Edição N. 04 - 08/08/2021
Orquestra

Realização FORA DE SÉRIE percursos culturais.

Textos: Antônio Carlos Queiroz, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques, Miguel Boaventura, Sarah Coelho, Tuty Osório, Ana Karla Dubiela, Jô de Paula, Sérgio Pires.

Fotografia: Celso Oliveira, Camilla Osório de Castro, Manuela Marques.

Projeto Gráfico e Diagramação: Manuela Marques com consultoria de Fernando Brito.

Ilustrações e Quadrinhos: Manuela Marques, Mário Sanders.

Revisão: Camilla Osório de Castro.

Mídias sociais: Beatriz Lustosa.

Desenvolvimento de Site: Raphael Mirai

 
ALVORADA

QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?

Quanto vale um consumidor? O preço da quantidade de coisas que tem capacidade financeira para comprar. Consumidor tem cotação, a depender do produto, do país, da época do ano – se é alta se é baixa, na oscilação da oferta e da procura. E uma ideia, quanto vale? Um sonho? Um talento? Um amigo? Uma vontade? Uma valentia? Uma covardia? Quanto vale aprender, ensinar, criar, fruir? Quanto vale presença, confiança, empatia, generosidade? Esperteza, conhecimento, prudência, previdência, extravagância? Quanto vale liberdade, autonomia, independência, dedicação, doação? Compaixão? Quanto vale a comunhão de caminhos? A vigília de bondade? Quanto vale cada momento da aventura de estar vivo? À vista ou a prazo? Em quantas prestações e com quais juros?

 

NÓS juntos, criadores e leitores, do Domingo à NOITE em 2021

REPORTAGEM ENSAIO

SEJAMOS TODOS PERGUNTA

Por Miguel Boaventura

foto: Celso Oliveira

Voltaram as aulas. Cinquenta por cento da capacidade física, extensivo a todas as faixas etárias, inclusive ensino médio e superior, público e privado. Temerosos, professores, pais e mães, estudantes, todos vacilantes entre a sensação boa de reconquistar um mínimo de sociabilidade e muito medo. São diversos os relatos de crises de pânico nessa volta aguardada, porém, temida.

Os especialistas falam em perdas irrecuperáveis. Quando se trata de crianças, adolescentes, jovens, falar em JAMAIS é praticamente um crime. Além das vidas perdidas diretamente para a Covid-19, o veredito das perdas indiretas, sem volta, sem TALVEZ, condenadas ao NUNCA. Não podemos nos conformar. Estatísticas são colunas e linhas de números que fazem todo o sentido para compreender as realidades, quando bem analisados. E se estiverem a serviço da modificação dessas realidades, seja em que prazo for.

O que acontece com o nosso Sistema Educacional, com a Escola Formal, enfim, e que se agravou com a Pandemia, é uma quebra de CONFIANÇA. Boa ou ruim, permissiva ou autoritária, conservadora ou moderna, a Escola já foi o lugar da segurança, da proteção, do conforto. Podia não ser sempre verdade. Contudo, era esse o seu significado, formador de gerações de seres humanos, ao redor do mundo. De uns anos para cá, a radicalização de um certo tipo de violência, a fragilidade das instituições, a relativização da importância do conhecimento invadiram os pátios, as salas, os laboratórios – maculando um Ícone que, no entanto, é nossa salvação como galáxia. A EDUCAÇÃO. 

Como caminhar para que essa palavra não seja apenas uma retórica? Não há espaço, – sob o risco de um colapso emocional de cada indivíduo e de toda a sociedade, – para despejar conteúdos, cobrar resultados. Numa corrida insana atrás da defasagem consequente do isolamento e da paralisia das atividades para proteção contra o vírus.

Parece que todos os caminhos estão nos apontando, mais uma vez, a trilha dessa saga pela via do AFETO. Tornar a Escola o lugar do lúdico, da fala espontânea, da expressão dos receios para o encontro com o otimismo.

Permitir mais dúvidas que certezas. Acolher. Brincar para se levar, verdadeiramente, a sério.   

 

 

TRILHAS

Segunda Chamada, por Julia Spadaccini, Carla Faour, Jô Bilac,Série,1 temporada, 2019, Elenco: Deborah Bloch, Linn da Quebrada, Thalita Carauta, Silvio Guindane, Hermínia Guedes, Paulo Gorgulho, Globoplay

 

Sociedade dos Poetas Mortos, por Peter Weir, com Robin Williams,  1989

RITOS

ELABORAÇÕES E MAIS

Por Sarah Coelho

fotos: Instagram @tantocelebracoes

“Eu não gosto de pontas soltas”, foi a justificativa que ouvi de uma pessoa que decidiu fazer uma festa de casamento mesmo depois de 11 anos de convivência com o marido, três filhos e um bocado de causos para contar. Para muitos, parecia uma ideia descabida, mas ela estava convicta. Queria reunir afetos e dizer em voz alta: “sim, acredito na força da nossa história”.

 

 Descobri, depois de conhecer dezenas de amores, que há uma força enorme em ocupar essa posição no altar: espinha ereta e coração tranquilo para afirmar que aquela é uma relação que merece aplausos e comemoração.

 

Sensação parecida percebi ao ouvir uma amiga querida que acabara de dar à luz seu primeiro filho, que não pretendia batizar o bebê na igreja, por não ser católica, mas sentia falta de um momento familiar que marcasse a chegada do novo membro ao clã. Um momento que o introduzisse e apresentasse aos familiares mais queridos, e aí ter a chance de receber de volta as melhores energias, os votos mais sinceros para que ele tivesse uma boa passagem pela terra.

 

Na outra extremidade da jornada, também vivi experiências marcantes.

 

A despedida de alguém querido, que se foi para não mais voltar, me apresentou um olhar completamente novo sobre os ritos fúnebres, que auxiliam a alma a dar contorno à experiência avassaladora que é dar adeus a quem amamos.

 

Rituais de passagem servem para isso: dar contorno às mudanças que vivemos ao longo da vida. Apesar do mundo contemporâneo tentar pasteurizar quase todas essas experiências, há algo na alma humana que pede por isso.

 

Não falo de baile, jantar com pompa e circunstância ou rosas. Nada disso é fundamental. Inclusive, conheço pessoas que ritualizam a vida, lindamente, em silêncio.
Contudo, é preciso celebrar, reconhecer a força do que está sendo vivido e do que foi conquistado até ali – seja fazendo uma festa ou uma oração; um brinde com champagne ou com café; sozinho ou rodeado de gente.


Além disso, se engana quem pensa que os ritos se tratam apenas das celebrações propriamente ditas. Afinal de contas, algumas pessoas se casam muito antes da cerimônia, e algumas jamais conseguem realmente sair de casa. Alguns membros da família são enterrados muito antes de expirar, e alguns continuam em volta, assombrando ou abençoando, durante anos, se não gerações. A passagem muitas vezes começa meses antes e termina meses depois da cerimônia. 

 

Cerimônias colocam luz nos fatos, nas mudanças, e põem os membros da família num contato consciente uns com os outros, levando os processos que envolvem a um ponto culminante.

 

Celebremos, pois!

 

TRILHA

Tanto Celebrações, por Sarah Coelho, @Tantocelebracoes

BACHIANAS E COMPANHIA

NÃO VERÁS A SOLIDÃO - Um livro e um vinho

Por Sérgio Pires

Foto: Manuela Marques

Jornais, revistas e sites de venda publicam as listas dos livros mais vendidos, e, para efeito de melhor apresentação dos mais lidos, alguns os dividem em categorias como ficção, não ficção, autoajuda, esoterismo e infantojuvenil.  Sinto a falta de mais classificações como reflexão, meditação, humor, realidade brasileira, de sentimentos profundos e, por que não, de gastronomia e de bebidas.

O vinho está presente na literatura há bem mais de dois milênios e seus poderes para auxiliar no processo criativo da escrita já eram enaltecidos 400 anos antes de Cristo pelo dramaturgo grego Aristófanes, que declarou: “Rápido, traga-me um vaso de vinho, para que eu possa molhar minha mente e dizer algo inteligente.”

Em diversos dos rituais da sociedade como em nascimentos, mortes, aniversários, vitórias, derrotas, formaturas, coroações ou batizados de novas obras, o vinho está presente, qual seria a razão de não estar presente no ritual da leitura, talvez abrindo mais a nossa percepção.

Como seria a harmonização? Os grandes clássicos com vinhos clássicos, um texto leve com um Pinot Noir ou Chardonnay sem passagem por madeira? Um livro de arte teria sua maridagem com um vinho de corte que reflete a personalidade do enólogo. Outro texto mais denso e complexo com um vinho de intensa complexidade. Literatura latino-americana com vinhos latino-americanos e Torto Arado com um vinho vindo do sertão baiano.

Num cantinho da casa, coloque uma confortável poltrona, uma estante com seus livros e vinhos e batize o local de vinhoteca. Com estas duas companhias a solidão nunca estará presente.

TRILHAS

À Mesa com Eça de Queirós,  de Maria Antónia Goes

À Mesa com Proust, de Anne Borrel, Jean-Bernard Naudin, Alain Senderens

O BEM VIVER

SONHO QUE SE SONHA JUNTO

por Camilla Osório de Castro

“ Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade”. Estes dois versos compõem a canção Prelúdio ( Raul Seixas, 1974) e são nela repetidos como um mantra, uma oração. Raul é também conhecido como Maluco Beleza, por conta de outra canção e por conta desse jeito que ele tinha de sonhar alto demais, longe demais. Dentre outras excentricidades, Raul pregava uma sociedade alternativa [ ao capitalismo] e que deveria ser sonhada, e construída, junto, ou seja, coletivamente.

 

Zapeando no instagram hoje pela manhã, vi uma piada que me remeteu ao Prelúdio de Raul e me arrancou um riso esperançoso, além de debochado. A personagem Tina ( página A vida de Tina) ensina três práticas que você mulher branca de classe média alta pode fazer sozinha em casa para ser mais sustentável: substituir o copo descartável pelo seu coletor menstrual, guardar as unhas cortadas para fazer um chocalho e guardar as suas lágrimas para tomar banho. A sátira busca ressaltar o quão ridículo é tentar salvar o mundo só, o quanto a tal atitude individual, e individualista, em prol da “ecologia” serve muito mais para enriquecer empreendedores veganos e aplacar a culpa dos privilegiados do que para causar qualquer impacto real na reversão da destruição da Terra. Além de debochar de Tina, e um pouco de mim mesma ao constatar que ela é, em algum nível, uma sátira a mulheres como eu e a uma certa arrogância daqueles que possuem mais informação e têm, a partir disso, atitudes mais conscientes, eu pude também sentir alívio e esperança por estas atitudes estarem sendo vistas e reconhecidas como risíveis e insuficientes. Há poucos anos era comum ver campanhas de “faça xixi no banho” como uma ferramenta factível para economizar água.

 

Hoje, com uma Pandemia ainda em curso, parecemos caminhar para um consenso de que é necessário sonhar junto para construir junto. Construir uma alternativa de fato renovável para a energia, construir uma economia que demande menos consumo e, consequentemente, produza menos lixo, construir uma alimentação baseada em comida, in natura, e não em ração, ultraprocessados, que também produzirá menos lixo e menos doenças. Nada disso existirá isoladamente. Por hora, é um sonho. Um sonho que eu compartilho com vocês neste domingo para que a gente possa, quem sabe, sonhar junto.

TRILHAS

Discografia de Raul Seixas

A vida de Tina, página do instagram

CONTO

FÁBULAS DOS NOSSOS

Por Tuty Osório

(Para Manuela, fadinha, bruxinha, com quem aprendo todos os dias, novos planos de voo)

foto: Fernando Carvalho

– Mãe, que ser é esse no livro novo que você trouxe?

-Filha, é o quadro da Tarsila? Ou é a Cuca, ou é o da Lagoa com um ser imaginário.

-Imaginário? Como imaginário?

-Imaginário, ué! Que não existe. Quer dizer que existe só na nossa imaginação. Não existe na real, entende?

-E a nossa imaginação não existe? Não é real?

-Menina, para de levar as coisas tão ao pé da letra!

-E letra tem pé? Isso existe? É real?

– Ai, ai. Ai, ai… Vamos deixar essa conversa pra depois que tô cheia de coisa pra resolver. Coisas reais, entende? Pagamentos, transferências… Finanças.

-Mas mãe…

-Sim?

-Você vive dizendo que o mundo financeiro é ficção…Eu escuto você falar no telefone…

-É modo de falar. Lá vem você querendo tudo literal.

-Mãe, entendi!! A Cuca e os seres imaginários da Tarsila são os duendes, os elfos, os gnomos, as bruxas, mas só que brasileiros. Que legal!!

-Então. Não te falei? Não existem de verdade.

-Isso que você se engana, mãe. Existem sim. São seres da floresta. Igual às árvores, pássaros, felinos e répteis. Só que ficam escondidos dos humanos, têm um mundo paralelo mas tão real como este aqui, da nossa conversa, do montão de coisa que você sempre tem pra fazer. Entende?

– Filha, nem sei se é importante entender. Estou confusa…

TRILHAS

O Reino dos Devas e dos Espíritos da Natureza, por Geoffrey Hodson, Editora Pensamento, 1989

O Livro dos Seres Imaginários, por Jorge Luís Borges e Margarita Guerrero, Editora Globo, 1974

Tarsila do Amaral, na internet livros, vídeos, imagens, eternamente

CRÔNICA

ETERNA ESTAÇÃO

Por Tuty Osório

(para os amigos cariocas, morando lá, ou não, que fazem a diferença e são embaixadores dessa cidade linda, patrimônio do Brasil)

A garotinha de grandes olhos ganhou RIO, a animação, de presente de uma tia avó torta e fascinou. Assistiu 300 vezes e fixou. Quero ir ao Rio, quero ir ao Corcovado, quero ver o Rio igual o Blue e a Jade. E era bombardeio direto.

Viajaram sob bombardeio, de fato, em plena greve de policiais em Fortaleza, nos primeiros dias de janeiro de 2012. Escoltadas por dois amigos dirigindo o carro, já que táxi nenhum quis atender a corrida. Cinco horas da manhã, cidade deserta, sob custódia dos grevistas, sob ameaça dos oportunistas. O comando de greve indicou o melhor caminho para o aeroporto.

A mãe, orgulhosa de manter a viagem histórica, educativa, a despeito da greve que encarcerou a população em casa. Achava até chique levar a garotinha pro Rio de Janeiro, em vez de pra Disney, numa idade em que a Disney imperava. Sete aninhos, a garotinha amava a Disney como todas, mas uma Disney RIO. Com música de Sérgio Mendes, designer brasileiro, diretor brasileiro, produtor brasileiro, o Carlos Saldanha. E o Renato Falcão que assinou a cinematografia. Para quem não sabe trata-se da fotografia, afinal.

E chegou o dia de irem ao Cristo. Passagens para o bucólico trenzinho que subia via Floresta da Tijuca, esgotadas. Negociação de van com cambistas, uma fortuna, um estresse, mas a garotinha sonhava com o Rio visto de cima, o voo possível de Blue e Jade. E a mãe lutou.  Enfrentou as filas diversas mantendo o astral das pequenas em alta. Havia a irmã da garotinha, 15 anos, parceira mas com paciência limitada. Embarcaram na van sufocante, mais filas à chegada. Milhares de turistas imprensados no pé do Redentor. Aos poucos conseguiram chegar ao que havia de mais próximo possível da sacada, da possibilidade de ver o Rio de cima.

 

No colo da mãe, só com gente à frente e o Rio sobrevoado ao longe, a garotinha abria mais e mais os grandes olhos e clamava: queria tanto ver, o Rio, como Blue e a Jade… E vai que existe compaixão nesse mundo. Existe no alto do Corcovado, aos pés do Redentor. Os turistas aglomerados até à sacada de vista mor, ofereceram-se para içar a garotinha até lá. Eram umas braçadas de 15 pessoas e a mãe confiou.

 

Lá se foi ela, passada de braço em braço, até ao vistão. Uma vez lá, acenou para a mãe com um sorrisão enlevado. Choraram todos. A mãe, a irmã, os turistas compassivos que a carregaram de braço em braço.

 

Era o Rio de Janeiro em seu mais recente encantamento – um coraçãozinho aprendiz e mestre, de lavada!

POESIA

ESTAÇÃO DERRADEIRA

Por Chico Buarque de Hollanda

(para Flávia que pediu mais poesia)

Rio de ladeiras
Civilização encruzilhada
Cada ribanceira é uma nação

À sua maneira
Com ladrão
Lavadeiras, honra, tradição
Fronteiras, munição pesada

São Sebastião crivado
Nublai minha visão
Na noite da grande
Fogueira desvairada

Quero ver a Mangueira
Derradeira estação
Quero ouvir sua batucada, ai, ai

Rio do lado sem beira
Cidadãos
Inteiramente loucos
Com carradas de razão

À sua maneira
De calção
Com bandeiras sem explicação
Carreiras de paixão danada

São Sebastião crivado
Nublai minha visão
Na noite da grande
Fogueira desvairada

Rio…

Fonte: Musixmatch

Compositor: Chico Buarque

ACQ

Entre o sublime e a Revolução

por Antônio Carlos Queiroz

à esquerda: Do herbário de Rosa Luxemburgo; à direita: Do herbário de Emily Dickinson

Emily Dickinson (1830-1886), a maior poeta americana, talvez do mundo, começou a estudar botânica aos nove anos. Ela costumava acompanhar a mãe nos cuidados do jardim de sua casa. Por volta dos 17, organizou um herbário de flores secas prensadas mais ou menos no mesmo período em que passou a compor poemas de maneira sistemática. O herbário, hoje depositado na Biblioteca Houghton de Livros Raros em Harvard, contém 424 flores da região de sua cidade natal, Amherst, Massachusetts, classificadas com os nomes científicos.

Na tradição dos poetas e filósofos como Epicuro (341 a.C. – 271 a.C.), que preferem ficar a sós do que mal acompanhados, Emily cultivou até a morte o seu jardim como se fosse um paraíso particular. Num poema de 1860, ela diz:    

Alguns guardam o Sábado na Igreja –

Eu o guardo no Quintal –

Com a triste-pia de Corista –

E um Pomar de Catedral –

A polaco-alemã Rosa Luxemburgo (1871-1919) foi outra mulher forte a organizar um herbário, de maio de 1913, em Berlim, até meados de outubro de 1919, na prisão de Breslau. A coleção está espalhada em 18 cadernos cujos fac-símiles foram reunidos e publicados em livro em 2019 pela editora Karl Dietz de Berlim.

O sonho de infância de Rosa Luxemburgo era ser botânica, mas o  Império Russo de então, incluindo parte da Polônia, proibia as mulheres de cursar a universidade. Por essa razão, depois de concluir o colégio em Varsóvia, Rosa fugiu para Zurique, Suíça, para estudar Economia Política e Direito. Lá conheceu o companheiro lituano Leo Jogiches e se entregou à causa da Revolução.

Nunca abandonou, porém, a paixão pela botânica e as ciências naturais. A coleção de flores, para a qual contribuíam muitos de seus correspondentes, era um consolo nos momentos de angústia. Numa carta ao camarada Wilhelm Liebknecht, de 24 de novembro de 1917, Rosa disse: “Estou bem, trabalhando ativamente com a  geologia, a qual me interessa imensamente porque combina várias coisas – mineralogia, química, física, zoologia, botânica, astronomia –, envolvendo um pouco de tudo isso, o que compõe um  belo quadro geral. É uma pena que a vida seja tão curta, e a política imponha outros deveres, senão eu gostaria de me dedicar a isso”.

Um ano e dois meses depois, Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht e Wilhelm Pieck, líderes do Partido Comunista da Alemanha, seriam massacrados pelo Freikorps, um grupo paramilitar precursor da SS nazista.

TIRINHA

SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA

CREPÚSCULO

QUEM TEM MEDO DE SYLVIA PLATH

Sylvia era intensa e arriscava muito em tristes viagens interiores. Amou tanto que morreu de amor, escolhendo o momento da morte num dia nublado. O que há de Sylvia em nós é uma pergunta que paira entre os sensíveis. Deixou Diários, Desenhos, Poesias, e uma eterna dúvida sobre até quanto é possível suportar a dor. E a certeza que a alegria salva quando queremos que a salvação seja a aventura de permanecer. Não há medo nem vontade que mude um destino fadado a ser o que é.

Obrigada por estarem aqui. Abraços mil.

Tuty e Trupe

foto: Manuela Marques