Edição N. 52 - 03/07/2022
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Edição Geral: Tuty Osório

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório,  Jô de Paula, Sérgio Pires, Francisco Bento, Renato Lui, Marta Viana, Alim Amina, Lia Raposo, Yvonne Miller, Elimar Pinheiro,

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Fernando Carvalho

Edição de Fotografia: Manuela Marques 

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders, Alice Bittencourt.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai.

Música: Maurício Venâncio Pires, Alex Silva, Caio Magalhães, Manuela Marques

 

 
ALVORADA

NÃO CONSENTIRÁS

foto: Celso Oliveira

A cabeça parece vazia por dentro. Pela primeira vez não sei o que escrever para abrir esta pequena viagem ao redor de letras, sons, imagens. Na semana em que denunciaram os horrores praticados contra funcionárias e funcionários de uma imensa empresa pública, com quase dois séculos de existência, referência de segurança, cultura, proteção social, acesso a moradia, por anos e anos – estou desnorteada, sem palavras. Ao mesmo tempo que louvo a coragem de quem denunciou, fico estarrecida diante do fato desse horror ter durado tanto, com coniventes, omissos e cúmplices. Há muitas coisas que não são relativas. São crimes e ponto. E quem os comete não tem divergências ideológicas conosco. É abjeto e ponto. Assim como quem insiste em não ver que o que aconteceu não foi um acidente. É fruto de uma crença abominável. Por isso que não dá para achar graça de misoginia, machismo, desrespeito lançado como chiste e espontaneidade. A indignação é indispensável para que se pare de banalizar mortes, assédios, monstruosidades como componentes da vida normal. Não da minha vida. Digo não e sei que há muita gente que diz não, junto comigo. Não, não estamos sós.

 

Começa agora mais um Domingo à NOITE em 2022! 

BRUNO E DOM

O ESTADO SOMOS NÓS

via G1

Vladimir Safatle, filósofo, escritor, professor e talvez candidato a deputado federal, diz em entrevista recente que se não houvesse Dom junto com Bruno o que aconteceu passaria desapercebido aos olhos do Brasil e do mundo. Seria mais uma morte em consequência do conflito. A presença do jornalista inglês na tragédia tingiu de cores berrantes o que não passaria de mais um caído numa luta distante.

 

Vladimir tem razão. Temos que estar mais atentos e fortes. Deixar claro de que lado estamos e gritar em alto e bom som que não aceitamos o extermínio das matas, das gentes das matas, lá na floresta e na cidade onde operações de pretenso combate ao tráfico matam para dar o exemplo, para intimidar, para fingir que se faz alguma coisa. Safatle fala do Estado brasileiro como protagonista da violência contra os seus. E da normalização dessa violência, aceita pela sociedade como necessária.

 

Youtubers como Jones Manoel e Rita Von Hunty conclamam a que nos juntemos em COLETIVOS que nos fortaleçam pela compreensão e pela ação. Relembram que a terra já foi COMUM, pertencia a todos e tinha função de abrigar o alimento compartilhado. Precisamos consultar essa ancestralidade e derrubar os mitos de que a igualdade é inimiga do mérito. Não há mérito se uns pisam e eliminam outros.

CONTO

BOCA DAS MANHÃS

por Tuty Osório

por Manuela Marques

– Mãe, você gosta de ser mulher?

-Ô perguntinha! Sei lá, filha! Gosto, eu acho, nunca pensei nisso…

-Mas você contou que ficou feliz por eu ser mulher. Quando fez a ultrassonografia.

– Fiquei mesmo, filha. Na verdade, gosto. Mas não tenho essa coisa de…Sei lá, tenho até medo de falar e ser mal interpretada. Quero dizer que estou à vontade sendo mulher e gosto bastante. Mas não é uma guerra, entende? Apesar de eu achar que há muito para lutar, sendo mulher. Por que a pergunta? Você está desconfortável com alguma coisa?

-A gente sempre está um pouco, sendo mulher, né mãe?

-É. São muitas ameaças. E é preciso parar de cair nessas armadilhas. Tem que partir logo pro pau e mostrar as garras! Entende filha? Não tem negociação quando se trata de dignidade. Já basta as pobres meninas e, mesmo mulheres, que não têm como atacar!

– Fico meio mal quando vejo o tanto de mulheres que ainda sofrem violência, moral, física, e que se sentem acuadas. É como se viesse junto uma vulnerabilidade, quando a gente nasce mulher, mãe…

– Eu sei filha. Mas tem que transformar essa vulnerabilidade em força. Avançou o sinal grita, bate, denuncia, arma barraco! Melhor ser perseguida por reagir que ser oprimida.

 -E você ainda diz que não é uma guerra, mãe!

-Eu falo besteira, também, filha. Não sou perfeita. É uma guerra, sim! Às vezes dá um cansaço, mas eu tenho muita convicção de que não podemos nos submeter. Nem à violência, nem à condescendência.

-Endurecer sem perder a ternura é possível, mãe?

-É muito difícil, filha. A gente vai virando pedra por dentro, ficando agressiva, reativa, tendo que ouvir que nossa resistência nos subtrai a feminilidade, seja lá o que isso significa… Eu entendo, mais ou menos, de ser gente. Acho que mais pra mais, que pra menos. E gente, gente bicho, gente natureza, gente intelecto, criação, arte, vai ter sempre ternura pra nutrir.  

-Obrigada mamãe.

-Eu que sou grata, filha. Por você me lembrar quem eu sou.

ENCONTROS

O Nordeste e Brasília nas lentes de Vladimir Carvalho

Neste programa da República Popular das Letras, o jornalista Antônio Carlos Queiroz (ACQ) conversa com Vladimir Carvalho, um dos maiores documentaristas do Brasil, diretor de O País de São Saruê; Conterrâneos Velhos de Guerra; Barra 68 – Sem Perder a Ternura; Rock Brasília – Era de Ouro; Cícero Dias, Compadre de Picasso; e o Evangelho Segundo Teotônio, entre outras obras-primas do cinema-documentário nacional.

No ar o podcast da República Popular das Letras com o bate-papo do jornalista Antônio Carlos Queiroz (ACQ) com o professor Cristiano Paixão sobre Direito & Literatura. Paixão é da pós-graduação do Direito na UnB, especialista em Constituição & Democracia e em Direitos Humanos, subprocurador-geral do Trabalho, e bardólatra, quer dizer, apaixonado pelo Shakespeare.
#literatura #literaturabrasileira #Shakespeare

O BEM VIVER

PARTILHAS POLÍTICAS

por Camilla Osório de Castro

via http://www.papacapim.org

“Escutei muito David Bowie com companheiro Diego, enquanto cozinhávamos juntos. E quando não tinha música por perto a gente cantava. Durante a colheita de azeitonas eu cantava, de cima de uma oliveira, “Turn and face the strange…” e ele, de cima de outra oliveira, respondia “Ch-ch-changes”. Os palestinos donos das oliveiras ainda estão se recuperando desse concerto não desejado.”

 

Vegana, anarquista, lésbica, cozinheira, escritora…Sandra Guimarães não é resumível. O trecho que destaquei acima compõe seu texto chamado “ Sobre a Humanidade” onde relata a experiência de guiar o “Tour Político na Palestina”. Atualmente residente em Paris, onde também realiza um tour político com turistas, Sandra residia em 2015 na Palestina e tinha como objetivo no tour mostrar aos visitantes as violações dos direitos do povo palestino praticadas pelo Estado de Israel.

 

O texto “Sobre a Humanidade”, revela também o olhar delicado de Sandra sobre as miudezas afetivas do cotidiano e do encontro com o outro, bem como o poder quase mágico da comida em nossas vidas.

 

Em seu blog “Papacapim” ela escreve sobre veganismo popular, luta anticapitalista e também compartilha receitas veganas sob uma perspectiva emancipatória. Por emancipatória quero dizer uma perspectiva que privilegia a autonomia do sujeito que cozinha.

 

A aba “receitas” é dividida em várias tags como por exemplo “café da manhã e lanches”, “entradas e acompanhamentos”, “sopas”, etc. No entanto, a tag que mais exemplifica a proposta emancipatória das receitas de Sandra é a “como preparar” em que ela ensina a lógica por trás de receitas básicas para a cozinha do dia-a-dia.

 

Tomemos como exemplo o “como preparar feijão”. Sandra discorre ali sobre o significado do feijão em sua vida e dá a receita do feijão de sua mãe, carregado de valor nutricional mas também de memória afetiva. Sobre o feijão Sandra também esclarece a sua importância para alcançar a quantidade diária de proteínas em uma alimentação vegana, bem como o seu papel, enquanto leguminosa, na composição de um prato que promova saciedade. Deste modo saímos do texto com uma compreensão complexa acerca do feijão e somos convidados a acessar inclusive nossas próprias memórias com seu sabor; bem como a nos livrarmos do medo de prepará-lo, muito comum a quem não tem o hábito de utilizar a panela de pressão.

 

O blog Papacapim é um convite a pensar na alimentação com consciência, autonomia e propósito. Porque a cozinha nos traz afeto e também poder sobre nosso corpo, nossa saúde e nossa cultura. Pode ser uma pequena, mas verdadeira, revolução.

TRILHA

Para conhecer o trabalho de Sandra Guimarães acesse: http://www.papacapim.org/

 

* Camilla Osório de Castro é cineasta e produtora cultural.  Pesquisa o Bem Viver. Mora no mundo, entre cidades. Acredita que sonho que se sonha junto é realidade.

MÚSICA

Alucinação

por Belchior

Divina Comédia Humana

por Belchior

ACQ

por Antônio Carlos Queiroz

Toda dor se suporta
medidamente –
Não é dor
se extrapola,
mas anestesia –
Dor é assunto
dos seres vivos,
não dos defuntos,
para quem aspirina
não tem mais serventia –

ACQ 2/07/2022

REPORTAGEM ENSAIO

BOA EDUCAÇÃO

por Miguel Boaventura

foto: Celso Oliveira

A ESCOLA já foi compreendida como lugar de acolhimento, proteção e novidade. Políticas Públicas apostaram nesse espaço como presente e futuro, modificando, definitivamente, um passado de precariedade e opressão. Quando vemos as escolas de hoje, no mundo inteiro, constatamos que não aprendemos mesmo nada.

 

Adolescentes e crianças em depressão, violência física e simbólica, Estar longe da escola significa alívio e proteção. O Bullying, nomeação da tortura autorizada, sempre existiu. O que choca é persistir e vencer todos os rounds, em pleno século XXI. Diretores, professores, pais e mães, psicólogos, psiquiatras, a maioria sem saber como seguir.

 

Debates repetidos e longos põem culpa na tela, na tecnologia, na internet, no smart phone. Um amigo que não faz leituras comuns das realidades, dizia-me há 10 anos que o celular viraria uma extensão do nosso corpo, que todos seríamos Cyborgs, e que isso não é necessariamente ruim. Diante desse tempo já concretizado, concordo com ele.

 

Não são as telas que deprimem, que alienam. É a crueldade, o egoísmo, o desamor a humanidade triturada pela ausência de sentido. Como não se anestesiar de um mundo que persegue, intimida, encurrala em becos e poços sem luz? A ESCOLA pode salvar sim. Se tratada como o lugar do novo pacto, da restauração das alianças pela vida.

 

Convido à transformação dos prédios, currículos e corridas de obstáculos nas quais uns vão descalços, outros sobre esporas, em lugares de conciliação. Uma imensa rede onde se transmita conhecimentos, faça-se arte, cuide-se da saúde. Um ponto de encontro nas comunidades, um templo sagrado para nutrição do corpo e da alma.

 

Ocupemos as escolas em união. Não permitamos que se corrompa definitivamente esse caminho que nos fortalece. Sejamos os ombros de Hércules suspendendo, juntos, o mundo de nós para nós.

 

*Com dupla residência entre Lisboa e Brasília, Miguel Boaventura é arquiteto urbanista e escreve por vocação e obrigação. Pessimista por consciência, luta para resgatar a esperança, a cada indignação.

HISTÓRIAS DE HISTÓRIAS

MEMÓRIA DA MEMÓRIA

por Lia Raposo

Projeto Machado de Assis Real/Wikimedia Commons

“Há frases assim felizes. Nascem modestamente, como a gente pobre; quando menos pensam estão governando o mundo, à semelhança das ideias. As próprias ideias nem sempre conservam o nome do pai; muitas aparecem órfãs, nascidas de nada e de ninguém. Cada um pega delas, verte-as como pode, e vai leva-las à feira, onde todos as têm como suas.”

In ESAÚ E JACÓ por Machado de Assis, citado em MACHADO DE ASSIS AFRODESCENDENTE, por Eduardo de Assis Duarte, Pallas e Crisálida, 2009

 

O livro propõe-se a resgatar um Machado de Assis pouco conhecido, consciente do horror da escravidão e denunciante, através de ironias e metáforas, do sequestro de dignidade que essa atrocidade denotou e conotou.  Faz mais que isso. Revela-nos o cronista incrível que Machado foi, fosse qual fosse o gênero no qual escrevia. Artigos, colunas, novelas em capítulos, são todas um retrato bem focado de seu tempo, registros implacáveis de uma elite que subordinava a maioria, sem ligar para o edifício doente que teimava em erguer.

 

E cá estamos nós. Com Morros da Providência tornados exatamente no que anunciavam no século XIX, início do XX. Machado corta feito faca a carne da gente, com suas linhas perfeitas, exibidoras do torto presente que se encaminhava para cá. Quem o considera um chato e o reduz ao drama inventado por Bentinho, perseguidor de Capitu para fugir de si mesmo, perde por não ler. Por não se mirar no espelho límpido a nos mostrar no que nos tornamos.

 

Gratidão Machado! Contigo podemos ter pistas para responder a Tuty Osório onde está o nosso coração.

 

*Lia Raposo dedica-se a Estudos da Cultura, é redatora de Projetos Culturais, Produtora de Conteúdo e jornalista. Tem 33 anos de muitas dúvidas, algumas certezas e esboços de ousadia. 

SABEDORIAS E SAPIÊNCIAS

O CAMINHO DE EMILSE

Por Tuty Osório

Alda Maria acervo pessoal

Norminha, amiga, leitora e apoiadora de primeira hora deste Domingo à NOITE, vira e mexe participa dos textos. Outras amigas e amigos também. Tenho sorte de tê-las e tê-los em qualidade e quantidade. Muito diferentes entre si, e até mesmo de mim, são um jardim que cuido com muita atenção e dedicação. A amizade é SENHORA SOBERANA nos meus dias e devo muito a essas pessoas que me ensinam, gostam de aprender, amam e não passam incólumes pela magia de viver.

Aconteceu que Norminha avisou a Flavinha que bobeou com uma história perto de mim, já pego para contar. E tenho contado muitas bobeadas lindamente por ambas.

Esta semana, outra amiga, também leitora e apoiadora do Domingo À NOITE, Aldinha, postou no Face e no Instagram uma beleza de história que logo pedi emprestada. Generosa como é, Alda concedeu e aqui vai essa brisa de afeto, para nos resgatar da angústia destes tempos.

Aldinha contou do dia, do ano de 1995, em que sua filha Mariana saiu pela primeira vez para tirar uma foto 3×4 destinada à carteira do vovô materno Zé Guilherme, que as colecionava em abas de carinho. Mariana vestia um macacãozinho que abriga em 2022 o bebê Maria Fernanda, sobrinha neta de Alda, no primeiro passeio com a avó, Elaine.

E justifica: “Aprendemos com a mamãe, @emilsebarrosdeoliveira a valorizar as coisas pelas suas histórias.” Concluindo: “Memórias afetivas, sou feita delas”. A roupinha que atravessou 27 anos para habitar a primeira bisneta, filha da primeira neta, mensageira daquele aperto bom que aquece o coração dos adultos em festa com essa chegada.

O que Alda nos conta é da remissão imediata ao amor pela memória. Tal qual a madeleine mergulhada no chá de Marcel Proust, cujo gosto trazia de volta o tempo julgado perdido, a visão do macacãozinho vestindo a recém chegada anuncia sinos dourados no novo tempo resgatado, tornando o pano mais que matéria, fazendo-o histórico e poderoso pelo afeto que conduz.

Poderiam ser apenas fotos, apenas bebês, apenas roupinhas. Porém, não existe APENAS quando são grandes as almas. E vale o significado, o aperto firme das mãozinhas que seguram nosso dedo, dizendo que vale muito estar aqui.   

TRILHA

EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO, por Marcel Proust, em tradução recente de Rosa Freire e Mário Conti para Companhia das Letras
LÉXICO FAMILIAR, por Natália Ginzburg, Companhia das Letras

BACHIANAS E COMPANHIA

Como o sorvete acendeu o rastilho do movimento de liberação feminina no Brasil

por Sérgio Pires

 

No ano de 1834, no Rio de Janeiro, nem a iluminação das ruas com lampiões já havia sido completada. D. Pedro II ainda não exercia o comando do Império, que neste ano passaria de uma Regência Trina para a de um único Regente.

 

Mas o calor dos verões cariocas já estava lá e o empreendedor e comerciante Lourenço Fallas resolveu oferecer aos seus clientes um produto que eles não conheciam e nem sabiam que precisavam muito, o refrescante e gelado sorvete.

 

Assim, em 23 de agosto de 1834,  inaugurou duas lojas, as primeiras sorveterias do país, uma no Largo do Paço e a outra na Rua do Ouvidor .

 

As máquinas de fazer gelo ainda não haviam sido inventadas, produzir sorvete não seria uma atividade simples. O gelo tinha de ser importado e a primeira carga, de 217 toneladas, veio de Boston, EUA, a bordo do navio Madagascar.

 

Nas sorveterias os blocos de gelo eram conservados cobertos por serragem nas chamadas casas de gelo, depósitos subterrâneos  que permitiam sua preservação por de 4 a 5 meses.

 

Não consegui confirmar, mas acredito que o sorvete na época era uma raspadinha de gelo acrescida do suco das nossas frutas tropicais, sendo que o sorvete de pitanga era o preferido do Imperador

Mas não havia como conservar o sorvete gelado depois de pronto, assim o seu consumo deveria ser imediato. Para que isso fosse possível as sorveterias anunciavam a hora certa em que ele seria servido.

 

Um efeito colateral totalmente inesperado foi que as mulheres, para quem tudo era proibido, inclusive frequentar os cafés e confeitarias, passaram a ir juntas nas sorveterias para provarem a deliciosa novidade.

 

Desta forma, para tomar sorvete as mulheres somaram suas forças e praticaram um dos primeiros atos de rebeldia contra a estrutura social vigente, e talvez, até sem saber, iniciaram o movimento brasileiro para a liberação feminina.

 

* Aposentado como bancário e praticante de karatê e Sommelier na ativa, integrante da ABS-DF, Sérgio Pires é escritor e desenhista, poeta da prosa e exímio contador de histórias. Mora em Brasília com Lili, sua companheira linda e maravilhosa, aposentada da Embrapa, cozinheira, apaixonada pela alegria.

APOIO ECOLOGIA
TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

desenho por Manuela Marques/Roteiro por Tuty Osório
APOIO SUSTENTABILIDADE
HISTÓRIAS DE STERI 10

DESPRENDE OS MEUS PÉZINHOS

Por Brigitte Bordalo*

Minha amiga Amália gosta de sapatos fechados. Mesmo no calor, prefere sapatilhas de lona, couro, o que for, a sandálias. Tem uns pés quase sem calosidades. Em compensação tanto abafamento no calçado traz uns odores aos pisantes.

 

Existem talcos, sprays, loções variadas para aplicar no próprio calçado. Outro dia, na falta por ter esquecido de comprar, Amália experimento o STERI 10 na sapatilha e não é que funcionou mais que a encomenda da intenção?

 

Passou a fazer isso, inclusive quando tem vontade de se descalçar e fica encabulada. Um esguicho dentro do sapato e foi-se o incômodo. Mais uma pra caixa de utilidades do STERI 10. Já, já, ganha do Bom Bril!

*Brigitte é microempresária da gastronomia e da cultura.

CREPÚSCULO

NESSAS FÉRIAS NÃO VAMOS VIAJAR

Quase não cheguei ao final desta semana. Mas o ACQ afirma que não existe dor insuportável e parece que está com ele a razão. Daí começaram a vir rasgos de luz para me salvar. As bebês ligadas por sentidos que curam, a alegria da juventude de Manu, o acolhimento de Camilla, as bençãos de minha mãe sempre vigilante de nosso bem, o poncho rosa que ganhei da Mácita e finalmente usei na primeira tarde fria em Brasília. Saio do elevador do hotel e Eduardo está no corredor, na função de camareiro. Não tem 19 anos, pegou a oportunidade para criar o filho que chegou de surpresa no início do ano. Sorri para mim com simpatia, quase ternura, pergunta se preciso de algo, agradeço emocionada pela força daquele sorriso dispensado sem favor, nem esforço. Fantasio que Mônica cuida do filhinho enquanto ele trabalha no domingo ensolarado da capital fada do cerrado verde empoleirado nas árvores tortinhas. Os Ipês estão próximos e novamente alerta sinto que apesar de tudo, reencontrei meu coração.  

 

Obrigada por estarem com a gente até aqui.

 

Tuty e Trupe

APOIO LUXUOSO

Em breve, bistrô saltimbanco