos os caminhos para mais informação sobre as práticas em curso, há mais de 8 anos.

 

Abertas inscrições para o curso Diálogos Restaurativos: Comunicação Não-Violenta, Cultura de Paz e Justiça Restaurativa

 

Estão abertas as inscrições para o curso “Diálogos Restaurativos: Comunicação Não-Violenta, Cultura de Paz e Justiça Restaurativa”. O curso é voltado para educadores e demais profissionais interessados no desenvolvimento da cultura de paz.

 

A aula inaugural será realizada dia 6 de maio, às 14h, no canal do Laboratório Digital Educacional (LDE) no Youtube (youtube.com/LDEUFC). As aulas serão realizadas ao vivo toda sexta-feira, às 14h.

 

O objetivo é fortalecer os conhecimentos teóricos e práticos a respeito da Comunicação Não-Violenta e da Justiça Restaurativa, visando ampliar a Cultura de Paz em Sobral, no Ceará e em todo Brasil.

 

Com carga horária de 30 horas, a formação contará com aulas síncronas e assíncronas com palestrantes renomados nacionalmente e internacionalmente, estudo de casos, atividades remotas e outras metodologias ativas.

 

O curso é promovido pela Coordenação de Justiça Restaurativa, Mediação e Cultura de Paz da Vice-Governadoria do Estado do Ceará em parceria com a Secretaria Estadual de Educação e a Prefeitura de Sobral, por meio da Secretaria da Educação.

 

– Faça sua inscrição: https://www.even3.com.br/inscricaocnvcpjr

CONTO

UM SARTRE POR UM FRANGO

por Tuty Osório

colagem: Manuela Marques

– Mãe, sabe a Liberdade?

– Sei não, filha. São muitas. Não só a própria, como os pós nomes. Só a de Expressão é um monte de versões. Embora, na verdade, a Liberdade de Expressão seja uma só.

– Qual verdade, mãe?

– Pera lá que é sábado. Tô tentando descansar. Uma treta de cada vez, filha. Ou é liberdade ou é verdade, o tema, certo?

-Tem razão mãe. As duas de uma lapada, é muito, né?

– Obrigada pelo MUITO, filha.

– Como assim, mãe?

– Melhor evitar os palavrões, filha. Dizem que são palavras de baixa energia… Na dúvida, né?

-Enfim, mãe, voltando à Liberdade…

-Isso filha! Qual delas?

-A Liberdade amiguinha da Mafalda do Quino, mãe, aquela que é baixinha.

-Sei, filha. Aquela que mãe compra comida traduzindo filosofia.

-Isso, mãe.

-Que é que tem, filha?

– Tem, mãe, que faz todo o sentido ela ser mulher, e ser minúscula.

– Todo o sentido porque, filha?

-Porque a liberdade das mulheres é assim mesmo, deste tamanhinho, mãe!

-Não diga isso filha! Eu te criei para se sentir livre como o mundo!

-Tá vendo, mãe?! Como o mundo… Desse tiquinho, então…

-Menina!!!

POESIA

Da minha aldeia

por Fernando Pessoa/Alberto Caeiro

Ilustração de Francisco Fonseca

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo…
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura…
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

 

via Norma Venâncio Pires

 

CRÔNICA

SOMOS MARYLIN

por Tuty Osório

Muito  se especula em torno de Marylin Monroe, imposta a ela mesma e ao mundo como símbolo sexual, algo totalmente distante do que sempre quis para si.

 

Obrigada a ser loura e sensual, a menina californiana, nascida de cabelos ruivos, a 1 de junho de 1926, obviamente geminiana, gostaria de ter protagonizado filmes densos, personagens de dramas psicológicos – feito conseguido por Liz Taylor com Gata em Teto de Zinco Quente, Assim Caminha a Humanidade e Quem tem medo de Virgínia Wolf.

 

Marlyn foi aprisionada por sua pobreza, pelo azar das paixões e acabou morta por remédios que talvez nem tenha tomado tão voluntariamente como se tenta fazer crer.

 

Inteligente, amante da leitura mais do que de homens, foi sufocada pelo machismo e pela indústria impediosa de celebridades. Levaram-na à morte e, curiosamente, não a deixam morrer até hoje. Não lhe dão, nem morta, a paz que lhe recusaram em vida.

 

Em edição recente do já tradicional evento beneficente em prol da manutenção do Metropolitan de Nova York – o chamado Met Gala, uma das famosas presentes exibiu, após rasgá-lo para caber nele, o vestido usado por Monroe na festa de aniversário do presidente Kennedy, quando Marylin eternizou um parabéns trôpego pela evidente embriaguês, e mesmo assim não conseguiu ser ridícula – tarefa impossível para a digna diva que foi, desde sempre e será, eternamente.

 

Esses pretensos heróis que, segundo o establishment eu deveria ter aprendido a cultuar, nunca me impressionaram.

 

JF Kennedy, Churchil, Delon. Zeros pra mim. Já Marylin, Diana de Windsor, Bardot e Diniz ( a Leila) sempre me deixaram curiosa e fascinada.

 

Não só pela evidente e desconcertante beleza.  Mas também pela coragem de serem militantes. Sendo tão objetificadas pela sociedade que as escravizou. Ou tentou, porque o que se simboliza pelo sentimento é livre.

 

Está aqui nestas linhas, mais forte que quaisquer versões misóginas dessas mulheres inesquecíveis.

 

TRILHA

 

ASSISTA
Love, Marilyn – HBO

 

NÃO ASSISTA

O Mistério de Marilyn Monroe: Gravações Inéditas – Netflix

 

HISTÓRIAS DE HISTÓRIAS

DE GOYAZ A GOIÁS

por Lia Raposo

“Aos Patrícios,

Corôa de Lyrioseis o singelo título, sob o qual eu vos apresento o meu modesto livrinho.

Aos quinze annos, nessa idade encantadora e poética da existência da mulher, nessa quadra, em que a vida se lhe apresenta, risonha, como as louras madrugadas de Maio, formosa, como um céo de primavera e meiga, como um sorriso de creança; foi então que senti arder em meu coração infantil, a primeira scentelha do amor. Mas ai!…a fatalidade destruiu, de um só golpe, os belos ideaes e os róseos castelos que edifiquei.”

 

In LAVRA DOS GOIASES III, por Leodegária de Jesus, organizado por Darcy França Denófrio, Goiânia, 2001.

 

Chega às nossas mãos, via Norma Venâncio Pires, Leitora e Apoiadora do Domingo à NOITE, desde a primeira hora, uma preciosidade da literatura produzida fora dos grandes centros, ainda no século XIX, cuidadosamente editada no novo milênio por mãos cuidadosas.

 

Darcy resgata Leodegária, primeira mulher a publicar um livro em Goiás, nos primeiros anos do século XX, falando de amor e de desalento, quando a autora era ainda uma adolescente.

 

Vale muito garimpar esta obra rara via redes sociais da editora e relacionar-se com os vestígios do tempo- outras palavras, formas diversas, mesmas tormentas.

 

TRILHA

Instagran:@livrarialeodegária

Email: livrarialeodegaria@gmail.com

Facebook/livrarialeodegaria

 

 

 

*Lia Raposo dedica-se a Estudos da Cultura, é redatora de Projetos Culturais, Produtora de Conteúdo e jornalista. Tem 33 anos de muitas dúvidas, algumas certezas e esboços de ousadia. 

REPORTAGEM ENSAIO

LUZ PARA GATTAI

por Miguel Boaventura

foto: Celso Oliveira

Veio abril, veio maio, corre maio e junho é que corre atrás dele.

 

Se passar da data, parece passar da hora. Continua valendo que a hora é a gente quem faz? Nós, os revolucionários para os quais parece só ter restado a alma?

 

É certo que nunca tivemos uma sociedade verdadeiramente comunista para a sabermos e dali experimentarmos as novas contradições.

 

Por enquanto, sabemos das contradições do sistema capitalista fracassado e, apesar disso, não derrotado, permanecido em pé qual monstro das Tormentas, não transformado em Boa Esperança, despedaçando o mundo, um sem noção, nem piedade.

 

Dizem-nos filósofos que o fim da História não existiu de fato.

 

O caos da crise leva-nos, pelo contrário, ao início, à construção da nova sociedade com justiça, liberdade, satisfação, sem as contradições que sustentam e simultaneamente causam as rupturas do capitalismo.

 

Precisamos da revolução que nos é negada, declarada impossível, no momento, em que as condições adequadas se apresentam, inequivocamente.

 

Não é por acaso que nos negam.

 

A crise climática força a barra e abarca todos os campos – econômico, moral, social, cultural.

 

Sendo que a cultura, como nos sugere Chauí, é o nosso ser enquanto existentes produtores de vida – e de história verdadeira, a história que não finda e eternamente recomeça, afirmo eu.

 

Diz-nos também, Chauí, na leitura sua da História Marxiana, que a revolução é feita por revoluções. Não se trata, apenas, de mexer no modo de produção.

 

Temos que enfrentar os nossos fantasmas, promover a hiper consciência da resultante de nossa formação, a violência que nos constitui e nos aprisiona.

 

O abraço a uma democracia que não cessa de criar direitos, ao invés de os extinguir, factual e simbolicamente.

 

Qual timoneiro, timoneira, tomará o leme, não importa. Tomará por nossas mãos, porque ali ao leme será mais.

 

Será a vontade de um povo que quer o mar que ora se ensanguenta na insanidade dos monstrengos descerebrados.

 

 

*Com dupla residência entre Lisboa e Brasília, Miguel Boaventura é arquiteto urbanista e escreve por vocação e obrigação. Pessimista por consciência, luta para resgatar a esperança, a cada indignação.

MÚSICA

Do you remeber

por Ane Brun

Ane Brun é uma cantora e compositora norueguesa de origem Sámi.

O povo Sámi é uma nação indígena nativa da Lapónia, que abrange parte da região norte da Noruega, Suécia, Finlândia, e a maior parte da península de Kola, na Rússia. Eles tem como idiomas nativos as línguas Sámi, consideradas ameaçadas de extinção pela UNESCO.

Sr. Coronel

por Selvagens À Procura de Lei

Você não teve muito tempo
Para pensar em contratempos
A não ser aquele problema do coração
E agora você toma remédio pra pressão
E o mundo que você construía
Ruiu na água fria
E quando você diz que nada é mais o mesmo sob o céu
Você mente, sr. Coronel
Você é muito bem letrado
Leu livros e tratados
Dançou a valsa dos coroados
Teve amigos influentes no magistrado
Já rodou os quatro cantos da terra
Mas hoje vive no escuro de uma caverna
Porque lá é o seu lugar
Lá é o seu quartel
Não é mesmo?
Sr. Coronel
Você era do tipo que acreditava
Em cada sílaba das palavras
Acenava as mãos e mostrava os dentes
Para bispos e presidentes
Mas até a bíblia sagrada
Esconde as próprias navalhas
E se a vida é uma noiva
Então a sua está sem véu
Não é mesmo?
Sr. Coronel
Você volta com pressa
Limpa com o lenço o suor da testa
E se tranca porque sente medo
Daquele repetido pesadelo
Do mostro que saiu da sua casca
E enquanto você olha a vida passar pela vidraça
É quando você se toca de que nesse carrossel
Você está só
Sr. Coronel

APOIO ECOLOGIA
SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS

FLORES DE MAIO

por Mila Marques

Esta semana foi de comemorações. Primeira semana de Maio, três aniversariantes na família, sempre motiva reunião, bolinho com velas, presentinhos.

 

Colocando uma sombra na alegria, estão familiares e amigos partindo, ou muito perto disso.                                   

 

São tantos sentimentos que afloram, que por vezes gera confusão e aperto no nosso coração, apesar da vontade de ficar bem seja grande. nunca existe o sempre bem, nem o sempre mal…

 

Temos que ter habilidade para superar os momentos difíceis e valorizar os mais felizes. Por vezes é preciso dar uma incrementada na vida

 

Então, podemos comprar flores coloridas e espalhar pela casa, ou bater um bolo e sentir o cheiro dele assando no forno, ao mesmo tempo preparamos um cafezinho para tomar com ele ainda quente, ou simplesmente, após um banho morno, passar uma colônia lavanda cheirosa e assim começar o dia ou terminar com aquela gratidão por tudo que se tem ou não tem.

 

Com coisas simples podemos sim, incrementar a vida e iludir os problemas.          

 

Agradecer por mais um dia, mais uma noite, mais um trabalho, enfim tanta coisa, desde que saibamos apreciar tudo com o devido merecimento.

 

Por vezes é bem difícil, eu sei. Mas… É caminhando que se faz o caminho!!!                     

 

E assim chegamos a mais uma comemoração: Dia das Mães! Somos quatro no nosso pequeno clã: Eu, minha nora e minhas duas filhas.

 

Como sou grata por isso, porque ao se tornarem mães, me fizeram avó de cinco preciosas netas que são a minha maior herança!

 

Não esqueçamos a nossa Mãe Modelo, Nossa Mãe do Céu que sempre nos abençoa, protege e cuida de nós com todo o desvelo.

Acabei de assistir a uma Missa em que o celebrante disse que nós,

 

Mães, somos como o Bom Pastor na Terra: cuidamos, conduzimos e amamos incondicionalmente! Que assim seja!

 

Feliz Dia das Mães para todas nós!

Um beijão

*Mila Marques, 82 anos, é dona de casa, mãe, avó, artesã das linhas e das letras, leitora aplicada, portuguesa, brasileira, viúva e Sapiente demais. Mora em Fortaleza, a algumas quadras do mar, entre plantas, objetos e muitos, muitos afetos.

CURADORIAS

DEVAGAR, PORQUE HÁ PRESSA

por Tuty Osório

foto: Celso Oliveira

De Elimar Nascimento sou fã. Camarada de Edgar Morin, não há que concordar ou discordar de suas ideias. Tudo o que pensa, escreve e diz, merece atenção e respeito.

 

Impossível não aprender na troca de ideias com ele. Já vai tarde falar deste livro, lançado dias antes da oficialidade da Pandemia, do confinamento, do apocalipse coletivo e particular que nos invadiu.

 

Os artigos começam a ser produzidos em 1990, vão até 2010 e contam com um próximo à publicação.

 

Nesse sentido são proféticos e não perderam a atualidade, nem por uma linha. Reconstituem a História, intuindo o que estava por vir.

 

Colocam-nos nos trilhos dramáticos do trem desgovernado, porém, com manual mínimo de instruções. Não exatamente um manual, mas um tipo de compêndio de reflexões e possibilidades.

 

Leitura acessível para não iniciados, bem como erudita o suficiente para incluir os mais versados nos meandros da sustentabilidade, jamais leviana, nunca pesada, a prosa de Elimar é um guia para quem deseja um mundo melhor.

 

Um pouco, ou bastante, como Gramsci, o autor tem o pessimismo da razão e o otimismo da vontade. Tão urgentes. Tão necessários.

 

“As incertezas rodeiam e tecem o contexto e a trajetória da vida dos humanos, sobretudo na sociedade moderna, em que o movimento é uma de suas características marcantes. Fenômeno agravado, nos últimos anos, pela velocidade que as mudanças tecnológicas e sociais ganharam.

 

Assim, os riscos cresceram: de convulsões sociais, de epidemias, de desaceleração econômica desastrosa, de nova guerra nuclear, entre outros. Os mais graves desses riscos têm três leitos que organizam este livro.

 

O primeiro reside na crise ambiental, com o crescimento de seus impactos negativos, como o aumento dos eventos climáticos críticos.

 

 O segundo encontra-se na ruptura do princípio da igualdade, que alimentou uma das melhores invenções humanas, a democracia.

 

O terceiro está nos efeitos possíveis da aceleração das inovações tecnológicas sobre a vida social, com aumento das desigualdades mundiais e intranacionais e a formação de uma nova exclusão social.

 

(…)

 

Como conquistar a sustentabilidade e evitar o desastre ambiental?

 

Como reinventar a democracia, atribuindo-lhe capacidade de atender às demandas imediatas dos humanos, articuladamente às medidas para garantir o seu futuro?

Como evitar a nova exclusão social que ameaça nos dividir em duas espécies, com a criação de um grupo de humanos economicamente desnecessários, socialmente vistos como perigosos, e politicamente incômodos, pois discordantes da elite?

 

O livro aborda estes temas na esperança de criar uma alternativa, na crença de que tendência não é destino.

 

E este, encontra-se em nossas mãos, em nossos processos decisórios do dia a dia.” 

 

In UM MUNDO DE RISCOS E DESAFIOSConquistar a sustentabilidade, reinventar a democracia e eliminar a nova exclusão social, por Elimar Pinheiro do Nascimento, Brasília, 2020 (à venda na Amazon)

BACHIANAS E COMPANHIA

TOCAIA FELIZ

por Sérgio Pires

Carona.

Substantivo feminino.

  • 1. transporte gratuito em qualquer veículo; bigu, boleia.

Transcorria a tumultuada década de 80 do século passado quando fui escalado para realizar uma missão na agência do Banco, onde trabalhei por 32 anos, na atual Colinas do Tocantins, que era a mesma Colinas, só que ainda “de Goiás”. E foi lá que se passou este meu fato acontecido.

Inocente, puro e besta perguntei ao meu chefe se havia voos para a região, ele me esclareceu com delicadeza que Goiás estava logo ali e que eu poderia ir de ônibus mesmo. Depois descobri que de Brasília a Colinas eram 1.036,9 km pela BR 153. Quase o mesmo que ir para o Rio de Janeiro.

Eu e os meus colegas de trabalho viajávamos muito para pequenas cidades do interior de estados do centro-oeste, norte e Maranhão, a nossa jurisdição.

Antes de viajar as nossas preocupações eram básicas, do tipo: como se chega lá? Pega barco? Tem onde se hospedar? Comida? Água, telefone e luz?

Colinas de Goiás tinha tudo! Tudo mais ou menos. Telefones eram duas linhas, uma na prefeitura e outra no Banco.

Os hotéis também eram só dois. Optamos pelo ruinzimho, é que o outro era muito ruim.

Perceberam o plural em optamos? É que já havia encontrado o meu parceiro nesta missão, que tinha vindo diretamente da Unidade de São Paulo. Devia ter aprontado alguma com o chefe.

E o cara era fino. Muito elegante! Só usava camisas de seda. É, já foi moda. Lembro que tive umas duas que mal saíam do armário. Quanto mais para viajarem com destino ao interior de Goiás. Qual a preocupação particular do colega? Quem lavaria e passaria as suas camisas de seda.

Mas, sabem as preocupações básicas? Se tinha uma que me deixava realmente preocupado era quando para darem a localização da cidade começavam a explicar de onde ela era perto: Sabe Tupiratã? É depois! Mas é antes de Bom Princípio!

E a maior referência para Colinas era Araguarina. No primeiro final de semana fomos para uma festa lá. No retorno, na entrada de Colinas, tinha um rio, e a cena era inusitada. De cima para baixo, na direção da corrente, um cara lavava um cavalo, logo em seguida crianças tomavam banho com sabonetes esfregando bem todas as partes e mais abaixo um grupo de lavadeiras espancava as roupas nas pedras. Meu colega gemeu fundo acreditando que tinha reconhecido uma das suas camisas de seda sofrendo aquela tortura.

Mas não falei da luz. A energia da cidade provinha de um gerador, e, para economizar o diesel, ele era desligado às 22h em ponto. Assim, de súbito tudo virava um breu e silêncio.

O silêncio ia aos poucos sendo preenchido por sons antes não percebidos de insetos, sapos e de carros distantes. Já para o breu restavam velas, lampiões e lanternas. Sim, o Banco tinha um gerador próprio e durante as noites suas janelas ficavam iluminadas como um farol de aviso aos navegantes.

Não havia a opção de onde fazer as refeições, apenas uma pensão as servia. Não ficava longe do nosso hotel, mas também não era pertinho.

Numa noite em que precisamos trabalhar até mais tarde fomos os últimos a terminar o jantar. Saímos da pensão, atravessamos a rua vazia de carros e quando fomos subir na calçada, com um pé ainda no ar….. Vinte e duas horas! Pufff! Breu total! Tive até um desequilíbrio. Uma sensação de cegueira repentina! Como vamos voltar para o hotel?

Uma voz surge da escuridão: Vocês estão indo para o hotel? Concordamos. Aceitam uma carona! E acendeu sua lanterna. O facho de luz revelava apenas onde seria o nosso próximo passo e fomos na sua marcação. Em momento algum vimos o rosto do benfeitor que nos proporcionou esta carona iluminada.


* Aposentado como bancário e praticante de karatê e Sommelier na ativa, integrante da ABS-DF, Sérgio Pires é escritor e desenhista, poeta da prosa e exímio contador de histórias. Mora em Brasília com Lili, sua companheira linda e maravilhosa, aposentada da Embrapa, cozinheira, apaixonada pela alegria.

 

TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

desenho por Manuela Marques/Roteiro por Tuty Osório
CENAS DOS PRÓXIMOS DOMINGOS

LÍNGUA PORTUGUESA, CULTURA EM MOVIMENTO, POLÍTICA O QUE É E PARA QUE SERVE, EXÚ E O CARNAVAL QUE É

Calma, calma, calma. Vamos abordar esses assuntos. Não nos esquecemos. É porque é tanta coisa clamando, bradando, machucando, que o espaço, mesmo sendo virtual, escasseou esta semana. Mas domingo que vem é sem falta, sem lacuna, sem vacilo. Promessa prometida!

APOIO SUSTENTABILIDADE
HISTÓRIAS DE STERI 10

BONS RASTROS

Por Brigitte Bordalo*

Já não divido mais quarto de hotel.

 

Nem com marido que nem tenho mais. Com namorado pelas horas necessárias. Dormir junto, jamais! Tudo bem, aceito o pito, estou ficando chata.

 

Mas com filha divido.

 

E sempre cuidadosa de não incomodar, nem filha, ando com meu STERI 10 sempre. Constipação intestinal, laxante, um só banheiro, tudo explicado que os detalhes são de mau gosto…

 

STERI 10 agindo, nem vestígios da passagem da mãe pelo único banheiro do double basic.

 

Claro que me entendem!

 

*Brigitte é microempresária da gastronomia e da cultura.

CREPÚSCULO

O BÊBADO E A EQUILIBRISTA

No mundo inteiro dito civilizado a produção e o consumo, de CULTURA,  são regidos por políticas públicas. Simples como isso. Sem mimimimi como gostam de dizer certos errados, com a caneta, provisoriamente, na mão. Assim é nos países da Europa do Norte – Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Islândia, Irlanda, Inglaterra. Na Alemanha, França, Holanda, Bélgica e Luxemburgo. Na Grécia, Itália, Espanha e Portugal, os latinos e ibéricos considerados europeus de segunda linha, às vezes por eles próprios e, também, por vezes, pelos europeus auto referenciados como de primeira. E pasmem, SIM, nos Estados Unidos da América, Hollywood incluída. Além disso, as elites financeiras desses lugares, os ricos, enfim, patrocinam a CULTURA orgulhosamente – via leis de incentivo, chás e orgias beneficentes, espontaneamente ou por pressão. O chique por aquelas bandas é ter participação em quadros, livros, peças, filmes, balés, extra ou intra edifícios, e é cafona ficar de fora. Sobre os outros países, que não citei, conheço menos, mas vou investigar para compartilhar aqui. Considerar que CULTURA não é de interesse público é de uma cretinice sem fim. E tira pão da boca de muito cidadão trabalhador. O material e o espiritual. FALA MUITO SÉRIO!!!

Obrigada por estarem com a gente até aqui.

Tuty e Trupe

SALVÉ ALDIR BLANC! SALVÉ PAULO GUSTAVO!

APOIO LUXUOSO

Em breve, bistrô saltimbanco